Radiação Arcana: Totem De Arquivo escrita por Lucas SS


Capítulo 27
Capítulo 26: Grilos Bandidos


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei, parei de escrever e devo uma desculpa muito grande. Só... Fiquei triste, perdi a vontade por um motivo pessoal. Mas consegui passar isso quase que por completo e agora vou tentar postar a história até o fim. Esse capítulo é dedicado a Asasuka, grande fã que conseguiu me fazer voltar a escrever. Parabéns :3 . Espero que gostem do capítulo e boa leitura.



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Cruzar o Reino da Vida foi fácil, pois ninguém tentou nos atacar. Olhei para trás, avistando uma última vez os campos serenos cobertos por flores brancas, onde camponeses descansavam durante o horário de almoço. Algumas crianças brincavam nas árvores cheias de folhas verdes, cheias de vida. Comparei a paisagem desse lugar com a do Reino da Escuridão. Era tão diferente, mas era no mesmo continente. Esse lugar não era tão grande assim, como poderia ter uma variação tão imensa entre os biomas.

— Water, por que as paisagens são tão diferentes entre um país e outro? — perguntei.

— Quando um tipo de magia é usado frequentemente em um local, este é alterado. Por exemplo o Reino da Lava. Alguns cientistas fizeram cálculos e descobriram que há até cinco vulcões por quilômetro quadrado.

— Isso faz sentido, meu mestre. Obrigado — disse enquanto eu passava pelas muralhas de mármore que delimitavam o território pacífico do país da vida. Por algumas dezenas de metros andamos em terreno neutro, até chegar às muralhas de rocha naturais do Reino da Terra. Nenhum guarda protegia a entrada. Ninguém patrulhava a área. Não tinha nenhum portão.

Como se lesse meu pensamento, Limcon disse:

— Por onde vamos entrar?

— Temos que escalar esse pequeno rochedo — Tânia disse sarcasticamente.

A parede de pedra devia ter quase cinquenta metros e era totalmente inclinada. Nós não tínhamos nenhum equipamento para escalada.

— Antes de subirmos... Posso perguntar uma coisa? — Supreme disse.

— Você acabou de fazer uma pergunta — End respondeu.

— Tá, outra pergunta — o herói dos raios respondeu levemente irritado — Por que não tem soldados patrulhando essa muralha?

— Esse país não tem nada de muito valioso. O rei não tem muito poder, só é dono de uma cidade, a capital. Seus conselheiros o traíram e tomaram as outras cidades importantes para si. Qualquer cidadão que não vive nessas grandes cidades vive em tribos nômades. Por causa dos terremotos, a paisagem muda com o tempo, então podemos nos perder facilmente. A coisa mais valiosa desse lugar é a terra, mas nenhum outro reino quer se rebaixar para a ponto de ter que roubar terra fértil de outro reino — Igor disse.

— Entendo... — Skarlatte disse — Então ninguém quer defender o reino, pois ele está dividido entre pessoas de poder. Gastar suas tropas para proteger traidores seria idiotice. Garanto que as cidades devem ter exércitos pequenos, já que só defendem a cidade.

— Pelo contrário. Cada uma dessas cidades tem tantos soldados que, sozinhas poderiam guerrear contra outros reinos sozinhos e não teriam desvantagem numérica. A última vez que eu espionei aqui tinha quase um milhão de soldados — End contou alegre.

Por algum motivo, contar sobre suas espionagens alegrava o homem macabro.

— Sem mais perguntas, vamos subir! — gritou Roah, que se atirou contra a parede rochosa e começou a escalar rapidamente.

Todos começaram a escalada, mas ninguém tinha tanta velocidade como aquele monstro berrante chamado Roah.

O sol do meio-dia tinha deixado as pedras quentes, mas isso não era problema para mim. Porém, Skarlatte estava tendo problemas para escalar, já que precisava carregar uma arma tão pesada. Se não estivesse amarrada as costas da garota, a metralhadora teria ficado para trás, pois era impossível escalar com uma arma nas mãos. Mas quem sou eu para dizer isso.

As manoplas protegiam meus dedos dos cortes feitos pelas pedras mais afiadas. Os dedos de meus amigos estavam cheios de calos e cortes, que deviam incomodar muito. Eu sentia falta de ter uma arma maior, como uma espada, mas as luvas de ferro ajudavam bastante fora da luta. Além do mais, eu já estava me acostumando e me apegando aquele par de manoplas.

Meus braços tremiam quando eu acabei de subir a imensa parede. Roah estava cochilando, deitado no chão cheio de pedras duras. Eu fui o segundo a chegar ao topo, então tive de esperar todos os outros.

Era quase três horas quando Skarlatte, a última pessoa do membro, chegou ao topo. Descansamos mais dez minutos e começamos a descer a parede, pelo lado interno, claro. Nós não precisamos escalar, pois um estreito caminho escavado na muralha nos permitia descer facilmente. Momentos depois estávamos na base do rochedo novamente.

— Finalmente chegamos — meu irmão disse.

— Nunca mais quero escalar — Skarlatte disse, olhando as mãos cheias de sangue.

— Alguém aí não está com as mãos sangrando? — Limcon falou, achando que todos tinham se cortado.

— Eu não estou — respondi alegre.

— Seu merda, você tem sorte de ter essas malditas luvas — Supreme retrucou.

— Não reclamem, crianças, nós ainda temos que cruzar esse país inteiro até amanhã. Acho que hoje não teremos uma pausa para descanso muito longa. Pelo que me lembro, o ritual começa quando a Lua está no alto, então devemos ter mais umas trinta e quatro horas ainda. Porém, isso não é tempo o bastante para cruzar esse reino e depois uma parte do Reino do Fogo e ainda sobrar algumas horas — Water falou com um ar sério.

— Mas Igor e Skarlatte não podem nos teletransportar para lá? — Supreme questionou.

— Estamos longe demais, isso gastaria muita mana, talvez mais mana do que temos. Quem sabe nós possamos fazer isso se andarmos mais uns quarenta quilômetros — Igor explicou.

— Quarenta? Esse país é tão grande assim? — perguntei.

— É sim, por isso eu não posso teletransportar vocês. Mesmo que cheguemos mais perto do Reino do Fogo, não poderei fazer uma magia simples para teletransportar para tão longe. Teremos de fazer um ritual.

— O que é um ritual? — Fear perguntou enquanto todos continuavam a caminhar país adentro.

— Um ritual é uma invocação de feitiço. Eu tenho alguns pergaminhos com os feitiços de teletransporte. Irei ativá-los e estes irão consumir minha mana para funcionar. Mas preciso de alguns preparativos para que isso aconteça. Pense no ritual como se você pedisse para um deus fazer uma magia para você — Igor explicou.

— Entendo. Demora muito?

— Demora um pouco, mas com a ajuda fica mais rápido. Quando eu fizer, dois de vocês terão de me ajudar. Skarlatte, esse ritual será uma prova para ver se o que eu te ensinei foi aprendido.

— Sim, meu senhor — a garota respondeu.

Continuamos a caminhada, com o passo um pouco mais acelerado. Aos poucos, os pequenos morros que nos cercavam começaram a virar encostas, cânions estreitos, um lugar perfeito para uma armadilha. Não fomos burros por entrar lá, já que era o caminho mais rápido, segundo Igor. Este cara sabia muito sobre essas terras, tanto que até me fazia desconfiar que ele nascera aqui. Em determinado ponto, paramos para recuperar o fôlego da longa caminhada. Inicialmente nós não faríamos isso, mas o mestre da arte espacial ordenou.

— Está cansado, careca? — Roah irritou Igor.

— Não, só preciso cuidar da segurança de vocês. Olhe — Ele estendeu a mão, com a palma virada para cima, sussurrou algumas palavras e eu juro pelas minhas manoplas que seus olhos brilharam antes de um holograma 3D brilhou.

O holograma era como um radar de submarino: redondo e com um feixe que girava e atualizava o local. Às vezes pontos brilhantes e deformados surgiam no mapa, localizados acima da gente.

— O que são esses pontos? — End perguntou.

— São os seres nativos daqui. Fazia algum tempo que eu estava desconfiando da presença deles. São chamados de Grilos, pois aparentam muito com um, mas são muito maiores e mais inteligentes, além de serem bípedes. Quando eles resolverem atacar, nós não teremos chances — Igor falou.

— Mas por que eles não aparecem sempre no mapa? — eu questionei.

— Suas antenas interferem na minha magia. É como uma magia que os oculta. Nós só vemos um ou dois, de vem em quando, mas podem ser dezenas. Geralmente atacam em bando. Temos que acelerar o passo, mas sem parecer suspeito, ou eles atacarão agora.

— E por que não atacaram ainda? — Water perguntou.

Todos estávamos fazendo uma roda para olhar o mapa. Nossos olhares foram do mapa para o rosto magro do homem careca.

— Porque eles estão nos levando para uma armadilha. Imagino que haja um lugar melhor para uma emboscada do que esse aqui, ou talvez um lugar mais próximo do abrigo deles. Irão atacar lá, já que não precisam se preocupar com uma possível fuga nossa. Não há para onde fugir nessa imensidão de rochas e barro.

Senti o medo engolir meu coração. Como iríamos sair dessa? Um pequeno exército de grilos ia nos devorar? Grilos não eram herbívoros? Tinha tantas perguntas, mas há mais importante foi respondida, como se Skarlatte lesse meus pensamentos.

— Então vamos ter que andar um pouco mais e usar o ritual de teletransporte, estou certa?

— Isso mesmo, minha aprendiz. Quando estivermos um pouco mais perto do país do fogo, iremos começar o ritual. O problema é que nossos predadores irão nos atacar quando perceberem o que estamos fazendo e nós não podemos ser interrompidos. Durante cinco minutos nós focaremos toda a atenção para o ritual.

— Deixa eu ver se entendi. Durante cinco minutos vocês irão preparar um teletransporte para nós e, enquanto isso, nós teremos de defender vocês, não é? — Tânia disse.

— Você adivinhou meu pensamento — Igor disse sem sorrir, como sempre. — Mas precisaremos da ajuda de mais uma pessoa, alguém que possa agilizar nossos preparos.

— Eu sou um voluntário — Supreme disse levantando a mão. — Sou rápido, muito rápido.

— Então está decidido. Vamos partir agora mesmo.

Nosso curto descanso acabou, dando vida a mais uma longa caminhada. O real significado de herói deve ser “caminhante eterno”, porque a coisa que eu mais fiz até agora foi andar. Se cada passo que eu desse nesse jogo me fosse recompensado com uma moeda de ouro, eu seria o garoto mais rico do jogo.

Caminhamos por mais uma hora e meia e o sol já estava se aproximando do horizonte. Com sorte teríamos mais uma hora e meia de luz. Igor ativou o mapa holográfico pela décima vez, para se certificar que o local que estávamos não era o matadouro dos grilos.

Sinceramente, nunca imaginei que um dia lutaria com insetos gigantes. Mesmo depois de sobreviver a uma guerra mundial, nunca me passou em mente que baratas, gafanhotos e joaninhas pudessem ficar superdesenvolvidos, a ponto de virarem bandidos de estradas que comem seres humanos. Muito menos que eles iriam comer demônios, dracônicos e homens inflamáveis.

O campo já estava mais aberto e não estávamos mais cercados por cânions, e sim por morros de topo chato, quando Igor falou.

— Parem! Eles irão atacar em breve.

Possivelmente descobriu usando seu sensor de espaço.

Todos paramos e nos preparamos para a luta. Supreme, Skarlatte e Igor começaram com os preparativos, enquanto o resto fez um largo círculo de proteção, ficando a três metros um do outro. Tínhamos combinado isso.

— Water — gritei. — Não fuja dessa vez.

— Não posso, não tem como fugir de grilos — ele respondeu rindo.

— Vamos ver como suas chamas queimam, peixeiro.

— Vamos ver se eu te ensinei bem, chifrudo.

Acendi as chamas mais frias que eu consegui criar. Uma pedra quase redonda rolou de um dos morros. A cena a seguir durou três segundos.

Limcon mexeu e algumas coisas na sua arma, que se transformou em um lança-granadas. Em seguida, atirou contra a rocha, que explodiu. Não tive nem tempo de pensar no que fazer, mas Limcon já tinha destruído a pedra. Em uma luta contra ele, acho que eu iria perder.

Um grito, ou algo que se aproximasse o máximo possível de um, veio de cima do morro da direita. Momentos depois um exército de grilos já havia aparecido. Eles desceram o morro correndo, com paus e pedras nas mãos. Water soprou fogo contra eles, End invocou fantasmas de gladiadores, meu irmão chamou seus zumbis.

− Por glória! – Tânia gritou enquanto atirava.

− Por sangue! – Roah berrou, amedrontando os grilos mais próximos com sua voz que mais parecia um trovão.

Me virei para os grilos mais próximos e comecei a atirar esferas de fogo loucamente, fazendo uma dúzia deles queimar antes de estar a dez metros de mim. Pedras voaram na minha direção, mas todas foram pulverizadas por uma rajada de tiros vindo das armas de Limcon. Quando os inimigos mais próximo chegaram, tive de lutar corpo a corpo. Minhas manoplas brilhavam como ferro líquido, ou talvez elas realmente estavam quentes o bastante, por fora, para quase derreter o ferro externo. Porém, por dentro eu nem suava. Era incrível como a magia podia tornar confortável estar usando luvas superaquecidas.

Cabeças de insetos rolavam a cada vez que meu irmão atacava. Ele parecia faminto por morte, talvez um efeito colateral da magia necromante. As machadinhas de obsidiana rasgavam o exoesqueleto como se fosse manteiga. Guinchos enchiam o campo de batalha. Um relâmpago atravessou o campo, semeando o terror entre os inimigos. A cada um que morria, dois surgiam dos morros, parecia um exército de infinitos adversários.

− Quanto tempo falta? – perguntei para o Igor enquanto quebrava o maxilar de um grilo e o fazia arder em chamas.

− Estamos quase acabando, aguente firme.

Estávamos ficando cercados. O desespero começou a sufocar meu coração. Mesmo defendendo todos os ataques que eu conseguia, algumas vezes eu era acertado por chutes, socos ou golpes dos tacapes improvisados. Meus braços doíam, tanto por se cansarem de ficar levantados, quanto pelos cortes que derramavam sangue demmarc.

Um inimigo pulou em minhas costas, me derrubando. Como um efeito dominó, outros pularam para impedir que eu levantasse. O peso era gigantesco e a dor tremenda. Não sabia como sair daquela situação. Precisava lutar, precisava ganhar para levar meu irmão embora, precisava sobreviver.

Me ergui usando toda a força possível, jogando os grilos para longe de mim. Acendi uma chama na minha mão e atirei sem pensar. Tinha que continuar lutando. Os grilos queimaram até virar pó, mas as chamas continuavam se espalhando. Então saí do meu momento de frenesi e percebi que as chamas que arremessei não eram de cor vermelho quase laranja, mas sim de um verde claro. Vindo da minha direita, Water gritou:

− Parabéns Balazar, conseguiu dominar uma das três chamas!

− A chama selvagem? − perguntei só para confirmar.

− Sim. Mas tome cuidado. Depois que ela sai da sua mão, você perde o controle sobre ela. Ela é perigosa e seu nome não foi escolhido por acaso: fogo selvagem.

Sorri feliz pelo poder novo recém adquirido. Eu podia fazer muitas coisas com aquilo, mas tinha que tomar cuidado. As chamas começaram a avançar para todos os lados, mas estavam cada vez menores. Os inimigos tentavam loucamente apagar o fogo, mas não importava o que era feito, ele só se espalhava por todos os lados.

− Juntem-se todos! − ordenou Igor.

Todos corremos para dentro do círculo de runas e brilhos mágicos, enquanto éramos protegidos por zumbis, fantasmas, tiros, chamas incrontroláveis e uma parede elétrica criada por Roah. Escutei um zunido muito agudo, seguido por um tremor na terra. Meus estômago parecia ter sumido da barriga, senti meu corpo todo formigar e, aos poucos, comecei a esfarelar, assim como os outros. Tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Merece reviews? Vamos lá, não vou mendigar porque é feio, então comentem se quiserem, critiquem como quiser e ajudem como for possível :D . Obrigado pela atenção de todos e vamos para mais uma temporada de capítulos.