Na Linha Da Vida escrita por Humphrey


Capítulo 28
Caros sorrisos




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Com a expressão fechada, Anne caminhou até mim, evitando o meu olhar. Era um bom começo, afinal, ela ao menos não havia recusado o meu convite.

– Que seja rápido. Tenho que cuidar da minha avó daqui a pouco – ela disse, olhando para o horizonte e segurando, com as duas mãos, uma mini bolsa em frente ao corpo.

– Como quiser.

Durante todo o percurso, não trocamos uma palavra sequer. Não que eu não quisesse, mas o clima que nos circulava não era apropriado. Anne não parecia se importar com isso, aliás. A cada suspiro dela era perceptível que a sua vontade de dar meia volta e ir para casa apenas aumentava.

Chegando à praça, que milagrosamente estava quase vazia, avistei Trevor recostado a uma árvore, de costas para nós dois. Calmamente vi o cenho da Anne se franzindo e sua boca formando um “o”, como se fosse fazer uma pergunta. No entanto, não o fez, até ficarmos de frente para o baixinho loiro, quando ela sussurrou para mim, porém não completando:

– O que voc...

Trevor mexia no celular, provavelmente digitando algum tipo de texto. O mesmo nos olhou dos pés à cabeça, em seguida, e sorriu de lado, ao mesmo tempo em que arqueava as sobrancelhas.

– Precisam de alguma coisa, amigos? – ele perguntou, ironicamente.

– Das suas malditas explicações – respondi, encarando-o furiosamente.

Este sorriu e ficou em pé, tão confuso quanto a Anne, que alternava o olhar entre mim e Trevor.

– Não se faça de desorientado, porque eu sei que você entende sobre o que eu estou querendo dizer – afirmei, chegando mais perto dele. – Essa mensagem que você acabou de receber do David, na verdade era minha. É, Trevor, eu descobri.

Ele começou a rir como deboche. Anne segurou meu braço.

– Aquele trouxa do David não conseguiu esconder o nosso planinho. Então quer dizer que tudo deu certo, afinal. – O sorriso se estendeu. – Que pena, não é, Brandon? Ninguém consegue te suportar por muito tempo. Ora, nem a sua mãe! – Riu novamente.

Entretanto, eu dei o primeiro soco, mas ele continuou dando gargalhadas, enquanto o sangue escorria de uma de suas narinas ao mesmo tempo em que o limpava com um dos antebraços.

– Apenas peça desculpas à Anne. Veja o que fez com ela!

– Não, Brandon, deixe isso para lá. Vamos embora daqui. – Ela me puxava pela manga do casaco.

Trevor revirou os olhos.

– E viveram felizes para sempre, blá-blá-blá. Que clichê, cara. Vão, vão embora, pois comigo não conseguirão nada.

Ele virou as costas para ir embora, quando o puxei pela camisa e, em seguida, o segurei pelo colarinho desta, que, no entanto, estava sujo de sangue.

– Peça desculpas agora, seu miserável – ordenei.

O mesmo trincou os dentes, bufando. Aquele cheiro forte de gel estava me sufocando.

– Se eu não fizer isto, o que vai fazer comigo? – cuspiu as palavras. – Vai bater em mim? – Riu. – É só isso o que sabe fazer, não é? Descontar a sua falta de amor nas outras pessoas.

Com o coração pulsando aceleradamente, o segurei ainda mais forte, sufocando-o. Entretanto, conseguiu se soltar. Não insisti.

Enquanto caminhava em direção oposta, virou-se para nós, andando para trás, e nos mostrou o dedo médio das duas mãos.

– Infantil – murmurou Anne.

Coloquei as duas mãos dentro dos bolsos da calça, portanto, Anne desviou o olhar para mim e me encarou, mordendo o lábio inferior.

– Bom, acho que também te devo desculpas. – Passei a mão no cabelo. – Não sei se percebeu, mas eu nunca tive muitos amigos, e, mesmo assim, tive a capacidade de perdê-los. Por medo de me decepcionar novamente, eu acusei você sem pestanejar. Me desculpe.

Ela deu um sorrisinho e me abraçou.

– Está tudo bem, mesmo.

Quando desfizemos o abraço, nos encaramos por longos segundos e, por conta disso, rimos. Naquele momento, eu não sabia mais o que dizer. Eu até havia ensaiado o que diria a ela enquanto a esperava, mas tudo fugiu rapidamente da minha memória.

– Tá, isso está muito melancólico. Eu já volto – disse; havia pensado em uma maneira de sair daquela situação um tanto constrangedora.

Confusa, ela sorriu, e eu fui até atrás da árvore, posteriormente indo até ao local de onde havia saído.

– Oh, oi, Anne! Que bom te ver aqui. Não nos falamos adequadamente há certo tempo, não é? – encenei.

Pisquei para ela, e então sua expressão desorientada foi substituída por uma surpresa. Aquilo estava sendo divertido.

– Ah, oi! É, pois é. Como está a sua vida?

– Uma merda, e a sua?

Anne riu.

– Doentia, se me entende – respondeu, ainda com o sorriso no rosto.

Rolei os olhos e forcei um sorriso, incrédulo sobre o que ela acabara de dizer. E, por fim, começamos a caminhar, um ao lado do outro.

– Tudo o que você disse naquele dia... era verdade? – ela indagou, repentinamente. – Quer dizer, sobre gostar de mim.

– É... claro – respondi, momentaneamente encabulado. – Aliás, você não tinha de cuidar da sua avó?

– Não, exatamente. Foi apenas um pretexto para você não demorar muito.

Eu ri.

– É uma pena que eu não consiga dizer aqui, agora, o que eu disse a você no carro da sua mãe, noites atrás – Anne assumiu.

– Então isso significa que você estava ciente do que dizia, embora estivesse bêbada? – foi uma pergunta retórica. – Uau, fascinante.

– Confesso que eu não estava tão bêbada assim – admitiu, sorrindo delicadamente. – Além disso, eu disse aquilo naquele momento porque eu sabia que, quando estivesse um pouco mais estável, não teria coragem de fazê-lo.

– Bem pensado – elogiei. – Mas como soube que eu te levei para casa naquela noite?

– Você esqueceu um de seus casacos comigo.

~~~~ ♣ ~~~~

Tudo aquilo não bastava de um plano ridículo, afinal de contas. E mesmo assim eu estava dividida entre felicidade e tristeza. Feliz por saber que ele e eu poderíamos aproveitar o pouco tempo que nos restava; triste porque restava pouco tempo a ser aproveitado.

Brandon e eu fomos até o jardim da minha casa, onde era um lugar um tanto escondido. Literalmente; nenhum jardineiro passava por lá há anos e apenas minha avó regava as flores, de vez em quando. Localizava-se atrás da casa, e era pequeno, porém confortável e belo.

Todavia, nos sentamos na grama alta, abraçados. Aquilo nos espetava como se mosquitos nos picassem, mas nenhum de nós dois parecia se importar. Ao invés disso, eu estava adorando.

– Daqui alguns dias será o baile de primavera da escola. Tenho que organizar tudo, desde os mínimos detalhes, e isso é um saco. – Bufei.

Ele apertou o abraço, beijando a minha testa.

– Você sempre gostou de fazer isso, não?

– Na verdade, não. Esse ano será pior do que os anteriores, pois é o último. E você não estará aqui.

– Não se preocupe com isso. Temos o Skype, lembra? – Sorriu. – Aliás, eu voltarei nas férias.

– E se alguma coisa acontecer comigo? – Nos encaramos. Brandon ficou perplexo. – Digo, você sabe muito bem o que pode acontecer. E antes que fique chateado comigo, é apenas uma suposição.

Ele me beijou. Ele finalmente me beijou. Parecia melhor do que o primeiro, e era. Pus meus braços sobre seus ombros enquanto ele segurava meu rosto entre as mãos. Pausamos, mas continuamos com as nossas testas encostadas uma à outra. Ele enlaçou as mãos nas minhas, ainda sobre seus ombros, e sussurrou:

– Sei que isso é muito padrão, e eu não gosto de ser assim, mas é só você piscar e eu estarei aqui. Sério. Não é em sentido figurado para dar ênfase no meu amor por você, ou algo assim. Eu realmente pegarei um voo ou senão virei à pé.

Arqueei uma das sobrancelhas, sorrindo. Ele revirou os olhos.

– Tá, talvez isso seja em sentido figurado.

Brandon e eu ficamos apenas mais alguns minutos ali, sentados, conversando e planejando um futuro provavelmente muito distante. Era bom finalmente ter alguém para poder me ouvir e compartilhar nossos desejos, apesar de que muitos não seriam realizados. Afinal, ao invés do que dizem, às vezes o seu futuro não depende somente de você.

Estávamos à frente do portão da minha casa. Brandon iria embora; já era 06h43. Ele me deu um selinho e se foi, depois de vários minutos enrolando para não deixá-lo ir.

Adentrei minha casa, deixando a pequena bolsa sobre uma das poltronas, notavelmente sorrindo sem saber como cessar.

– Então fez as pazes com aquele rapaz? – detrás de um jornal velho, perguntou meu tio, a voz rouca e quase gorada.

– É, eu fiz – intrigada, respondi, enquanto subia a escada.

De repente, o mesmo começou a tossir em demasia. Ao olhar para trás, vi sua palma da mão direita coberta de pingos de sangue.


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Notas finais do capítulo

Até que enfim :v Muitos trabalhos, como já devem saber, né -_- Essa Copa aí tá tirando meu tempo, gente.
Espero que tenham gostado e, sim, ainda faltam mais capítulos pra D.E acabar, não se preocupem c:
Em breve postarei o trailer da nova fic o/ Aliás, fiz um desenho da D.E ( sim, eu desenho, rê ) http://prntscr.com/3maba2
Também, criei um tumblr, *u* http://lovef4nfics.tumblr.com ( não é só sobre fics u-u )
Kisses 4 u



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