Na Linha Da Vida escrita por Humphrey


Capítulo 3
Cara peça teatral


Notas iniciais do capítulo

Então, decidi que postarei normalmente aqui e na outra fic. Os capítulos daqui serão postados a cada três ou quatro dias.
Boa leitura.



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– Trevor, isso serve para você também – continua Anne, repreendendo o babaca.

No mesmo instante, o professor adentra a sala e ordena que todos nós sentemos em nossos devidos lugares. A minha raiva por aquele imbecil crescia a cada dia.

– Então, pessoal, eu tenho uma surpresa para vocês – declara, enquanto posicionava a maleta na mesa. – Eu pensei em fazer uma prova diferente, quer dizer, uma peça teatral que valerá vinte pontos. Ou seja, duas notas. A peça é bem comum, porém nunca os vi encenando-a. Romeu e Julieta é incrível!

Todos começam a debater entre si sobre o que ele acabara de dizer. Eu não sabia de nada sobre Romeu e Julieta, somente que tinham um romance intrigante que resultou no falecimento dos dois. E daí? Era uma ficção, uma estória! Aliás, Shakespeare não podia ter escrito uma menos dramática? E Shakespeare era mesmo o autor? Ou foi Bethoven? Que seja. Romeu e Julieta era totalmente ridículo. Todos os romances são ridículos, pois tudo no mundo acaba; o amor não é para sempre. Para sempres não existem. E por isso mesmo o deles acabou rapidamente.

– Professor, e os papéis? – inquiriu Anne.

– Vocês mesmo escolherão os próprios papéis. As pessoas mais votadas para um específico papel será a escolhida para interpreta-lo. O que acham? – perguntou à turma, que continuou em silencio; estavam deste jeito desde que ele declarou que a peça seria a de Romeu e Julieta. Fala sério! Poderia ser sobre um animal dançarino. A Capivara Dançante – comigo interpretando a capivara dançante.

– Eu acho ridículo – respondi. – Romeu foi um aloprado que se matou por causa de uma garota. Se matar por uma garota? Pelo amor!

Lá estava eu, novamente na diretoria. E, bem, fora uma injustiça. Era uma democracia, e eu dei minha mera opinião. O diretor não parava de repetir “é a sétima advertência”. Eu sabia disso! E, talvez, no outro dia nem iria para a escola. Mortos não vão à escola.

Todavia, voltei à sala de literatura. Faltavam apenas alguns minutos para o início da outra aula, portanto, os idiotas da minha classe cercaram um quadro de vidro na parede. Nele, havia uma folha com os nomes de todas os alunos da turma. Eles não paravam de votar na tal Anne para atuar Julieta e a si mesmos para Romeu. Sério mesmo que eles queriam beijar aquela maquininha?

Rolei os olhos e me sentei novamente, com os pés sobre a mesa e recostado na cadeira dos fundos. O professor odiava quando eu fazia isto e eu achei estranho não ter me arguido.

Após um tempo, o mesmo pede licença para os tais idiotas e pega a folha do quadro, na qual a observa atentamente, conferindo os votos.

– Vejo que a maioria dos garotos quer interpretar Romeu – afirma, pousando os óculos de grau na cabeça. – Em exceção do Cooper. Além disso, você não escolheu o seu papel, não é, senhor Cooper? – não foi uma pergunta. – Então terei que tomar algumas medidas.

Ele foi ditando cada um, escolhendo quem interpretaria tal personagem. A decepção nos olhos dos garotos que perderam o papel de Romeu era perceptível e, nos das garotas invejosas, a raiva e a emulação platônica ao saber que Anne interpretaria Julieta.

– Já que quase todos os garotos da lista escolheram Romeu e sobrou somente Brandon Cooper, ele é quem ficará com o papel. – Tive uma imensa vontade repentina de vomitar a minha traqueia, se é que fosse possível. Ele não podia estar falando sério. Eu poderia fazer par romântico com a garota mais besta, contanto que ela não se chamasse Anne Mitchell.

– Professor, isso não pode ser verdade! Prefiro ser uma figurante a ter que ser a protagonista junto a ele. – A marrenta se dirigiu até o mesmo, a respiração acelerada, gesticulando.

– Anne, sente-se. Eu sou a autoridade nesta classe – respondeu com clareza.

Ela fez o que o professor ordenou, hesitante.

Me levantei da cadeira.

– Eu não quero participar dessa peça, principalmente se for com essa garota! E se é para ser sacana, não virei no dia e deixarei todos plantados no palco – desafiei o professor, que só faltava criar superpoderes com a força da mente e me jogar na lousa.

– Se for para ser sacana, te darei zero em todos os assuntos que estudamos nesse bimestre, pois a nota da peça é a mais importante – retrucou. – Não há como recusar, senhor Cooper. Esse papel já é seu – com o maldito sorriso de canto no rosto, disse.

Tocou o sinal que sinalizava a troca de aulas. A única coisa que faltava para complementar a minha magnífica manhã era um meteoro cair na escola. Pensando bem, se isso ocorresse, seria divertido. Divertido até demais, caso eu estivesse assistindo a tudo do lado de fora.

Voltei ao meu lugar, com os olhares incrédulos me acompanhando. Anne era paparicada pelo tal Trevor, o sujeito que tinha uma namorada. Eu não sabia se eles se gostavam ou algo do tipo, mas eles tinham alguma relação; disso eu tinha certeza.

Trevor tinha mais ou menos a altura da Anne. Era loiro de olhos castanhos, iguais aos meus. Nem sei como sabia a cor dos olhos dele; havia fotos dele por todos os armários femininos na escola. Algumas das garotas pediram uma cópia da foto dele no dia da fotografia para colar dentro de seus armários. Não dava para acreditar em tamanha estupidez.

O intervalo logo chegou e David novamente ficou reclamando em meus ouvidos. Me perguntava por que ele era o meu melhor amigo, aí lembrei que ele era o meu único amigo.

– Você está maluco, né? Recusar um papel que todos queriam! E, ainda por cima, um papel onde você vai poder beijar a gostosa da Anne – diz, se aproximando de mim enquanto andava pelo corredor principal.

– Você sabe muito bem o que eu acho dela – respondo, ajeitando a mochila nas costas e observando o movimento quase inexistente do local, já que todos estavam no pátio.

– E é justamente isso que eu não entendo. Por que você a odeia tanto?

– Porque ela acha que o mundo gira em volta dela. É uma riquinha que pensa que todos vivem por sua causa. – Movo a cabeça negativamente, não acreditando nas besteiras sobre as quais ele me perguntou.

David era um cara legal, eu admito. Mas a respeito da Anne ele chegava a ser insuportável. Um ano anteriormente ele a odiava tanto quanto eu e, naquele momento, sua opinião sobre ela era totalmente oposta.

– Eu acho que você está com inveja da Anne, porque ela tem tudo que você não tem.

– Você realmente acha que eu tenho inveja de uma garota que não sabe sequer amarrar os próprios cadarços sem ajuda? – Paramos de andar e nos encaramos. Não o deixei responder à minha pergunta e saí dali, me direcionando a um lugar onde costumo frequentar quando queria ficar sozinho.

~~~~ ♣ ~~~~

Eu queria um tempo só para mim e me distanciar um pouco daqueles garotos que eu não gostava muito da companhia, principalmente de Trevor.

Nos fundos da escola, havia um lugar isolado que eu julgava ser somente meu. Ultimamente não ia muito ao mesmo, pois a minha vida estava corrida e a chatice dos garotos só costumava aumentar. Com uma caixinha de suco de morango nas mãos, decido ir ao local, ler um pouco. Ao chegar, reclino-me na parede e começo a folhear as páginas, quando sou interrompida por Trevor, que retirou o livro das minhas mãos.

– Lenora, de Heloisa Prieto – leu o título e o fechou, aproximando-se de mim. – É um livro brasileiro, certo?

– Sim, e meu. Você me seguiu? – perguntei, sem o mínimo ânimo.

– Digamos que fiquei curioso em saber aonde você estava indo. – Ele colocou a mão direita em minha cintura, me puxando de encontro a ele. Fiz o máximo de esforço para retirá-la, porém sem sucesso.

– O que quer? – Tento me esquivar da sua respiração.

– Você está ficando muito chata, sabia? Hoje, na sala de aula, nem se importou quando eu fiquei ao seu lado, acariciando suas mãos... – Ele sorri, com ar de deboche e malícia, e eu, continuava a tentar tirar sua mão do meu quadril. – E, no oitavo ano, ficou tão feliz. Ah, como ficou...

Um garoto o faz descontinuar.

– Cara, além da prima da Natalie, quer a Anne também?

Arregalo os olhos.

– De novo? – Trevor bufa, fazendo o que foi sugerido. – De manhã eu deixei passar, mas você está apelando.

– Agora o quê? Você pensa que é quem para tratar uma garota deste jeito? – retruca ele.

– Brandon, sai! – tento impedi-los de brigar.

– Cale a boca, Anne – afirma Brandon, ainda mirando furiosamente Trevor, com os olhos. – Faz tempo que meu punho não toca a sua cara.

Parecia que o que mais desejavam um ao outro era a morte dolorosa. E confirmei isto quando o primeiro soco, vindo de Brandon, foi dado.


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Notas finais do capítulo

Fantasminhas, i can see ya.