Daniel se levantou do banco, sem saber quanto tempo exatamente tinha se passado. Quando retornou ao hospital, a cirurgia já tinha acabado. Julie já estava no quarto, e Daniel ouviu as enfermeiras comentarem que ela acordaria dentro de pouco tempo. Extremamente aliviado em saber que tudo tinha corrido bem, ele ficou ao lado da maca onde ela estava deitada e a observou em silêncio durante alguns minutos que pareceram uma eternidade.

Dormindo, ela parecia tão tranquila que chegava a ser estranho imaginar que, algumas horas antes, ela havia gritado como nunca, corrido pelo corredor do colégio e chutado o estômago de um professor de física.

– Oi. - disse Julie para Daniel, assim que abriu os olhos. Ela parecia muito sonolenta.

– Oi. - ele respondeu, sorrindo. Ficou em silêncio durante vários segundos, apenas olhando a garota nos olhos.

– No que você está pensando, Daniel? - Julie perguntou, curiosa. Era tão estranho vê-lo daquela forma, todo reflexivo.

– É que... Sei lá, depois de tudo o que nós passamos hoje, fiquei pensando sobre o quanto você me surpreende. É que você costuma ter medo de coisas bobas, tipo subir em um palco ou ficar de recuperação na escola, mas aí, quando um professor maluco te ameaça e te tranca em uma sala, você o enfrenta como se nada no mundo pudesse deter você.

– Há alguns momentos em que ter medo não é uma opção. Aquele professor idiota queria tirar você de mim, é claro que eu tinha que fazer alguma coisa. - Julie respondeu, séria.

Daniel sorriu, pegou a mão dela e a olhou fixamente.

– Mesmo que eu vivesse mil anos e conhecesse milhões de pessoas, eu nunca conseguiria encontrar alguém que fosse tão especial pra mim quanto você.

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Depois que o médico anunciou que a cirurgia ocorrera tranquilamente, sem nenhuma complicação, Julie recebeu a visita do pai, do irmão, de Martim, Félix e Bia.

– Bia, o que você está fazendo aqui? - Julie perguntou, após conversar um pouco com eles. - Já são cinco horas da tarde, você precisa ir pra casa se arrumar pro show! Lembra que é bom chegar pelo menos umas duas horas antes, se não..

– É claro que eu não vou pro show. Vou passar a noite no hospital com você.

Antes que Julie pudesse protestar, o pai dela disse:

– Não se preocupe, Bia, eu vou ficar aqui com ela à noite.

– E quem vai ficar com o Pedrinho? - Bia perguntou.

– Eu vou deixá-lo na casa da minha irmã.

– Ah não, pai, eu não quero ficar com a tia Olga... - Pedrinho reclamou.

– Gente. - Julie pediu atenção, mas eles continuaram discutindo pra saber quem iria passar a noite com ela no hospital.

– Pessoal! - ela falou, aumentando o tom de voz, e eles finalmente olharam para ela.

– Nenhum de vocês precisa ficar comigo aqui. Eu vou ficar bem sozinha. A enfermeira pode me ajudar se eu precisar de alguma coisa, não tem a menor necessidade de vocês ficarem aqui.

Demorou, mas Julie conseguiu fazer Bia ir ao show, usando o seguinte argumento: "Passamos meses planejando isso e agora você desiste! Eu exijo que você aproveite o show por mim e tire muitas fotos, pra eu ver depois". Foi ainda mais difícil convencer o pai a voltar pra casa com o irmão, mas ela finalmente venceu. Os últimos a ir embora foram Martim e Félix, depois que Julie pediu pra que eles fossem fazer companhia pro Pedrinho.

Finalmente, depois de muita argumentação, ela e Daniel ficaram sozinhos no quarto.

– E aí, Julie? Vai me expulsar, também? - ele perguntou, sorrindo ironicamente.

– Não, você não. Mas vou precisar da sua ajuda. Eu quero que você vá até a minha casa e traga pra mim a minha mochila roxa, que está em cima da cama.

Daniel estreitou os olhos, desconfiado.

– Mas seu pai já trouxe as coisas que você vai precisar pra passar a noite aqui.

– Não, Daniel, ele esqueceu uma coisa muito importante. Por favor, traz a minha mochila roxa, vai?

– Tudo bem. Eu já volto, certo?

Quando Daniel voltou com a mochila, encontrou Julie sentada, penteando os cabelos.

– Você realmente não consegue ficar quieta, não é? - ele murmurou, entregando a mochila para ela. Julie abriu a mochila, tirou de lá o ingresso para o show do Paul McCartney e sorriu exatamente da mesma forma que uma criança sorri antes de aprontar.

– Ah, meu Deus. Não me diga que você... - ele falou, mexendo a cabeça de um lado para o outro.

– Ahã. - Julie assentiu, mantendo aquele sorriso. - Sinto informar, Daniel, mas já que você foi tão legal e atencioso comigo hoje... É sua obrigação ser meu cúmplice.

O sorriso dela se alargou ainda mais quando ela anunciou:

– Eu vou fugir do hospital pra ir ao show. E você vai me ajudar.