P.O.V. Lily

Acordei com o barulho de alguma coisa batendo na janela do quarto, abri lentamente os olhos tentando evitar a claridade. Depois de alguns segundos quase cega, vi James levantando e indo abrir a janela para uma coruja-das-torres que entrou e jogou um pacote comprido e uma carta em cima da cama e depois saiu voando. James sentou na beirada da cama e pegou a carta.

– É do Sirius! - Ele disse sorrindo e abriu o pedaço de pergaminho. - Ah... Ele não vêm mesmo. Está fora ainda na missão da Ordem.

– Remus e Peter também não. Chegaram duas cartas deles ontem a noite depois que você foi dormir.

James confirmou com a cabeça e entortou um pouco a boca, quase imperceptivelmente. Me ajoelhei atrás dele o abraçando pelas costas e apoiei o queixo no ombro dele.

– Eu sei que você sente falta deles e de ir em missões da Ordem. Ou só de poder sair de casa.

– Se ao menos Dumbledore não estivesse com a minha capa. - Ele resmungou. - Eu podia pelo menos andar pelo vilarejo.

– Eu sei, James. - Falei beijando levemente o pescoço dele. - Mas isso uma hora vai passar. E não vamos pensar nisso hoje. É para ser um dia feliz! - Falei sorrindo e fazendo James olhar para mim. Ele sorriu e concordou com a cabeça.

– Pads mandou um presente para o Harry. - Ele disse apontando para o pacote em cima da cama e o colocando sobre as pernas.

–Você não vai abrir né, James? Deixa o Harry abrir quando ele acordar!

– Lily, ele está fazendo um ano! Ele não sabe abrir isso! E eu quero ver o que é!

– James, eu vou tomar banho e se você tiver aberto isso quando eu voltar eu mato você.

– Ok! Eu não vou abrir. - Ele falou emburrando a cara.

– Bom garoto.

Mal tinha saído do banho quando ouvi Harry chamando e resmungando no quarto ao lado. Terminei de me vestir e segui James até lá. Harry estava em pé apoiado nas grades do berço olhando para a porta esperando que eu ou James aparecêssemos.

– Ei, meu amor! - Exclamei o pegando no colo e beijando as bochechas ainda rosadas. - Parabéns! Um aninho! Você está crescendo!

– Pads mandou um presente para você. - James disse pegando Harry do meu colo. - Mas ele não vai poder vir aqui hoje. - James ficou alguns segundos olhando para Harry que brincava com as próprias mãos.

– Ei, Harry, quer ir ver o que seu padrinho mandou para você? - Falei estendendo os braços para ele.

Fui com Harry até meu quarto e o sentei na cama, colocando o pacote que Sirius mandou na frente dele que ficou apenas me olhando.

– Eu disse que ele não sabia abrir. - James riu.

– Ele sabe sim. - Falei e comecei a rasgar a pontinha do papel mostrando para Harry. - É só puxar, Harry.

James riu e se sentou na cama, colocou Harry sentado no colo dele e começou a rasgar o embrulho. Harry começou a puxar pedacinhos do papel também vendo o que James estava fazendo.

– Ei! É uma vassoura! - Ele exclamou. - Harry, você ganhou sua primeira vassoura!

– Eu já disse que vou matar o Black?

– Por que? É o melhor presente que ele podia mandar para o Harry!

James pegou Harry no colo, levantou da cama e pegou a pequena vassoura. Ela flutuou a apenas uns sessenta centímetros do chão, mas assim que James colocou Harry nela, o pequeno saiu voando e rindo pelo quarto.

– Cuidado com o gato, Harry! - Gritei no momento em que o gato pulava de cima da poltrona e se enfiava embaixo da cama.

– Acho melhor ele brincar lá embaixo. - James disse rindo e tirando Harry de cima da vassoura. - Tem mais espaço.

– Melhor tirar todos os enfeites de perto dele.

– O que importa se ele quebrar alguns enfeites?

– Como o que importa?

– Ah, Lils! Ele vai ser uma grande jogador de quadribol! Quebrar coisas faz parte!

Passamos cerca de meia hora vendo Harry voar pela casa. Não sabe nem andar direito e já está voando. Realmente ele é filho do James.

– Vou fazer alguma coisa para comermos. - Disse me levantando do sofá. - Estou com fome.

Não tinha nem cinco minutos que entrei na cozinha quando ouvi barulho de vidro quebrando, corri para a sala e vi James com Harry no colo ao lado de uns cacos no canto do cômodo.

– O que é isso?

– O vaso que sua irmã mandou no Natal. Pode deixar, eu conserto. - Ele falou pegando a varinha do bolso.

– Não! Não precisa! Só limpa isso, por favor.

James começou a rir alto e fez toda a bagunça sumir com um aceno da varinha.

– Isso por que você jurou que tinha gostado desse vaso.

– É. Eu realmente amava o vaso. Uma pena que quebrou. Agora vou até a cozinha chorar enquanto preparo as torradas.

Pouco depois da hora do almoço Batilda chegou. Ela trouxe um exemplar de Os Contos de Beedle, o Bardo para Harry.

– Essa Ordem da Fênix está ocupando muito o tempo de vocês, sabiam? - Batilda disse lá pelo meio da tarde enquanto dava pedacinhos de bolo para Harry em seu colo.

– Mas nós nem saímos mais em missão! - James disse.

– Mas ocupa a mente de vocês. Todos ficam meio obcecados com a Ordem. Exatamente como Dumbledore quando mais novo.

– Como assim? - Perguntei.

– Ah, ele era amigo de meu sobrinho-neto Gellert, sabe. Eles eram muito amigos. Realmente muito amigos. - Ela falou inclinando um pouco a cabeça para frente e mudando o tom de voz. Olhei para James de esguelha sorrindo.

– Sempre imaginei que Dumbledore tinha uma amigo muito próximo. - James disse em um tom de voz casual.

– Ah, tinha mesmo! - Falou colocando outro pedaço de bolo na boca de Harry. - Eles passavam horas trancados no quarto discutindo os planos deles.

– Planos? Certeza? - James disse sorrindo de lado. Dei um tapa no braço para ele calar a boca.

– Prefiro pensar que eram planos sim. - Batilda deu de ombros nos fazendo rir. - Mas não sei o que eles podiam ficar planejando por tanto tempo. Ah... Aposto que a família de Gellert não ia gostar nada de saber sobre essas "reuniões". Os Grindelwalds eram bem severos.

– Grindelwald? - Exclamei. - A senhora está falando de Gellert Grindelwald?

– De que outro Gellert seria? Não é um nome tão comum!

– Então Dumbledore foi amigo de Gellert Grindelwald? - James perguntou estreitando os olhos.

– É... Amigo. Mas foi só por um verão. Até menos na verdade.

Eu e James ficamos encarando a velha com as bocas meio abertas, enquanto ela continuava mimando Harry como se não tivesse dito nada demais. Passamos quase um minuto assim até que Harry viu a vassoura no canto da sala e estendeu os braços para ela resmungando. James o pegou do colo de Muriel e o colocou na vassoura.

Harry voou de um lado para o outro da sala, rindo enquanto James corria atrás dele para tentar segura-lo se ele caísse. Fiquei um pouco mais no canto olhando a cena e rindo dos dois até que um flash de luz invadiu minha visão. Me virei para Batilda e ela estava segurando uma maquina fotográfica nas mãos.

– Achei que devia tirar uma foto dessa cena. - Ela disse rindo.

Já era tarde quando Harry finalmente se cansou e praticamente desmaiou no sofá da sala.

– Vou levar ele lá para cima. - James falou pegando Harry do sofá e subindo as escadas.

Fui até a cozinha e peguei pena, tinta e pergaminho na primeira gaveta, tinha acabado de me sentar à mesa quando James voltou.

– Para quem você vai escrever?

– Sirius.

– Ótimo. Fala para ele que ele é um puto.

– Ele já sabe disso, James. - Falei mergulhando a pena no tinteiro. - O mundo inteiro sabe disso.

"Caro Padfoot,

Muito, muito obrigada pelo presente de aniversário que mandou para Harry! Foi o que ele mais gostou até agora. Um aninho de idade e já dispara pela casa montado em uma vassoura de brinquedo, tão vaidoso que estou enviando uma foto para você ver. Sabe, a vassoura só levanta uns sessenta centímetros do chão, mas ele quase matou o gato e quebrou um vaso horrível que a Petunia mandou no Natal (nada contra). É claro que James achou muito engraçado, diz que ele vai ser um grande jogador de quadribol, mas tivemos que guardar todos os enfeites da casa e dar um jeito de ficar sempre de olho nele quando brinca.

Tivemos um chá de aniversário muito tranquilo, só nós e a velha Batilda que sempre nos tratou com carinho e vive mimando o Harry. Ficamos com pena que você não tenha podido vir, mas a Ordem vem em primeiro lugar e Harry não tem idade para saber que está fazendo anos! James está se sentindo um pouco frustrado trancado em casa, ele procura não demonstrar, mas eu percebo - além disso, Dumbledore ficou com a Capa de Invisibilidade dele, então não há possibilidade de pequenos passeios. Se você pudesse lhe fazer uma visita, isso o animaria muito. Wormtail esteve aqui no fim de semana passado, achei-o meio deprimido, mas provavelmente foram as notícias sobre McKinnon, chorei a noite inteira quando soube.

Batilda passa por aqui quase todo o dia, é uma velhota fascinante que conta as histórias mais surpreendentes sobre Dumbledore, não tenho muita certeza se ele gostaria disso caso soubesse! Fico em dúvida se devo realmente acreditar, por que me parece inacreditável que Dumbledore pudesse ter sido amigo de Gellert Grindelwald. Pessoalmente, acho que ele está começando a caducar!

Afetuosamente,

Lily."