-Me larga. –Falei com raiva.

Sendo assim, o filho de Ares obedeceu e ficou parado ao meu lado como se aguardasse mais alguma ordem ou tivesse entrado em um sono profundo.

Drew ficou séria e empinou o nariz.

-Abaixe essa espada. –Falou a asiática.

Por um momento senti minha mente ficar confusa, meu braço foi descendo, descendo e quando quase abaixei à espada a raiva tomou conta; apontei a espada para frente.

-Tem mais alguma coisa a falar do meu pai? –Perguntei com raiva.

Drew e Mary arregalaram os olhos como se dissessem: “como é possível?”

Uma mão pesou em meu ombro, senti o quando era quente mesmo por cima da roupa molhada.

Virei-me para encarar a pessoa. Vi um garoto moreno de orelhas pontudas.

Seu rosto estava sujo de graxa bem na bochecha. Seu cabelo estava grande demais e muito embaralhado e um pouco chamuscado, parecia um ninho de cobra. Um pouco a baixo do seu short jeans dava para ver um ferimento com sangue seco bem no meio da canela. Suas orelhas eram levemente pontudas como se fosse um elfo. Sua camisa branca estava encardida de manchas pretas, provavelmente graxa ou óleo de motor. Seu sorriso era branco e contagioso, me fazia ter vontade de rir. Seus olhos castanhos cintilavam e de vez em quando via um brilho bruxulento parecendo uma chama avermelhada.

-Calma. –Ele suspirou e tirou a mão do meu ombro. –Não vale a pena gastar o seu tempo com essas meninas.

-Quem é você? –Fiz um bico de frustração em quanto Drew e Mary batiam a porta na nossa cara.

-Leo Valdez, princesa. –Ele soltou um sorriso para mim. –Posso saber o nome desta dama furiosa? –Ele pegou minha mão direita e se curvou beijando-a.

O filho de Ares ao meu lado deu um passo a frente na direção de Leo e endureceu o rosto igual a como Clarisse havia feito antes. Acho que essa cara séria é um “dom” dos filhos de Ares.

-Algum problema, Jherfrey? –Perguntou Leo ao garoto.

-Nenhum... –Ele recuou e se aquietou chegando a porta do chalé de Afrodite de novo.

-Meu nome é Phoebe. Phoebe Battler.

Por um momento notei uma pouchete amarelada ao redor da sua cintura. Uma das golas do macacão dele caiu sobre o braço esquerdo.

Leo parecia um garoto interessante e legal, é como aqueles amigos que sempre lhe fazem rir.

-Você ainda não foi reclamada... É, vai ter de ir com o chalé de Hermes. –Leo olhou para cima e cruzou os braços pensativo. –Depois quero lhe mostrar o chalé de Hefesto. –Ele cantarolou sorridente. –É incrível, todos aqueles tuneis e as armas, você tem que ir ver as forjas! –Ele quase pulou de alegria.

-Valdez, você esta exaltado. –Jherfrey continuou sério fuzilando Leo na porta do chalé de Afrodite.

-Tudo bem. –Ele se virou e pôs as mãos no bolso do macacão. –Até depois. –Ele deu tchau e seguiu para a direção da floresta.

Me virei para Jherfrey e me recostei em um dos canteiros de rosas que ficavam ao redor das pilastras gregas de mármore branco pérola.

-E então... Não acho que alguém daqui me dará uma calça... –Fitei o chão já tremendo de frio, a roupa secava no meu corpo, mas a cada brisa meu corpo tremia e rangia de frio.

-Vou pedir a Piper, ela é legal. Vai lhe arrumar uma calça de sobra. –Ele bateu na porta e gritou. –Piper! Piper!

Alguns gritos foram ouvidos lá dentro, depois alguns passos surdos vindos das escadas.

-Quem ta ai, Mary? –Uma voz feminina perguntou.

-O filho de Ares e uma novata idiota, nojenta, feia, imunda e cade...

Mary foi interrompida quando a maçaneta girou e as portas duplas se abriram. Uma garota linda surgiu do chalé rosado.

Lindos cabelos lisos com algumas tranças negras amarronzadas. Olhos negros naturais, sedutores e profundos. Lábios carnudos e macios. As suas maçãs do rosto eram bem definidas com covinhas charmosas, bem carnudas e perfeitamente trabalhadas. Ela tinha um colar com uma única conta de argila bem rente no pescoço, não consegui reconhecer o desenho. Uma camiseta laranja do acampamento por baixo de um casaco esportivo cinza escuro que estava aberto. Sob a camisa estava um cinturão na altura da cintura, era um cinturão de couro preto bem apertado e belo com as bordas de prata. O jeans azul até os sapatos bem soltos. Em seu cabelo estava uma única pena vermelha caída por fora de uma das tranças.

-Jherfrey... –Ela abriu os olhos com espanto e logo endureceu a cara. –Ela não quer falar com você, desiste logo. –Ela cravou os olhos nos dele como se tivesse um receio passado, como uma antiga mágoa ou raiva.

-Não vim por causa dela; vim para pedir uma calça extra pra novata. –Ele apontou com o dedão por cima do ombro para mim.

Ela virou a cabeça me analisando, com um rápido movimento, veio a mim e me ofereceu a mão para levantar-me.

Segurei sua mão e me apoiei nela levantando-me. As mãos dela eram fortes e tinham alguns calos leves. Ela era mais forte do que aparentava.

Senti uma sensação quente por baixo da pele, como um formigar nas veias. O mundo parecia não importar mais, só havia eu e ela e Piper me encarava parecendo sentir a mesma coisa. Minha cabeça parecia girar. Eu conhecia ela de algum lugar, era uma sensação familiar.

Soltei a mão dela com um movimento brusco e perdi o equilíbrio quase caindo se não fosse por minha perna direita que recuou em um passo e me estabilizou.

-É você... –Ela recuou em quanto Drew e Mary colocaram as cabeças para fora da porta e nos observaram sem entender nada. –Mary vá pegar uma calça de sobra pra ela. –Piper não pediu, ordenou.

Drew e tirou a cabeça de fora da porta e subiu as escadas bufando e xingando de raiva. Mary a seguiu tentando consolar Drew sobre suas preciosas calças.

-Vai participar da captura a bandeira? –Ela me olhou sorridente.

Jherfrey ficou com uma cara de: “O que esta acontecendo?”. Piper trocou olhares com ele e ele assentiu com a cabeça e se afastou um pouco.

Drew voltou e jogou uma calça surrada na Piper.

-Ai! –Ela voltou para dentro batendo o pé.

Piper me entregou a calça e sorriu.

-Desculpe pelos maus modos dela. –Ela se virou e caminhou lentamente até a porta do seu chalé. –Verei você na captura? –Ela perguntou.

-Com certeza. –Sorri para ela e me afastei indo para perto de Jherfrey.

Voltamos ao chalé de Hermes e paramos na entrada.

-Vejo você as 6horas então... –Ele me deu um abraço e eu retribui.

-Até lá. –Me virei e entrei no chalé.

A sala estava bagunçada. Dois garotos loirinhos estavam sentados no sofá. Caminhei até eles e vi que os dois eram gêmeos.

Os dois eram idênticos, cabelos loiros lisos caindo até a nuca. Olhos num tom castanho claro. Nariz fino e curto com algumas sardas pelas bochechas, isso dava um ar de criança travessa. Suas bochechas eram coradinhas e lisas, a diferença é que um tinha um arranhão pequeno na lateral de uma das bochechas em quanto o outro não tinha.

Eles se levantaram e vi que um era alguns centímetros maior que o outro.

-Oh, é a novata.

-É sim, quem é ela? –Os dois se entreolharam e sorriram.

-A que tocou a campainha. –Os dois falaram em uníssono.

Começaram a rir discretamente.  Aquilo era estranho, muito bizarro. Duas replicas em perfeita harmonia. Parecia um pesadelo que eu tive semana passada... mas isso não vem ao caso neste momento.

-Oi, sou Travis.

-Oi, sou Connor.

-Phoebe Battler. –Cumprimentei-os.

-Nos chame de irmãos Stoll caso não saiba distinguir quem é quem. –Travis olhou fixadamente o chão.

-Eu não gosto quando nos chamam de irmãos Stoll. Faz parecer que sempre estamos juntos.     –Connor fitou minhas roupas em meus braços.

-Ela quer ir pro banho, Connor. –Travis bateu de leve no braço do irmão.

-É mesmo. –Connor soltou uma risadinha malévola como aqueles personagens malvados de desenho animado. –Você já tem toalha?

-Não... E eu não vou pro banho, só vim para trocar de roupa... –Olhei pela sala e percebi alguns passos vindos da escada.

Era a garota que esmurrava a porta em quanto eu dormia na banheira.

-Essa irritadinha é a Isabel Gonzalez. –Travis sorriu em quanto ela descia.

Não deu nem as caras, na mesma hora que terminou de descer as escadas apertadas foi direto para a cozinha.

-É... ela não fala muito... –Connor brincou rindo.

-Vou ir me trocar. –Corri subindo as escadas e entrando no banheiro.