Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 43
Segundo Dia - Noite


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Cornelio Harvester – Distrito 9

Soyalia Harvester – Distrito 9

           

O dia tinha sido entediante.

Nenhum tributo havia cruzado o caminho dos gêmeos, para que eles pudessem matar alguém. Por terem conseguido pegar boas armas e mochilas na Cornucópia, também não houve nenhuma busca desesperada por comida ou água, e eles basicamente passaram o dia caminhando, conversando e encenando lutas, apenas para se manterem preparados.

Ao cair da noite, depois de tocar o hino e uma única foto aparecer no céu – Bonnie Field, do Distrito 7 – eles trocaram olhares e bufaram.

— Só um tributo – comentou Soyalia.

— O que significa que não vai demorar para os Idealizadores mandarem alguma praga para cima da gente, só para animar os Jogos – Cornelio ressaltou, mais aborrecido do que preocupado.

— Não vamos parar de andar ainda. Talvez seja mais fácil encontrar alguém em meio às sombras.

Soyalia tinha sido irônica, mas a sugestão foi real, então eles continuaram o caminho. Por mais algum tempo, andaram pela arena, já quase sem esperanças de encontrar algo de interessante naquele dia.

Foi uma boa surpresa quando, enfim, eles ouviram algo. Os dois pararam de andar e ficaram em silêncio absoluto, como caçadores farejando sua caça. Definitivamente, havia algo além de algumas árvores. Podiam ouvir vozes fracas conversando – eram tributos.

Satisfeitos, eles começaram a se aproximar furtivamente.

*********

Savannah Rayworth – Distrito 10

           

Ela não sabia como tinha sobrevivido àquele dia – sua única certeza era a de que estava sendo um grande fardo para Hunter, mesmo que ele insistisse que não se importava.

Eles quase não tinham andado naquele dia, graças ao estado dela. De nada adiantou recomendar incansavelmente que ele seguisse sem ela, porque ele não aceitava, e isso só a fazia se sentir pior.

Estava com um maldito corte infeccionado no braço, que lhe acarretara uma febre altíssima, e a pouca água que eles tinham conseguido na Cornucópia já tinha terminado, devido à necessidade de colocar um pano molhado na testa dela, a fim de abaixar sua temperatura. A comida também havia acabado havia pouco, e não tardaria para eles ficarem com fome. E Savannah sentia-se tão doente que já havia chegado ao ponto de delirar – ela via e sentia coisas que Hunter lhe garantia que não eram reais.

Tinha sido carregada por ele, no pouco em que se moveram, e tinha passado o dia entre a consciência e a inconsciência. Não sabia ao certo se dormia ou desmaiava – ela somente apagava em vários momentos, voltando mais tarde.

Na parte da noite, ela já estava certa de que queria morrer. Restavam muitos tributos na arena, e ela sabia que não havia a mais remota chance de vencer os Jogos Vorazes. Mas havia chances de Hunter vencer, o que certamente não aconteceria se ele ficasse se ocupando com ela daquele jeito. O que Savannah mais queria era que ele vencesse, e que ela pudesse parar de sofrer.

— Tivemos um dia produtivo hoje – comentou Hunter, quando os dois tinham decidido encerrar de vez aquele dia infernal e se instalar perto de uma grande árvore. Savannah estava deitada sobre o saco de dormir que tinha vindo na mochila, e ele estava sentado perto dela.

— Apenas gastamos nossos suprimentos – ela corrigiu, com a voz muito fraca.

— Não é bem assim. Nós sobrevivemos – Hunter ainda tentava elevar os ânimos. Ele se levantou e andou até ela. Para surpresa de Savannah, o garoto afastou as mechas de cabelo que estavam sobre seu rosto e beijou sua testa quente e suada. – Eu vou fazer uma ronda pela área, certo? Ver se está tudo bem para podermos passar a noite.

Ela assentiu, sem saber o que dizer. Sabia que, se já não estivesse queimando de febre, certamente teria ficado quente com o beijo.

Hunter se afastou, olhando muitas vezes para ela por cima do ombro, até sumir por entre as árvores.

Savannah fechou os olhos e tentou imaginar se viveria para ver o amanhecer. Pensou em sua família, assistindo àquilo naquele exato momento, e sentiu-se mal por eles. Queria ser mais forte. Queria ser uma lutadora, para poder voltar e consolá-los.

— Eu sinto muito – sussurrou, esperando que eles ouvissem, pela televisão. – Eu amo vocês...

Seus olhos arderam e ela estava prestes a começar a chorar quando foi interrompida pelo som do farfalhar de folhas.

Abriu os olhos, assustada. Se aquilo não se tratasse de uma nova alucinação, algo ou alguém estava se aproximando dela.  Não podia ter certeza, já que já tinha tido quatro alarmes falsos naquele dia, mas, daquela vez, tinha uma forte impressão de que se tratava de algo real.

Tentou se sentar no saco de dormir, mas estava debilitada demais para isso. Não conseguiu se mover mais do que alguns centímetros, e acabou deitada de novo. Olhou em volta, preocupada. Não podia ser Hunter – ele tinha acabado de se afastar.

Finalmente, duas sombras saíram do meio das árvores, e, ao se aproximarem, ela pôde ver de quem se tratava. Os gêmeos do Distrito 9.

— Veja só – disse Soyalia, ao colocar os olhos nela. Estava sorrindo de lado.

— Que droga – suspirou Cornelio. – Presa muito fácil.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Savannah. Ela não aguentava aquilo.

— Se querem me matar, vamos lá. Acabem com isso logo – pediu, calmamente, o que surpreendeu até a ela mesma.

— Sério? – Soyalia subitamente parou de sorrir e ergueu as sobrancelhas – Mas assim fica chato – e foi até a mochila deles, que começou a fuçar desinteressadamente. – Você está sozinha?

Savannah sentiu medo de Hunter chegar. Ele tentaria defendê-la, sendo que os gêmeos eram muito mais mortíferos. Não teria chance...

— Estou – respondeu.

— Hm – fez ela, sem se dar por convencida.

— Bem, é o seguinte – Cornelio se agachou ao lado dela e tocou seu rosto. Savannah não tentou desviar – Você vai morrer. Mesmo se nós não tivéssemos aparecido, pela sua aparência. Mas, já que estamos aqui, vamos aproveitar sua morte para tirar algum benefício para nós.

Soyalia largou a mochila e virou a cabeça para o irmão.

— Cornelio, você vai...?

Ele sorriu e piscou para ela, que deu risada. Savannah não estava gostando nada daquilo, mas não se importava com o que iam fazer com ela, desde que fossem rápidos.

Cornelio abriu a própria mochila e tirou de lá um frasco de vidro, cheio de um líquido rosado.

— Beba isso – mandou, encostando o frasco na boca dela.

Não era difícil adivinhar que essa seria a última coisa que ela jamais faria. Savannah fechou os olhos novamente. Aproveitou uma última respiração, um último pensamento nas coisas que amava, e ficou surpresa ao ver que Hunter era uma dessas coisas. Talvez, em outro universo, eles pudessem ficar juntos... Talvez, depois dessa vida. E ela bebeu o líquido.

A dor foi excruciante. Foi como se sua garganta e seus órgãos estivesse em chamas, e ela engasgou e lutou por ar até que o fogo se apagou – e apagou tudo junto com ele. Lentamente, seu corpo parou de funcionar, e sua vida se esvaiu com um longo último suspiro.

            os segundos, orgulhosos. Só quando ouviram o canhão que indicava a morte de Savannah eles trocaram um sorriso e saíram andando.

*********

Hunter Wayne – Distrito 3

         

Hunter não queria se apaixonar por Savannah.

Negava-se a acreditar que aquilo tinha acontecido, em tão poucos dias, e durante os Jogos Vorazes. Era uma situação dolorosa e patética. Mas não podia negar que queria tê-la beijado nos lábios, e não na testa...

Mesmo que ele devesse estar atento à floresta e a possíveis perigos que podiam estar espreitando por perto, Hunter estava pensando na aliada. Fez uma ronda distraída pela área, como dissera para ela que faria, e já estava dando a meia-volta quando ouviu o canhão.

Ele gelou no lugar. Além dos dois, havia outros doze tributos na arena, mas sua intuição era muito clara. Savannah passara o dia tão fraca e doente, e Hunter sabia que ela podia partir a qualquer momento. E ele a deixara sozinha. Ele a deixara sozinha.

Tão logo conseguiu se recuperar do choque inicial, saiu correndo para o lugar onde eles estavam acampados. Seu coração martelava em seu peito, e ele queria tanto chegar lá e ver que outra pessoa havia morrido e que Savannah ainda estava lá, assustada como ele, também temendo pela vida do aliado.

Teve alguns segundos para se iludir, até que chegou ao acampamento. Olhou, desesperado, para o saco de dormir onde ela devia estar deitada, e depois caiu de joelhos no chão, arrasado.

O saco de dormir estava vazio. Savannah tinha morrido e o aerodeslizador já havia levado seu corpo.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!



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