Laços Impossíveis escrita por mandycarol


Capítulo 4
Capítulo 4 - Ciúmes




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A luz do sol enchia o quarto impedindo que estendesse meu sono por mais cinco minutos, me remexia na cama tentando lembrar em que dia estava e porque meu despertador insistia em berrar freneticamente.

- YUUKI! AINDA DORMINDO! Irá se atrasar para a escola deste jeito. – esbravejou minha mãe.

Coloquei minha cabeça em baixo da almofada tentando abafar os gritos para assim começar a processar o que ele havia acabado de dizer. Ela agarrou minhas pernas e começou a me puxar.

- Y-UU-KI! Es-co-la! – dizia com dificuldade.

E como um estalo tudo se encaixou.

- Que dia é hoje?

Pulei da cama fazendo Juuri sentar no chão após ser impulsionada para trás.

- Mamãe, você está bem? – perguntei preocupada estendendo minha mão para poder se levantar.

- Estou. – Se apoiou em meus braços e levantou. – E você está atrasada para o retorno das suas aulas mocinha!

- Me perdoe. – falei fazendo um leve beicinho.

Assim que a porta se fechou comecei a tirar as roupas loucamente e me enfiei embaixo do chuveiro. Deixei que a água fria molhasse o meu cabelo e com ela eu parecia começar a despertar do torpor de dois dias. Durante todo o final de semana eu parecia estar numa grande encenação fingindo ser uma pessoa oposta e sorrindo forçadamente. Não poderia preocupar meus pais, mesmo que já tivesse ferido uma pessoa muito especial não queria machucar mais ninguém. Desliguei o chuveiro e me enxuguei rapidamente afugentando todos aqueles pensamentos ruins e tentando me concentrar numa desculpa para o professor Yagari. Não deveria dar mais motivos a ele para reclamar de mim ao diretor Kaien, visto que ele já o fazia sem ao menos eu mover uma palha.

O lado bom de acordar tarde para o primeiro dia de aula após uns dias tempestuosos e poder sair sem tomar o café da manhã e não ter de encarar aquele rosto, pelo menos não esta manhã. Não sabia por quanto tempo minhas péssimas habilidades teatrais continuariam a convencer Kaname e Juuri, que me lançavam olhares desconfiados e me deixavam extremamente desconfortáveis.

O carro já me esperava na porta quando sai sem me despedir, o motorista me levou a escola de forma mais rápida que o habitual, provavelmente por ordem de minha mãe. Cheguei à escola em tempo [i]record[/i] e corri para a sala de aula. O professor Yagari fazia a chamada, suspirei de alívio ao perceber que meu nome ainda não havia sido chamado, tentei me esgueirar e entrar pela sala antes que ele percebesse.

- Kuran Yuuki! – pronunciou passivamente.

- Presente. – respondi enquanto me ajeitava em meu lugar. “Consegui” pensei animada.

- A sala do diretor Cross a aguarda. – disse indiferente.

- ree! – soltei um som estranho.

Era incrível como seu olhar podia ser tão desagradável e perspicaz, mesmo tendo apenas um olho para nos encarar. Sai da sala bufando, mas sabia que de nada adiantava discutir, peguei o bilhete que escreverá ao diretor e sai da sala tentando não demonstrar o ódio que sentia, em partes de mim mesma.

O corredor estava vazio e me arrastava até a sala do diretor em passos lentos, a sala não era distante, mas se estava prestes a levar uma bronca levaria o tempo que pudesse até chegar lá, infelizmente isso não me atrasou tempo o bastante. Logo a porta estava a minha frente e quando ia virá-la, a porta se abriu.

Zero me encarava na porta com um rosto inexpressível, estava surpresa, mas não deveria, pois ele era um dos maiores freqüentadores da sala do diretor. Zero era considerado por todos como “garoto problema” e um grande... galinha. Era certo que a maioria das garotas arrastava um caminhão para poder ficar com ele, era de fato um rapaz muito bonito, suas formas e rosto eram atraentes e seus olhos lilases pareciam nos puxar. Se duvidar até eu me sentiria atraída por ele.

- Ora, ora, a pequena princesa Kuran visitando o Kaien. O que a menina prodígio aprontou tão cedo? – perguntou cinicamente.

De fato eu me sentiria atraída, se ele não fosse tão... Insolente, desprezível e sem vergonha.

- Não lhe interessa Kiryuu. – respondi rudemente sem formalidades e entrei na sala sem olhar sua reação.

O diretor Cross estava sentado em sua cadeira, um sorriso habitual em seu rosto. Entrei devagar e cabisbaixa, me dirigi até sua mesa e lhe entreguei o bilhete, fiquei em pé esperando que terminasse de lê-lo e me desse uma punição. Seus olhos percorriam a extensão do bilhete diversas vezes.

- Por que chegou atrasa Yuuki? – seu tom era calmo, para meu alívio.

- Acho que perdi a hora, me perdoe diretor.

- E tentou entrar sem informar o professor? – seus olhos me fitando sobre os óculos.

- Sim, diretor. – confessei.

Ele pegou uma caneta e começou a escrever em um pequeno papel amarelo.

- Entregue isso ao professor Kaito. Ele cuidara de sua detenção com aulas extras. – Me estendeu o pequeno pedaço de papel.

“O QUE?”, gritei mentalmente. Minha vontade era cair no chão e espernear feito um bebê, porém apenas fiz uma mesura e sai. Caminhei pisando duro até a sala do professor, devia estar pagando pelos meus pecados, era a única explicação. O rosto de Kaname inundou a minha mente e me senti estremecer. Como tinha sido tola, não havia pensado nas conseqüências, tudo estava bem do jeito que era antes. Quando retornasse para casa iria propor algo para que pudesse reconquistar seu afeto. Afinal de certo modo, eu não me lembrava de nada, não é mesmo? Havia bebido demais e me convencerá que esqueceria o ocorrido.

Quando adentrei a sala do Takamiya-sensei estagnei, junto com outros degenerados, Zero estava sentado de forma bem relaxada numa carteira ao fundo, ele me encarava com um sorriso torto. De fato eu estava pagando e isso só podia ter um nome, carma. Virei o rosto e me coloquei em frente ao professor lhe entregando o bilhete do diretor Kaien. Era estranho como Kaito poderia ser tão jovem e já lecionar, ele era um professor bastante popular entre as meninas, mas muito rigoroso. Eu analisava suas feições, quando de repente me encarou, ruborizei.

- Essas são suas atividades Kuran Yuuki. – disse me dando um livro bastante pesado.

Podia sentir os risinhos de Zero no fundo da sala. Sentei-me bem na frente, estava constrangida e queria evitar ao máximo mais um aborrecimento. Fiquei a aula inteira sobre o livro, ao menos fingindo que compreendia a fazia as lições. O sinal do intervalo demorou, mas quando soou foi um alívio. Fui a primeira a levantar e deixei a sala quase que correndo.

- YUUKI! – Yori gritou meu nome, aliás, hoje era o dia que mais teria ouvido meu nome. – Como foi a detenção? - perguntou ao meu alcançar, sua voz ofegante.

- Horrível.

- Zero-kun estava lá? – seu tom de voz se tornou animado de repente.

- Sim, mas como sabe? – era indiferente.

- Ele sempre está lá. – Fazia sentido. – Fiquei sabendo que ele ficou com a Ruka semana passada, todos estão comentando.

- Mais uma para a lista. – assinalei.

- É. Se bem que não me importaria de estender sua lista. – disse de modo sedutor.

- YORI! – lhe dei um tapinha nos ombros. – sua pervertida!

- Ahh! Yuuki, antes que me esqueça! Vai haver a inauguração de um barzinho nesta sexta, disseram que o lugar é fabuloso, vai haver musica e bebida. – Bebida não era algo que me trazia boas lembranças.

- Bem, Yori, ham! Eu não sei! – tentei achar uma desculpa. – Acho que nem poderia ir, só acompanhada de um responsável.

- E o seu irmão, ele não pode ir com você. – me venho um estalo na mente. - Um monte de gente do colégio vai e todos vão dar um jeito. – continuo a tagarelar.

- Certo, vou tentar. – meu tom animado de repente.

Era a ocasião perfeita para mostrar ao Kaname que poderíamos voltar a sermos irmãos e faria o máximo para cumprir meu papel. Até mesmo ri ao pensar eu como tinha sido ingênua e sonhadora. Meu irmão, isso que Kaname era meu e assim que devia ser.

A aula correu vagarosamente, o professor Yagari me enchia de perguntas difíceis, quais suava para responder. O sinal tocou e podia sentir uma sensação de liberdade. O motorista já me aguardava em frente a escola, me despedi de Yori e entrei no carro, não sem antes encontrar os olhos de Zero novamente, eles expressavam ternura, algo que não esperava dele. Só podiam ser meus devaneios.

Em casa pus minha mão sobre a maçaneta e ao pensar em girá-la ouvi uma voz.

- Entende? Eu não podia fazer nada naquele caso. – era Kaname.

- Claro que entendo. Afinal ela é sua irmã.

Entrei. Ichijou Takuma estava sentando na sala, suas mãos sobre as de Kaname como se o confortasse, os olhos de Kaname estavam ligeiramente inchados e vermelhos, quando apareci na sala, ambos se viraram. Kaname tentou disfarçar deixando seus cabelos caírem seu rosto e Takuma lhe deu suporte.

- Como vai Yuuki? – perguntou sorridente.

- Bem e você? – tentei ser cordial.

- Muito bem. Voltando da escola?

- Sim. – respondi automaticamente, meus olhos fixos em Kaname.

- Você cresceu Yuuki-chan, está muito bonita. – ele tentava ser educado, mas isso apenas me irritava no momento.

- Obrigada. – respondi sem emoção. – Irei subir, com licença.

Corri escada à cima e me tranquei no meu quarto tomando cuidado para não fazer barulho e alarmar ninguém. As lágrimas corriam pelo meu rosto, sentada no chão segurei meus joelhos com força, meu rosto afundando entre eles para abafar meus gemidos devido ao choro. Eu o fiz sofrer, era só no que pensava. Como era tão idiota.

No dia seguinte não poderia me dar o luxo de atrasar e nem dar motivos para aquele vulgo a pirata reclamar novamente. Acordei mais cedo do que ultimamente, minha insônia não tinha eu deixado dormir direito, acordava de quinze em quinze minutos, então acordar cedo não foi um problema.

A água do banho era fria e não reclamei, por mim poderia ser tão fria a ponto de congelar meus pensamentos. Vesti meu uniforme que já se encontrava sobre a cama e desci as escadas lentamente, estava tão abatida a ponto de parecer à própria personificação da morte.

Fui a primeira a sentar a mesa que estava caprichosamente preparada com inúmeras coisas, porém, não sentia vontade de comer nenhuma delas, forcei um suco pela minha garganta e me levantei da mesa com a intenção de sair antes que qualquer um viesse tomar seu café da manhã. Infelizmente meus planos nunca saiam como eu queria, sempre que tentava evitar alguém, ele insistia em aparecer. Kaname estava parado diante a porta, me encarando. Abaixei a cabeça e fiz a menção de passar pela porta sem dizer-lhe uma palavra, ele agarrou-me pelo braço.

- Está fugindo de mim Yuuki? – perguntou com firmeza.

- Eu não, por que fugiria? – minha cabeça ainda baixa, mas minha voz ríspida.

- Me perdoe por ontem. – soltou minhas mãos, um tom abatido.

- Por que está pedindo desculpas? – mordi meu lábio inferior para não chorar.

- Não sei, achei que tinha ficado triste. Não queria que tivesse me visto daquele jeito. – era amoroso.

Virei para ele de súbito, meus olhos encontrando os deles, o encarei por uns segundos, até perceber que as lágrimas estavam prestes a sair então voltei a virar meu rosto para o outro lado, uma lágrima escapando.

- Você ouviu alguma coisa? – voltou a ser frio.

- Não. – disse automaticamente.

- Entendo. – falou confuso. – Posso te pegar na escola para sairmos esta tarde? – mudou de assunto.

- Sim, claro! – respondi sem pensar direito. – Preciso ir agora. – sai sem olhar para trás.

No carro tentei colocar minhas idéias em ordem, as mudanças de humor de Kaname acabavam comigo. Ele poderia passar da água para o vinho em um segundo. Perdida em meus pensamentos não percebi quando chegamos à escola.

- Senhorita Kuran? – o motorista sussurrou.

- Sim. – sai do carro batendo a porta com força. Virei-me para pedir desculpas, mas desisti, não devia explicações.

Meus sentimentos em turbilhões, algo não muito diferente dos últimos dias. As aulas se arrastavam sem que eu prestasse atenção, não podia deixar de me sentir ansiosa e ao mesmo tempo aflita para encontrar Kaname após a aula.

- Yuuki, Yuuki. – Yori me sacudia sem parar. – Está dormindo? - Quê? – estava confusa. Dei um grande bocejo, droga! Havia dormido no meio da aula.

- Isso responde minha pergunta. – deu um suspiro. – Vamos a aula já acabou. – eu coçava meu olho freneticamente quando parei.

- JÀAAA? – gritei ao saltar da cadeira. Os poucos alunos que ainda se arrumavam para sair me olharam com curiosidade.

- Shiii! Não precisa gritar. – suas mãos em meus ombros me forçaram a sentar novamente. – Se arrume, o seu motorista deve estar te esperando.

- Não, hoje quem vai me buscar é... – parei.

- O que disse? – Yori não prestava mais atenção em mim.

- Nada. – respondi.

Kaname provavelmente estava lá fora me esperando, talvez pensando que tivesse fugido. A idéia de que ia vê-lo fez meu coração saltar. Comecei a arrumar minhas coisas de modo ágil.

- Calma Yuuki! Acho que ele pode esperar mais um pouco. – disse Yori arregalando os olhos.

- É. – dei um sorriso torto.

Terminei de arrumar minhas coisas. Eu e Yori íamos em direção a saída.

- Você não sabe quem não tirou os olhos de você hoje.

- Quem? – perguntei fingindo curiosidade.

- Ze-ro-kun! – pronunciava cada sílaba.

- Por que ele faria isso? E você se dirige a ele de forma tão íntima. – a informalidade de Yori me assustava. - Deve ser sua imaginação Yori. – conclui.

- Então por que não pergunta a ele?

- Ham?

- Ele esta vindo em nossa direção. Bye Bye! – se despediu.

Yori foi para o carro de sua família, seu pai a esperava aparentando preocupação, provavelmente devido a sua demora. Olhei em volta procurando o carro de Kaname, mas não o avistei neste momento Zero me abordou.

- Kuran Yuuki. – falou de modo embaraçado. Seu olhar agitado me deixava confusa.

- Kiryuu. – disse simplesmente.

- Podemos conversar?

- Hum! – acenei com a cabeça.

Ele olhou em volta aflito e entendi que preferia um lugar mais reservado, ao invés de ficar sobre os olhares atentos das ginasiais.

Zero estava na mesma classe que eu e Yori por ter sido reprovado. Nossas famílias se conheciam e estimavam, alguns chegam a dizer que brincávamos quando pequenos, eu e Kaname, Zero e Ichiru. Seu irmão era o oposto, já estava na faculdade e diziam que iria se casar com uma mulher de prestígio chamada Hiou Shizuka. A verdade era que desde que entramos no ginásio não nos falamos e seguimos por caminhos diferentes. Estávamos no último ano e não nos falávamos, não podia imaginar qualquer assunto que tivéssemos a tratar.

Fomos para perto do muro do colégio, o que não nos livrava dos olhares, mas pelos menos nos livrava dos ouvidos atentos.

- Yuuki. – repetiu, seu rosto estava vermelho. – Droga! – se virou de costas tentando recuperar a compostura.

Não disse nada, apenas esperei pacientemente que falasse. Minha curiosidade me remoendo.

- Bem, - começou. – desde que éramos pequenos...

 “ESPERA UM POUCO”, pensei. “Isso não seria uma confissão, seria?” Não havia sentido para isso, abri bem meus ouvidos para confirmar meus erros.

- eu sempre quis lhe dizer... – continuou, mas não pude ouvir o que tinha a dizer. Alguém me puxou pelo braço e me imprensou contra seu peito. Era Kaname.

 - O que tem a dizer Kiryuu? – disse ríspido. Seus olhos estavam em chamas.

- Algo em que não deve se meter Kuran. – cuspiu as palavras.

- Tem vergonha de dizer na minha frente?

Eles se encaravam como dois cães raivosos prestes a atacar, Kaname trincava os dentes e Zero tinha cara de indigestão. Meu irmão me pressionava ainda mais contra seu peito como se me protegesse de um grande perigo, chegava a ser sufocante. O clima era pesado e a situação tendia a piorar. Eu usava todas as minhas forças para me livrar do abraço apertado de Kaname, mas ele era mais forte e me apertava ainda mais chegando a me machucar.

- Eu estou indo Yuuki, falo com você depois.

- Es-pe-re Zero! – senti Kaname me soltar aos poucos, olhei em volta tentando encontrá-lo, mas Zero já havia ido. Suspirei de alívio por pelo menos ele ser sensato naquele momento.

- O que pensa que está fazendo? – bufei.

Os alunos que ainda se encontravam na escola nos olhavam desconfiados, não ligava para eles, meus olhos semicerrados sobre Kaname aguardando uma resposta. Ele não me respondeu, me puxou pelo braço até o carro na frente de todos.

- Não me respondeu. – disse impaciente dando um tapa em seu braço para que me soltasse.

- O que estava conversando com aquele cara? – esbravejou.

- Espere aí, eu perguntei primeiro. Não desvie do assunto.

- Não quero você perto dele. Entendeu Kuran Yuuki?

- O que pode haver de errado em conversar com um colega de classe?

- Não seja tola Yuuki. – deu um soco no capo do carro, meu corpo estremeceu, eu estava entre ele e o carro e pude sentir o baque. Ele estava descontrolado. – Perguntei se entendeu? – foi ríspido.

Minha cabeça girava e não compreendia direito, se Zero estivesse prestes a se confessar por que se importaria tanto, ao menos que...

- Não me diga que está com... – a palavra “ciúmes” engasgou na minha garganta, não podia proferi-la.

- O que ia dizer? – incitou.

Estagnei. Procurei uma saída para o que havia começado, mas seria eu a verdadeira culpada? Zero e Kaname não se gostavam, nunca se gostaram, eles sempre paravam as brincadeiras devido suas brigas.

- Quero ir embora. – murmurei.

- Yuuki... – levou sua mão em minha face, antes que a alcança-se virei o rosto.

- Quero ir embora. – repeti elevando a voz ligeiramente. – Agora. – fui firme.

- Pensei que íamos sair. – disse num tom mais calmo.

- Não há mais motivos para isso, nem clima.

Comecei a andar ao redor do carro, abri a porta do lado do passageiro e me sentei cruzando os braços. Kaname derrotado sentou-se no banco do motorista e me levou para casa. Em casa, subi as escadas pisando duro e me tranquei no quarto ficando lá o dia todo. Não desci para o jantar, alegando estar sem fome. Kaname estúpido, quem pensava que era?

O que estava acontecendo comigo? E o que foi aquele ataque súbito do Kaname? Quais eram os sentimentos entre nós? Eu sabia a resposta, mas queria que fosse diferente. Às vezes penso “se não fosse irmã dele...”, fechei meus olhos com força, no que estava pensando? Não era um sentimento mútuo no final das contas, tudo não passou de rivalidade, eu não podia me enganar. “Não há nada entre vocês dois, desista!”, fechei os olhos novamente, mais forte que anteriormente para me certificar que entenderia, mas por que meu coração continuava apertado?

- Yuuki, você tem dormido direito?

- Yori?! Sinto muito! - estava no meio da aula, eu havia me esquecido, de quantas coisas eu estava me esquecendo? – ahhh! – suspirei, minha cabeça baixa com um sorriso amargo. - Sabe Yuuki? Tenho estado preocupada com você, me parece cansada. – Yori me encarava com olhos aflitos, era nessas horas que entendia o porquê de sermos amigas.

- Não preguei o olho a noite inteira. – deixei escapar.

- Sério? – perguntou espantada, seu volume de voz estava acima do normal.

- Shiiiii! – o professor Kaito vociferou – Wakaba, Kuran, podem fazer silêncio? Ou querem compartilhar a conversa conosco?

- Sentimos muito! – dissemos em coro.

“Por que não dormiu?”, perguntava o bilhete de Yori na sua letra graciosa.

“Nem um motivo especial, devo estar com insônia”, respondi no verso da folha.

“Yuuki, você não me engana. Sei que tem um problema e se não pode ou não quer me contar eu respeito, mas não carregue tudo sozinha, quando precisar estarei aqui, ok?”, escreveu e me entregou num pedaço de papel nada discreto. Meu coração se encheu com a ternura de Yori e por aquele instante eu me senti aliviada.

“Obrigada!”, escrevi no canto do papel que me mandara e repassei.

- Ora, ora. O que temos aqui, duas ratinhas? – a aura do professor Kaito era sinistra, chegava a me dar arrepios. – Me entregue o que a Yuuki lhe passou há instantes, Sayori.

Eu engoli seco, podia sentir cada músculo do meu corpo se contraindo de medo, era a visão de mais um dia de detenção.

- Minhas anotações professor. – Yori lhe entregou um pedaço de papel naturalmente. – Yuuki não conseguiu acompanhá-lo, então achei que não seria ruim lhe emprestar meus rascunhos. Fiz mal professor? – Cai de queixo, a cara de inocente dela convenceria a qualquer um, até mesmo eu começava a achar que tinha delirado e visto letras ao invés de números no papel rasgado.

- Certo, mas sejam mais discretas da próxima vez. – Ele dizia convencido.

O sinal para o intervalo tocou, tirando-nos daquele momento de tensão, pelo menos para os outros. Zero estava encostado na porta, às mãos no bolso e cabelo sobre o rosto inclinado, ele era realmente bonito, isso era inegável. Os alunos se amontoavam para passar pela a brecha ainda menor da porta devido seu obstáculo, eu me aproximei e ele veio a meu encontro dando passagem.

 - Acho que podemos conversar hoje, sem interferências Kuran Yuuki. – ele pronunciava meu nome de modo sedutor.

- Sim. – disse simplesmente. Andávamos devagar pelo corredor que aos poucos ia se esvaziando, os alunos iam em direção ao pátio e ao refeitório, nossos passos eram cada vez mais lentos, quando definitivamente paramos e estávamos a sós.

- Desculpe. – disse exaltada, sendo a primeira a quebrar o silêncio – Me desculpe por ontem, Kaname não tinha o porquê fazer aquilo.

- Não se preocupe com isso, ele só estava com [i]ciúmes[/i] – a palavra me veio como uma pontada. – Os irmãos querem proteger suas irmãs mais novas, é isso que eles fazem. – É claro, ele estava certo. Não passava de proteção fraternal, mas isso de certo modo me machucava tanto – Sobre o que ia dizer ontem, bem... – Zero me resgatou dos meus devaneios.

- Diga. – o encorajei.

- Yuuki! – gritou - Eu possuo sentimentos por você. Desde pequenos que eu gosto de você. – seu rosto estava vermelho, ele se esforçava para dizer cada palavra, mas por fim as disse. – Eu a amo.

Eu peguei sua a mão e as coloquei sobre as minhas gentilmente. Olhei em seus olhos, eles tremiam e cintilavam, os meus ao contrário estavam um pouco fechados e firmes.

- Eu aceito seus sentimentos. - disse docemente – Mas, não posso retribuí-los.

Ele fechou os olhos e por um momento poderia jurar ter visto uma lágrima escapar.

- Entendo. – virou o rosto – Você gosta de outra pessoa?

- Infelizmente, sim. Queria que meu coração o tivesse escolhido ao invés dele. – estava sendo sincera.

- Bem, se é assim, não há nada o que fazer. – se levantou e mudou de postura, voltará a ser o Zero confiante – Mas, lembre-se. Quando se cansar dele, volte e seja minha. – corei com suas palavras, em seu rosto havia um sorriso triste por trás do Zero inabalável.

- Hum! – afirmei.

Zero havia mostrado para mim uma faceta sua que talvez apenas eu conhecesse, sorri ao vê-lo ir e pensando de como tinha sorte por ter visto esse seu lado, provava que ele não era apenas um insensível. Meu coração se apertou, queria Deus que ele tivesse sido meu amor, que ele tivesse roubado meu coração, seria mais fácil encarar as centenas de garotas a seus pés do que laços sanguíneos. Apertei minha mão contra o peito e senti uma imensa vontade de chorar.

A sineta tocou novamente e passei o restante das aulas distraída novamente, quando percebia o olhar de Yori sobre mim, eu virava para ela, sorria e sibilava “estou bem”.  Ela não se convencia e continuava a me vigiar, então abaixava a cabeça e a ignorava.

Em casa encontrei Kaname na sala, ele lia um jornal sem nenhum interesse aparente e em uma das mãos atarantadas com seus cabelos, ele apoiava sua cabeça. Eu joguei meus materiais de lado e tirei meus sapatos, me sentei ao seu lado e ele parecia não perceber. Encostei minha cabeça em seu ombro e pude senti-lo se sobressaltar.

-Yuuki?! – sua voz constrangida.

- Me desculpe.  – disse de olhos fechados, da maneira mais terna que conseguia.

- Não, eu que devia me desculpa. Eu fui um idiota. – murmurou.

- Tem razão. – usei um tom descontraído, virei meu rosto para encará-lo. – Você foi um idiota. – sorri. – Mas, você é o meu irmão idiota e não quero brigar com você está bem?

- Idiota ham?! – simulou irritação. – Está bem.

- Que bom. – disse animada. – Isso que significa que fizemos as pazes, certo? – coloquei seu braço em volta do meu pescoço.

- Creio que sim. – ele parecia encabulado com meu gesto.

- Isso também significa que iremos à inauguração do barzinho Paris nesta sexta, certo?

- Sim. – respondeu automaticamente – Barzinho? – percebeu o erro e me olhou espantado.

- Não pode mudar sua palavra. – o encurralei – Prometo não beber. – disse ao ver seu olhar furioso. – Vamos! É um convite da Yori.

- O que fazer, eu já dei minha palavra. – me olhou de esguelha e sorriu ironicamente.

- Hum! – concordei e voltei a recostar minha cabeça em seus ombros.

Meu coração ainda apertado com a proximidade perigosa, mas meu corpo quente. Relaxei e fiquei ali por um bom tempo, Kaname parecia não se incomodar.


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Notas finais do capítulo

Terminei o capítulo antes do esperado, mas decidi que o próximo acontecimento merecia um capítulo a parte /
A fanfiction já está na metade. Infelizmente devido ser uma fic planejada do começo ao fim não tenho como estende-la



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