Infelizmente os dias de descanso acabaram, aqueles dois dias na casa de praia foram bem relaxantes, mas ainda me pergunto o que Kaito queria me falar naquela noite, mas não consegui tocar no assunto.

Eu e Mikuo estamos no caminho do colégio, não encontrei Kaito no caminho por isso fui com meu irmão mesmo.

– Ate agora você não me disse como foi na casa de praia de Meiko. - Falou Mikuo.

– Foi bem legal, ela é bem mais gentil do que parecia naquele jantar.

– Legal... - Ele ficou em silêncio por um tempo, mas depois continuou. - E aquele cara também tava la? O tal de... Kaito.

– Ei p-porque você ta perguntando isso? - Me espantei com aquela pergunta.

– Sempre vejo vocês juntos no colégio, e já vi vocês indo juntos para lá também, e no dia em que me atrasei, quando estava em uma parte do caminho vi de longe vocês abraçados, ta gostando dele é? - Fiquei um pouco corada com aquela pergunta, meu próprio irmão, que nunca tinha ligado tanto pra isso agora vem com essa?

– B-bem... talvez....eu acho.... - Não conseguia responder com toda a certeza do mundo, no fundo eu sabia que gostava dele, mas mesmo assim...

– Fico feliz que alguém devolveu um pouco de alegria pra minha irmãzinha.

– E-ei! - Ele começou a rir da minha reação, e comecei a rir junto com ele.

Chegamos, mas não via Kaito em lugar nenhum. Mas quando estava perto da minha sala o avistei com Piko, não pude falar com ele, pois na hora o sinal tocou.

Chega o intervalo e não consegui o encontrar, ate que cheguei perto da entrada da quadra e o vi com Piko conversando, fiquei afastada o suficiente pra que eles não me vissem e consegui ouvir um pouco da conversa.

– Como assim ela não se lembra? - Perguntava Piko.

– Parece que a mente dela se fechou pra o seu passado, não se lembra de nenhum rosto, de nenhum nome... - Disse Kaito com uma voz triste.

– Nem da melhor amiga dela? Isso... é impossível, ela não pode ter mudado tanto assim, o irmão dela eu até entendo, ele não era tão amigo da gente mas ela... - Ele parou de falar quando me viu, os dois olharam pra mim com caras assustadas, não entendi muito, mas sabia que eles estavam falando sobre mim. Kaito tinha contado sobre meu sonho, estava enganada sobre ele, achei que pudesse confiar nele.

Corri daquele lugar quase chorando, mas alguém segurou meu braço me impedindo de continuar, me virei e vi que era Kaito me segurando, com Piko do seu lado.

– Kaito... porque você... - Fui interrompida por Kaito.

– Miku, precisamos te mostrar uma coisa, você vai entender tudo quando te contarmos a verdade, na hora da saída vamos estar te esperando. - Não entendi muito bem sobre que verdade ele estava falando, apenas voltei para minha sala e esperei a hora da saída chegar.

O sinal tocou, e eles estavam la me esperando como o combinado, falei pra Mikuo que iria para casa depois e fui falar com Piko e Kaito.

Eles me levaram para algum lugar um pouco distante do colégio, para frente de uma casa abandonada.

– Porque vocês me trouxeram para cá? - Perguntei confusa.

– Miku, preciso te dizer uma coisa. - Kaito começou a falar. - Naquele dia em que nós encontramos pela primeira vez, que você deixou cair o seu caderno, ou melhor, diário, eu o li. - Eu fiquei espantada com aquilo, como ele seria capaz de fazer isso? Eu ia dizer algo mas ele continuou - E sabe? Eu não me arrependo do que eu fiz.

– Eu realmente não te conheço Kaito. - Tinha ficado decepcionada com o que tinha ouvido.

– Na verdade você me conhece mais do que imagina, e eu te conheço mais do que você imagina, não só eu como Piko também. - Nisso ele tirou uma carta do bolso. - Espero que isso te ajude a lembrar, leia. - Abri aquela carta, e comecei a ler.

" Minha pequena princesa,

Se você está lendo essa carta, então quer dizer que você mudou muito.

Quanto tempo deve ter passado? 3 ou 4 anos? Acho que até mais, acho que se passou tempo suficiente para eu não estar mais viva.

Desde daquele dia em que descobri que estava doente, e que poderia morrer a qualquer momento, comecei a pensar em como seria que vocês iriam continuar sem mim, e me preocupei muito quando vi que você poderia sofrer ainda mais do que os outros, que poderia perder o seu brilho, a sua alegria.

Você tem uma qualidade minha, que muitos diriam que é um defeito. Você se apega a pessoas que você considera como amigos, talvez aconteça alguma coisa que mude a sua vida e você perca tudo o que construiu, como momentos de alegria e amizade.

Só te peço que se esse for o caso, que se lembre, de tudo o que fizemos juntas, dos seus amigos, de cada momento, minutos e segundos esquecidos, que volte a ser minha filha amada.

Da pessoa que te ama mais do que tudo nesse mundo, sua mãe"

Aquela carta me fez mergulhar em lembranças, que minha mente tentava me afastar, lembranças da minha infância.

Me lembrei de quando me divertia com aquelas crianças, de quando aprendi a nadar com uma delas, de quando pela primeira vez fui para o hospital por causa de uma flor rara. O que mais me espantou, foi que aquelas imagens do meu sonho começaram a ficar mais claras, conseguia ver tudo agora, principalmente os rostos das crianças, o os seus nomes, e reconheci aquele garoto, o único em que eu só escutava a voz, aqueles olhos e cabelo azul escuro para mim eram inconfundíveis.

– Sabe porque eu não me arrependo? Porque foi por causa daquele diário que eu vi que era você, não consegui te reconhecer, você mudou tanto... - Explicou Kaito, mas não consegui me conter e abracei os dois. Eram eles, os meus amigos de infância que não via a tantos anos.

– Vocês não sabem o quanto senti a falta de vocês, o quanto eu sofri quando tive que me separar, porque vocês nunca tentaram me encontrar? Porque? - A anos aquela pergunta me perseguia, sempre achei que eles tinham me abandonado.

– Aconteceu muita coisa quando você foi embora. - Falou Kaito, então desfizemos o abraço.

– Mas eu me lembro, daquela garota que vivia com a gente, eramos tão amigas... A Neru. Onde ela está? - Quando perguntei aquilo, Piko abaixou a cabeça e começou a chorar, me lembro que Neru vivia batendo nele, eles sempre brigavam, mas eram inseparáveis.

– Houve um acidente de carro, levaram ela para o hospital, mas ela estava muito ferida e... - Pilo não conseguia mais falar, as lágrimas não deixavam, ela era especial pra ele, sempre foi, e não só pra ele como para todos nós.

– Reconhece essa casa Miku? - Kaito apontou para casa abandonada, então comecei a reconhecer aquele lugar.

– Minha antiga casa... Estou na minha cidade natal, e não a reconheci...

– Esse lugar mudou muito com o passar dos anos, mas essa casa sempre continuou assim, ninguém morou nela depois que vocês foram embora, mas nunca entendi o porque.

– Por quê não me disseram que eram vocês logo quando você leu o diário Kaito?

– Pensei que você poderia se lembrar, mas a sua dor era tão grande, que impedia que essas lembranças voltassem, então apenas esperamos o momento certo.

– Arigato por ter feito isso, não sei como posso agradecer.

– Fale o que aconteceu para o seu irmão, também queremos que ele lembre-se dos velhos amigos. - Falou Piko, ele já tinha enxugado as lágrimas.

E foi isso que eu fiz, fui correndo para casa, disse que encontraria eles com Mikuo mais tarde.

Entrei em casa e vi Mikuo com o telefone na mão, e com uma expressão séria no rosto.

– Miku, chegou a hora de dizer adeus.

Aquelas palavras eram as que eu menos precisava naquele momento, meu mundo desabou no mesmo estante.

– Não, não, não!

" Não quero voltar para aquele pesadelo, de novo não!"