As batidas na porta acordaram a mulher do seu leve e curto sono. Ela levantou sobressaltada da cadeira à mesa da cozinha onde tinha dormido e correu para a porta da frente abrindo-a na esperança de encontrar boas noticias. Kingsley Shacklebolt estava parado na soleira de entrada.

– Quim! - Ela o puxou para dentro rapidamente e fechou a porta. - O que aconteceu?

– Vencemos. Voldemort está morto. - Ele disse no seu habitual tom grave e lento.

Andromeda percebeu tambem a seriedade no seu tom. Seriedade que não condizia com tão boas noticias. Ela assentiu com a cabeça tentando reunir coragem para a pergunta em sua mente, para a qual ela já tinha a resposta. Afinal, não era Nymphadora ou Remus que estavam ali dando as noticias.

– E Nymphadora? - Ela perguntou finalmente. - E Remus?

– Eles - Kingsley pigarreou antes de continuar. - eles estão mortos, Andromeda.

A mulher se largou no sofá e por um longo periodo de tempo tudo o que se ouviu foram o choro, os soluços e as ocasionais desesperadas tentativas de Andromeda de puxar ar para os pulmões depois de alguns segundos sem conseguir nem respirar. Quim se sentou ao lado da mulher e passou o braço por seus ombros numa tentativa de confortá-la.

– Quem foi? - Ela perguntou quando sua voz finalmente teve coragem de reapareecer.

– Dolohov matou Remus e...

O homem parou olhando para Andromeda, como se a coragem tivesse lhe abandonado.

– E a Nymphadora?

– Foi... Bellatrix.

Andromeda começou a chorar novamente e pouco tempo depois se levantou do sofá e ficou andando pela sala.

– Claro! Não podia ter sido mais ninguem! Tinha que ser a querida Bellatrix! Era o que ela queria há meses! Desde que soube que ela havia se casado! - A morena andava de um lado para o outro, nervosa, desesperada, com raiva. - Aposto que ela nem ligava para o casamento da Nymphadora, mas ai o precioso Lord dela deve ter feito algum comentario engraçado e ela não conseguiria conviver com a reprovação ou seja lá o que for daquele ser que ela idolatrava! Então ela tirou minha filha de mim! Ela tirou a mãe de Ted!

– Andromeda, acalme-se!

– Não! - Ela gritou entre as ainda abundantes lagrimas no seu rosto. - Não! Ela tirou a Dora de mim! Eu não quero me acalmar! Eu quero matar Bellatrix! Eu quero que ela...

– Molly a matou.

Andromada finalmente parou de andar e por menos de um segundo um misero sorriso surgiu no rosto molhado dela.

– Eu realmente preciso agradecer Molly por isso!

Kingsley fitou a mulher por alguns segundos antes de continuar com as más noticias sobre a batalha trágica e vitoriosa.

– Fred está morto.

Os olhos de Andromeda se arregalaram e mais lagrimas se uniram a já larga trilha de água em seu rosto.

– Foi Bellatrix? Por isso Molly a matou?

– Não, foi uma explosão eu acho. Bellatrix quase matou Gina, então Molly a atacou.

Andromeda assentiu e se sentou quieta no sofá, olhando fixamente para algum ponto da lareira.

– Eu preciso ir. - Kingsley disse. - Tenho algumas coisas no Ministério para resolver.

Ela assentiu mais uma vez e Kingsley saiu da casa aparatando um pouco além depois do limite dos feitiços de proteção já não mais tão necessários.

Como em apenas uma noite tudo pudera mudar tanto? Finalmente uma guerra que se alastrava por anos, apesar dos anos de calmaria por um tempo, se acabava. No entanto, levando tantas pessoas, tantos guerreiros que lutaram tão bravamente. Tantas familias desmoronadas. Finalmente a paz viria, finalmente Voldemort estava morto. Mas a guerra tinha cobrado um preço alto. Muito alto.

Andromeda continuou sentada no sofá por um bom tempo chorando pela filha e tambem por seu genro. Pensando no neto que cresceria sem os pais. Já era meio da manhã, o sol já estava alto e o dia claro quando outro choro ecoou pela casa.

A mulher levantou do sofá e foi até o quarto de Ted que acabara de acordar. Ela pegou o bebê no colo e ficou o balançando nos braços até ele parar de chorar, talvez desejando internamente que alguem fizesse isso com ela.

– Agora somos só você e eu, Ted. - Ela disse baixo para o menininho em seus braços. - E seu padrinho, aposto vai adorar te conhecer.

Ela passou vários minutos com Ted no colo até que ouviu batidas na porta, domorou um pouco para descer e se encaminhou lentamente até a porta da frente. Uma mulher com longos cabelos loiros e lisos estava parada torcendo as mãos, a capa leve encobrindo parcialmente o rosto.

– Narcissa! - Andromeda exclamou em surpresa. - Como foi que você me achou?

– Posso entrar?

A morena ficou em silêncio observando a irmã à sua frente, Ted se mexendo suavemente em seus braços. Os olhos da mulher ainda vermelhos e inchados.

– Entre. - Falou um tanto secamente, dando um pequeno passo para o lado para permitir a entrada da irmã.

Narcissa entrou na casa e deu alguns passos, parando ainda no hall de entrada. As duas mulheres ficaram se encarando por um bom tempo.

– Bella morreu. - Narcissa falou por fim.

– É. E antes disso matou minha filha. - Sua voz saiu mais embargada do que ela gostaria.

– Eu... Eu não sabia, Andromeda. Eu...

– O que quer, Narcissa?

– Ninguem vai ao enterro da Bella.

– Isso não me surpreende, mas o que eu tenho a ver com isso?

– Ela era sua irmã!

– E não pensou nisso quando matou Nymphadora! - Gritou.

Ted se assustou e começou a chorar com o grito da avó. Narcissa olhou para o menino de cabelos azuis no colo da irmã.

– Esse é...?

– Ted. O filho de Dora e Remus. E ele vai crescer sem a mãe por culpa da mulher para a qual você quer que eu vá ao enterro!

– Eu só não quero que só eu estaja lá!

– E seu marido e seu filho?

– Eles... Eles têm problemas para resolver.

– Aposto que sim! Será que Lucius consegue se livrar de Azkaban dessa vez? E seu filho? Soube que ele conseguiu a honra de fazer parte desse seleto grupo chamado Comensais da Morte. Você deve ter ficado muito orgulhosa!

– Para! - A loira gritou sobressaltando Ted mais uma vez e fazendo Andromeda arregalar os olhos.

– Por que você se importa com isso? - Andromeda disse depois de um tempo. - Com Bellatrix.

– Ela é minha irmã, Andromeda!

– E dai? Acha que ela realmente se importava com você?

– Sim!

– A única pessoa com quem ela se importava era Voldemort! Era para ele que ela vivia! Ela morreu junto com o adoravel mestre dela! Você devia ficar feliz por isso.

– Você só está agindo assim por causa da sua filha.

– SÓ? Só por causa da minha filha? Ela a matou! E mesmo se não tivesse eu não iria me importar com a Bellatrix agora. Vocês me tiraram da familia de vocês a muito tempo. Vocês duas não são minhas irmãs a muito tempo. Então porque eu me importaria com uma Comensal da morte? - Narcissa continuou encarando a irmã, que tinha os olhos brilhando de raiva e pesar. - Eu não vou ao enterro dela .

– Andromeda...

– Como você reagiria se ela matasse seu filho?

– Bellatrix não mataria Draco.

– Não? - Andromeda ergueu as sobrancelhas. - Tem certeza disso, Narcissa?

– Eu... Sim.

– Ah é? Como tem tanta certeza disso? Ela ficou triste quando Voldemort colocou seu filho numa missão suicida?

– Ela não mataria Draco...

– Mesmo se Voldemort ordenasse?

Narcissa ficou parada olhando fixamente para Andromeda, o rosto rigido, a respiração profunda e lenta. Ambas sabiam a resposta para essa pergunta.

– Você realmente não...?

– Não. Eu não vou.

Narcissa assentiu minimamente e se dirigindo à porta abriu-a e saiu pelo pequeno jardim.