Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 8
Colheita - Distrito 7


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Eu espero que gostem!



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Bonnie Field

            Um tapa na cara. Eis algo que Bonnie Field não esperava de jeito algum que seu pai lhe desse, e recebeu mesmo assim.

            Ela levou uma mão ao rosto por puro choque, porque não havia doído nem um pouco. Olhou para o pai, que estava fitando-a com seriedade, mas não conseguia parecer bravo.

            - Por que você fez isso? – Perguntou, quando viu que ele não se justificaria por iniciativa própria.

            - Para você nunca mais repetir o que você acabou de falar. Aquilo não era algo que se dissesse, Bonnie.

            A garota de dezesseis anos engoliu em seco e assentiu. Não tinha sido a primeira vez em que ela dissera perto de seu pai que queria ser sorteada para ir para os Jogos Vorazes, só para a mãe dela sentir sua falta e perceber o quanto foi uma péssima mãe durante toda a vida de Bonnie, porém fora a primeira vez em que ele reagira daquela maneira. Ele possivelmente estava temperamental por ser dia de colheita, e já ter perdido dois filhos para os Jogos.

            - Desculpe, pai. É que às vezes eu só queria que a mamãe fosse mais... mais como uma mãe. Você sabe.

            - Eu sei. Mas que bobagem, dizer que quer ir para os Jogos Vorazes por isso...! Aqui, ainda, eu posso te defender. Mas e na arena, que você ia fazer?

            Talvez Bonnie fosse responder, ou talvez não, até. Ela simplesmente não teve oportunidade, pois nesse momento a mãe dela atravessou a sala totalmente despreocupada, nem se importando com o fato de ter gritado com a filha momentos antes, por esta não ter ainda varrido a casa como ela mandara.

            A mulher nem olhou para o marido e Bonnie quando passou por eles, e logo sumiu no corredor.

            E nisso, Bonnie sentiu um desejo intenso lhe percorrer o corpo: O de ter uma mãe melhor, muito melhor que ela.

*********

Matthew Quingley

             Coisa Nenhuma, o gato de Matthew Quingley, era muito amado por seu dono. Mas isso não impedia Matthew de, às vezes, ponderar se não seria melhor trocar o seu nome para “Coisa Suja”.

            - Para de se mexer! Eu tenho de te dar banho! – Insistia o menino de quatorze anos, segurando o gato dentro da bacia com água onde o estava lavando. Coisa Nenhuma não colaborava e tentava fugir, muitas vezes também sacudindo-se e espirrando água em cima de Matthew, que ria apesar da tarefa árdua. – Você não vai conseguir escapar desta vez.

            Ele estava enganado. O pelo molhado de Coisa Nenhuma estava escorregadio, e depois de algumas tentativas fracassadas, ele conseguiu escapar-lhe das mãos, pular para fora da bacia e sair correndo como um louco do quintal dos fundos da casa, onde eles estavam, para a parte da frente.

            - Ei! Pode ir parando aí! – Matthew se levantou do chão e foi correndo o mais rápido que podia atrás dele, com o vento lhe bagunçando os cabelos escuros. – Coisa Nenhuma!

            Quando ele mesmo alcançou a frente da casa, segundos depois, encontrou Jeanine, sua mãe, parada na soleira da porta da frente, rindo e segurando o gato nos braços com firmeza. Coisa Nenhuma realmente gostava da mãe do dono, e não oferecia resistência. Até esfregou o rosto contra o da mulher, antes de ver Matthew se aproximando e começar a se debater de novo, querendo ir para o chão.

            - Sem essa, seu folgado. – Ele disse, pegando Coisa Nenhuma dos braços da mãe, e sorrindo para ela. – Obrigado pela ajuda, mãe.

            - Ele me molhou inteira. – Jeanine inspecionou sua roupa, divertida. – Como está agitado hoje.

            - É por causa do banho.

            - Acho que é mais como se ele tivesse sido contaminado pela Febre da Colheita. Deixa todo mundo maluco. – Ela piscou para o filho.

            - Bem – Matthew deu de ombros –, então, para o Coisa Nenhuma, todo dia é dia de colheita.

*********

            - Estamos aqui para a quinquagésima oitava edição dos Jogos Vorazes. – A representante Favee pronunciava lentamente cada sílaba, com sua voz que naturalmente pingava tédio. – Quem sabe, o ano em que um de vocês trará a vitória ao Distrito 7. Ou talvez, mais um ano em que duas famílias daqui perderão alguém. Não sabemos o que vai acontecer, mas pelo menos saberemos os tributos daqui a pouco, e as apostas poderão ser feitas.

            Favee claramente não estava nem aí para as crianças aterrorizadas na plateia. Ela estava pensando em vitórias, mortes e apostas. Mas pelo menos ela era prática, seu discurso era curto e ela rapidamente podia ir fazer o sorteio e acabar logo com aquilo.

            Seu assobio foi a única coisa audível no Sete enquanto se dirigia à bola com os nomes das meninas.

            Favee escolheu um papelzinho. Leu, e sacudiu a cabeça com decepção antes de ir até o microfone novamente.

            - Mais um Field. – Declarou. E então, foi mais específica: - Bonnie Field!

            Na plateia, Bonnie sentiu lágrimas se acumulado em seus olhos, mas não se permitiu derramá-las. Parecia que o pedido dela de ir para os Jogos fora atendido, mas ela não desejava aquilo de verdade. Isso sim era ironia dramática.

            Foi para o palco de cabeça abaixa, procurando não deixar ninguém ver o esforço que ela fazia para não chorar. Deu certo. Mas poucas pessoas realmente ainda prestavam atenção nela, porque Favee não esperou que ela chegasse ao seu lugar antes de ir chamar o menino. E dessa vez, em seu rosto, surgiu a estupefação, o que foi apenas um novo estágio da mesma decepção mostrada para Bonnie.

            - E agora, também, mais um Quingley! Matthew Quingley, venha ao palco!

            Matthew ficou tremendamente surpreso. Dois anos antes, sua irmã Helia se voluntariara para os Jogos pensando que conseguiria deixar a família rica, ficara entre os cinco finalistas e então morrera. E agora, ele iria para os Jogos. Se morresse também, sua mãe ficaria sozinha.

            No caminho para o palco, vasculhou sua mente atrás de algo que, talvez, pudesse tornar as coisas melhores. E seus pensamentos o direcionaram para as lembranças de quando ele era pequeno, e a mãe cantava para ele dormir.

            As notas surgiram em sua boca quase que instantaneamente. Uma música tradicional do Distrito 7 sendo recitada pelo menino, agora sobre o palco. Todo o distrito parou e o assistiu por um tempo, e Bonnie não pode deixar de se ressentir com isso. Não fazia dois minutos desde que ela se tornara um tributo, e já estavam tentando deixá-la para trás?

            Mas não pode ficar brava por muito tempo, não só por sua personalidade naturalmente calma, mas também porque, honestamente, a música também era boa para ela.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!