Era três da manhã, e eu estava deitada me obrigando a dormir, e tentando fazer a ideia de morar no meio do nada entrar na minha cabeça. Ainda era um sonho, e eu ainda estava esperando que eu acordasse desse pesadelo. Olhava pro teto e tentava pensar em tantas coisas ao mesmo tempo que no final eu esperava conseguir não pensar em nada, e só dormir de uma vez. Talvez, se minha mente cansasse de pensar, meu corpo desligaria. Mas isso não aconteceu, porque escutei um barulho -que julguei ser minha colega de quarto, Kristin, saindo da cama. 

Um segundo depois, ela estava sufocando um travesseiro em mim. Então foi aí que qualquer vestígio de sono foi embora, porque eu comecei a gritar. Eu não conseguia respirar, então peguei nos pulsos dela e tentei puxar seus braços pra cima, me livrando do travesseiro.

-KRISTIN. -Tentei gritar, e estava mais escuro ainda com o travesseiro em cima do meu rosto e eu estava começando a entrar em desespero. 

-Sh! Sh! -Ela ficava dizendo. -Sh! Sh! -E eu continuava a gritar, até que ela parou e de repente o travesseiro saiu dali e a luz me atingiu, e eu sentei na cama, cobrindo os olhos por causa da claridade, e tomando a maior lufada de ar da minha vida. Quando descobri os olhos, olhei pro lado, e vi a senhora Kowki e Chris segurando Kristin na cama enquanto ela olhava pra mim com olhos agitados e confusos, tentando se mexer. Não sei se ela estava fora de si ou no seu estado normal, mas meu coração estava acelerado e eu queria sair daqui. 

Demorou um segundo pra eu perceber que tinha mais gente aqui. Danny e Perry também estavam ali, junto com Rose, parecendo desconfortáveis. Rose estava no meio dos dois, e Perry segurava seu ombro, forte, pra dar apoio. Olhei assustada pra Chris quando ele se virou pra mim. Parecia perturbado, e devia estar. Surpreendentemente, só queria que eles saissem pra eu poder chorar em paz. 

-Está tudo sob controle, vou levá-la pra cidade agora. Rose, porque você não volta pra cama, enquanto os garotos e Emerson vem comigo pra cozinha rapidinho. -Ele me olhou, pedindo, e eu peguei meu moletom e visto, saindo da cama, e caminhei inutilmente na ponta dos pés até a cozinha. Danny e Perry pareciam cansados e com sono, mas seguiram sem dizer nada. A senhora Kowki ficou com Kristin no quarto, que agora tinha começado a chorar furiosamente. A dona da casa não pareceu abalada, mas não fiquei muito tempo pra saber. Na cozinha, Chris esfregava os olhos pra acordar, e botava um casaco e saia pra lá e pra cá pra pegar suas chaves. 

-Não falem disso amanhã. Emerson, eu sinto muito mesmo, mas vai ficar tudo bem agora. Kristin tem alguns problemas, mas eu duvido que ela desejava mesmo fazer isso com você. Algumas coisas ela não sabe controlar. Você está bem? -Sabia que se abrisse a boca, iria chorar, então só assenti. 

Não fazia nem um dia que eu estava ali e alguém tentou me matar. 

-Ótimo. Danny, Perry, vocês estão bem? -Não entendi por que ele tinha perguntado pra eles também já que não foram os dois que foram sufocados por um travesseiro desprevenidos, mas eles assentiram. Danny olhando para o chão e Perry olhando para mim, pra me analisar. Gostaria de pensar que foi porque ele estava preocupado comigo, mas quando reprimi um soluço, quase chorando a chorar, ele revirou os olhos e voltou a olhar para Chris. -Bom. -No quarto, ouvimos Kristin chorar/gritar mais alto, depois cair em uma série de soluços. Estava apavorada. Eu queria sair dali. Até a floresta parecia mais segura. -Emerson, entendo que está agitada. Mas seria bom se você dormisse, se quiser, posso te dar um comprimido pra ajudar a dormir, você quer? -Como estava desesperada pra dormir, respondi.

-Sim. -E minha voz saiu fraca e trêmula. Chris assentiu e foi até a gaveta, tirando um comprimido. 

-Danny, pegue um copo de água. -O garoto fez isso, e me entregou, olhando solidário. 

-Obrigada. 

-De nada. -Peguei o comprimido da mão de Chris e engoli sem nem ligar pro nome ou pra que servia realmente. 

-Christian! -A senhora Kowki falou alto, do quarto, e ele saiu em disparada. 

-Fiquem aí! -Ele gritou pra nós. Parecíamos estatuas, todos olhando pro chão. Queria saber o que eles estavam achando de tudo aquilo, mas não perguntei. Perry começou a puxar a bainha do moletom pra baixo, quase uma mania, em silêncio. Um minuto depois, Chris saiu carregando Kristin nos braços, enquanto a senhora Kowki abria a porta para ele. Quando ele já estava com o carro ligado, ela finalmente entrou e olhou para nós. Parecia muito cansada e um pouco abalada. Caminhou até nós, alisando o pijama grande e largo, e perguntou se queríamos algum chá. Todo mundo negou, e ela mandou a gente pra cama. Caminhei hesitando a cada passo, mas me obriguei a entrar no quarto, e demorou um segundo pra sensação sufocada me atingir. Fui obrigada a abrir a janela, e o ar frio tirou um pouco dessa sensação, então eu deitei na cama, permanecendo consciente até o remédio fazer efeito. 

Foi por isso que, na mesa do café da manhã, no dia seguinte, ninguém teve coragem de olhar na minha cara. Só Perry, que está me encarando como se eu fosse um E.T. É sábado, e eu podia ficar dormindo até meia dia se eu quisesse, mas não aguentava mais ficar no quarto por causa do que tinha acontecido na madrugada, então resolvi sair de lá mais cedo do que eu planejava. A senhora Kowki, de chinelos, um coque bagunçando, cantando uma música, serve mais leite na minha xícara, e é a primeiro -tirando Perry - a me encarar. 

-Não quis dormir até tarde? -Ela pergunta, educada. 

-Não, meu sono não durou muito. -Como uma bolacha. A mesa está cheia, mas as bolachas sempre me atraem. Liana está comendo uma fruta (acho que quer emagrecer), os gêmeos comem pão e queijo, e Perry come cereal. Parece bom, mas não tive coragem de pedir ainda. 

São nove da manhã, e parece ser um dia lindo lá fora. E não sei se Chris está em casa ou não, porque não sei se ele voltou depois que consegui dormir. Mas a senhora Kowki logo responde minha pergunta. 

-Christian ainda está na cidade com Kristin. Então vocês vão ter o final de semana de folga. Menos, é claro, pra fazer suas obrigações aqui nessa casa. Como limpar o quarto. -Ela fala diretamente para Dover e Danny. Suponho que o quarto deles estejam uma bagunça. Olho para Perry e ele ainda está me olhando, então minha vergonha vai embora. 

-Algum problema? -Ele parece surpreso, ou aliviado por eu ter dito alguma coisa, porque sorri (um sorriso babaca, só pra constar) e dá de ombros. 

-Nenhum problema. E você? -Reviro os olhos e não olho mais pra ele pelo resto do café da manhã. Quando termino, a senhora Kowki anuncia que as meninas que limpam a cozinha no café da manhã, então, ignorando os risinhos dos meninos, Rose, Liana e eu vamos até a cozinha. Mas não posso deixar de notar que a senhora Kowki vai junto e começa a lavar a louça. De repente, tenho um monte de perguntas pra fazer a ela, mas não tenho coragem o suficiente pra dizer nenhuma delas.