Depois de passar quase a tarde inteira dormindo, Percy acordou e sentiu todos os ossos de seu corpo doídos de tanto ficar deitado, olhou para o relógio ao lado da cama que marcava cinco horas da tarde, bocejou e se levantou, seguindo para o banheiro do seu quarto e escovando os dentes e penteando o cabelo. Voltou para o quarto e agora que já estava acordado – de verdade –, percebeu Annabeth dormindo em sua cama. Ela tirava um sono tão tranquilo e com aqueles cabelos loiros misturado com os lençóis brancos da cama, Annabeth parecia um anjo de tão bonita. Ele se encostou em um pilar de sustentação que tinha dentro do seu quarto e ficou parado ali, apenas observando a garota. Ficou relembrando de momentos da infância dos dois, não se recordava de um só momento onde Annabeth não estivesse sempre causando confusão e envergonhando os Chase, principalmente em jantares de negócio do pai, onde ela fazia questão – mesmo sem querer – de aprontar alguma coisa, deixando Frederick louco com ela. Percy percebeu que ela se mexia um pouco e foi até ela, fez um carinho na cabeça da garota e com um beijo na testa a acordou.

– Boa tarde, preguiça – Ele tinha um tom calmo na voz.
– Já é de tarde? – Ela perguntou piscando os olhos, tentando se acostumar com a claridade do ambiente. Logo depois, se sentou na cama e espreguiçou-se.
– Aham – Percy respondeu – Dormiu bem?
– Muito – Annabeth sorriu. Percy não pode deixar de notar que mesmo com os cabelos bagunçados, os olhos pequenos e uma cara inchada, de quem tinha acabado de acordar, ela continuava linda. O rosto estava bem branquinho e os olhos bem azuis, aliás, Percy vinha notando muito nos olhos da garota ultimamente e percebia que sempre que eles estavam juntos, os olhos de Annabeth ficavam muito azuis e brilhosos, coisa que não acontecia quando ela estava perto de outras pessoas, nem mesmo quando ela estava perto de Luke. Ele gostou de perceber isso e a sensação de se sentir especial para alguém invadiu todo o corpo de Percy que ele até acabou dando um abraço em Annabeth – que não entendeu muito o motivo para ele estar a abraçando de forma carinhosa e sem nenhum instrumento de tortura por perto – mas, retribuiu e aproveitou para cheirar o pescoço dele discretamente, o cheirinho de colônia masculina tão característico de Percy invadiu seu nariz e até a deixou zonza de tão bom que era. Percy estranhou que Annabeth ficasse lhe fungando, mas até achou engraçado.

– Percy, eu acho que a gente tem que contar pra nossa família que estamos namorado – Annabeth começou enquanto soltava de Percy e encostava as costas na cabeceira da cama.
– Você quer realmente fazer isso? Mesmo sabendo que é uma chantagem? – O tom de Percy era meio emburrado.
– Relaxa, eu não quero fazer nada muito grande, tipo, uma festa em comemoração – Percy suspirou aliviado – mas, em algum momento eles vão ter que saber, né?
– Eu não sei, Anne. Eu me sinto meio que pressionado a fazer tudo isso...
– Mas você está sendo pressionado – Annabeth o encarou como se aquilo fosse óbvio – e eu não quero que tu pense mal de mim, Percy. Não estou fazendo isso pra te machucar, te afetar ou infernizar tua vida como você provavelmente está pensando. Eu quero o teu bem e quero o meu bem também, mas a gente ia ser tão felizes juntos, sabe? A gente tem tudo a ver, só você que não percebe isso. – Annabeth passou a mão no rosto dele – E enquanto eu tiver forças, eu vou lutar pra que você perceba isso. – Por alguns minutos, os olhares se cruzaram, Percy não entendia muito bem o motivo, mas, seu coração começou a palpitar quando Annabeth falou que iria lutar por eles. Ele gostava daquela atenção toda que Annabeth lhe depositava, mas não conseguia entender a razão de nunca conseguir tentar lutar também, talvez não tivesse vontade, talvez pensasse que isso fosse errado, ele realmente não sabia, a única coisa que sabia era que não conseguia ver Annabeth com outros olhos e por isso sempre fugia dela.
– É... – Percy falou tentando mudar de assunto. Annabeth percebeu e mesmo um pouco chateada, lhe deu um beijo na bochecha.
– Vou me arrumar e ai hoje na janta, a gente conta tudo, tá? – Annabeth tentou usar um tom simpático, mas Percy sabia que aquele “tá?” deveria ser ignorado e que ela não estava lhe dando opções. Quando Annabeth saiu do quarto, ele se jogou na cama e ficou pensativo novamente. Aliás, pensar era só o que Percy fazia desde os últimos acontecimentos, é claro que Annabeth sempre infernizou sua vida e seus relacionamentos, mas ele não recordava um só momento em que isso realmente importou para ele e de repente, lá estava ele, pensando em Annabeth, pensando em Annabeth e pensando em Annabeth, a todo momento.

Xx

Annabeth tomou um banho e fez uma escova nos cabelos que ao invés de ficarem cacheados, – como eram naturalmente e como ela os mantinha sempre – agora estavam lisos e apenas com uns cachos bagunçados nas pontas. Na roupa, optou por colocar um vestido branco simples e, nos pés optou por uma sapatilha de lacinho. Não colocou maquiagem alguma pois gostava da forma que seu rosto tinha naturalmente e não via necessidade de se produzir tanto, ainda mais para um jantar em família. Desceu as escadas e encontrou seu pai no escritório, deu um beijo na bochecha dele e avisou que no jantar, teria uma surpresa para a família. Frederick – curioso! – até tentou de tudo para descobrir o que seria – até um suborno para tentar convencer a filha rolou – mas, Annabeth se manteve firme e não revelou nada antes da hora. Percy desceu as escadas e Annabeth estava sentada no sofá fazendo as unhas. Ele se aproximou e sentou ao lado da garota, ficou observando ela colocar figurinhas coloridas para tapar parte grande da unha e deixar apenas um buraquinho livre na ponta da unha, onde ela pintava de branco e depois tirava a figurinha, deixando só um risco branco bem na ponta da unha.

– Maneiro isso – Elogiou.
– Isso se chama francesinha. – Annabeth riu – Eu adoro, minha mão fica super fofa quando eu faço.
– Ai amiga, faz em mim também? – Percy brincou e os dois riram. Annabeth terminou aquela unha aplicando um esmalte meio transparente por cima do branco e Percy realmente achou muito bonito, embora, em sua opinião, desse muito trabalho fazer aquele esquema todo unha por unha.
– Já falei para o papai que tenho uma surpresa pra ele hoje – Annabeth comentou empolgada.
– Eu ainda não sei se a gente deve contar ou não, vai que seu pai fica bravo depois que eu conseguir um emprego e a gente, de repente, “terminar”. É sério, ele vai me bater por ter feito a filha dele sofrer. – Ele comentava empolgado, Annabeth ficou chateada.
– Relaxa, se fosse por questão de me magoar, ele já tinha te batido faz tempo – Annabeth reuniu os esmaltes e todas suas ferramentas de unha que estavam em cima da mesa e as pegou, saindo dali e deixando Percy sozinho e confuso.
– Ué? Que foi que eu fiz? – Murmurou para si mesmo.

Na hora da janta, toda a família se reuniu em uma imensa mesa. Sally coordenava as criadas para que as comidas chegassem intactas na mesa e tivesse uma completa organização, pois sabia que era assim que os Chase gostavam. Annabeth chegou e a abraçou por trás.

– Hoje você janta com a gente – Annabeth falou sorrindo.
– Tenho muito trabalho que fazer, menina. – Ela brincou.
– Mas hoje eu tenho uma surpresa muito especial, você tem que jantar com a gente.
– Certeza? – A garota afirmou positivamente com a cabeça.
– Se não tem jeito, né? – As duas riram. Sally tirou o avental que vestia por cima do uniforme e entregou para uma das criadas para que colocasse no cabide onde os criados guardavam seus uniformes e aventais, depois, sentou-se na mesa. Atena, Frederick, Arthuro e Percy já estavam sentados, e Annabeth se juntou a eles depois de fazer a volta e conseguir sentar ao lado de Percy. Naquele momento, todos já sabiam que teriam uma surpresa, pois Frederick contou para Atena, que contou para Arthuro.
– Pois bem, estamos todos reunidos... Qual a surpresa, filha? – Frederick perguntava.
– Não sei se conto agora. – Ela brincou.
– Você vai matar seu pai do coração, Annabeth. – Atena falou desesperada, fazendo com que todos que estavam na mesa rissem da situação.
– Ok, então pela saúde do meu lindo pai, eu falo. – Ela pegou na mão de Percy e deu um sorriso. Percy estava meio envergonhado e quieto desde que tinha sentado na mesa, não achava necessário estar ali, mas, era isso ou Annabeth contava para sua mãe que estava sem emprego. Por enquanto, ele tinha que levar essa situação e mentir que estava de férias quando sua mãe perguntasse o motivo de estar em casa a tarde toda. – Eu e Percy estamos namorando! – Ela pegou a mão do garoto e ergueu para cima, como se um dos dois fosse um troféu e o outro estivesse o exibindo com muito orgulho.