(Isabella)

“Mais um dia de escola… Que treta! Bem…, tem mesmo que ser, não é? Vamos a levantar da cama.” – pensei.

Lá me levantei, com muito custo, mas lá fui. Ao chegar à escola, senti a minha cicatriz no peito a arder, não sabia o porquê, mas sentia-me observada… Algo não ia correr bem naquele dia. Aquela cicatriz estava mesmo no centro do meu peito e a forma que ela tinha nunca tinha visto algo semelhante. No entanto, sempre gostei muito dela, era parecida com uma clave de sol. A manhã passou normalmente e quando cheguei a casa tínhamos visitas.

— Olá mãe, temos visitas é? – sussurrei.

— Temos sim e podes falar alto, porque este senhor é um grande amigo meu.

— Bem, Isabel vou embora que já está na hora de ir. – disse o estranho.

— Mas ainda há pouco chegaste!

— Sim, eu sei, mas tenho mesmo de ir. Tu és a Isabella certo?

— Sim, sou. – respondi.

— Prazer em conhecer-te. A vida muda de um momento para o outro, não é? – mas que raio…?

— Desculpe?

— Tenho de ir. Adeus. – saiu porta fora.

— Oh mãe, tu vais deixa-lo ir assim sem explicar nada?

— Tem calma filha, em breve comprovarás as suas palavras, é um grande sábio.

— Mas se tu sabes vais ter de me dizer, trata-se da minha vida.

— Não vamos falar mais no assunto está bem?

— Hum… está bem…

Almocei, vi a novela da tarde com a minha mãe, fui fazer os trabalhos de casa. Por volta das seis horas, senti um ardor leve na minha cicatriz e algo me fez levantar. Olhei para a porta da sala e a minha mãe observava-me, sorrindo. Parecia estar contente com o que me estava a acontecer.

“Espera! Era disto que aquele homem falava? A minha mãe já sabia disto?” – pensei.

O ardor permaneceu e quando dei por mim estava numa gruta, cheia de cristais. Mais à frente estavam sentadas cinco pessoas. Eram dois homens e três mulheres, sentados em enormes tronos. Uma das mulheres, com um lindo e longo vestido violeta começou a falar:

— Estávamos ansiosos pela tua chegada, há muito que te esperávamos. – disse.

— Calma! Vamos com calma, sim? – disse eu. – Afinal o que é que eu estou a fazer aqui? Eu estava na minha sala, muito sossegadinha e vim parar aqui.

— Se tu nos deixasses falar… – disse um dos homens.

— Eu sou a Rainha da Música. – disse a mulher de violeta.

— Eu sou o Rei do Fogo.

— Eu sou a Rainha da Água.

— Eu sou o Rei do Ar.

— E eu sou a Rainha da Terra.

Nunca tinha ouvido tantas apresentações seguidas a não ser no primeiro dia de aulas do primário. Mal conseguia captar as características das pessoas que tinha diante de mim de tão aturdida estar.

— Mas Terra, Fogo, Água e Ar não são os quatro elementos?

— Sim, são. – disse o Rei do Fogo.

Eu estava a ficar cada vez mais confusa, será que quando me levantei, caí e bati com a cabeça? Será que tinha desmaiado e estava a sonhar? Estaria eu em coma e teria partido para um mundo paralelo?

— Deixa-me explicar-te tudo, minha filha, sem interrupções, está bem? – disse a Rainha da Música. – Tu és uma Anciã Musical. Existem seres no Mundo da Música que fazem música tanto para o Mal como para o Bem e tu, como Anciã, podes fazer música para ambos. Deixa-me mostrar-te.

A Rainha da Música mostrou-me imagens de pessoas, músicos, com uma marca igual à minha, só que uns tinham-na preenchida com uma cor vermelho selvagem e outros com um azul céu. Os que tinham a marca preenchida de vermelho eram chamados de Red Voices e os que tinham a marca preenchida de azul eram chamados de Blue Voices. Embora nem todos os músicos que me estavam a ser mostrados soubessem cantar, mas sim tocavam um instrumento, a Rainha da Música explicou-me que, no início dos tempos, o único instrumento que havia era a voz e por isso nunca se mudaram os nomes dados.

— Tu, Isabella, és uma Violet Voice ou uma Anciã Musical e agora que o teu poder foi ativado, tens o poder sobre o tudo o emitir sons, melodias. Só uma Violet Voice tem o poder dos Quatro Elementos e sabe tocar todos os instrumentos musicais. Ao longo do tempo vais começar a perceber melhor como se tocam, mas devo já dizer-te que a tua especialidade é a voz. Não vais ter de andar em aulas de música para aprenderes a tocar os instrumentos, pois todo o conhecimento está dentro de ti. Essa tatuagem, ao que tu chamas cicatriz, é o símbolo do teu poder e daí, sairão tatuagens que percorreram todo o teu peito. Para já vais ter mais uma tatuagem especial no teu braço esquerdo.

— Au, está a arder! – queixei-me.

— Essa tatuagem é o símbolo do amor que nutres por Petrus e embora ele te tenha causado tanto mal, ele ama-te. – só podia estar a brincar…

“Mas como é que alguém podia amar outra pessoa e fazer-lhe as coisas que ele fez?” – pensei.

— Eu sei o que estás a pensar, mas vocês um dia, muito em breve, vão-se encontrar e ele explicar-te-á. O Petrus possuí a outra metade da tua tatuagem, é símbolo do amor que nutre por ti. Cada vez que um de vós estiver em perigo, a tatuagem do outro irá arder e por muito longe que o outro esteja, fará tudo para socorrer a sua metade. Sei que é muita coisa para digerir, mas tão cedo não teremos oportunidade de nos falarmos, por isso tenho de te explicar tudo agora. Quanto aos teus poderes, como já sabes controlas os Quatro Elementos e deves obediência, não só a mim, como também aos outros Reis e Rainhas. Deves-lhes vassalagem. Quando cantares, se estiveres a combater um inimigo, a tua voz vai incidir dor nele e pô-lo-á fraco, de modo que acabe por desaparecer, mas não morre. Se o poder da tua voz e dos instrumentos não for suficiente, podes sempre recorrer aos Elementos, chamando-os. Os teus familiares e amigos não verão as tuas tatuagens, pois estas só se manifestam quando tu cantas ou tocas e ativas o teu poder. Terás mais tatuagens cumprindo as missões que te serão dadas por mim e pelos restantes, mas não só, também combatendo o Mal e protegendo os que te são mais queridos. – demasiada informação para um cérebro só, por muito jovem que fosse…

— Mas isso quer dizer que a minha família vai ser afetada por isto? Eles não têm a culpa de nada.

— Não vais ser tu que os vais magoar, nem nós, mas sim aqueles que querem os teus poderes, os Red Voices. Mas não te preocupes, para já, eles ainda não sabem da tua existência, mas quando se aproximar a tua Ascensão aos dezoito anos, aí sim, vais ter que ter cuidado.

— Meu Deus, porque é que tinha de ser eu? Não podia ser outra pessoa? Vocês têm a noção do peso que estão a colocar em cima dos ombros de uma mera adolescente? – disse eu, já a ficar completamente confusa e aborrecida com a situação.

— Tu não és uma mera adolescente! – disse o Rei do Fogo, com uma voz de autoridade que até me fez estremecer e pôr os cabelinhos da nuca todos em pé… – Tu és uma rapariga muito especial e sente-te orgulhosa por teres sido escolhida, pois uma pessoa como tu só nasce a cada milénio.

— Espero em breve perceber isto tudo… Só quero perguntar mais uma coisa: a minha mãe sabe disto tudo?

— Isabella, queres que te responda? – perguntou o Rei do Ar.

— Sim, se faz favor. – suspirei, cansada.

— Lembras-te daquele senhor que esteve na tua casa ainda há poucas horas? Era eu. Fui avisar a tua mãe do que ia acontecer, embora ela soubesse de tudo desde o teu nascimento. – nem tinha reparado que era ele…

— Mas porque é que a minha mãe nunca me disse nada?

— A tua mãe não estava autorizada a fazê-lo, só nós é que o podíamos divulgar.

— E quando é que eu posso voltar à minha vida normal?

— Agora mesmo. – disse a Rainha da Música.