Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 37
Entrevistas - III


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo de entrevistas! Espero que gostem!



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Nas entrevistas, cada tributo tinha direito aos seus cinco minutos de fama – que se tratava de, literalmente, apenas cinco curtos minutos, que deviam ser aproveitados da melhor maneira possível.

Contudo, mesmo com o tempo não sendo longo, ele não deixava de ser causa de uma grande pressão para os jovens. Alguns eram mais confiantes e lidavam bem com isso – outros, pareciam prestes a vomitar com a expectativa. Mas para todos, a experiência era tecnicamente a mesma.

A diferença era que, para a maioria dos tributos, ela já tinha acabado. Na última 1h20, dezesseis deles tinham sido entrevistados, e agora apenas sentavam no arco, sorrindo e mantendo a pose, enquanto os outros iam e vinham. Somente os oito restantes ainda precisavam se preocupar.

— Agora temos somente mais quarenta minutos de entrevista – Caesar constatou, suspirando com frustração. – Mas tenho certeza de que os próximos tributos farão cada um deles valer a pena. Não é mesmo, Soyalia Harvester?

A menina se aproveitou da deixa para levantar e ir até a cadeira do entrevistado. Usava um estonteante vestido preto de alças, com uma abertura lateral. Seus cabelos estavam completamente trançados e enfeitados com adornos pretos e brilhantes.

— Como é estranho ver um dos gêmeos do Distrito 9 sem a companhia do outro – Caesar começou, brincando.

— Pedimos para fazer a entrevista juntos, mas, infelizmente, não deu certo. – Soyalia falava com seriedade, mas havia um sorrisinho em seus lábios, como se o simples fato de estar lá fosse, para ela, uma grande piada.

— Seria divertido se houvessem feito uma exceção. É realmente uma pena. Você e seu irmão sempre foram assim tão unidos?

 - Somos um só – Ela respondeu sem nem mesmo pensar antes. – Mesmo agora, minhas palavras também são dele, e quando ele falar, as palavras dele serão minhas. Sempre foi assim. Então, você não estava correto ao afirmar que estou sem a companhia dele agora.

Caesar ergueu as sobrancelhas.

— Que interessante.

E quando chegou a vez de Cornelio Harvester – vestido de maneira similar a irmã, com um sofisticado terno preto e um chapéu preto e brilhante – foi, por mais uma vez, evidente a maneira como o sorriso deles, o olhar e até a maneira de andar era idêntica. Uma semelhança demasiado perfeita para ser alguma espécie de truque ou tática.

— Enquanto eu conversava com sua irmã, pensei em algo – Contou Caesar para ele, que fez um gesto para que o entrevistador prosseguisse – Essa maneira como você e Soyalia precisam um do outro... Lembra muito a necessidade que os distritos têm pela Capital e vice-versa.

Sons de aprovação vieram da plateia, que começou a comentar sobre a comparação. Apenas Cornelio não pareceu muito interessado.

— É, acho que sim.

— E o que vocês dois estão planejando para a arena?

— Isso é muito... – Ele parou para procurar uma palavra correta. – Relativo. Depende de como os Jogos serão, mas o que importa é que temos o perfeito controle da situação. Soyalia é muito boa em qualquer forma de combate, e eu, em técnicas de sobrevivência.

— Equilíbrio – Observou Caesar – Exatamente o que define um tributo perfeito.

Depois de Cornelio, a próxima a ser chamada foi Savannah Rayworth. Diferentemente da maioria das garotas, que usavam diferentes estilos de vestido, ela vestia um tailleur roxo com mangas e saia bufantes, assim como saltos que deviam ser bem complicados de se usar, considerando que ela tropeçou no caminho para frente do palco e por pouco não foi ao chão. Estava muito vermelha e sem graça ao se sentar na cadeira.

— Acho que não comecei de maneira muito glamorosa, não é? – Perguntou, timidamente, e todos riram.

— Não se preocupe com isso. Eu achei bem estiloso. E original – Caesar brincou.

— São os seus olhos – Retribuiu Savannah, no mesmo tom.

— Deve ser. Talvez eu tenha me identificado, já que eu ainda tropeço nos degraus de entrada da minha casa. E eu já moro lá há quase cinco anos.

Novamente, houve risadas.

— Coisas assim costumam acontecer comigo – Ela comentou, mas logo pensou bem. Será que realmente gostaria de falar de sua falta de sorte para toda a Capital? Então, consertou: – Mas no final, eu sempre consigo me levantar dos tombos que levo, e sigo em frente.

— E isso é o que mais importa. – Concordou Caesar.

O garoto do distrito dela, Sanderson Cutner, foi o tributo seguinte. Ele não tropeçou, mas estava visivelmente muito incomodado. Caminhou de ombros encolhidos e sentou desconfortavelmente na cadeira que tremeu sob seu grande peso. Parecia não saber o que fazer com as próprias mãos.

— Ah, por favor, Sanderson, fique mais à vontade. Estamos entre amigos.

Ele pareceu confuso e intrigado com o comentário de Caesar.

— Na verdade... Os meus amigos estão no Distrito 10. – E olhou para a plateia, como se esperasse vê-los sentados lá. A inocência dele foi tão sincera que fez muitos rirem, mas como isso pareceu deixar Sanderson ainda mais perdido, Caesar permaneceu sério.

— Não, me refiro a todos os seus amigos da Capital. Não vê? – Ele apontou para o público – Todos gostamos muito de você aqui.

— Isso é bom – Sanderson disse, mas não parecia muito certo – Não me conhecem muito bem, mas são meus amigos, como patrocinadores. – Ele tentou sorrir, evidenciando uma tentativa de piada. Mais uma vez, todos riram muito, mas não do motivo certo.

Percebendo a situação, Caesar começou a fazê-lo falar mais de si mesmo, fazendo o possível para tomar todo o controle do rumo da conversa, o que deu consideravelmente certo. Assim, Sanderson saiu sem grandes problemas, dando lugar a Desdemona Black.

Ela vestia um vestido curto, de um cinza tão claro que beirava o branco, e seus cabelos tinham sido totalmente penteados para um lado com gel, de forma que desciam por seu ombro como uma cascata negra. Um casaco também cinza que utilizava ajudava a disfarçar a sua magreza extrema.

— Após ser o entrevistador em tantas edições dos Jogos Vorazes, percebi muitas coisas. Como que os tributos do Distrito 11 costumam ter famílias grandes. Claro, não todos, mas a maioria. Você está entre eles?

— Sim. – Desdemona assentiu. – Moro com meu pai, minha avó e três irmãos. Acho que isso pode ser considerado uma família grande.

Caesar concordou.

— É, sim. E me perdoe a pergunta, mas... E sua mãe?

— Eu já tive uma mãe – Ela fez uma careta de dor. – Mas agora não tenho mais, e não quero falar sobre isso.

— Eu entendo. Podemos falar sobre algo melhor, então. Como... amigos. Você tem muitos?

— Tenho dois, mas isso é o suficiente para mim. Vivian e Bryan são grandes amigos.

— Bryan? O mesmo nome de seu colega de distrito?

Desdemona piscou, como se tivesse esquecido que o público não sabia daquilo.

— Não é o mesmo nome... É a mesma pessoa.

Isso interessou a todos, mas a entrevista dela terminou antes que Caesar conseguisse arrancar maiores detalhes. Felizmente, quem veio em seguida foi ninguém menos que Bryan Taylor, cuja expressão indicava já saber sobre o que seria perguntado. Ele usava roupa social e sobretudo de variados tons de azul, do mais claro ao mais escuro.

— Então... Eu preciso perguntar ou...? – Caesar começou, sorrindo, e Bryan fez um gesto de despreocupação.

— Não se incomode. Eu já sei. Vocês querem saber sobre Desdemona e eu. – O público gritou palavras de incentivo. – Bem... Nós nos conhecemos há seis anos, quando ela começou a trabalhar no mesmo lugar que eu. E eu sou um ano mais velho que ela, então nunca estudamos juntos, mas somos inseparáveis desde aquela época.

— Todos por aqui dizem que vocês dois são uma gracinha juntos.

— Eu concordo. – Essa resposta arrancou novos gritinhos das garotas. Será que isso indicava que havia algo mais entre eles? – E nada é mais doloroso para mim do que estar aqui com ela. Porque se a questão fosse proteger minha vida, eu simplesmente focaria nesse objetivo e faria. Mas estando com Desdemona, eu penso: proteger minha vida é realmente o mais importante?

Bryan deixou a pergunta no ar quando saiu, e ela permanecia na mente de todos quando Anna Borgin assumiu a posição de entrevistada. A garota tivera a pele tingida de dourado, e ela brilhava como as joias delicadas que enfeitavam a roupa dela.      

— Eu sempre considerei os tributos do Distrito 12 sortudos – Caesar disse a ela, o que surpreendeu a todos, já que era bem sabido que esses tais tributos não tinham sorte alguma. – Afinal, vocês têm mais tempo para se preparar do que todos os outros!

— Temos, sim... E, considerando tudo o que vimos até hoje, temos mais necessidade, também.

— Talvez. – Ele sorriu, amenizando o que ela dissera – E com uma dose de dedicação, você pode ser uma exceção ao padrão.

— Tecnicamente eu poderia... Mas é complicado, já que o meu distrito nunca deu condições para que eu treinasse, como alguns outros. Na verdade, na maioria das vezes, sequer recebemos condições de sobrevivência por lá.

Uma crítica. Isso era algo que a Capital não queria, mesmo que esta não fosse feita a ela, e sim a um de seus distritos. Sabendo disso, Caesar falou, segundos antes do tempo:

— Obrigado pela sua sinceridade, Anna.

E o último tributo era Kriger Scherbitsky. Ele não estava usando terno como a maioria dos tributos masculinos, mas uma roupa que ressaltava sua pouca idade, de uma cor delicada de verde-claro.

— Você tem um nome muito curioso, Kriger. – Foi uma das primeiras coisas que Caesar disse para ele. – Mas tenho certeza de que isso deve ser sinônimo de uma família muito interessante. Como são os seus parentes?

— Eu não tenho parentes. Nenhuma família – Embora ele estivesse forçando um tom dócil, ele não expressava nenhum sentimento ao falar da família morta. – Eles morreram quando eu era pequeno, em uma explosão de uma mina.

— Isso deve ter sido realmente difícil para você. E onde viveu após isso?

— No orfanato do meu distrito. Não é um bom lugar, mas eu não ligo. Não vou voltar mais para lá, vencendo ou perdendo os Jogos.

— Você tem toda a razão – Caesar assentiu. – E se você ganhar, o que pretende fazer?

— Eu não acho que eu tenha chances de ganhar... Não sem ajuda de patrocinadores. – Disse ele, mais uma vez, visivelmente melodramático. – Mas se acontecer de eu vencer, eu quero ajudar pessoas, sabe? Ajudar o meu distrito a ser um lugar melhor.

Depois que Kriger voltou para o seu lugar, todos os tributos se levantaram para o hino. Todos tinham tido sua chance de mostrar o que tinham de melhor nos últimos dias – fosse isso a aparência, o carisma ou a habilidade física. E agora, estava acabado. Havia apenas os Jogos Vorazes a frente deles.

A partir daquele momento, eles estavam sozinhos com suas próprias sortes.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo já vai ser a apresentação da arena. A partir de agora, os Jogos Vorazes serão para valer ;)



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