Entre Janelas escrita por DeiseNeiva


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um...Tem uma música nesse capítulo.É She will be loved- Maroom 5. Ouvia ela enquanto escrevia esse capítulo. Muita coisa acontece nesse, espero que gostem...



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Capítulo 2

  O telefone tocou alto e Ana correu para abaixar o aparelho de som. Os pés descalços e usando um grosso roupão de banho.

  -Alô.

  -Oi. Sou eu. –Pedro informou.

  Já era noite e o garoto estava se aprontando para a festa.

  Pedro falava ao telefone, de pé em frente a janela do quarto, segurando um binóculo igual ao que a amiga tinha.

  -Oi. –Ana falou. – Qual a urgência?

  -Como sabe que é urgente?

  -Você vai passar aqui dentro de... –ela consultou o relógio sobre a mesinha. – Vinte e três minutos. Se não pode esperar até chegar é porque é urgente.

  Pedro fez uma careta.

  -Sabia que essa mania de estar sempre controlando tudo tira toda a graça de viver?

  Ela riu.

  -Abre a cortina, preciso de ajuda. –ele pediu.

  De sua janela ele viu as cortinas da janela de Ana se afastarem e ela aparecer segurando o telefone e puxando o binóculo de uma gaveta.

  -Você ainda não está pronta? –perguntou atrás do próprio binóculo.

  -Olha só quem fala. Pretende ir sem camisa, é?

  Concentrada, Ana focou melhor o binóculo.

  -Não, mas preciso que me ajude a escolher uma.

  -Certo. Que calça está usando?

  -Jeans. Aquela que eu comprei semana passada. Estava pensando em usar com essa camisa.

  Ana o viu largar o binóculo e  colocar uma camisa azul de botões em frente ao corpo.

  -De jeito nenhum! Não vou deixar você usar isso. –exclamou.

  -Qual o problema? A blusa é legal. –ele falou se olhando em um espelho.

  -Sim, mas não com essa calça. Faz o seguinte, use aquela camisa branca social que seu pai te deu.

  Não era uma sugestão, era uma ordem.

  -Tem certeza que fica legal? –ele questionou. 

  -Absoluta. Agora desliga esse telefone ou vamos nos atrasar.

  -Está bem. Te vejo em vinte e três minutos então. –ele zombou.

  -Vinte agora.

  -Chata!

  -Brega!

  Ele riu e desligou.

  Não fazia muito sentido, mas até quando se ofendiam eles se davam bem.

  Pedro largou o binóculo sobre a cama e pegou a tal camisa branca dentro do armário. Se olhou no espelho por vários ângulos até finalmente admitir que Ana tinha razão, o que não era novidade.

  Apressado, ele calçou os sapatos e penteou os cabelos usando um pouco de gel. Espalhou um pouco de colônia pelo pescoço e sorriu para o reflexo no espelho:

  -Hoje a noite promete.

  Saiu do quarto e cruzou com a mãe no corredor.

  -Já vai? – a mulher perguntou. –Nossa está bonito!

  -Vou. – respondeu beijando a bochecha da mãe. – Vou passar na Ana antes.

  -Que horas vocês voltam? Precisa que alguém te busque?

  -Não, mãe. A festa fica a três quarteirões. Devo voltar tarde. Boa noite. – ele falou já descendo as escadas.

  -Juízo, hem! –Cristina falou.

  -Pode deixar. –respondeu passando pela sala. –Tchau, pai!

  -Tchau. Uma voz masculina respondeu vinda da cozinha.

  Pedro seguiu seu caminho até chegar a rua. Atravessou a rua larga e seguiu em linha reta até a casa em frente. Tocou a campainha, apressado.

  Marcos, o pai de Ana foi quem atendeu.

  -Oi, Pedro. Entra.

  Era um homem alto e magro, com um princípio de calvície. Usava bermuda, chinelos e uma camiseta.

  -Boa noite. Tudo bom, Marcos? –Pedro cumprimentou entrando na casa.

  -Tudo certo. Vai pra festa com a Ana, então? – o homem perguntou sorrindo.

  -É, nós vamos juntos.

  -Legal. –Marcos fingiu baixar um pouco a voz e ficar um pouco sério. – E cá entre nós dois, fica de olho nela por mim.

  Pedro riu e fingiu bater continência:

  -Sim, senhor.

  -Marcos riu para ele.

  -Que coisa feia, amor! 

  Sônia havia aparecido e os observava com os braços cruzados.

  -Você sabe que pode confiar na Ana.

  -Mas eu confio nela, confio muito. – o marido argumentou. – Não confio é nos outros rapazes. Mas o meu amigo Pedro aqui, vai ficar de olho neles.

  -Pode deixar comigo. –Pedro brincou.

  A mulher girou os olhos e sorriu para ele.

  -Ela está lá encima. Pode subir se quiser. Já viu o que acontece se não apressá-la.

  -Ah, eu sei bem como é. –ele comentou indo para as escadas.

  -E estou vendo que você caprichou hoje hem. Está muito bonito!

  -Obrigado. Foi a Ana que me ajudou agora a pouco.

  -Vocês dois e esses binóculos...

  Ele riu e desceu as escadas.

  A porta da garota estava fechada e uma música baixa vinha de dentro. Ele bateu.

  -Pode abrir. A ouviu dizer.

  Pedro abriu  a porta e a viu.

 Uma bela visão. Tão bela para as circunstâncias normais que chegou a deixá-lo um pouco surpreso.

  Ana estava em pé em frente  a um grande espelho na porta do armário. Usava um vestido lilás até os joelhos, liso e de um tecido que se movia com o vendo que entrava pela janela. Sandálias de salto alto. Os cabelos, um pouco soltos e um pouco presos que deixavam mechas caídas em seu rosto. Ela parecia estar terminando a maquiagem.

  -Que linda. –ele falou.

  Ana sentiu um leve arrepio e o olhou pelo canto do olho, um pouco incomodada.

  Ele sabia que Ana era uma garota bonita, sempre soube disso, só não estava acostumado a olhá-la dessa forma, como os outros garotos.

  O pai dela tinha razão, teria que ficar de olho neles nessa festa.

  -Viu como eu estava certa sobre a blusa? –Ana falou guardando o batom.

  -É...É, ficou legal.

  Ele gaguejou? Por quê ele gaguejou?

  Ana sorriu e caminhou até ele, perto o suficiente para abrir um botão de sua camisa.

  -Pronto. Assim fica melhor. –falou.

  Ele não respondeu que concordava. Por quê o perfume dela estava tão mais acentuado aquela noite?

  -Bom, eu estou pronta. –Ana falou se afastando e dando uma ultima olhada no espelho.

  -Que milagre eu não ter que esperar. –ele brincou.

  Ela lhe lançou um olhar assassino:

  -Pedro, não me obrigue a responder. Agora, vamos logo que a festa já deve ter começado.

  -As damas na frente. –ele falou dando um passo para trás e mostrando a saída.

  Ana passou lhe dando um tapinha nos ombros.

  O barulho da festa já estava bem animado quando chegaram a portaria da danceteria e entregaram seus convites.

  O lugar era confortável e empolgante. Havia um bar próximo e mesinhas de mármores escuro ocupavam toda a borda do salão onde no centro tinha uma pista de dança refletindo luzes coloridas que não paravam de piscar ao ritmo da música agitada. Vários jovens já se encontravam por lá.

  -Estão ali. – Ana falou para Pedro, apontando um grupo de jovens reunidos em uma mesa próxima.

  Os dois caminharam até lá se esquivando das pessoas que passavam.

  -Anaaa... –Gritou uma jovem morena usando um longo vestido branco.

  -Juuuuu!!!

  Ana correu até a amiga e a abraçou.

  -Feliz aniversário!- desejou.

  -Obrigada.

  Pedro chegou logo atrás.

  -Parabéns, Jú. –desejou abraçando a garota.

  -Valeu, Pedro. Nossa, como está elegante! –Juliana falou se afastando.

  Ana riu e uma voz chamou sua atenção.

  -Ana Maria!

  Um rapaz estava se levantando de sua cadeira e a olhava com carinho. Tinha cabelos castanhos e um jeito agradável de ser.

  -Flor do meu jardim. De todas és a mais bela. –falou beijando sua mão.

  A garota sorriu encabulada enquanto Pedro fazia uma careta enjoada.

  -Ah, Ricky...Bobo! –Ana falou, agitando a outra mão.

  -E aí, Pedro.

  -Ricardo. –Pedro cumprimentou sério apertando a mão do outro.

  Ana olhou torta para o melhor amigo. Ricardo era uma pessoa ótima, divertido e bom, não entendia porque Pedro o tratava tão friamente.

  -Ana você demorou. Uma outra garota loira falou enquanto a abraçava.

  -Pois é, Vi. Mas andar com esse salto não é fácil!

  -Se tivesse me dito teria buscado você de moto. –Ricardo falou.

  -Ah, obrigada, mas não precisava. Eu vim com o Pedro.

  -Opa, opa! Olha só quem chegou!

  Um rapaz alto e magro vinha se aproximando do grupo. Ele dançava enquanto andava e segurava uma bebida.

  Foi Pedro quem se adiantou dessa vez:

  -Vinícius, e aí cara. –falou apertando sua mão com entusiasmo.

  -Fala Pedroca. Ana, minha fofinha você está um arraso. –Vinícius comentou.

  -Obrigada, Vini.  Olha só, você não está grudado na sua irmã. Que milagre!

  -Fui só buscar uma cerveja. A Viviane sabe que eu estou de olho nela.

  Ana colocou o braço no ombro da amiga ao seu lado:

  -Vi, você está perdida.

  -Até que não estou preocupada. –Viviane comentou. – Daqui a pouco ele arruma um rabo de saia por aí e me deixa em paz.

  Ana e Juliana riram.

  -Mas então galera, vamos sentar. –Juliana convidou.

  O grupo puxou algumas cadeiras e se amontoaram ao redor da mesa.

  Ana percebeu que Pedro procurava algo com os olhos. Ele observava todo o lugar atentamente. A garota sabia exatamente o motivo e isso fazia seu ânimo se esvair como uma torneira aberta.

  -Meninas vamos buscar alguma coisa pra beber. –sugeriu se levantando e puxando as amigas pela mão.

  As garotas concordaram a acompanhando.

  -Nada de álcool! –Vinícius gritou lá da mesa.

  -Vai pentear macaco! –Viviane respondeu.

  Já no bar, Ana finalmente debruçou sobre o balcão, batendo a testa sobre a madeira.

  -Ana, o que foi? –Juliana perguntou preocupada tocando seu ombro.

  A garota levantou a cabeça e a olhou.

  -O Pedro. Ele vai ficar com a nojenta da Karina hoje.

  -O que? –Viviane falou. –Tem certeza, Ana?

  -Absoluta. Eles combinaram de se encontrar aqui. Ele mesmo que me contou.

  -Ah Ana. Eu sinto muito. Mas não é a primeira vez que ele fica com uma garota na sua frente. –Juliana comentou.

  -Eu sei, mas com ela...Droga! Ela nem é legal. Eles não tem nada a ver, não faz o menos sentido.

  -Então, porquê está tão preocupada?

  -Porque...-ela desviou o olhar, refletindo. –Porque eu estou tão cansada! – desabafou, os olhos ficando úmidos.

  -Ah não. Não, amiga. Não chora. –Juliana falou com carinho a abraçando.

  -Eu não vou chorar. Não hoje. Aquela garota não merece isso.

  -É assim que se fala. –Viviane falou. – Mas, Ana, não acha que já está na hora de dizer a ele? Isso vai fazer você se sentir melhor.

  -Não vai, não. Ele vai se afastar de mim, eu sei. Já pensei muito sobre isso e o conheço muito bem. Ele não vai saber como agir comigo, vai ficar confuso e se distanciar. Mesmo que ele não queira vamos acabar nos afastando.

  -Ou talvez ele goste, se apaixone por você. –Juliana arriscou.

  -É, a amizade de vocês é tão forte. Pode dar certo.

  -Duvido. – a garota respondeu. – Ele nunca demonstrou nada.

  -Talvez ele ainda não tenha percebido. Só depende de você mudar isso, Ana.

  A garota deu de ombros.

  -Agora, não fica assim. –Viviane tentou animá-la. – Eu vou pedir as bebidas e vamos dançar!

  -Isso aí. É meu aniversário, temos que aproveitar.

  Ana sorriu:

  -Certo, vamos aproveitar.

  -Isso mesmo. A boa e velha Ana de sempre.

  -Muito bem, gente. – Viviane falou voltando para ela e entregando uma bebida para cada uma. – Um brinde. 

  -À Jú. –Ana falou. E a nós três. Que tenhamos muitos aniversários juntas.

  -Issoooo... –Juliana falou brindando.

  Rindo, elas foram para a pista danças.

  Na mesa os rapazes conversavam:

  -É, nos abandonaram –Ricardo comentou indicando as garotas na pista.

  Os outros dois olharam.

  -Deixa elas se divertirem. –Pedro falou.

  -Que horas são?

  -Dez e meia. –Vinícius comentou consultando o relógio. Por quê?

  -Não vai dar pra ficar até o final. Meu pai vai viajar essa madrugada e preciso levá-lo até o aeroporto.

  -Hum.

  Eles observavam a pista de dança.

  -A Aninha está linda hoje.

  Pedro o olhou pelo canto do olho.

  -Pedro, você que é o melhor amigo dela, acha que se eu, não sei, tentasse, teria alguma chance?

  -Não.

  Ele nem sequer tinha pensado na pergunta. Na verdade achava que Ricky teria muitas chances. Ele e Ana se davam bem e ele a fazia sorrir. Mas a idéia de vê-los juntos não o agradava em nada.

  -Por quê. –Ricardo perguntou.

  Pedro foi poupado de responder ao sentir alguém tocando seu ombro.

  -Achei você. –Karina sussurrou em seu ouvido.

  O garoto sorriu e se virou.

  -Também estava procurando você.

  -Então nos encontramos.

  Pedro a observou enquanto se levantava. Ela usava preto e o segurava pela mão.

  -Esses são Ricardo e Vinícius. –ele apresentou os companheiros.

  Os dois rapazes a cumprimentaram com aceno de cabeça.

  -Oi. –a garota falou e se virou para Pedro. –Vamos dar uma volta?

  -Claro. Vamos sim. Até logo, caras. –se despediu dos outros.

  Assim que partiram, os dois rapazes se encararam:

  -Isso não vai prestar. –Vinícius falou.

  -Com certeza.

  Já fazia muito tempo que Ana estava dançando com as amigas. Durante esse tempo ela já tinha cumprimentado a maioria dos colegas e conhecidos que tinha visto por lá. Já tinha tomado duas bebidas e descarregado todas as energias que tinha quando sentiu que precisava de um pouco de ar.

  -Eu vou à varanda um pouco. –Gritou para Viviane.

  -Tá. Quer que eu vá junto?

  -Não precisa. Já volto.

  A amiga concordou com a cabeça enquanto Ana se afastava da pista.

  Enquanto caminhava, por instinto, Ana olhou para a mesa onde os garotos estavam e seu coração falhou um batimento ao notar que Pedro não estava mais lá. Viu que Vinícius se levantava e ia para a pista dançando e Ricardo a chamou. Ela fez um sinal de que depois voltava e ele sorriu concordando.

 Quando chegou a varanda o lugar estava vazio. Ela respirou fundo e encostou-se na parede fechando os olhos.

  Ele já estava com ela. Só podia ser isso. Ela teve vontade de sumir, de chorar, de quebrar alguma coisa, de gritar. Mas a única coisa que conseguiu fazer foi socar a parede as suas costas.

  Sozinha, era assim que estava se sentindo parada ali na noite, sozinha e largada. Aquilo era errado, ela não podia mais continuar assim. Precisava falar com Pedro. Dane-se o que ele fosse pensar, dane-se se ele se assustasse e se afastasse dela. Ela precisava desabafar, tirar aquilo de dentro dela.

  É, isso mesmo, estava decidido. Ela ia contar a ele o que sentia. Agora só precisava de uma coisa: coragem.

  Ouviu risos vindo de algum lugar e olhou para o lado. Havia um pequeno beco escuro entre duas paredes. Devia ser algum casalzinho aproveitando sua festinha particular.

  -Você sempre me pareceu tão comportado, Pedro.

  Ana congelou e sem perceber se aproximou mais para ouvir.

  -Eu sou um cara sério, você sabe. –ele brincou.

  Pedro estava ali com Karina já fazia um bom tempo. Não que ele não estivesse gostando, mas depois de um tempo ele desejou voltar para a festa com os amigos. 

  Mas por outro lado, os amigos entenderiam.

  -Sei. –Karina falou. – Estive observando você ultimamente, sempre com a sua sombra.

  -Sombra?

  -É, aquela menina que vive atrás de você.

  -Ah, a Ana. –ele explicou. –É minha vizinha, desde que éramos crianças.

  -Parece que ela quer bem mais do que isso. Sempre atrás de você.

  Pedro só conseguiu rir. 

  -Ou será que você gosta disso?

  Ele sentiu Karina se afastar um pouco, fazendo beicinho.

  -Não vejo você fazendo esforço pra se afastar dela.

  -Que isso, vem cá. – ele falou se aproximando mais e beijando os lábios da garota. –Eu e a Ana não temos nada a ver.

  -Mesmo? –ela provocou.

  -Mesmo. Eu nunca teria nada com Lea. Chega a ser insuportável. –brincou.

  Ele ouviu um barulho estranho vindo de algum canto e virou a cabeça para olhar, mas nada viu. Voltou-se para Karina.

  -Agora vem cá “cara sério”! –e o puxou para perto pela camisa. 

  Ana caminhava apressada pela festa. O coração aos pulos, as mãos latejavam e suavam. Ela só queria encontrar um lugar isolado, só isso, onde pudesse expressar alguma reação. Deu graças a Deus quando viu a porta para o banheiro feminino.

  Ela entrou quase se chocando com três garotas que estavam saindo.

  Da pista de dança Viviane observou a amiga e se preocupou.

  -A Ana não ta legal. –comentou com Juliana.

  -O que foi? –Vinícius perguntou.

  -Eu vi a Ana entrando no banheiro e ela não parece nada bem.

  O rapaz franziu a testa, preocupado.

  -Vamos lá. –Juliana sugeriu.

 Os três deixaram a pista e caminharam até o banheiro.

  -Eu espero aqui. –Vinícius falou.

  -Se estiver vazio a gente te chama.

  Ele concordou e viu a irmã e a amiga entrarem.

  Ana chorava, muito, não sabia se era de tristeza, raiva ou decepção, parecia ser uma mistura terrível de tudo e isso doía muito.

  Estava agachada em um canto, a cabeça apoiada nas mãos, soluçando.

  -Ana! –ouviu a voz desesperada de Juliana.

  Passos vinham até ela e Ana levantou a cabeça para as amigas.

  -O que aconteceu com você? –Viviane perguntou. –Tudo bem Vini, pode entrar. –Ela gritou por cima do ombro.

  Rapidamente Ana viu o amigo entrar preocupado e se desesperar ao vê-la.

  -Aninha, o que houve? –perguntou se ajoelhando a sua frente, tocando seus joelhos.

  Ao ver os amigos ali, tão preocupados ela teve ainda mais vontade de chorar.

  -O Pedro. –falou tentando se controlar.

  -O que tem ele? –Viviane perguntou.

  -O que ele fez? –Vinícius corrigiu a irmã.

  -Eu ouvi ele falando com aquela garota. Falando de mim.

  Os amigos trocaram olhares nervosos.

  -Falando que eu sou uma “vizinha”. Que nós não temos nada a ver e que nunca teria nada comigo, que eu sou insuportável!

  -O que? – Vinícius exclamou indignado.

  -Tem certeza, Ana? Você deve ter escutado errado. – Juliana falou.

  -Não. Eu escutei certo, tenho certeza. Aquele...Como ele pode ser tão falso comigo? –Falou indignada. –Droga!

  Voltou a chorar com força e Viviane a abraçou.

  -Ela está muito nervosa. – o rapaz comentou acariciando a cabeça da amiga. –Vou buscar água pra ela se acalmar.

  Ele se levantou e saiu.

  -Calma, Ana. –Juliana falava. –Olha, está borrando toda a maquiagem.

  -Ainda bem...Anda bem que eu nunca disse a ele. –ela soluçou no ombro de Viviane.

  As amigas trocaram um olhar.

  -Mas, pensei que fosse meu amigo. Vocês tem idéia de como estou me sentindo agora?

  -Shhhh... Nós sabemos, calma amiga.

  -Eu sou uma idiota. Quando ouvi ele dizendo aquelas coisas foi como se fosse outra pessoa falando. Tudo o que eu sempre pensei dele, a maneira que eu o via...Como se não existisse mais. –ela falou enquanto chorava.

  Juliana pegou um pouco de papel e a entregou.

  -Tome. Vai, enxuga esse rosto, Ana. Não fica assim, aposto que ele estava fazendo pose para aquela menina.

  -Não. –ela falou pegando o papel. –Ele falou mal de mim, vocês entendem? Falou mal de mim! Não se faz uma coisa dessas brincando.

  -Vocês precisam conversar. –Viviane sugeriu. 

  -Não, eu não quero nem olhar na cara dele.

  -Você diz isso porque está nervosa. Vai ver como depois as coisas se acalmam.

  Ana negou com a cabeça e olhou para baixo.

  -Eu...Só quero ir pra casa agora. Não estou mais em condição de ficar na festa.

  -Tem certeza? –Juliana perguntou.

  -Tenho. Desculpa Jú, é o seu aniversário e eu te atrapalho desse jeito.

  -Não atrapalha. Só quero que você fique bem, certo?

  -Eu vou com você até a sua casa, Ana. –Viviane falou. – Fico lá com você se quiser.

  -Não precisa, não é longe e eu prefiro ficar sozinha essa noite.

  -Está bem, mas querendo ou não eu vou com você até lá. Não vou te deixar ir sozinha.

  Ana apenas concordou com a cabeça.

  Fora do banheiro feminino, na festa, Pedro caminhava sozinho a procura dos amigos quando sentiu um forte puxão no braço e logo depois foi encostado na parede mais próxima.

  -Você...É o cara mais burro que eu já conheci. –Vinícius gritou para ele, apontando um dedo sem eu rosto.

  -Ei, qual o seu problema Vinícius. Bebeu demais foi?

  -Você merece que eu lhe dê um soco na cara agora mesmo.

  Pedro começou a se irritar.

  -O que você tem? Mas ótimo, quer brigar pode vir, mas antes me fala o motivo.

  -O motivo? O motivo é uma garota maravilhosa chorando no banheiro porque ouviu o melhor amigo dizer barbaridades sobre ela pra outra garota.

  -O quê? –Pedro não entendeu. Estava demorando um pouco para assimilar a informação.

  -ANA, seu imbecil! Idiota, ela ouviu o que você disse pra Karina!

  Pedro piscou e congelou. A informação chegou como um soco em seu estômago. O soco de Vinícius teria causado menos efeito.

  -Não!. –falou.

  -Sim. Ela ouviu tudo o que você disse. Está arrasada.

  -Como? –perguntou.

  -Eu sei lá como.

  O barulho! Ele se lembrou.

  Ele era um...Um...Ele nem encontrava uma ofensa que se encaixasse em com se sentia no momento. Uma raiva absurda de si mesmo. Vinícius disse que ela estava chorando? Ele havia feito ela chorar? Teve vontade de socar a própria cabeça.

  -Onde ela está?

  -No banheiro com...

  Vinícius nem conseguiu terminar e viu Pedro sair apressado para o outro lado do salão.

  Ana e as amigas estavam paradas em frente a porta do banheiro. Tinham acabado de sair.

  -Nós já vamos, Ana, só preciso achar meu irmão pra avisar que eu vou com você, ta bom? –Viviane falou.

  -Tudo bem. –ela finalmente tinha controlado as lágrimas, mas sentia que não tinha chorado nem metade do que queria.

  -Já volto. –a loira saiu apressada em busca do irmão.

  -Ana, me liga amanhã, está bem? –Juliana pediu.

  -Eu ligo. – ela respondeu com a voz fraquinha.

  -E fique bem, sim? Não fique pensando besteiras.

  -Olha, Jú, volta pra festa. As pessoas vão estranhar se não te virem. Sua família toda está aqui. –Ana argumentou.

  -em certeza?

  -Sim. Vou esperar a Vi e vou pra casa.

  Juliana suspirou.

  -Certo, então. –e a abraçou. –Boa noite amiga, se cuida.

  -Pode deixar. Boa festa.

  -Tchau. –Juliana se despediu lhe dando um ultimo olhar preocupado e se afastou.

  Ana encostou-se na parede, olhando para baixo enquanto esperava por Viviane.

  A música estava muito alta e agitada, podia ouvir as pessoas se divertindo na pista. Era difícil acreditar que até poucos minutos atrás ela estava fazendo o mesmo. Tudo o que queria agora era ir pra casa, se trancar no quarto e finalmente ficar sozinha.

  Levantou a cabeça e viu Pedro a uma certa distância vindo em sua direção.

  Raiva pura tomou conta dela. Não queria vê-lo, não queria falar com ele, não queria saber de nada que fosse ligado a ele.

Beauty queen of only eighteen

Linda rainha de apenas dezoito anos

She had some trouble with herself

Ela tem alguns problemas pessoais

He was always there to help her

Ele sempre estava lá para ajudá-la

She always belonged to someone else

Ela sempre pertenceu a outra pessoa

  Rapidamente tratou de sair dali. Caminhou bem rápido para a saída da festa. Quando olhou para trás notou desesperada que ele a seguia.

  Sem pensar apressou o passo, tanto que quase corria e quando finalmente chegou ao lado de fora já estava correndo.

  O vento gelado da noite a atingiu em cheio e a fez parar, mas tinha certeza  que ele ainda estava vindo.

  Precisava sair dali naquele instante. Não queria ter que olhar para ele, nem ter que explicar nada.

  Olhou aflita para os lados e viu a Liz. Ricardo estava parado bem próximo, subindo em sua moto.

  -Ricky! –chamou correndo até ele.

  O viu se virar antes de colocar um capacete.

  -Ana, oi. Àquela hora te chamei pra me despedir...

  -Me tira daqui? –ela pediu desesperada.

  -Nossa o que houve? Você está bem? –perguntou preocupado.

  -Me tira daqui, agora? –ela precisava ir.

  -Tá, sobe aí. –ele falou.

  Sem perder tempo ela subiu na moto e o segurou pela cintura.

  -Vamos rápido. –pediu.

  Uma rápida olhada para trás e ela viu Pedro saindo da danceteria.

I drove for miles and miles

Eu dirigi por milhas e milhas

And wound up at your door

E parei em frente a sua porta

I've had you so many times but somehow

Eu tive você por tantas vezes, mas de qualquer jeito

I want more

Eu quero mais

  -Ana. –ele gritou, mas a moto já estava partindo. –Droga!

  Pedro ficou parado lá, tentando decidir o que fazer.

  Não havia o que pensar, ele precisava ir atas dela, precisava explicar. Não sabia direito o que dizer, no fundo já achava que o que fez não tinha explicação. Mas precisava fazer alguma coisa agora.

  Levantando a cabeça ele começou a andar apressado. Afinal, Três quarteirões não era um caminho tão longo.

  A moto de Ricardo parou em frente a casa de Ana e o rapaz imediatamente desligou o motor para não acordar ninguém.

  -Muito obrigada. –Ana agradeceu, descendo.

  -O que aconteceu, Ana? Por quê saiu da festa daquele jeito? –Ricardo perguntou.

  -É uma história longa. –ela falou.

  -Quer conversar? Ele perguntou descendo da moto e se encostando nela.

  -Não. - Ana respondeu suspirando. –Eu só...Na verdade eu nem sei do que eu preciso agora.

  Ricardo a olhou com carinho e segurou sua mão a puxando para um abraço.

  Ana se deixou abraçar e o envolveu pela cintura, a cabeça em seu peito. Uma paz que fazia tão bem a ela.

I don't mind spending everyday

Eu não me importo de passar o dia todo esperando

Out on your corner in the pouring rain

Sentado na esquina da sua casa, na chuva

Look for the girl with the broken smile

Olho para a garota que perdeu seu sorriso

Ask her if she wants to stay awhile

Pergunto a ela se ela quer ficar ali

And she will be loved

E ela será amada...

And she will be loved

E ela será amada...

  -Obrigada. –ela murmurou.

  -De nada. –ele respondeu lhe fazendo um cafuné.

  -Encontrei o que eu estava precisando.

  Ela o ouviu rindo baixinho. 

–Eu não sei o que aconteceu, lindinha. Mas vai passar.

-Nesse caso eu não sei.

-Vai sim. Pode demorar, mas vai passar.

Ana se afastou um pouco e o olhou:

 -Você é mesmo incrível.

-E você é linda. –ele falou acariciando seu rosto e a olhando nos olhos.

Ela o viu começar a se aproximas, até sentir a respiração dele bem perto e foi como se levasse um choque.

Gentilmente ela abaixou a cabeça e se afastou mais.

-Desculpe. –pediu.

-Tudo bem. –Ricardo respondeu com carinho.

-Você é realmente muito legal, Ricky...

-Mas...?

Ela sorriu.

-Hoje eu não estou nada bem, entende? Não gostaria que fosse um consolo.

-Não seria um consolo. –ele explicou.

-Para mim seria. Desculpe. –ela explicou. –Talvez um outro dia, quando eu não estiver tão abalada.

-Certo. Levei um fora, mas continuo por cima. –ele brincou.

Ana riu.

-Obrigada mesmo por me trazer.

-Ao seu dispor. –Ele falou fazendo uma pequena reverência.

-Boa Noite.

Ele segurou sua mão e a beijou:

-Boa noite.

Ana o viu subir na moto, colocar o capacete e lhe piscar um olho antes de partir.

Tap on my window, knock on my door

Bata na minha janela, bata na minha porta

I want to make you feel beautiful

Eu quero fazer você se sentir linda

I know I tend to get so insecure

Eu sei que às vezes sou meio inseguro

It doesn't matter anymore

Isso não importa mais

Quase no mesmo instante, ela correu para casa, destrancou a porta e entrou.

A casa estava silenciosa e as luzes apagadas. Ana subiu as escadas quase que se arrasando e entrou no quarto acendendo a luz. Trancou a porta atrás de si e arrancou as sandálias dos pés, sentando-se no chão mesmo, aos pés da cama.

  Foi só então que ela deixou tudo chegar. Todos os sentimentos ruins voltaram. Tudo o que ela havia sentido estava voltando cada vez mais forte, aumentando, aumentando, até explodir em seus olhos e ela voltar a chorar com vontade.

  Se sentia traída, enganada. Será que Pedro pensava isso dela todos esses anos e continuava sendo tão falso, fingindo ser seu melhor amigo e companheiro? Como ela não percebeu todos esses anos e o pior de tudo é que ainda se apaixonou por ele! Estúpida, era isso o que ela era.

It's not always rainbows and butterflies

Nem sempre há arco-íris e borboletas

It's compromise that moves us along

É o compromisso que nos move a frente

My heart is full and my door's always open

Meu coração está cheio e minha porta sempre aberta

You can come anytime you want

Você pode vir qualquer hora que quiser.

  Pedro entrou em casa apressado. Ele havia chegado em sua rua a tempo de ver Ana abraçada a Ricardo e seus nervos pioraram ainda mais cm aquela cena.

  Viu quando ela afastou sem jeito. Aquele filho da mãe tinha tentado beijá-la, mas era um abusado mesmo!

  Viu também quando Ana correu para dentro de casa. Ele não teve tempo nem para chamá-la. Mas não ia desistir tão fácil assim.

  Entrou no quarto como um foguete, pegou o binóculo jogado sobre a cama e correu até a janela.

  Ótimo, a luz do quarto estava acesa. Olhando pelo binóculo constatou que as cortinas estavam fechadas, mas o tecido era claro e fino, possibilitando que ainda visse um pouco do interior do quarto.

  Ele forçou os olhos e viu que a garota estava sentada no chão, aos pés de sua cama. Sem nem pensar ele pegou o telefone e discou o número dela e voltou a se concentrar no quarto.

I don't mind spending everyday

Eu não me importo de passar o dia todo esperando

Out on your corner in the pouring rain

Sentado na esquina da sua casa, na chuva

Look for the girl with the broken smile

Olho para a garota que perdeu seu sorriso

Ask her if she wants to stay awhile

Pergunto a ela se ela quer ficar ali

And she will be loved

E ela será amada...

And she will be loved

E ela será amada...

  No primeiro toque ele já a viu esticar o braço e procurar o telefone sobre a cama. Na segunda ela atendeu.

  -Ana! Ou, sou eu. –ele falou apressado. –Escuta, eu preciso te...

  Mas ela já tinha desligado.

  Ele apertou os dentes, frustrado.

  A viu colocar o  telefone no chão e abaixar a cabeça, enterrando as mãos nos cabelos.

  -Vamos Ana. –ele sussurrou novamente. –Fala comigo, por favor.

  Primeiro toque, ela atendeu...E desligou.

  Tentou novamente, mas ouviu o sinal de ocupado.

  Em seguida, cômo se ela soubesse exatamente o que ele estava fazendo, a viu se levantar, ir até a janela e fechá-la. Ela nem sequer olhou em sua direção.

  Pedro abaixou o binóculo e se deixou cair na cama, olhando para o teto.

  Tinha que consertar isso. Não podia perdê-la.

I know where you hide

Eu sei onde você se esconde

Alone in your car

Sozinha no seu carro

Know all of the things that make you who you are

Sei todas as coisas que fazem você ser quem é

I know that goodbye means nothing at all

Eu sei que adeus não significa nada de mais

Comes back and begs me to catch her every time she falls

Volte aqui e me implore para te pegar toda vez que você cair.

Tap on my window, knock on my door

Bata na minha janela, bata na minha porta

I want to make you feel beautiful

Eu quero fazer você se sentir linda

CHORUS

Please don't try so hard to say goodbye

Por favor, não se esforce pra dizer adeus (2x)

I don't mind spending everyday

Eu não me importo de passar o dia todo esperando

Out on your corner in the pouring rain

Sentado na esquina da sua casa, na chuva

Please don't try so hard to say goodbye

Por favor, não se esforce pra dizer adeus


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Notas finais do capítulo

É isso aí. Tenho boa noticia, já tenho mais dois capítulos prontinhos aqui, mas escritos a mão, então devagar eu vou passando pro pc. Mas como eu sou uma escritora muuuuuuuuuuuuuuiiiiito boazinha...Heheh, aqui vai um trechinho do próximo capítulo.
- Solta o meu braço. ela falou o olhando com raiva.
-Não. Você não vai fugir de mim denovo.
-Você ta me machucando. ela falou puxando o braço.
-Não estou não. Droga, Ana, eu só quero falar com você!
-Falar comigo? Vai falar com a Karina. Ela que não é tão INSUPORTÁVEL como eu. Ana falou na cara dele.
-Você está sendo infantil!
-Ah, agora eu sou infantil também. Vai, Pedro, manda ver! Descarregue, diz tudo o que você realmente pensa sobre mim.
Chegaaaaaaaaaaaaaaa ahsuhaushaush. Por mim colocaria um outro trechinho, mas ficaria sem graça depois rsrsr. Mas a coisa vai ficar feia.
Musiquinha do capítulo: She will Be Loved- Maroom 5. A letra não combina muito, mas se você escutar a musica enquanto lê, garanto que fica legal rsrsr.
É isso, deixa eu parar por aqui pq eu to cansada, aff!
Bjuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!



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