As Cores de Minha Vida escrita por Aki Nara


Capítulo 1
Capítulo Único




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Em meu leito de morte minha vida se esvai lentamente e apesar de meu corpo cansado recuso-me a ir. Ainda há tempo para mais uma espiada e enquanto espero as brumas descerem trazendo a barca que me atravessará levando-me desta para outra vida, passeio tranqüilamente pelas recordações de meu passado.

 

Eu nasci sob o estigma de uma mulher. Minha mãe era uma guerreira à frente de seu tempo, mas uma párea para a sociedade. Ela quebrou algumas das regras e tabus ditadas pela hipocrisia humana: divorciada, amante de homem casado e ainda mãe solteira.

 

Não lembro das dificuldades por qual passamos e na verdade sinto que até os sete anos um manto negro me envolvia poupando-me para o futuro. Mas não mais que de repente, a escuridão velada arrefeceu trazendo-me um prisma de luz, uma televisão em preto e branco.

 

Morávamos num cortiço, mas ainda não sabia disso. Em minha ingenuidade infantil aquela casa com uma sala, um quarto, uma cozinha, um banheiro e um pequeno quintal era para mim um palácio. Vivendo num conto de fadas particular sempre fui filha única até conhecer minhas irmãs.

 

Tons púrpuros trouxeram-me a sensação de tristeza. Minha mãe não era mais só minha. No entanto, à medida que o tempo passava mais cores  somavam ao meu redor: Verde esperançoso e calmo, Amarelo caloroso e otimista, Azul espirituoso e fiel, Laranja ativo e espontâneo, misturando-se para graduar minha vida.

 

Aos quinze anos, a vida era um mar rosa. A beleza e a sensualidade fluíam através dos poros. O romantismo do Azul tornava-se inevitável enquanto o Vermelho da paixão e do desejo ardiam em chamas. A descoberta do amor também significava o bege melancólico ou o Salmão da felicidade.

 

Entre amores-perfeitos e amores-imperfeitos, perseguia a prata da modernidade, das novas tecnologias, das novidades e das inovações, cobrindo-me de vez em quando de maturidade, de consciência e de responsabilidade que o Castanho traz.

 

O casamento Dourado trouxe-me riquezas maiores que o dinheiro, a eternidade em forma de filhos, netos e bisnetos. Ah! Sinto meu rosto contrair num leve sorriso e apesar de minha alma cingir-se de Cinzento por causa de meu medo da escuridão. Enfim, meus olhos se enchem de lágrimas e aceito meu destino, o branco traz-me paz merecida para meu sono eterno. A morte é apenas o começo de uma nova jornada.


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