A tarde já estava escurecendo do lado de fora da janela, um vento fraco e refrescante entrava por ela, fazendo a cortina clara e leve esvoaçar um pouco para dentro da sala ampla e pouco mobiliada. Apenas um grande sofá, uma mesa, uma penteadeira com uma cadeira de espaldar alto e um grande espelho ocupavam o espaçoso cômodo.

Em frente ao espelho, Lily sorria feliz se observando enquanto a amiga Marlene ajeitava um longo véu nos cabelos vermelhos e presos em um elegante coque de Lily.

– Aposta que o James já desmaiou quantas vezes desde que acordou?

– Lene! – Lily exclamou rindo. – As pessoas não desmaiam quando estão de ressaca, só quando estão bêbadas, então hoje acho que ele não desmaiou nenhuma vez, mas ontem... aposto em...

– Quinze. – Marlene completou.

– Não. Acha mesmo que os outros três estavam em condições de acorda-lo catorze vezes?

– É, tem razão. Mas ele parecia a ponto de desmaiar quando encontrei ele hoje no salão e a mulher não parava de falar das flores que não chegaram.

– Que flores que não chegaram? – Lily falou alto se virando depressa para a amiga.

– Merda, Lils! Vou ter que arrumar o véu de novo! Fica parada!

– Que flores não chegaram?

– Relaxa, já cuidei disso. Agora fica quieta.

Marlene recomeçou a ajeitar o véu da amiga e estava quase no final do seu exaustivo processo quando alguém abriu abruptamente a porta, sobressaltando Lily, que deu um pulo e acabou outra vez com o trabalho da madrinha.

– Desisto dessa merda! Se quiser se casar de véu arruma você mesma, Evans! E o que você quer, Black?

– Falar com a Lily antes que você mate ela, se não se importar.

– Ótimo! E boa sorte tentando arrumar o véu dela! – Marlene disse, colocou irritada o véu na mão de Sirius e saiu da sala.

– Ei, Mckinnon! Posso te fazer relaxar depois do casamento se você quiser! – Sirius gritou por cima do ombro.

– Cala a boca!

– Onde ela vai? – Ele fechou a porta e perguntou para Lily.

– Provavelmente beber alguma coisa, pode ser sua noite de sorte, Sirius.

– Claro que vai ser! Milhões de garotas bêbadas todas presas dentro de um mesmo salão? Melhor que Natal!

Lily riu e revirou os olhos. Ela caminhou até Sirius, pegou o véu e se dirigiu até o espelho outra vez.

– Ok, eu realmente preciso falar com você.

– Não conseguiu fazer o James fugir e resolveu tentar me convencer?

– Mais ou menos. – Ele riu. – Ok, vou falar sério agora.

– Você? Falando sério?

– Eu sei que é raro. – Ele sorriu e se sentou no sofá.

Lily levou mais alguns segundos até arrumar o véu e se sentou do lado do amigo.

– Ok. O que quer?

– Er... ok, Lily, er...

– Fala logo, Sirius, - A mulher falou o empurrando levemente pelo braço.

– Ok. Lily, não machuca ele nunca, ok?

– O que? – Ela perguntou ficando séria.

– James. Não machuca ele, ok?

– Do que você está falando?

– Você sabe, ruiva. Não faz ele sofrer por você nunca, tudo bem?

– Mas é claro que não! Por que eu faria ele sofrer?

– Não sei – Falou dando de ombros, mas ao mesmo tempo muito sério. – mas nunca faça isso.

– Obvio que não, Sirius! Eu nunca ia...

– Lily, você não está entendendo... – Sirius a interrompeu. - Você sabendo ou não, acreditando ou não, o James já sofreu muito por você.

Lily ficou ainda mais séria e endureceu o corpo, olhando atentamente para Sirius, e praticamente incapaz de dizer uma única palavra.

– Então... er... não...

– Sirius? – Ela interrompeu.

– Hum?

– O que quer dizer com “o James já sofreu muito por você.”?

– Meio obvio, não é?

– Não. – Ela respondeu em voz mais baixa e desviando o olhar.

– Lily, na cama dele em Hogwarts tem um risco para cada vez que você recusou um convite dele para sair. – Sirius abaixou o olhar.

– Mas ele era um idiota nos primeiros anos! – Ela se defendeu repentinamente, os olhos enchendo de agua.

– É, eu sei, todo mundo sabe e concorda com isso. Mas isso não muda o fato de que ele sofreu muito por você.

– Mas eu não... Sirius, eu não...

– Olha, Lily, eu não estou falando isso para você se sentir culpada ou triste ou sei lá. Só estou dizendo para você nunca fazer ele sofrer. – Sirius falou agitado. – Ele é tipo meu irmão. Não quero que ele se machuque.

– Eu... eu não vou deixar isso acontecer. Prometo. – Ela falou e repentinamente abraçou Sirius apertado.

– Bom mesmo. – Sirius falou reassumindo seu ar brincalhão.

– Ah é, Black? Isso é uma ameaça? – A ruiva falou levantando as sobrancelhas.

– Exatamente. Se você fizer o James sofrer, você vai ter que me adotar como seu cachorro e ficar olhando para mim o tempo inteiro e eu vou fazer você se sentir culpada o tempo inteiro.

– Se fizer isso eu compro uma coleira para você, te prendo em qualquer lugar e te deixo morrer de fome.

– E o Hadrid te mataria por maltratar um pobre animal indefeso.

– Ele não ficaria sabendo. – Ela riu. – Sirius?

– Que?

– Ele tem mesmo um risco na cama para cada vez que eu...?

– Tem. Mas eu não devia ter dito isso.

– Tudo bem.

– Não sério, eu não devia mesmo. Teoricamente eu também não sei disso.

– Ah. Entendi. – Ela falou abaixando a cabeça.

– Mas depois você fez ele ficar muito feliz, também. – Sirius sorriu, fazendo Lily sorrir de volta.

– Obrigada. – Ela disse em voz baixa.

Sirius se levantou alguns segundos depois e caminhou até a porta.

– Bom, tenho que ir, mas te vejo daqui alguns minutos.

– Até lá! Te vejo no altar.

– Ou antes. Alias, tenho mais uma coisa para te falar.

– O que?

– Eu vou te levar até o altar.

– Hã?

– Isso mesmo que você ouviu. Vou te levar até o altar. Afinal, sou praticamente seu pai, Evans.

– Claro, me dá ótimos conselhos, igualzinho meu pai fazia. – Lily riu revirando os olhos.

– Exatamente. Mas, sério... er... já que seu pai... bem... eu pensei em te levar... se você quiser... Acho que é melhor do que você entrar sozinha e...

– Claro que quero. – Ela sorriu o interrompendo.

– Então te vejo daqui a pouco. – Ele sorriu ainda mais. - Tchau.

– Sirius! – Ela chamou quando ele já tinha saído da sala.

– Que? – Ele falou voltando a porta.

– Petunia não veio, não é? – Lily perguntou entristecendo um pouco o olhar.

– Quem?

– Minha irmã. E Vernon, o marido dela.

– Ah. Não... eles não estão aqui.

– Sabia. – Ela falou mais uma vez abaixando um pouco a cabeça.

– Bom, mas comigo aqui, quem precisa deles? Na verdade quem precisa de outros convidados?

– Tchau, Black. – Ela falou revirando os olhos e começando a fechar a porta.

– Ei, Evans!

– O que foi agora?

– Você está linda.

Ela sorriu ainda mais e revirou os brilhantes olhos verdes antes de dizer:

– Obrigada, Black.