Scars Of Love escrita por Simi


Capítulo 59
Capítulo 58


Notas iniciais do capítulo

Aqui fica algo diferente... :3
Boa leitura! ^_^



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(Catarina)

Dormi até cerca das dez e meia da manhã. Os meus nervos já se tinham acalmado, mas não me tinha deixado de enfurecer quando pensava no assunto. Tomei um longo banho e acabei por me perder naquele palácio. Corredores e mais corredores… Salas e mais salas… Pensei em gritar para alguém me ajudar, mas era melhor não, ia fazer figura de parva. Andei por mais alguns corredores até que ouvi alguém a correr atrás de mim. Zach parou diante de mim a ofegar. Eu, sem saltos à beira dele, era uma formiga. Vestia uma gabardina cabeada, umas calças de couro e uma T-shirt preta sem mangas. Ele deve ter corrido bastante atrás de mim, gotas de suor estavam presas ao seu cabelo prateado.

— Desculpa, eu acabei por me perder…

— Tu não tens mesmo noção da imensidão deste palácio… – disse, passando as costas da mão pela testa. – Bem, eu também passei aqui uns bons anos.

Sempre fiquei muito curiosa do porquê de ele ter passado tanto tempo sem viver junto dos humanos, sem ter uma vida social.

— Mas passou-se alguma coisa? Para vires assim atrás de mim… – perguntei, vendo-o muito sério.

— Não se passa nada. O estado da Isabella ainda não mudou, digamos que está estável. O Petrus anda por aí, tipo vagabundo sem destino e eu fiquei encarregado de andar contigo. – disse esta última parte como se fosse um fardo.

— Bem, também se não quiseres acompanhar-me não precisas, eu não quero ser um fardo para ninguém… – disse a última parte num tom mais baixo.

Lembrei-me de coisas que não queria. Parvo como sempre, deu-me um carolo na cabeça.

— Idiota! Quem te disse que eras um fardo?!

Eu até lhe dizia, mas não queria estar a tocar no assunto. A massajar a cabeça onde ele me bateu, perguntei:

— Afinal, o que é que vamos fazer?

— Eu deixei aqui umas coisas por tratar portanto tu vais acompanhar-me e ajudar-me pode ser?

Suspirei. Se tinha quer ser… Nada disse, limitei-me a segui-lo. Andamos por vários corredores e entramos no que me parecia ser uma biblioteca. Era enorme! Talvez aquilo tivesse o triplo ou mais do tamanho de uma casa térrea pequena.

— Como é que tu te organizas aqui rapaz? – perguntei, muito espantada.

— Tive uns bons anos para me habituar e para explorar este sítio. Não digo que pareça um labirinto, mas está lá perto. – disse ele, sorrindo.

Segui-o até uma grande mesa redonda que se encontrava perto de uma grande janela. Em cima da mesa, estavam pelo menos sete livros.

— Diz-me então o que tenho que fazer! – disse num tom empenhado.

— Tens que tirar apontamentos das páginas marcadas. – sentou-se e entregou-me os dois livros mais pequenos em termos de páginas para a mão.

— Eu não sou assim tão preguiçosa Zach… – disse sentando-me.

Peguei numa caneta, mas a cor não me agradava. Nunca gostei de escrever a preto…

— Zach tens outra caneta por favor? Sei que estou a ser mesquinha, mas eu não gosto de escrever a preto… – Olhou-me durante uns segundos, suspirou e trocou a caneta dele pela minha. Um dos livros que eu estava a fazer apontamentos era sobre o uso dos Elementos. Eu não sabia muito sobre aquilo, nada mais para além do que tinha conhecimento pelo que Isabella fazia. – Zach, há mais livros sobre este tema por aqui? – perguntei eu, mostrando-lhe a capa do livro.

— Não falta disso aqui. Vês ali aquele pequeno escadote? – questionou apontando para o corredor que se encontrava em frente à mesa. – Eles estão mesmo no sítio onde está o escadote. Tem cuidado para não caíres, aquele escadote não é muito estável.

Bem, preferia que ele não tivesse dito aquilo. A cada escada que subia, o escadote rangia de tal maneira que o seu som fazia eco por toda a biblioteca. Olhei várias vezes para Zach, para ver se ele ainda me dava uma ajudinha, mas nada. Continuava a escrever, a rir-se de mim e olhar-me de lado com gozo. O escadote era pequeno demais para eu puder chegar ao livro que queria. Tentei esticar-me vezes e vezes sem conta. Até que… um dos degraus do escadote partiu e daí, todos partiram. O berro que lancei deve ter ecoado para além da biblioteca. Senti a aterrar-me nalgo fofo. Ao menos não tinha caído no chão… Mas se calhar tivesse sido melhor… Dei conta que estava nos braços de Zach. Ele olhava-me preocupado e irritado e eu continuava a ficar vermelha e mais vermelha… Estivemos nisto cerca de dez minutos, até que decidi quebrar o silêncio:

— Zach eu não vou quebrar se me puseres no chão. Não sou uma bonequinha de porcelana. – corou. Pigarreou várias vezes e ocupou novamente o seu lugar. E eu acabei por ficar sem o livro. Coloquei-me perto dele e toquei-lhe duas vezes no ombro com a ponta do meu indicador. – Zach… O livro… – Ele suspirou e olhou-me como se pudesse matar-me. Estava menos de dois passos de mim. – Se não queres chegar o livro não chegues, eu vou procurar outro escadote.

Mal comecei a andar, ele agarrou-me no pulso e encostou-me contra a mesa, apertando-me os pulsos e ficando quase deitado sobre mim. As nossas faces estavam tão próximas que conseguia sentir a sua respiração. Se algum de nós se movesse por mais um centímetro que fosse, os nossos lábios iriam tocar-se. O meu coração começou a palpitar como há muito não o fazia. Depois de vários minutos naquela posição e dos meus punhos estarem a ser massacrados, pois ele fazia cada vez mais força, embora eu não conseguisse perceber o porquê, bateu com a sua testa na minha e suspirou. A pressão que ele fazia nos meus pulsos diminuiu. Num tom baixo, leve, e com uma pitada de carinho que eu não consegui perceber ou então não queria, disse:

— Tu tiras-me do sério, Catarina… – os seus lábios estavam tão perto do meus que acabaram por embarrar quando ele falou.

Virou-me costas e foi buscar o livro. Eu, por incrível que possa parecer, fiquei paralisada, na mesma posição. A minha cara deveria estar tal e qual como um tomate. Pouco se esticou para conseguir chegar ao livro.

“Ele não podia ter feito aquilo há mais tempo?!” – questionei-me.

Não conseguia perceber o que se passava comigo. Ele estava a fazer com que certas coisas fossem despertadas, coisas que eu não queria que fossem, coisas pelas quais eu já tinha sofrido tanto… Só de me lembrar… Cenas, flashs de momentos passaram na minha cabeça. Não aguentava mais… Saí a correr da biblioteca. Corri por tantos corredores que nem lhes fiz a conta. Chorava desalmadamente. Acabei por me perder. Dei por mim perto dum pequeno lago. Juntei os joelhos perto do queixo, agarrando as pernas junto ao peito. Não sabia como haveria de voltar para o Palácio, mas naquele momento não me importava com isso. Só me passava novamente pela cabeça aquelas imagens de violência, o meu corpo tremia de medo. Ao longe, pude ouvir a voz de Zach a chamar-me e a correr de lado para lado à minha procura. Naquele momento, o meu maior desejo era que ele não me encontrasse. Mesmo que eu tivesse que achar o caminho de volta para o meu quarto ou até mesmo para o Palácio, preferia andar e andar até encontrar. Não queria que ele me pedisse explicações, não queria falar do meu passado com Isaac, não queria…

— Tu por acaso sabes o quão distante este lugar é do Palácio? Tens a noção do quanto eu tive que correr para te encontrar?! – nada respondi, nada disse. Continuei cabisbaixa… A chorar… Aos soluços… Zach sentou-se ao meu lado apoiando-se na sua mão direita e espreitando para a minha cara escondida. Mesmo eu fazendo força, Zach conseguiu retirar os braços da frente do meu rosto, mas eu continuava sem o olhar. Ele puxou-me para junto dele e colocou-me no seu colo, nas suas pernas e encostou a minha cabeça ao seu peito, afagando-a lentamente. – Desculpa se te assustei, não era essa minha intenção…

O seu tom de voz mostrava um arrependimento tal que eu só o tinha ouvido uma vez pela voz do Petrus para com Isabella. A culpa não foi dele, eu é que continuava a deixar que as memórias me atormentassem. A camisola dele ficava cada vez mais molhada devido às lágrimas que caíam sobre ela. Do nada e talvez para ele não ficar com um peso na consciência, ganhei coragem e disse-lhe, ainda que aos soluços:

— A culpa não foi tua… Aliás, há muito que não me sentia assim, feliz ao lado de um rapaz, mas existem ainda coisas por resolver, existem ainda coisas que me atormentam… – disse, baixando novamente o rosto. – Eu não sei o que sofreste ou o que te fizeram, mas talvez tenhamos sofrido o mesmo, talvez os dois ainda tenhamos muito por resolver…

Senti uma lágrima a cair sobre a minha nuca.

— Tens razão… Eu ainda tenho alguns assuntos pendentes, mas já se passaram tantos anos que até já acho que fui esquecido, acho que já sou um caso arquivado. – disse esta última parte como se fosse uma coisa boa.

— Desculpa-me…

Pegou-me nos ombros e pôs-se a olhar-me muito interrogativamente.

— E tu estás a pedir desculpa porque…?

— Porque ainda não consigo contar-te o que se passou, ainda não tenho coragem e queria contar-te, queria mesmo muito… – acabei por chorar novamente.

Encostou a minha cabeça novamente ao seu peito.

— Eu sei que não nos damos muito bem, talvez até por sermos casmurros, não sei, mas posso dizer-te que me sinto bem contigo. – disse, segurando-me o rosto e dando-me um beijo ao de leve na testa. – Queria pedir-te permissão para cuidar dessas tuas coisas que te atormentam.

Sorri. Acho que aquele sorriso foi uma espécie de permissão. Aproximou ainda mais a sua face da minha, dizendo:

— A cada dia eu vou aproximando mais, está bem? – perguntou com um leve sorriso nos lábios.

Eu acabei por sorrir, feita parva, corei, feita maluca e o meu coração, feito estúpido parecia que me ia sair pela boca. Enquanto estávamos perto daquele pequeno lago lembrei-me do que disse a Isaac:

“— Deixa de julgar assim as pessoas fedelho, nem todos são iguais a ti.”.

Eu tinha razão. Dali para a frente, iríamos cuidar das feridas um do outro.


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Notas finais do capítulo

Até ao próximo capítulo! ^_^



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