Finalmente eram sete da manhã. Os alunos do Colégio Estadual de Bristol começaram a chegar, amontoados em grupinhos. Garotas usando saias curtíssimas e garotos com as calças mostrando as cuecas eram vistos em todos os lugares - uma cena normal se querem saber.

Garotas e garotos de todas as idades começaram a entrar no colégio, o que também era normal.

Eles também viram as paredes pichadas, o que não era normal.

– Mas eu mato aqueles dois, ah se mato. - sussurrava Annelise para si mesma ao passar pelas pichações.

E Annelise sussurrava bem na hora que Will e Allie entravam.

– Oi, Anne. - disse Allie.

– Onde você estava hoje de manhã? - perguntou Annelise - Passei na sua casa e você não estava lá. E essas pichações apareceram justamente quando você desapareceu. Estranho, né?

– Muito estranho. Super.

– Tem dez segundos para me dizer a verdade, se não...

– Olha, a aula vai começar.

– Alice Wings e William Stonem!

– Mas é sério. Olha o professor ali. Bom dia, senhor Watson!

– Por que acho que estou sendo usado como escudo, Srta. Wings?

– Nossa como vocês me acusam injustamente. - resmungou Alice, sentando-se em sua cadeira.

– Injustamente? Estamos falando de quem mesmo, Alice?

– Completamente injustamente! Eu nunca apronto nada!

– Não me convenceu Srta. - disse Jake e iniciou a aula.

~ ~ ~ ~

– Bem, é isso por hoje pessoal. - disse o repugnante professor de sociologia.

Barulho de gente fechando livros e cadernos, bem como arrastando cadeiras foi ouvido. Assim como...

– Alice Wings e William Stonem! - disse, ou seria, gritou? Annelise antes que os dois fugissem da sala.

– Já venho, okay? - começou Alice - Vou só pegar lugar na fila do lanche, rapidinh...

– Não vai sair daqui até falar. - Annelise segurou o capuz da amiga, bem como o do Will.

– Falar o que? - perguntou Alice - Você já sabe que foi a gente, né?

– Quero saber o porquê. O como.

– Chegando mais cedo. E porque as patricinhas precisavam de uma lição...

– Patricinhas precisavam de uma lição? Mas, nenhuma delas...

Gritinhos histéricos foram ouvidos nos corredores. William, Alice e Annelise foram correram para a porta da sala.

Três garotas estavam de frente de seus armários, dando pulinhos histéricos. Suas roupas, seus pescoços e seus rostos estavam completamente azuis.

Annelise revirou os olhos, suspirou e seguiu até seu armário, colocando seu material lá e pegando seu livro. Lançou aquele olhar para o casal e foi para seu lugar secreto na escola.

Seu lugar secreto, basicamente, consistia em um porão. Só que era um porão diferente.

Ele era bem claro, para começar. Havia uma escadinha para subir, e então um cômodo em que as duas paredes laterais eram de vidro da metade para cima e em que a parede da frente tinha uma janela.

Era muito ventilado, e lá ela tinha, bem, tudo. Havia uma estante com muitos de seus livros, um tapete fofinho em que ela podia deitar e um travesseiro. Perfeito.

Tinha certeza que poderia colocar tais coisas ali porque quando o havia achado, estava completamente empoeirado e cheio de teias de aranhas. Parecia que fizeram aquele cômodo e esqueceram que ele existia, porque ninguém andara nele há anos.

Mas a melhor parte era a seguinte: Ela podia ver toda a escola. Todas as pessoas que estavam no refeitório e todas as entradas para as salas. Mas ninguém podia vê-la.

Ela tinha muita sorte de ter achado aquele lugar ali, mesmo que fosse abandonado antes.

Era, sem dúvidas, seu lugar favorito no mundo todo, onde só ela podia entrar e sair. Por muitas vezes pensou em se mudar para lá, mas além de saber que o tio a caçaria por todos os cantos, teria que se explicar com o diretor, coisa não muito viável.

– É um lugar bonito, sabe. - disse alguém saindo de trás da estante.

Bem, talvez não fosse só ela que podia entrar e sair.

Jake Watson estava ali.

– Vamos lá, - disse ele, dando um sorriso - não faça essa cara de assustada.

– Como, diabos, você achou esse lugar? E o que faz aqui? - disse ela brava.

– Quantas perguntas, Srta. Ângelo. - disse ele.

– Quem é você e por que desde que chegou nessa escola você tem agido como alguém que sabe de tudo?

– Não posso contar. - ele disse se aproximando da loira e sussurrando em seu ouvido - Pelo menos, não ainda.

Annelise se arrepiou, mas não deu o braço a torcer. Deu um tapa bem forte no ombro do homem e puxou a gola da camisa dele.

– Ah, eu acho bom você começar a falar se quiser sair daqui.

– Hm, eu não sei. Acho que talvez seja bom ficarmos assim, juntos, afinal, é todos os dias em que ficamos assim tão próximos...

Ela corou e o empurrou para longe dela, e da porta. Ele era um professor! Não devia falar essas coisas.

– Fala logo. - ela resmungou. - Não quero perder a aula de educação física, os meninos jogam futebol sem camisa em dias como hoje.

– Desculpa, Annie. - de onde aquele cara arrumara toda aquela intimidade? - tenho aulas para dar.

Ele enfiou a chave na fechadura.

Annelise o encarou como se tivesse levado um tapa na cara. Tateou seu bolso, à procura de sua chave, quando percebeu que ele usara a aproximação para conseguir pegá-la.

A porta rangeu e uma escada revelou-se. Jake desceu, com seus sapatos fazendo barulhinhos irritantes.

Ela jogou-se no tapete fofinho e sufocou um grito no travesseiro. Jake Watson era, literalmente, um homem morto.

~ ~ ~ ~

– Você acha que ela caiu? - perguntou uma mulher.

Ela era loira. Tinha os olhos castanho-esverdeados e aparentava ter quase quarenta anos.

– Não. - respondeu Jake - Ela é muito esperta para cair assim. Mas acho que ela também não desconfia. Por enquanto.

Jake percebeu o quanto os olhos da mulher brilharam de orgulho.

Ele sabia que a mulher realmente deveria estar se orgulhando. Muito. Mas e quanto a ele? Já não fazia mais ideia alguma...