Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 11
Colheita - Distrito 10


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Savannah Rayworth

O azar de Savannah Rayworth, naquele dia, foi mais uma vez comprovado quando ela tropeçou no tapete do corredor do orfanato onde trabalhava e caiu no chão.

Tão vermelha quanto seus cabelos, ela aceitou a mão que lhe foi oferecida para ajuda-la a levantar-se, de outro funcionário que estava passando.

- É a segunda vez nesta semana, Jinx. – Comentou ele com um sorriso, utilizando-se do apelido de Savannah, que significava “mau agouro” e combinava com a má sorte da garota.

- Terceira. – Corrigiu, com um sorriso sem-graça.

Nesse momento, uma exclamação de “Mas que droga!” veio da cozinha, que ficava no final do corredor onde eles estavam. Pensando no pior, Savannah e o homem saíram correndo, e irromperam no aposento com o coração na mão.

- O que houve? – Perguntou ele, enquanto eles olhavam em volta freneticamente, procurando o que havia acontecido de errado naquela apertada cozinha amarela.

E tudo o que encontraram foi outra funcionária, parada em frente a um fogão onde estava esquentando uma grande panela com sopa, e que estava aparentemente bem, salvo pela expressão desolada no rosto.

- A comida não vai ser suficiente para todas as crianças. – Comentou.

Os outros dois, que trabalhavam lá há mais tempo, suspiraram. A Capital nunca mandava para o orfanato do Distrito 10 comida o suficiente. Nem para os cidadãos que tinham família, na verdade.

- Vamos fazer o esquema de sempre, então. – Disse o homem. – Damos de comer para os mais novos, e os mais velhos pensam em alguma coisa sozinhos.

- Mas hoje é colheita. – Interveio Savannah – Os mais velhos são os que precisam de mais força.

- Ela tem razão. – Concordou a mulher.

- O.k. Então, hoje daremos comida só para as crianças mais velhas.

Mesmo tendo dado a ideia, Savannah não gostava de pensar nas criancinhas com quem ela trabalhava todos os dias chorando de fome. Assentindo brevemente, ela se virou para se retirar.

- Vou tentar distrai-las.

*********

Sanderson Cutner

Mesmo que Sanderson Cutner fosse acostumado com trabalhos pesados, e aos seus quinze anos de idade já trabalhasse na estação de abate de seu distrito com a pior tarefa possível – matar os bois –, o que as pessoas da Capital e de distritos ricos jamais entenderiam, ele mantinha sua opinião de que até os trabalhos mais leves eram complicados quando se tinha o Sol forte sobre si – o que era uma situação comum no Distrito 10, um dos únicos quatro distritos onde nunca nevava e nem fazia frio o suficiente para tal.

E naquele dia, a irmã de doze anos dele, Juniper, descobriu aquilo também. Mesmo que ela fosse a mais nova e a única menina de cinco irmãos, ela sempre tentava trabalhar tanto quanto os outros, e por isso havia decidido que queria ajudar Sanderson nas tarefas que ele sempre exercia nos feriados, e que incluíam ajudar a mãe a trocar lâmpadas e a carregar coisas pesadas, o que eles faziam no momento.

- Juniper, você está bem? – Ele lhe perguntou, enquanto eles atravessavam o quintal, levando para dentro da casa duas caixas que haviam pegado no celeiro. A menina estava tão vermelha pelo esforço quanto Sanderson ficava quando ficava nervoso.

Ela não conseguiu responder, mas assentiu.

Quando eles chegaram a casa, descobriram a porta da frente fechada. Sanderson deu um leve chute nela para chamar a atenção de alguém lá dentro, e seu irmão de treze anos, Calisto, veio correndo para abri-la para eles.

- O Steven está contando uma história de terror. – Logo contou o garoto. – Esta é uma das melhores. Vocês deviam vir ouvir também.

Steven era um dos dois irmãos mais velhos que eles tinham em comum, e o melhor contador de histórias que eles conheciam. Sanderson se virou para Juniper.

- Vá ouvir a história. – Sugeriu – Eu termino aqui.

- Mas...

- Vem, Juniper. – Disse Calisto – O Steven não vai esperar para sempre.

Juniper lançou um olhar de desculpas para Sanderson, deixou a caixa no chão e saiu com Calisto. Sanderson sorriu.

- Sem problemas.

*********

Um discurso longo, mas feito sem olhar para os espectadores nem uma única vez. Essa era uma coisa que se podia esperar do representante do Dez, Leanel.

Ele, de certa forma, era um bom representante – dizia o que tinha de dizer, agia como tinha de agir – mas sempre ficava implícito o quanto ele detestava o distrito com que trabalhava. Isso era comum entre os representantes dos distritos pobres. E a população não tinha opção além de ouvir em silêncio, esperando que aquele homem da Capital determinasse como eles iam passar o resto do feriado.

- Toda vez em que eu vou sortear um tributo, me lembro do primeiro Massacre Quaternário. – Disse Leanel antes de dar início ao sorteio. – Neste ano, os distritos que tiveram de escolher qual de suas crianças iam para os Jogos. Me pergunto: Se vocês pudessem escolher neste ano também... Quem escolheriam?

Seria algo que as pessoas ficariam pensando mais tarde, mas não naquele momento: Era a hora de Leanel ir tirar o nome da menina. E ninguém ficou especialmente surpreso por ser o de Savannah Rayworth. Algumas pessoas da plateia até chegaram a trocar sussurros de que a má sorte dela só podia dar nisso.

Mas Savannah não ouviu os sussurros na hora, assustada demais para processar qualquer coisa que não fosse as palavras de Leanel ecoando em sua mente, e quando conseguiu se recompor, eles já tinham cessado. Tentou se distrair do medo se concentrando em outra coisa – no caso, em não tropeçar no pé de ninguém ou nos degraus que levavam para o palco enquanto ela ia. Conseguir isso já foi uma pequena vitória.

Leanel não quis olhar pra ela mais do que queria olhar para os outros, mas esperou educadamente que ela estivesse em seu lugar certo no palco para ir sortear o garoto.

Este era Calisto Cutner.

Deu para ouvir de longe a respiração ofegante do garoto, antes que ele começasse a chorar. A reação dele, no entanto, não foi nada comparada à de seu irmão mais velho, que ficou muito vermelho e começou a suar frio, fechando suas mãos em punho antes de gritar:

- Eu me ofereço como tributo!

Calisto não parava de chorar, mesmo depois de Sanderson ter se voluntariado, o que não estava melhorando a situação. Sanderson se sentia prestes a explodir, e teve de mandar Calisto calar a boca antes de ir para o palco. Talvez tenha sido a primeira vez em que ele falava assim com o irmão, mas todos sabiam do que ele era capaz quando estava em crise.

Savannah, contudo, não tinha como saber disso. Ela era amiga de praticamente todos do distrito, e mal conseguia se lembrar de Sanderson, mesmo quando ele disse o nome dele no microfone. Por um lado, ela pensou que tornaria as coisas um pouquinho mais fácil ter de ir à arena com alguém que não conhecesse. Por outro, ela estava com medo de ter uma companhia bastante desagradável.

Mas uma companhia desagradável era um problema superficial comparado aos outros que eles teriam de suportar nos próximos dias.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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