Laços Impossíveis escrita por mandycarol


Capítulo 8
Capítulo 8 - Fuga


Notas iniciais do capítulo

Este é o capítulo final, mas calma! Terá um CAPÍTULO EXTRA! Dedico este capítulo a todas as Kanametes /Rei
AVISO: O capítulo está IMENSO, sente-se num lugar confortável para ler ele.



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Ele havia voltado. Meu corpo tremia e meu coração pulsava. Como, ou melhor, porque ele havia retornado? Eu não conseguia pensar em um motivo, não em um plausível. Eu não me sentia bem, estava passando mal, vítima de mais um enjôo.

- Yuuki, está bem? – falou Kaname suavemente.

Ele já estava ao meu lado e me fitava com preocupação, colocou meu braço sobre seu ombro e me ajudou a levantar.

- Venha, vamos para seu quarto! – disse me levando para dentro.

Eu não podia acreditar que ele estava ao meu lado, depois de tanto tempo, ele havia voltado, mesmo que não soubesse o porquê, pude me permitir sentir um fiapo de felicidade por vê-lo, por ele estar tão próximo. Mas infelizmente as circunstâncias não eram as melhores. Eu queria dizer “olá”, perguntar como estava, abraçá-lo e beijar-lhe. Senti o enjôo ficar mais forte, tampei meu nariz tentando impedir que o enjôo ficasse pior, havia um cheiro forte vindo da cozinha que embrulhava meu estômago.

- Kaname-sama?! – uma empregada apareceu na sala, Kaname estava comigo apoiada em seus ombros. – Não sabia que o senhor havia retornado. – fez uma mesura.

- Sim. – disse Kaname rapidamente. – Yuuki não está bem, estou a levando para o quarto, leve um copo d’água, por favor! – e sem mais delongas me levou ao meu quarto.

Deixei que Kaname me conduzisse pelas escadas e que me levasse ao quarto, não suportava o peso do meu próprio corpo, ele suportava meu peso sem questionar, em meu quarto fez menção para me colocar na cadeira em frente ao espelho.

- Não, o banheiro, por favor! – pedi, falando finalmente.

- Certo.

No banheiro o dispensei e fechei a porta na sua cara, me ajoelhei em frente ao sanitário e vomitei. “Lá se fora meu café da manhã’, pensei. Os enjôos aumentavam, piorando a cada semana e não sabia mais como disfarçar. Lavei minha boca milhares de vezes e escovei os dentes mais de uma vez até ter certeza que estava totalmente limpa. Não podia evitar pensar em Kaname do lado de fora, eu não queria sair, não queria encará-lo, ele faria perguntas quais não queria responder. Porém, eu sabia que não adiantava fugir, respirei fundo e abri a porta.

Ele estava sentado em minha cama, o rosto parecia cansado e ele afrouxava a gravata, seu terno preto de linho já estava ao seu lado. Eu andei normalmente sem encará-lo e sentei na cadeira a sua frente, fiquei em silêncio, respirando fracamente tentando me recuperar do enjôo, ele passava aos poucos, mas meu coração continuava a apertar. Por quanto tempo aquele silêncio se estenderia?

Ouvi três batidas na porta e a empregada entrou carregando um copo e uma jarra cheia d’água. Kaname pegou a bandeja das mãos dela e colocou sobre a escravinha, encheu o copo de água e me serviu. O breve toque de nossas mãos me vez aquecer. Eu bebi a água devagar, tentando me acalmar e esfriar a temperatura do meu corpo.

- Não seria melhor chamar um médico. – a empregada se pronunciara, ainda estava parada em frente à porta.

- Não precisamos fazer alarde. – ele piscou para ela a fazendo corar. – Se Yuuki não se sentir bem eu mesmo a levo num hospital. – sorriu.

- Então com licença! - ela fez uma mesura e saiu.

Kaname estava ajoelhado na minha frente, suas mãos sobre a minha, ela sorria e tinha o rosto sereno. Não queria que ele perdesse jamais essa expressão, era confiante e reconfortante. Ao ouvir a porta se fechar ele me puxou para seus braços e me beijou ardentemente, suas mãos entrelaçando minha cintura enquanto seus lábios se moviam contra o meu. Apesar de sua aparente calma, seus lábios eram urgentes nos meus, eu cedi e correspondi, fazendo meus lábios mover em sincronia ao seu. Separamos-nos ofegantes, recuperando a respiração.

- Está se sentindo melhor? – falou suavemente, ainda um pouco ofegante.

- Hum! – afirmei.

- Irá mentir para mim? - ele me olhou hostilidade, me surpreendendo.

Meu corpo estremeceu de tremor, eu esfregava minha mão um na outra freneticamente, meus nervos a flor da pele. O que faria? Jogar a bomba de uma só vez? Não podia. As lágrimas escaparam de meus olhos. Kaname apertou gentilmente minhas mãos na dele e sorriu, seu rosto voltado a ser sereno. Uma faísca de coragem me veio. Eu rinha que dizer.

- Kaname, eu, e-eu, eu... – gaguejava.

- Está grávida eu sei. – ele apertou ainda mais minhas mãos, seus olhos com uma ponta de aflição.

- Co-mo? – perguntei soluçando.

- Não acha que esta pergunta é irrelevante. – ele segurou meu rosto em seu queixo, eu ainda soluçava.

- O que faremos? – perguntei desesperada. – Se nosso pai souber e ele vai saber... Ele, ele... – não estava conseguindo falar. – Ele irá dar um jeito de abortar essa criança.

- Não repita isso. Nada vai acontecer. – Ele me abraçou, me envolvendo em seus braços. – Eles sequer saberão.

- Minha barriga esta crescendo Kaname. – disse chorosa. – E mesmo que não notassem, o colégio os informara semana que vem.

- Então temos pouco tempo. – falou em meus ouvidos.

Estava desnorteada, o fitei sem entender o que ele quis dizer. Ele sorriu e me deu um selinho, então me abraçou novamente.

- Te levarei comigo. – disse num som de silvo. – Pedirei aos nossos pais para que venha para Londres comigo, como oportunidade de estudo.

- E se eles recusarem? – fui pessimista.

- Vai dar tudo certo, confie em mim. – então eu o abracei ainda mais forte.

- Yuuki? – falou após um tempo nos abraçando. – Posso senti-lo? Quero dizer, o bebê.

Eu fiz um sinal de afirmação com a cabeça e deixei que ele tocasse a minha barriga, a criança ainda não se mexia no útero, porém também me pegava diversas vezes o acariciando e falando com ele. Afinal essa criança já fazia parte de mim. Kaname tocava no meu abdômen incerto, como se pudesse me desfazer, ganhou confiança e fazia carinhos nela, lhe deu um beijo e cochichava coisas que não podia escutar, mas compreendia que usava um tom infantil, falando palavras inteligíveis e erradas.

- Você precisa descansar. Deite-se um pouco. – disse se levantando.

Ele retirou o terno da minha cama passando-o para a cadeira, ajeitou a cama e me deitei sobre ela, ele ia se sentar na cadeira quando o segurei pela barra da camisa, ele deu um sorriso de compreensão e se deitou ao meu lado. Ajeitei-me no seu corpo quente, me aninhando em seu peito. Não podia crer que ele estava comigo.

-Vai dar tudo certo. – repetiu me envolvendo.

- Quando pode dar tudo certo quando se está grávida do próprio irmão. – disse com pesar.

Meu rosto estava úmido novamente, eu estava chorando sem ao menos notar. Ele secava minhas lágrimas com os dedos, limpando-as seguindo o caminho que elas haviam percorrido em meu rosto. Beijou minha testa gentilmente, minha bochecha até encontrar minha boca. Seu beijo era carinhoso e quente, o gosto doce em meus lábios. Sua mão envolvia minha cintura e a minha mão sua nuca. Então o som da porta se rompendo fez com que parássemos e levantássemos num salto. Arregalei meus olhos ao ver meu pai na porta. Tudo falharia neste momento, seus olhos estavam em chamas e sabia que tinhas nos escutado, mas a frase que proferiu a seguir, me fez ter certeza.

- Peguei dois ratinhos incestuosos. – falou ríspido e sem humor.

Não tivemos tempo para uma reação, ele veio em nossa direção e Kaname se pôs diante de mim, isso só fez aumentar a fúria de Haruka, ele golpeou o filho que cambaleou para o lado quase caindo. Pegou-me pelos cabelos e me puxou para si, como se fosse um escudo. Kaname começava a se recompor e meu pai puxava meu cabelo mais e mais, sentia que iria arrancá-los.

- Não esperava isso de você Yuuki. – dizia em meus ouvidos, seu rosto grudado nos meus longos cabelos. – Não da minha menina. - disse com tristeza.

- Pai... – falei com esforço.

- Pai? AINDA TEM CORAGEM DE ME CHAMAR DE PAI. – puxou mais meus cabelos, sentia alguns fios se partindo, minha cabeça parecia que iria rachar.

- ...está doendo. – consegui terminar.

- A sua traição doeu muito mais em mim. Incesto. – falou com escárnio.

- Não a culpe por isso. – Kaname se pronunciou. – Eu sou o responsável.

- Claro que é. Afinal ela não fez essa criança sozinha. Você era meu orgulho Kaname, ORGULHO! – Gritou. Kaname abaixou os olhos, incerto do que dizer. - Eu desconfiei quando a empregada havia me dito que havia chegado, por que voltaria? Por ela, claro. – apontou com sua mão livre para mim enquanto sua outra mãe ainda agarrava meus cabelos. – Como não percebi antes? Fui um cego, um tolo. Meus dois filhos, embaixo dos meus próprios olhos. Deveria ter feito o mesmo que seu avô, tê-la trancado e o mandando para longe. – colocou mais força nos dedos.

- SOLTE-A! – vociferou Kaname. – Por favor! – disse tentando controlar a voz.

Ele me soltou e cai sobre a cama, passei a mãos nos cabelos e os massageava tentando diminuir a dor. Observei vários fios longos no chão, havia milhares deles, outros estavam no punho fechado de Haruka. Kaname se aproximou dele e fez menção de tocá-lo, meu pai não se mexeu, lutava incontrolavelmente contras as lágrimas, isso me fez pensar que nunca o tinha visto chorar. Ele sempre fora o mais alegre, inabalável e de grande sorriso, agora aquele homem que achava conhecer tão bem tremia, o ódio possuindo seu corpo, era algo com que não contava, que fez reabrir uma grande ferida em seu peito.

Aquilo situação à medida que passava se tornava insuportável, seu rosto permanecia seco, suas lágrimas não desciam, mas podia vê-las nos seus olhos avermelhados. Ele parecia refletir, pensando em uma solução, eu própria não acreditava que existisse uma. Levantei-me da cama e me dirigi cautelosamente em sua direção, Kaname recuou e pediu com seus olhos aflitos que não prosseguisse, tentei lhe responder também pelo olhar que estava tudo bem, mas creio que não compreendeu.

Estava próxima de nosso pai, Kaname segurou meu braço, sabia que tinha medo, porém não podia deixá-lo naquele estado. Desvencilhei-me das mãos de Kaname e toquei no ombro de Haruka, ele estremeceu ao toque e tirei minhas mãos rapidamente. Ele sentia nojo de mim, repulsa.

- Me perdoe! – foi a única coisa plausível que pude falar.

Ele ergueu os olhos e me encarou de cima, sua estatura alta e a minha baixa ajudava muito, não gostava daquela rija que travava com meus olhos, os abaixei. Haruka pegou com força em meu queixo e me forçou a olhá-lo. Então o fitei com olhos desafiadores, sabia que era um erro, ao menos demonstraria que não havia arrependimentos. O errado de minha parte não foi pensar nas conseqüências, seus olhos flamejaram com a ofensa que lhe impus, levantou um dos braços e fechei os olhos automaticamente, esperando que a dor e o barulho do tapa me desfizessem. Esperei. Engoli seco, pensei que brincava comigo, a espera que meus olhos se abrissem e me desse à bofetada. O som e nem a dor veio, abri meus olhos e lá estava Rido segurando firmemente o braço estendido de meu pai. Juuri estava na porta e encarava tudo com perplexa.

- Você... – bufou Haruka.

A presença de Rido desencadeou lembranças amargas, mas o pior estava por vir. Rido o encarava com superioridade, estava claro que sua presença só o afetará de modo negativo.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou minha mãe quebrando a tensão entre os primos.

- Acontece Juuri, - a chamou pelo nome – que você será avó, meus parabéns! – bateu palmas solitariamente e de modo compassado.

- Yuuki não me diga que... – não terminou a frase. – É de Kaname? – perguntou sem pensar.

Meu pai arregalou os olhos, Juuri desconfiava e tínhamos ciência disto, mas meu pai não, não o nosso pai. Ele virou para o lado e proferiu alguns xingamentos, coisas que nunca o tinha visto falar. Depois sorriu sarcasticamente.

- Então você sabia. – sua voz ganhando tristeza. – TODOS sabiam. Menos eu.

- Ela não tinha certeza, apenas desconfianças. – disse em sua defesa.

- Mesmo assim, por que ela não me confidenciou? Não, permaneceu calada, permitiu que isso ocorresse. – ele a culpava.

Juuri parecia acuada, falara mais do que devia.

- Por que Juuri? – Haruka continuou. – Sabe que a culpa é sua! – disse sem clamor. – A culpa é do SEU SANGUE! ESSE SEU SANGUE AMALDIÇOADO E IMUNDO. – gritava.

- NÃO DIGA ISSO. – gritou em resposta.

- Hahahaha! – Rido gargalhava. Ele que até agora observava em silêncio. – Ainda não superou o passado, ela o escolheu afinal. – seus olhos se tornaram ásperos.

- Quem me garante isso? – acusou. – Agora mesmo ela não estava com você?

- Está certo. Ela estava comigo na minha clínica. – Haruka gruniu. – Ela desconfiava dessa pequena – apontou para mim – e queria que a examinasse.

- Porque chamou você?

- Gostaria que ela chamasse um médico qualquer para avaliar sua filha em tal situação. – ele estava certo, mamãe não escolheria um médico aleatório. Rido tinha consciência da situação e era da família, saberia manter segredo.

- Isso só prova do quanto ela sabia. – continuou irredutível.

- Queria que ela te contasse para que ficasse neste estado. – falou com maturidade. – No fundo só queria preservá-lo, talvez estivesse melhor se tivesse me escolhido. – riu sinicamente.

Haruka não agüentou tais palavras e agarrou Rido pelo colarinho, Juuri soltou um gemido de pavor e Kaname segurou nosso pai para que parasse. Nesta hora me veio um instante de clareza. “O que está ocorrendo aqui?”, pensei. Eu e Kaname não éramos mais os centros das atenções. Mas era o passado, o passado de meus pais e de meu tio, algo que manchara e marcara a mente de meu pai como brasa.

- Haruka, por favor! – disse minha mãe amavelmente tocando em seus braços. Ela chorava desesperadamente.

- Você fala muito de nosso sangue, no entanto se esquece que também é Kuran. Como acha que uma família tão antiga e a beira da decadência genética e querendo a todo custo preservar a linhagem burlou esse grande problema. O passado de nossos ancestrais também é manchado. – Rido provocava. – Casamentos com parentes consangüíneo fazem parte da sua história.

- Mas eu não faço parte delas. - trincou os dentes.

- Seu parentesco com Juuri só chega ao segundo grau, não são tão distantes quanto gostaria não é mesmo? – sorriu.

Haruka conseguiu soltar o braço das mãos de Kaname e o levava ao rosto de Rido em forma de punho. Então o grito agudo de Juuri o fez parar.

- PARE HARUKA! – gritava. – Por favor, pa... – perdeu a voz.

- Ainda defende ele. – disse abaixando a voz. – No fundo você nunca teve certeza da sua escolha não é? – seu coração estava machucado. – Ou no fundo se encontravam as escondidas?

Suas palavras foram um erro, ele apenas feriu mais o coração e orgulho de minha mãe, ela se levantou e reuniu suas forças num tapa que atingiu em cheio seu rosto.

- Nunca mais diga isso. – sua voz era abafada.

O rosto de Haruka era desnorteado, ele sabia que errara, mas não esperava tal reação. Subitamente a abraçou e sussurrou palavras de desculpa em seus ouvidos. Era assim que sempre vaziam as pazes. Ela soluçava com os choros enquanto meu pai fazia gestos para que respirasse fundo e se acalmasse.

Rido não parecia se sentir confortável com a situação. Pareceu ter esperanças que eles brigassem, mas como sempre fizeram as pazes. Por um momento considerei que a situação melhorasse.

- Agora há coisas a serem feitas, gostaria de examinar Yuuki. – Haruka afirmou com a cabeça, permitindo. – Terei que levá-la a clinica.

- Eu os levo. – disse Haruka se levantando. Sua voz era dura novamente.

- Se quiser leve sua filha. Irei no meu automóvel. – disse pegando sua chave sobre o criado mudo e se dirigiu a entrada.

Rido era um homem frio e distante, sentia isso sempre naqueles momentos, não podia imaginar minha mãe alegre e extrovertida ao seu lado. Mas agora vinha a minha mente que ele tivesse se tornado frio exatamente por esse motivo e ali me via futuramente, com um passado negro e um futuro obscuro. Eu sentia curiosidade e queria fazer perguntas, porém o barulho do molho de chaves do meu pai me fez acordar para a realidade e para meus próprios problemas.

Kaname se mexeu e fez menção de nos seguir, Juuri o segurou discretamente e Haruka pareceu não notar ambas as ações.

- Você fica. – sua voz era baixa, porém autoritária.

Meu irmão abriu a boca para contestar, Juuri lhe lançou um olhar duro e ele abaixou a cabeça desistindo. Seguimos até a garagem, minha mãe me empurrava praticamente, me arrastando até o carro, o olhar triste de Kaname me torturava. O que viria a seguir? O que seria de nós? Eu só conseguia mentalizar essas perguntas sem achar uma resposta adequada.

No carro fomos em silêncio até a clínica, a falta de sons me irritava e me deixava ansiosa, mas sei que seria bem melhor que uma “conversa em família”. O clima era de longe um dos melhores, minha mãe sentada a frente do lado do meu pai não desviava os olhos das ruas e meu pai era o mesmo, no entanto de certa forma sentia a tensão de suas mãos no volante. O caminho até a clínica não foi longo e ao chegarmos o carro de meu tio já estava na frente do edifício. Ao entramos uma das atendentes já nos aguardava.

- Bem vindos! – o quanto aquela frase podia soar tão falsa? - Kuran Yuuki? – perguntou com um sorriso se dirigindo a mim.

- Aham! – afirmei de modo informal.

- Me acompanhe.

Ele me guiou por um corredor iluminado. Ao sairmos pude notar o lance de olhar de Haruka sobre nós, ele não estava confortável com a situação, depender de Rido o deixava profundamente irritado, mas quem poderia estar pior do que eu? Claro, ele. Como Kaname estava se sentindo?

- Poderia se sentar? – a voz de Rido era profissional, não havia notado que já tínhamos chegado a sua sala.

O obedeci e me sentei sobre a maca, ele começou com exames simples como tirar pressão. Nunca entendi muito bem tantos exames, mas continuava a fazer o que mandava automaticamente, minha mente não estava lá, apenas meu corpo. Eu corria num labirinto dentro de mim, tentava achar a saída desesperadamente.

- Terminamos. – falou Rido.

Ele estava a minha frente e naquele momento pude sentir que talvez devesse pular os muros. Segurei seu braço inconscientemente e ele se virou espantando demais com minha estranha reação e me encarou. Estava desnorteada e confusa demais, soltei seu braço rapidamente e me virei sentindo meu rosto esquentar e fica vermelho. “Droga!”, gritei mentalmente, “O que estou fazendo?”. Mas a reação de Rido me surpreendeu mais, ele deu um sorriso no canto da boca e posicionou suas mãos ao meu lado sustentando seu corpo a centímetros dos meus, estávamos muito próximos, perto demais, mais do que queria.

- Você é tão parecida com a sua mãe. Poderia ficar comigo. – ele tocou meus lábios com uma das mãos e se aproximou mais.

Dei-lhe um tapa antes que pudesse ficar mais perto, agi por instinto e não pensei no momento. Seu rosto ficou levemente vermelho e minha respiração era ofegante. Ele pretendia mesmo me beijar?

- Não sou minha mãe. – tentei fazê-lo perceber, ele parecia desorientado.

Ele sacudiu a cabeça como se acabasse de acordar e tocou o rosto vermelho como se a dor apenas tivesse vindo agora.

- Desculpe-me! – disse delicadamente. - Eu nunca fiquei tão perto assim dela. Até mesmo hoje ela nunca me permitiu ficar tão perto. – falou para si mesmo. – Seus pais estão esperando.

- Espera! – disse elevando minha voz. – Precisa me ajudar. – percebendo minha ênfase completei – Por favor!

- Por que eu faria isso? – disse ele indiferente.

- Por que? – me peguei em meus pensamentos, tinha que convencê-lo. – Quer que terminemos como vocês? – o provoquei.

- Atrevida. – bufou. Rido sabia a que me referia e ficou incomodado com minha analogia, sua reação me mostrou que atingi o ponto chave. - Pretendem fugir?

- Sim. Para Londres.

- E como pretende fazer isso? É menor de idade e Kaname não possui a permissão de Haruka ou Juuri, será impossível. – disse cético.

- Eu sei. Por isso precisamos de ajuda. – meu corpo tremia.

Ele pegou seu terno que estava sobre uma cadeira e o colocou em meus ombros. Logo após pegou o controle do ar condicionado e aumentou a temperatura.

- Está muito frio aqui, deveríamos sair logo desta sala antes que congele.

- Preciso de uma resposta. – eu não sentia frio. Tremia de medo e ansiedade, na realidade estava com muito calor, mas naquele momento não queria discutir sobre isto.

- Esta bem, esta bem. – repetiu nervoso. – Encontrarei um modo e falarei com seu irmão. Até porque duvido que possa sair de agora em diante. Fique de olho da próxima consulta.

- Obrigada! – estava realmente agradecida, poderia ter esperanças.

Na recepção meus pais aguardavam e ambos se levantaram ao nos ver, andei até eles e fiquei ao lado de minha mãe que me beijou carinhosamente na testa. Haruka e Rido se encaravam, novamente.

- Então como a criança está? – meu pai perguntou ao primo, se referindo a primeira vez ao bebê que esperava.

- Bem. A mãe e o filho estão saudáveis. – disse profissionalmente.

- Nenhuma provável doença congênita? – essa pergunta me atingiu como num raio, não havia pensado em tal possibilidade, como havia sido tão ingênua.

- Não até o momento. – disse Rido calmamente. – Essas doenças não ocorrem assim Haruka, a combinação genética aumenta sim os riscos, na posso enganá-lo. Tudo depende da combinação genética e histórica familiar, acredito que essa criança possa sim nascer saudável, vendo que nossa família apesar de tudo não tem um largo histórico de doenças genéticas.

- Ma eu não posso confiar. De qualquer modo essa criança não irá nascer para confirmarmos. – disse duramente.

- O que quer dizer? – perguntou Rido ríspido.

- Que o abortaremos o quanto antes. – Haruka o fitava.

- Não pode permitir isso. – Rido se virou para Juuri, seus olhos suplicantes.

Juuri engoliu seco, não sabia o que responder. Não poderia ir contra Haruka. Neste momento cai e senti meu corpo enfraquecer, minha mãe tentou me agarrar, mas não me suportou peso caindo comigo. Uma dor forte me atingindo, estava à beira de um desmaio, até que apaguei.

Durante a noite, acordei, meu pai me carregava e me deixou no sofá da sala, ainda estava meio sonolenta, não notaram que havia acordado.

- O que aconteceu com ela? – a voz era de Kaname.

- Desmaiou. – respondeu Haruka simplesmente.

- Por quê? – perguntou sem confiança nas palavras do pai.

- Creio que não gostou das notícias. – disse sem olhar para Kaname, ele tirava o terno e o colocou sobre o outro sofá. – Sobre o aborto.

- Aborto? – disse enfurecido.

- Você não será contra. Até mesmo seu tio concordou. – Não podia crer, Rido disse que me ajudaria. O que ele estava fazendo? – Após um tempo é claro.

- Eu jamais concordarei com isso. – sua voz começava a se alterar.

- NÃO SEJA IDIOTA. – Haruka gritou, impondo sua autoridade. – Acha que EU permitiria. Não pensa nas conseqüências Kaname? Pode até mesmo ser preso se isso vazar. – Kaname pareceu espantado. – Vejo compreendeu. Afinal entende muito melhor de leis do que eu. Sua irmã é menor de idade, além do parentesco, o que vez pode ser considerado abuso. E lhe digo mais uma coisa. – se levantou e caminhou até Kaname e sussurrou em seu ouvido – Se continuar a se opor, eu mesmo o denunciarei.

Kaname estava sem reação, parado feito uma pedra. Ele estava certo, senti-me fraca novamente e sem esperanças. Deveria então aceitar minha má sorte?

- Mãe, gostaria de ir para meu quarto. – me pronunciei a primeira vez.

Ambos, Haruka e Kaname, se viraram para mim, não haviam notado que estava acordada. Juuri me ajudou a subir as escadas e trocar de roupas após o banho. Ela era a mais silenciosa, gostaria de saber sua opinião, o quanto estava incomodada com aquilo, mas não queria fazer perguntas a fim de evitar as delas. Apenas uma não pude evitar fazer.

 - Quando?

- Quando o q... Ah! – percebeu de que assunto se tratava. – Terça-feira.

- Hum! – aparentei indiferença, mas minha expressão era realmente abatida.

- Eu...- fez menção de dizer algo. – Boa noite! – desistiu, beijou minha testa e saiu.

Não consegui dormir, me mexia de um lado para o outro tentando achar uma posição que me fizesse dormir, foi inútil. Era de madrugada e meus olhos estavam acesos, decidi me levantar e caminhar pelo quarto, então notei algo no chão perto da porta, era um pedaço de papel. O desdobrei e possuía uma mensagem em uma grafia elegante, era de Kaname, diziam:

”Rido me telefonou, nesta terça teremos nossa liberdade”

Naquele momento meus olhos se encheram de lágrimas, finalmente compreendia. No dia que iria tirar meu primeiro filho na realidade fugiria. Beijei o papel inúmeras vezes, então o rasguei em vários pedaços antes de jogá-lo fora. “Tudo vai dar certo”, me convenci antes de finalmente conseguir pegar no sono.

Quantos dias eu havia esperado, sim eu sabia exatamente quantos dias haviam passado, desde o dia que minha vida virou de cabeça para baixo haviam contabilizados exatos cinco dias. Cinco dias de agonia, cinco dias de despedidas. Neste período me recusei a ir a escola, não queria enfrentar a todos, a aflição em meu rosto me denunciaria. Yori veio me procurar, fingi animação ao vê e disse ter pegado uma virose, que também serviram de desculpas por meu desmaio, não tive coragem de contar a ela o que estava acontecendo, será que sentiria desprezo? Nojo? Será que ela iria me repudiar? Creio que nunca saberia a resposta, talvez nunca mais a visse. E assim como lhe disse adeus, disse adeus a tudo e a todos, sem ele notarem, sem perceberem, pois os fazia em silêncio. Minha mãe passava a maior parte do tempo comigo, simplesmente ao meu lado, sem palavras passávamos confiança uma a outra. Kaname havia ido a um hotel, a convivência com nosso pai tinha se tornado impossível.

Em frente ao espelho, já vestida com roupas confortáveis, me despedia de mim mesma, dando adeus aquela menina que já não existia, os seus resquícios imaturidade se esvaindo. Tinha que ser forte! Coloquei a mão sobre meu abdômen e sussurrei: “Vai ficar tudo bem” e acariciei a criança que se formava dentro de mim. Será que Kaname estaria lá? Pensei. Tinha que ter confiança. Suspirei pesadamente e desci as escadas, meu pai já me aguardava, minha mãe tinha uma expressão de dor, sem palavras Haruka e eu fomos até o carro, Juuri não nos acompanhou.

- Dizem que dói. Colocam ou instrumento estranho dentro de você e puxam a criança para a fora. – disse após um tempo dentro do carro, após não suportando mais o silêncio. Fiz caretas enquanto falava. Mas ele nada disse. – Parece que é demorado também. – disse baixinho jogando verde.

Chegamos à clínica e senti meu coração palpitar, saindo do carro olhei para os lados e não vi o carro de Kaname, é claro que não estaria a vista, mas senti uma agonia me percorrer. Dentro do local, Rido e uma enfermeira nos aguardavam, ele pegou em minha mão e disse.

- Está pronta. – e deu uma piscadela discreta em seguida.

Aquilo me tranqüilizou e mordi meu lábio inferior para abafar um riso. Ele me puxou para que o seguisse, neste momento o parei.

- Espere, eu preciso... – não completei a frase, me virei para me pai que olhava para o outro lado, com ar de desinteresse. – Pai – o chamei, ele me olhou intrigado. – Saiba que não acho certo o que está fazendo, mas... Eu te amo.

Haruka estava com um olhar confuso, não sabia como reagir e nem permiti que reagisse, comecei a andar em direção a sala qual meu tio apontava. Coloquei a mão sobre a boca abafando meus soluços devido ao choro que se iniciava. Mesmo que aquilo me denunciasse, precisava falar que ainda o amava, afinal nunca mais o veria, queria tê-lo dito a todos, a minha mãe, num acesso de sentimentalismo.

A porta da sala se abriu e senti meu corpo ser envolvido por um abraço quente e forte, era Kaname, ele me abraçou pelas costas, seus braços me apertando contra seu peito e seu rosto em meus ombros, aquele gesto me tirava de toda a dor. Virei-me para ele e lhe dei um selinho de modo carinhoso, ele sorriu e voltou a me abraçar.

- É tudo muito lindo, mas vocês precisam se apressar. – Rido nos acordou para a realidade. – Aqui Yuuki, esta é sua identidade e passaporte. – me entregou dois documentos falsificados, porém muito bem feitos.

- Falsificou documentos. – disse indignada.

- Yuuki, que tipo de métodos achou que poderíamos usar. – Kaname me censurou.

- Está certo. – estava sem graça.

- Agora vão. – meu tio já estava sem paciência.

Nós saímos por uma porta do outro lado da sala, que não havia percebido até o momento, estávamos sendo praticamente postos para fora. Rido nos guiou até os fundos da clinica, onde pude ver o carro de meu irmão, ele ia fechando a porta quando o impedi, colocando meu pé entre o pórtico e a folha da porta.

- O que ainda está esperando. – meu tio tinha um tom ríspido.

- Obrigada. – falei gentilmente e tirei meu pé da porta, esta se fechando. Qual teria sido sua reação? Ri ao pensar.

No carro, Kaname segurava a minha mão quase o tempo todo, soltando-a ocasionalmente para mudar de marcha. Dizia que iríamos bater daquela forma, então ele beija as costas da minha mão e ria.

O aeroporto estava lotado e por algum motivo nada me reconfortava, o avião demoraria mais uma meia hora para pousar, caso não se atrasasse, a sorte estaria conosco? Não. Haviam passado quase uma hora e o aviso do atraso estava nos placares. Comecei a temer, a me angustiar. Meu pai teria notado a demora? Kaname voltava com um suco nas mãos e me ofereceu, eu peguei a garrafa sem animo de abri-la.

- Dizem que demorara mais meia hora. – colocou sua mão sobre a minha. – Acalme-se vai dar tudo certo. – beijou minha testa e me puxou pela cintura, me deixando mais perto dele, seu corpo era quente e senti minha aflição diminuir um pouco mais.

Havia pequenos grupos de policiais por todos os cantos, eles olhavam para os cantos e se comunicavam entre si, alguns deles possuíam fotos de alguém, não pude identificá-las. Alguém estaria perdido? Quinze minutos se passaram e Kaname foi olhar se o avião estava no horário, neste momento comecei a me sentir incomodada, pedi para ir com ele, mas ele disse que como o aeroporto estava muito cheio me cansaria à toa. Concordei e aceitei ficar. Dois policiais me fitavam constantemente e cochichavam um para o outro. Meus pés se mexiam constantemente com o nervosismo.

- Yuuki. – Kaname parecia preocupado. – Precisamos ir. – disse em voz baixa me pegando pelo braço.

- O que aconteceu? – o indaguei.

- Rido me ligou, nosso pai...

- Com licença. – um dos policiais o interrompeu. – Poderia ver suas identidades e passaportes, por favor. – pediu educadamente.

- Yuuki, não aqueles. – falou no pé do ouvido.

Entreguei meus documentos verdadeiros, esperando ter entendido bem o que Kaname quis dizer, eles o analisaram e me olharam friamente. Senti um frio na espinha me percorrer. Conversaram entre si enquanto decidiam o que fazer.

- Nosso pai descobriu. – Kaname me colocava a par da situação, falava muito baixo, quase não escutava. – Tsc. Ele cumpriu a promessa, nos denunciou. – o olhei amedrontada e o que veio a dizer não deixava em melhor estado. – Estão nos caçando e encontraram a presa.

- Kuran Kaname não é? – perguntou um deles, Kaname afirmou com um gesto. – São irmãos?

- Sim. – respondeu sério.

- Tem permissão dos pais da menor para viajar a outro país?

Essa pergunta veio como um golpe, é claro que não possuíamos permissão, estávamos fugindo. O que faríamos? As mãos de Kaname se fecharam em formato de punho, tive medo pelo que pretendia fazer. Segurei sua mão e o tentei acalmá-lo, o encarei com olhos suplicantes para que não fizesse nenhuma besteira. Os guardas aguardavam uma resposta, estavam impacientes. Decidi por me entregar, respirei profundamente e dei um passo à frente.

- Yuuki? Kaname? – uma voz de mulher veio para nos salvar.

- Mãe? – Juuri apareceu do meio da multidão, nos fazendo surpreender.

- Algum problema senhor? – perguntou ela ao policial de modo casual.

- Bem, é que... – começou a coçar a cabeça sem entender. – eles não possuem uma permissão.

- Esta. – tirou um papel da bolsa.

Os policias analisaram o papel e conversaram por um momento entre si.

- Desculpe-nos o incômodo. – E entregaram o papel novamente nas mãos de Juuri se retirando.

- Vocês são loucos. – disse ela virando para nós. – Fugir assim, o que pensam que aconteceria. Seu pai está louco, como explicarei isso a ele. E se não tivesse forçado Rido a me dizer onde estavam imaginem como estariam agora. Você preso e você mocinha numa sala de aborto qualquer. – ela estava possessa, cuspia as palavras sem medi-las.

- Irá nos mandar de volta para casa? – perguntei.

- Era o que devia fazer. – disse sem emoção.

- NÃO PODE! – me alterei. – Ele irá matar essa criança, não posso permitir. – estava em prantos.

- Yuuki. – ela me abraçou fortemente, chorando junto comigo. – Sua tola, por que arranjaria uma permissão para viajem as pressas?

Apertei-a mais em no abraço forte, não conseguia respondê-la, eu estava feliz, mas o fato de deixá-la fez tristeza se abater junto. Ficamos ali por muito tempo, até que por fim sentamos, Kaname trouxe água para ela e para mim, para que nos acalmassem, nossos rostos encharcados. Ela afagou os cabelos do filho e neste momento uma pergunta me veio a mente.

- Mãe, posso lhe perguntar algo? – disse indecisa.

- Sim.

- Você e Rido... nunca?

- Ah! Sobre isso. – pareceu triste. – Eu e seu tio nunca tivemos uma “convivência” propriamente dita, passávamos o dia em escolas separadas e nos víamos apenas em cerimônias separadas. Rido era uma pessoa difícil, sempre quebrava as regras, andava com quem não devia, jogava. Seu avô que sempre foi muito rígido o castigava constantemente. Imagine meu choque e deu seu avô quando Rido confessou seu amor e tentou me beijar pela primeira vez. Meu pai ficou louco, o mandou para o exterior e pagou seus estudos de medicina. Quando ele voltou foi para meu casamento com seu pai.

- A senhora nunca...

- Yuuki, eu amo seu pai. Apesar de ter agido como uma cabeça dura, vocês atravessaram um limite muito importante para ele. Quando essa história chegou a seus ouvidos, ele ficou louco de ciúmes, me impediu de ter qualquer contanto com Rido. Confesso que escapei muitas vezes, mas nunca. – completou. – Nunca.

Avião 707, com destino à Londres, por favor passageiros se dirigir ao portão de embarque!

A voz no saguão me vez pular, eu já tinha que ir? O quão duro seria deixar tanto para trás. Minha mãe me abraçou novamente e sussurrou em meus ouvidos:

- Eu te amo.

- Eu também. – chorava.

- E você cuide bem dela. – minha mãe fingia irritação ao falar com Kaname. – Eu te amo também. – não conteve as lágrimas.

- Obrigada por tudo. Eu te amo mamãe. – Falou de maneira infantil a abraçando.

- Vocês fizeram suas escolhas afinal. Adeus!

“Adeus”, essa palavra repercutiu em minha mente durante a ida ao avião, a viajem e ainda por muitos dias. Deixar minha mãe foi muito mais difícil que deixar qualquer outra coisa, ter que deixar minha família. Mas agora eu formaria a minha família. Ao lado do homem que amo, mesmo que tivesse que fingir e me esconder, não deixaria de enfrentar problemas, mas iria persistir e vencer, pois já havia quebrado o maior deles, um tabu.

~ EPÍLOGO

Quanto tempo havia se passado? Faziam quatro anos e meio que havíamos deixado a cidade de Tóquio em nossa fuga que por pouco não foi bem sucedida. O que teria ocorrido se tudo tivesse falhado? Sacudi minha cabeça tentando não pensar em tal possibilidade.

Aiko corria no quintal da nossa cada na cidade de Bristol, onde vivíamos Aiko, Kaname e eu. Kaname saia com freqüência para defender casos em outras cidades, mas sempre que podia pegava casos menores para não ter que viajar até Londres.

- Aiko, vai se machucar assim. – disse impacientemente pela terceira vez.

- O papai chega quando? – e ela perguntava pela milésima vez.

- Logo.

- Logo é quando?

- Logo é logo. Sente-se aqui ou irá se sujar. – disse apontado para o meu lado na soleira da porta. Ele se sentou ao meu lado emburrada. - Assim irá sujar seu vestidinho de festa. Fique comportada. – pedi ajeitando o seu vestido azul de cetim. – Está tão linda.

- Obrigada mamãe. – deu um sorriso largo. O som de carro a fez saltar. – Chegou. – seus olhos brilharam.

- Cadê minha menininha? – ele abriu os braços e nossa filha correu para abraçado-lo, ele a girou no ar e a então a pôs nos braços gentilmente. Ele veio até mim e me levantei, antes que pudesse dizer “oi” com sua mão livre me puxou para perto e me beijou, um beijo doce e demorado. – Como vai senhora Kuran?

- Bem. – respondi sem fôlego.

- Vamos nos atrasar. – a pequena Aiko nos apressou.

Tínhamos uma festa de aniversário de um dos amiginhos de nossa filha para ir, éramos vizinhos e já ouvíamos as músicas infantis tocando, começamos a caminhar tranquilamente até casa que era apenas uma quadra de distância. Eram bons vizinhos e principalmente não eram curiosos, o que fazia a nossa convivência bem mais fácil. Isto me fez lembrar do dia que Aiko nasceu, eu comecei a passar mal na rua quando chegava em casa, Kaname não estava, e Marie me socorreu.

Tivemos problemas na hora do registro de Aiko, eu aleguei ter pedido meus documentos e consegui novos registros, onde mudei o nome dos meus pais, o pedido dos dados para a embaixada era ineficiente e surtiu a nosso favor. E por todo esse tempo vivemos tranqüilos e éramos felizes e assim aguardava continuar a ser. Kaname e eu estávamos de mãos dadas, como um casal normal finalmente, não éramos vistos com desprezo, mas por vezes com inveja, por sermos tão unidos, nosso laço também era sanguíneo. Olhando a pequena Aiko correr a nossa frente eu pensava como poderia uma criança tão bela ser fruto do pecado, Aiko era filha do amor*.


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Notas finais do capítulo

*Aiko significa Filho do Amor.
Na original, a Yuuki iria morrer .-. Mas então repensei e esse final ficou bem melhor.
MUITO OBRIGADA A QUEM ACOMPANHOU! Eu realmente fiquei muito feliz com o resultado dessa Fanfiction. Espero que gostem do final e deixem um comentário enoooooorme do jeito que a Amanda gosta ^^ Obrigada de coração