Dia 30 de Agosto...

Sento-me em minha poltrona no meu chalé, isolado do tumulto da cidade metropolitana. Livrando-me dos ruídos e do ar pesado de uma cidade economicamente evoluída onde o estresse é como se fosse a segunda personalidade de cada pessoa.

Precisava de um tempo para mim, para descansar, e escolhi o inverno. Três meses fora de toda aquela agitação e comprometimentos, responsabilidades. Eu sempre almejei aquilo, mas naqueles últimos meses minha nova vida estava tornando-se insuportável. Pena que estava no meio da estação, quase ao seu final, o que não me agravada nem um pouco.

Desde que eu me lembrava, sempre estive em busca de algo em minha vida, algo em que eu pudesse simplesmente dizer que estava satisfeita, algo que eu pudesse ter orgulho por si própria e, principalmente, algo que pudesse me livrar do peso que carregava em minhas costas.

Sempre desejei ser uma pessoa fria, porque eu odiava importar-me com os outros e eles me desprezarem no final por coisas banais e sempre ficava inconformada em como o ser humano poderia ser frio e cruel com o seu conterrâneo. Mas, uma pessoa me ensinou que talvez as pessoas precisassem mesmo de alguém que se importasse com elas e não deixasse a amizade acabar e talvez fosse só a maneira delas dizerem que estavam magoadas, agindo de uma certa forma que era dolorosa para mim. Mesmo assim tinha que admitir que nunca me conformei com isso.

Durante a minha vida conheci muitas pessoas, algumas ficaram comigo por pouco tempo e outras foram amizades de longas datas... Uma das melhores foi quando conheci a Bárbara Helena, achava ela tão espontânea e divertida. Era como se ela quisesse que a gente sempre risse do que ela falava. Era uma pessoa dócil, vivia se culpando por coisas banais, coisas que ela não era culpada e que nem chegavam perto disso. Era uma ótima pessoa para desabafar, sempre dizia a verdade e sempre falava de um jeito sincero que me cativava e sempre pensei que a queria por perto em todos os meus momentos, assim como ela sempre disse que precisava de mim em vários momentos de sua vida. Sempre foi assim, achávamos injusta a distância que nos separava.

Suspirei revirando os olhos enquanto mantinha minha xícara de cappuccino em mãos, vendo sua fumaça subir, estava quente, e lá fora gelado até demais. Nem me preocupei em ver qual era a temperatura, só queria continuar sentada em minha poltrona com aquele cobertor e escutando levemente o som do aquecedor ligado. Era aquilo que eu precisava, descanso. Peguei um livro em cima da mesa em que ficava o abajur, estava na metade dele, porém ainda me restava mais dois volumes para ler. Era uma quadrilogia, “Despertar”. Nem acredito que vi aquela história crescer cada vez mais e nunca me cansava de lê-la.

Um sorriso bobo surgiu em meus lábios, afinal aquele chalé aconchegante em uma reserva, foi feito especialmente para mim, o melhor foi que uma grande arquiteta elaborou a sua estrutura, eu não poderia esperar menos da minha querida amiga Lena, talvez eu devesse ligar para ela, talvez não, eu deveria ligar para ela. Era dia 30 de Agosto, seu aniversário. Ela precisava dos meus parabéns e claro que dessa vez eu não iria mandar o seu presente pelo correio como fazia antes, iria sair do conforto do meu chalé e iria entregar algo especial para ela, pessoalmente, porque simplesmente era isso que ela merecia, simplesmente não... Ela merecia muito mais e se dependesse de mim ela iria ter muito mais do que um simples presente, e sim a minha amizade eternamente.