Stay Alive escrita por Giullia Lepiane
Notas iniciais do capítulo
É, estou sobrevivendo à escola, embora não tenha mais tanto tempo para escrever. Mas vamos levando :)
Boa leitura!
Bryan Taylor
Bryan talvez fosse o único tributo que não queria, de jeito algum, ter de ver sua família uma última vez antes de embarcar no trem para a Capital.
Na verdade, ele queria poder ver sua mãe, mas esta era paraplégica, e por isso tinha licença para ficar em casa no dia da colheita, não estando lá naquele momento. Quem ele não queria ver os dois irmãos mais velhos – todo o resto da família que lhe restava – por viverem implicando com ele.
Seu alívio foi tamanho quando ao invés deles entrou na sala sua amiga, Vivian, que ele sorriu apesar de toda a tristeza.
– Vivian! – Exclamou, e a menina foi sentar ao lado dele no sofá. Eles seguraram as mãos um do outro.
– Bryan, eu simplesmente não consigo acreditar nisso. – Contou ela, balançando a cabeça. – Você e a Desdemona sorteados.
Os três eram melhores amigos inseparáveis. Era realmente uma infeliz coincidência que, dentre todas as pessoas naquele distrito enorme, dois deles tiverem de ir para os Jogos Vorazes – e para piorar, no mesmo ano.
– Eu provavelmente vou morrer sem acreditar nisso. – Ele respondeu, amargamente. – Desde que morra antes de Desdemona, para mim já é satisfatório.
Deu para ver que Vivian não sabia o que dizer. Concordar com o que Bryan dizia era errado, mas negar também era.
– Só queria que houvesse alguma maneira de os dois sobreviverem.
– Seria incrível, não é?
Vivian hesitou.
– Bryan... Você gosta da Desdemona?
– Claro que gosto da Desdemona.
– Não. Não assim.
O garoto olhou para a amiga por um momento, em choque. Não se lembrava de ter, em qualquer momento, deixado transparecer qualquer coisa. Como ela podia ter adivinhado?
Ele não respondeu, mas Vivian interpretou corretamente o silêncio dele, pois enterrou o rosto nas mãos.
– Não é justo vocês irem para os Jogos. Não é justo.
– Não é justo que qualquer pessoa vá para os Jogos.
– Mas vocês... – Ela foi interrompida pelo pacificador que anunciou o final do tempo deles. Mal dava para acreditar que a despedida deles, daquela vez, foi definitiva.
*********
Desdemona Black
Desdemona não estava se sentindo ela mesma quando foi deixada sozinha em uma sala do Edifício da Justiça. Era como assistir a outra pessoa passando por tudo aquilo, como tinha sido em todos os outros anos.
Ela foi até uma poltrona e tirou a almofada que estava sobre ela para se sentar. Então, enterrou o rosto na almofada e gritou tão alto que sua garganta chegou a arder. Isso fez a situação parecer um pouco mais real.
A porta se abriu um momento depois. Desdemona achou que fosse algum pacificador querendo saber qual fora o motivo do grito e já pensava no que ia dizer para ele quando tirou o rosto da almofada e viu seus três irmãos mais novos, Romeo, Margareth e Otelo, entrando na sala. Aquilo era definitivamente melhor.
Otelo, mesmo sendo velho demais para isso, correu para se sentar no colo da irmã, e Desdemona não reclamou de seu peso. Romeo sentou-se no braço da poltrona dela, passando um braço por seus ombros, e Margareth sentou no chão em frente à ela. Era reconfortante estar assim, embora Desdemona mal conseguisse se mexer.
– Não vá embora. – Pediu Otelo.
– Se eu pudesse, ficaria. – Garantiu ela.
Ela parou para pensar no quanto seus irmãos teriam de amadurecer, quando ela morresse. Sempre foram poupados de muita coisa por ela – especialmente o mais novo.
– Isso não vai ficar assim. – Resmungou Romeo, sempre com seu estilo revolucionário, que Desdemona sabia que poderia causar-lhe problemas ainda piores do que as surras de pacificadores que o garoto levara até então.
– Vai, sim. Não se meta em problemas. – Pediu, alarmada.
– Eu vou cuidar deles, não se preocupe. – Disse Margareth. Ela era mais nova do que Romeo, mas tinha um senso de responsabilidade muito maior.
– Conto com você. – Desdemona respondeu, e um pacificador bateu na porta. Romeo praguejou.
– Não quero ir! – Exclamou Otelo, abraçando a irmã ainda mais forte. Romeo e Margareth o puxaram e tiveram de arrastá-lo para fora da sala, embora parecessem tão relutantes quanto ele.
Desdemona sentiu vontade de gritar outra vez.
*********
Os tributos do Distrito 11 não tiveram momento algum a sós desde o momento em que entraram no carro que os levaria à estação até depois de assistirem às reprises das colheitas, o que era torturante. Eles precisavam desesperadamente conversar um com o outro sobre tudo aquilo.
Enfim a mentora mandou que eles fossem dormir, e os dois saíram juntos do vagão de televisão, indo até o corredor onde ficavam os quartos deles. Lá, Desdemona apoiou a costa contra uma parede, cruzando os braços, e Bryan parou de frente para ela, olhando para baixo.
– No que você está pensando, Mona? – Perguntou ele.
– Em como tudo isso é péssimo. E em como sou uma péssima pessoa por me sentir bem por você estar aqui comigo, mesmo isso querendo dizer que a minha vitória significaria sua morte e vice-versa. – Ela respondeu imediatamente.
– Bem, seremos aliados, não é? Haja o que houver, vamos ficar juntos.
– Com certeza. – Desdemona assentiu.
Eles não queriam entrar nos respectivos quartos e terem de ficar sozinhos por tantas horas até a chegada da manhã, por mais cansados que estivessem. Simplesmente ficaram parados, encarando os próprios pés por alguns minutos. Bryan imaginou o que aconteceria se ele se inclinasse e beijasse Desdemona – ela iria aceitar? Talvez ele até tenha pensado nisso mais do que o suficiente, pois logo a garota o olhou com uma cara estranha.
– E o que você está pensando?
– Em você. – Bryan definitivamente não estava mentindo.
Havia algo na expressão dela que ele nunca tinha visto. Parecia quase... desconfiança?
– Ah. – Ela falou, sem olhar para ele. – Bem. Acho melhor irmos dormir, Bry. Amanhã teremos um dia cheio.
Ela o abraçou, como os dois sempre faziam para se cumprimentar ou despedir, mas ainda havia algo fora do comum no ar. Bryan lhe deu tchau também, e os dois entraram em seus quartos.
Desdemona se sentiu ainda pior. Ela e Bryan eram o tipo de amigos que não paravam de falar quando estavam um perto do outro, e ela não entendia o que tinha acontecido entre eles na última conversa. Seria por causa do clima negativo dos Jogos Vorazes? Ou seria algo mais?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O próximo capítulo já será a última partida, e então encerraremos essa parte da história! Até lá!