O Conto da Holy Serenity escrita por Marjyh


Capítulo 19
Arquimídia - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Aqui está pessoal.
Eu estava pensando em dar uma enrolada um pouco maior maaaas...
Como eu tava super sem o que fazer aqui e sem vontade de desenhar, resolvi escrever isso daqui para você. ;3
Desejo uma boa leitura a todos!



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Cena 1

Parte 1: A Sombra da Paladina

“Que medo bonito é esse?”

Aquela voz ecoou dentro da minha cabeça, uma voz que era tanto feminino quanto masculino ao mesmo tempo, distorcida. Tentei tapar meus ouvidos, por algum motivo eu sentia meu corpo estremecer de sequer pensar naquela voz soando. Consegui apenas mover meus olhos para ver ao meu redor, vendo todos estacados em seus lugares como eu também estava, olhando para a figura do demônio-dragão que era Berkas.

“Não fiquem tímidos! Quem é a pequena com vocês?”

A pergunta retumbou na minha mente, como se pedisse para que eu falasse. Abri meus lábios, sentindo-os tremer. Antes que o ar pudesse passar pelas minhas cordas vocais, senti uma mão recobrir minha boca. Aquele choque serviu para me tirar do transe que eu havia entrado, para enfim notar que um braço me rodeava pelos ombros. Reconheci aquelas roupas que se assemelhavam a escamas.

– Não diga nada. - Grandark falou, sua voz pela primeira vez tremia.

“Você acha mesmo que isso pode salva-la de mim? Como és inocente, Grandark. Você sabe muito bem que não preciso ouvir palavras para saber sobre seus segredos mais obscuros...”

Arregalei os olhos. Senti a mão em meus lábios desaparecer, na realidade, vi Grandark desaparecer. Meu coração estava acelerado. O que estava acontecendo? Ao olhar ao meu redor, vi que todos haviam desaparecido também. Que truque era aquele? O que o Maligno tinha feito? Eu... Eu estava sozinha?

– Não, não está.

Um arrepio passou pela minha coluna ao ouvir aquela voz. Uma voz que eu conheço tão bem, falava comigo agora. Ao olhar para frente, para a origem daquela voz, vi uma garota de cabelos esverdeados soltos, sua pele era extremamente branca, apesar de não ser pálida. Em contraste com sua pele, ela usava um vestido negro que cobria inteiramente seus braços e pescoço, com a saia chegando pouco abaixo dos joelhos. Todavia, ela estava descalça. Mas... O que era assustador nela era que seus olhos azuis celestes não possuíam brilho algum.

Eu podia jurar que me via em um espelho apesar de todas as diferenças contrastantes em nossas aparências. Aquela garota era eu mesma. Um sorriso perverso despontou dos seus lábios, enquanto ela levava a mão direita à cintura.

– Por que a cara de surpresa? Assim você me deixa sem graça...

– Como...

– Como é possível?

Ela... Estava lendo minha mente de alguma forma? Olhei novamente ao meu redor, todos haviam desaparecido. Eu estava realmente sozinha...

A outra Holy deu um suspiro desagradável, se aproximando de mim.

– Eu já disse que você não está sozinha! Pare de ser egoísta e me leve em consideração também!

– O-O que?

– “O-O que?” Pff... – Fui agarrada pelo colarinho conforme ela se aproximava de mim até nossos narizes se encostarem, seu hálito era frio como gelo. – Você é tão egoísta que sequer tenta se esforçar para ser útil por aqueles que estão te ajudando. Você é apenas um estorvo para ser carregado, ignorando qualquer valor de todos ao seu redor.

Por que eu me sentia tão incapaz? Tentei agarrar os pulsos daquela garota, querendo me afastar, me soltar. Mas... Ela sequer esboçava uma reação, continuava apenas com aquele sorriso psicótico nos lábios. Aquilo não era verdade...

– Não! Não é verdade! Eu... Eu quero ser útil! Eu quero ajudar todos! Não sou um estorvo!

O sorriso dos lábios dela desapareceu, dando espaço para uma expressão de fúria. Seu rosto se afastou do meu enquanto ela continuava a me olhar nos olhos.

– Você é uma falha, não entende?! Você falhou com todos! Tudo isso... É tudo sua culpa! Você falhou com Zero, não atende as expectativas de todos ao seu redor! Você não merece sequer viver!

– Nã-Não... O Zero...

– O Zero está morto por sua culpa!

Aquela frase fez algo dentro de mim se remexer de uma maneira estranha. Senti lágrimas que já estavam se acumulando em meus olhos despontarem, caírem manchando minhas bochechas. Fechei meu punho direito.

– O Zero... Ele não está morto!

Um instinto quase bestial tomou conta de mim conforme meu punho direito se adiantou contra o rosto da minha contraparte, pude sentir os dentes dela se arranhando conforme eu desferia o golpe. Isso serviu para que eu fosse libertada, e quando dei por mim, já estava ofegando. Seria aquilo adrenalina correndo pelo meu corpo? Aquela garota ficou com o rosto abaixado, virado para o lado, com o cabelo cobrindo seu rosto. Não... Eu fiz algo errado... Eu agi por fúria? Atingi alguém que nem havia me agredido? Senti um peso recair sobre meu coração enquanto abaixava minha mão, engolindo seco.

– Pe-Perdão... Eu...

Uma risada insana começou a soar por todo o ambiente, o corpo da garota começou a se chacoalhar, como se tomado por uma força sobrenatural. Recuei um passo. O que estava acontecendo..? O que era aquilo? Seu rosto se ergueu, os cabelos revelaram aquele mesmo sorriso psicótico de antes, mas... Agora ele parecia ainda mais contente.

O que eu fiz?

– Viu?! – Ela se virou para mim, passando a mão no local atingido. – Você é uma hipócrita Holy! Uma hipócrita mentirosa! Você tenta impedir brigas, mas você mesma causa outras! Zero está morto sim! E você é a culpada!

– Não! – Levei as mãos as minhas orelhas, sentindo mais lágrimas escorrendo pelo meu rosto. – Não é verdade!

– Você não estava com ele! Você não cumpriu sua promessa! Sua mentirosa!

– Nã-Não...

Senti a força nas minhas pernas falhando. Aquilo não era verdade... Eu... Eu... Tinha jurado... Ficar do lado dele... Ajuda-lo... Eu... Oh Deus... Perdoe-me...

Aquela garota continuou gritando, pude escutar cada palavra mesmo tentando abafar aquele veneno. Meu coração pesava a cada silaba, a cada som mais uma lágrima escorre. Aquilo era demais... Por favor... Alguém pare..!

Sinto um calor nos meus lábios, uma respiração contra meu rosto. Sinto um corpo me abraçando, ao respirar um cheiro conhecido é reconhecido. Aquele mesmo cheiro que eu conheço tão bem... Abro os olhos, para ver o rosto do Zero junto ao meu, seus braços me envolvendo conforme sinto voltar aos meus sensos. Sem perceber, eu havia parado de escutar todos os sons senão daquela voz venenosa, e agora os sons das turbinas voltam para meus ouvidos. Tento respirar com alguma dificuldade, já que os lábios dele estavam no caminho, e ao notar o gesto, imediatamente interrompe aquele breve beijo, abrindo seus olhos esmeraldas de pupilas afinadas para me fitar.

Um sorriso desponta no canto dos lábios dele, Grandark, conforme guia a mão para meu rosto e enxuga as lágrimas.

– Ai está ela de volta.

– O-O que? – Já podia sentir meu rosto pegando fogo.

– Não acredite em nenhuma palavra que ela dizer, tá?

Engulo seco. E então me lembro da situação total em que nos encontrávamos. Berkas! Ao olhar meu redor, noto que todos estavam nós olhando abismados, mas pude que até mesmo soltaram um suspiro aliviado quando perceberam que eu estava me mexendo novamente.

“Ah, que pena... Não esperava isso.”

A voz ecoou dentro da minha cabeça novamente e olhei para fora, vendo a figura ainda desconhecida que estava de pé no alto da cabeça do dragão-demônio. Aquilo tudo... Fora obra daquela criatura? Sinto uma fúria passar pelo meu coração. Maldito...

“Bem... Já que não saiu conforme meus planos, acho que vou improvisar então, hehe...”

Berkas abriu a boca, uma energia começou a brilhar na sua boca, e já estava próximo o suficiente para vermos do tamanho do dirigível. Engoli seco. Aquele era o fim? O nosso fim?

Escutei passos apressados e quando fui ver de quem eram, vi Edna correndo para a parte de trás do dirigível. Ali... Não ficavam os helicópteros? Sinto meu coração gelar, pensando no que a asmodiana poderia estar pensando em fazer. Não... Dio saiu correndo logo atrás dela, sendo seguido por Mari. Porém... Vi pela expressão do Imperador que ele planejava provavelmente deter Edna.

Movi-me para segui-los. Também tinha que detê-la! No entanto, senti os braços ao meu redor se firmarem e uma das mãos subirem para minha cabeça, puxando meu rosto contra o peito do Zero. Imediatamente meu coração disparou. O cheiro estava ainda mais forte agora, conforme eu me lembrava do que aconteceu, apesar de ainda querer impedir Edna, Grandark me conteve, sussurrando em seguida.

– Feche os olhos, Holy.

Eu sabia o que aquilo significava. Na realidade, eu conhecia já o suficiente da Edna para saber o que iria acontecer. Acenei levemente com a cabeça, abraçando-o de volta e fechei os olhos, afundando meu rosto contra o ombro do Grandark. Eu... Eu realmente não quero aceitar isso.

–x-

Maligno... Ele estava ali. Senti meu coração retumbar, apesar de não odiá-lo, como serva do Imperador cujo o objetivo é derrota-lo e livrar Ernas, eu tenho que destruí-lo. Meu ímpeto é de pular desse lugar e ir atrás dele, e sei que Dio compartilha dessas intenções. Todavia, logo após a última frase que ouvimos, já sabíamos o que iria acontecer. Olhamos para Holy. Ela estava estacada nos braços do Grandark, como se fosse uma estatua, sem sequer piscar. O demônio de olhos verdes a soltou e olhou-a, vendo então as lágrimas que começaram a escorrer pelo seu rosto. Droga... Apertei meus punhos, sentindo meu coração apertar de somente vê-la chorar daquela forma.

– Grandark, faça algo! - Eu disse.

Ele me olhou de uma forma incompreensiva a principio, mas imediatamente entendeu, soltando-a para poder ficar de frente para a pequena, para então abraça-la e guiar seu rosto para junto do dela, unindo os lábios ao dela de uma forma impressionantemente carinhosa. Senti meu coração ficar mais leve ao ver que ela imediatamente respondeu aquele gesto, abrindo os olhos. Sorri.

“Ah, que pena... Não esperava isso.”

A voz dele ecoou novamente pela minha cabeça e fitei aquela figura desfocada distante em cima do dragão-demônio.

“Bem... Já que não saiu conforme meus planos, acho que vou improvisar então, hehe...”

Vi Berkas abrindo a boca e senti o meu coração afundar novamente no meu peito. Aquilo... Aquilo não podia acontecer. Eu não podia deixar tudo se perder em um único movimento. Dio, Holy, Mari... Eu tinha que protegê-los... Deixei meu corpo se movimentar sendo guiado somente por minha vontade daquele instante. Corri então para os helicópteros. Aquele ataque iria demorar um pouco justamente por ser muito poderoso, mas... Eu poderia tentar... Escutei passos vindos atrás de mim e eu já sabia quem era um deles...

Ao chegar à parte de trás do dirigível, me deparei com dois helicópteros que foram modelados pela Mari para que pudessem atirar ao mesmo tempo em que eram pilotados. Algo realmente inteligente, apesar de ter visto coisa semelhante em Áton, os que foram criados pela engenheira da Resistência eram muito mais resistentes e até carregavam uma bomba potente na parte debaixo, que podia ser atirados em direção dos alvos.

Era com aquilo que eu iria contar. Apertei o botão, em um painel logo em frente dos helicópteros, para abrir a comporta de trás. O vento forte começou açoitar minhas tranças conforme o teto do dirigível na parte de trás se abria. Imediatamente corri na direção dos maquinários e comecei a me ajeitar em um deles. Ao me sentar, vi Dio correndo na direção do helicóptero que eu me encontrava e Mari me fitava boquiaberta. Sorri para ela e virei meu rosto para Dio, que já esmurrava o vidro extremamente resistente do helicóptero.

Seu rosto estava convertido em um desespero quase palpável. Eu... Assumo que me sinto contente por ele se importar tanto comigo. Não pude conter um sorriso conforme via a fúria e o desespero dele se misturando. Pelo canto do olho pude ver Mari indo tentar usar o outro helicóptero, mas... Eu sei que seria inútil. Meio que... Eu já estava que isso iria acontecer. Seria impossível o Maligno não vir atrás de nós depois do ocorrido em Ellia e por passarmos ao lado da sua moradia em Áton. Não iria deixar que ninguém além de mim sofresse esse risco... Por isso sabotei o outro helicóptero.

– Ordeno que desça dessa coisa agora, Edna! – Grito Dio, sua voz chegou abafada. – Saia agora!

Virei o rosto para os botões, começando a ligar o maquinário. Escutei as hélices começarem a girar e olhei para Dio novamente, enquanto tomava o controle. Não... Posso conter esse sorriso. Depois de tanto tempo... Havia alguém que se importava comigo daquela forma novamente... Admito que estou com medo, mas sei que vou encontrar com Duel se algo acontecer comigo, se meu plano falhar. Para minha surpresa, sinto algo molhado escorrer pelo meu rosto, seguindo até minha boca e sinto seu gosto salgado. Dio parou de esmurrar a porta por um momento, me olhando surpreso. Dei um risinho e guiei a ponta dos meus dedos para meus lábios, beijando-os e então toquei o vidro, na altura do rosto do Imperador asmodiano.

– Desculpe, Dio.

– Não... Edna...

Tomei o controle e ergui o helicóptero para voo. Assim que sai do lado de fora, respirei fundo e me foquei, guiando a máquina na direção do dragão-demônio, preparando já a mira daquela bomba para acertar a cara do Berkas. À medida que eu me afastava o grito de Dio era abafado até desaparecer completamente.

A energia acumulada na boca do Berkas começava a brilhar com cada vez mais força. Eles dependiam de mim. Eu não posso voltar atrás. Eu não vou deixar mais ninguém ser morto na minha frente. Sem hesitar e com a mira fixada, apertei o botão e liberei a bomba. Poucos segundos depois vi um projetil indo com toda a velocidade na direção que marquei, deixando um rastro de fumaça para trás.

O alvo foi acertado em cheio e bem a tempo. A bomba explodiu no lado do rosto do dragão, com um rugido de dor seu rosto se virou para o lado com o impacto, no entanto o golpe foi disparado mesmo assim. Acompanhei seu percurso, vendo que mesmo assim o balão do dirigível foi atingido, explodindo em chamas, imediatamente perdendo altitude e indo em direção da floresta. Apesar disso... Eu sabia que eles teriam tempo para se salvar.

Quando olhei novamente para o lado, vi apenas uma sombra se projetando sobre mim da pata gigantesca de Berkas. Sorri.

Eu já estava preparada para aquilo...

–x-

A explosão soou. Afastei o rosto do ombro do Grandark, esperando ver o grande sucesso que Edna teve em sua ação. Sorri ao ver a bomba atingir Berkas em cheio. Estávamos a salvo. Edna iria voltar para a aeronave. Tudo iria acabar bem...

Foi então que vi o golpe do Berkas sendo disparado, meu sorriso desapareceu. Apesar do golpe ter sido disparado, ele pegou somente o balão. O som de explosão abalou toda a estrutura do dirigível, ao ponto de até mesmo os vidros se estilhaçarem. Grandark me abraçou firmemente para que eu não caísse tanto pelo tremor quanto pela inclinação repentina enquanto caíamos, mas também me protegeu dos vidros com seu próprio corpo. Senti meu coração acelerar, me sentindo desesperada que ele tivesse se ferido, mas ao olhar suas costas, vi que ele havia criado uma barreira de espinhos para conter os pedaços. Suspirei aliviada e olhei para Edna novamente.

A pata de Berkas esmagou o helicóptero que ela estava. Fiquei assistindo conforme ela explodia enquanto as garras fechavam aquele pedaço de metal como se fosse papel.

Senti meus olhos ardendo novamente por lágrimas. Edna... Não...

– Holy, precisamos sair daqui. – Escutei Grandark gritando para que eu pudesse escutar em meio o barulho do vento e das turbinas. – Vocês todos, pulem!

– O-O que?! – Azin estava se apoiando para poder se levantar novamente, nos olhando abismados. – Você esta louco?! Vamos morrer!

– Só morre se você não souber pousar. Se vire, novato.

Dito isso, Grandark me pegou no colo novamente e correr em direção da janela estilhaçada, pulando para o lado de fora. Senti o terror se apoderar de mim conforme entravamos em queda livre. Abracei seu pescoço, já esperando a morte me agarrar também. Mas, se uma forma impressionante, meu protetor abriu asas negras das suas costas. Fitei aquilo, ficando boquiaberta para então perceber o que ele havia feito: os ossos das asas eram compostos por espinhos, enquanto o tecido que estava proporcionando o nosso voo era nada mais do que um tecido semelhante às escamas que recobriam a pele do Zero.

– Investida Destruidora! – Ele gritou, me abraçando.

Ele se inclinou para frente, as asas se fecharam ao nosso redor formando uma espécie de barreira protetora enquanto começamos a girar rapidamente em direção do solo. Abracei-o fortemente, afundando o rosto em seu ombro e fechei os olhos. Senti minha cabeça ficando leve, provavelmente por culpa da mudança repentina de pressão. Tudo ficou confuso por um momento, escutei Grandark tossindo por cima do meu ombro direito, enquanto girávamos.

Tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

E sim, eu criei a Investida Destruidora, ela não existe no jogo. q