Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 5
Colheita - Distrito 4


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo!



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Rebekah VonRison

            Para Zac, Rebekah VonRison já havia confessado pelo menos vinte vezes o quanto estava com vontade de colocar vidro moído na comida do velho comerciante que os adotara para posteriormente usá-los como seus empregados, e pelo menos vinte vezes Zac concordara com ela. E se este número estimado estivesse correto, aquela seria a vigésima primeira vez.

            No Distrito 4 tinham o hábito de dizer que se você conseguisse odiar alguém enquanto observava o mar calmo, especialmente numa manhã bonita, o sentimento só podia ser verdadeiro. E Rebekah definitivamente conseguia odiar o velho em todos os lugares, exatamente como odiava seu pai por tê-la vendido para ele quando ela tinha doze anos, já que a filha lhe lembrava por demais da esposa que havia falecido no parto das meninas gêmeas que tinham, na época da venda, um ano de idade, já que Rebekah tinha os mesmos cabelos ruivos levemente cacheados, olhos verdes penetrantes, sorriso simpático e rosto meigo da mãe. As únicas partes boas de tudo isso, para ela, foram ter conhecido Zac, que se encontrava na mesma situação que ela, e ter passado a ter acesso a um treinamento que não tinha antes, que o velho bancava por não querer de jeito algum que um dia eles pudessem ser sorteados e morrer na arena.

            Mas Rebekah não só não temia ser sorteada como iria além disso: Ela queria se voluntariar como tributo naquele ano. Seria a última chance dela, afinal de contas, já que já tinha dezoito anos.

            - Se eu vencer os Jogos, jamais vou deixar que aconteça com as gêmeas o que aconteceu comigo. – Murmurou ela para Zac, enquanto eles assistiam aos barcos de pesca do distrito puxarem suas redes de volta e se prepararem para voltar ao píer, todos terminando o expediente mais cedo em virtude à colheita.

            - Suas irmãs ficarão muito felizes por você estar fazendo isso. Você é uma irmã mais velha fantástica, Bekah. – Disse Zac, num tom que beirava o sombrio, e deixou Rebekah alarmada.

            - E você, Zac? Não parece muito feliz com a minha decisão.

            - Não estou. – Ele admitiu. – Tenho medo de que algo lhe aconteça nos Jogos.

            Rebekah sorriu para ele.

            - Não seja bobo. Nada vai me acontecer.

*********

Carter Trent

            Um, dois, três golpes no tronco do boneco de treinamento.

            A lança entrava por um lado e saia pelo outro. Nem mesmo os bonecos de tecido mais resistente podiam impedir Carter Trent de atravessá-los com uma lança com a facilidade que se atravessa uma folha de papel com um lápis. Os alvos da academia do Distrito 4 já haviam se tornado chatos.

            Ele só podia esperar, então, que no Centro de Treinamento da Capital houvesse alguns mais divertidos. Carter tinha ouvido falar, inclusive, de alvos que se mexiam, e estava ansioso para testá-los pessoalmente.

            Queria ir para os Jogos como sua irmã mais velha fora alguns anos antes, mas diferentemente dela, iria vencer. Aquele seria o ano dele.

            Arrancou violentamente o boneco de seu suporte e o atirou ao chão. Mais golpes. Se o boneco fosse uma pessoa, já estaria cinco vezes morto.

            Carter foi surpreendido quando uma mulher apareceu na porta da academia, e ela também ficou surpreendida ao ver ele.

            - O que você está fazendo aqui? Hoje é colheita! Já estamos fechando!

            - Ah... – Ele olhou para o boneco destruído. – Foi mal.

            Deixando a lança fincada no estômago dele, Carter se retirou da academia sem olhar para trás, passando pela mulher nervosa que o ficou insultando em voz baixa enquanto ia arrumar o que ele tinha deixado fora do lugar.

            “Quando eu for rico vou comprar bonecos de treinamento novos para a academia do Quatro.”, pensou Carter “E armas. Poderei até comprar uma academia nova, se quiser.”, um sorriso atravessou-lhe os lábios após este último pensamento.

            A brisa salgada que vinha do mar, que era tão essencial para o distrito que todos os lugares importantes ficavam perto dele, ajudava a aliviar o calor que ele sentia por ter passado tanto tempo no treino, suando. Agora ele só poderia tomar banho em casa, afinal, e era uma boa caminhada até lá.

            Foi pensando em seu futuro durante o caminho inteiro. Chegou até a pensar em como queria que sua irmã Alexia fizesse parte dele – o que, por motivos óbvios, não seria possível.

            Mas Carter tinha certeza de que ela, em algum lugar, se orgulhava dele.

*********

            Não dava para entender porque a Capital iria mandar para ser a representante do Distrito 4 uma mulher tão evidentemente doente. Claro que era uma tradição de anos que ser representante e acompanhante do Distrito 4 nos Jogos Vorazes fosse trabalho de Micille, mas ela parecia estar realmente mal naquele dia, então por que não a substituíram?

            Ela, por exemplo, iniciou o ritual de sorteio com uma crise de tosse num lenço de cetim que ela trazia consigo, o que não era muito elegante, mesmo com o pedido de desculpas que ela fez ao acabar.

            - Este ano vou ser breve no sorteio. – Informou Micille, que apesar de estar rouca, conseguia fazer sua voz soar alta e clara no microfone. – Não estou me sentindo muito bem. Garotas? – Não deu para entender se com “garotas?” ela estava dizendo que ia sortear uma garota ou perguntando se alguma ia se voluntariar. Por via das dúvidas, duas de dezoito anos gritaram as palavras de voluntariado. – Ótimo. Quem vai?

            - Eu vou. – Uma delas disse, olhando com hostilidade para Rebekah, que era a outra.

            Ela deu um sorriso frio, como se aquela informação fosse a coisa mais absurda que já tivesse ouvido na vida. Era óbvio que Rebekah iria para os Jogos, não ela. Sem titubear, passou pela garota e foi para o palco.

            - Ei! – Ela exclamou, para a indiferença de Bekah.

            No palco, Micille estendeu o microfone para que ela dissesse o próprio nome.

            - Sou Rebekah VonRison.

            - Certo. – Micille tossiu, e então se voltou ao microfone. – E algum cavalheiro deseja ser tributo com Rebekah?

            - Eu! Eu me voluntario!

            Micille fez com a mão um gesto para que o garoto que gritou viesse ao palco, e foi o que ele fez.

            - Carter Trent. – Disse Carter ao microfone quando ela o estendeu a ele, e depois foi para o lado de Rebekah.

            Eles se entreolharam, avaliativos. Eram atléticos e confiantes, um viu isso no outro e ambos tomaram, ao mesmo tempo, uma decisão:

            Aliados.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!