POV – Hermione

Todos conversavam animadamente, sentados no centro da sala em volta dos salgadinhos e refrigerantes que Harry e Cho haviam comprado. Eu também havia me sentado no chão por insistência de minhas amigas, mas não participava da conversa.

Nada naquele ambiente me agradava, a não ser o CD do Coldplay que tocava. Fora isso, eu não gostava nada da ideia dos garotos populares da faculdade estarem em me apartamento. Suportar Ronald era um sacrifício com o qual e já havia me acostumado, mas aqueles amigos dele...

Eu gostava de Neville, mas não fui com a cara de Draco e Harry assim que os vi. Draco não calava a boca um segundo e ficava o tempo todo fazendo piadinhas sem graça. Harry tentava fazer pose de certinho, mas era meio óbvio que de santo não tinha nada, a julgar pelos olhares que ele lançava para Cho e que só eu percebia.

– Olha, como nós, meninas, não conhecemos os meninos direito e eles não nos conhecem direito, podíamos fazer um jogo de perguntas – Gina sugeriu

– Isso é legal. Pode ser – Todos na sala concordaram, eu permaneci calada

– Como o jogo vai funcionar? – Draco perguntou

– Bem, a gente pega uma dessas garrafas de refrigerante e giramos no meio da nossa “rodinha”. O fundo da garrafa aponta pra quem vai fazer a pergunta, e a tampa aponta quem vai responder. – a ruiva explicou

E então todos começaram a tirar os copos e salgadinhos do meio do círculo que formamos no chão, e colocaram ali uma garrafa vazia de refrigerante.

– Eu giro primeiro! – Gina falou, girando a garrafa

A garrafa parou, com o fundo apontando para Harry e a tampa apontando para Luna

– Bem, eu não sei o que perguntar... – Harry falou, pensou um pouco e então perguntou – O que você e as meninas falam quando não estão em horário de aula?

– Cho e Mione trabalham na biblioteca da faculdade três vezes por semana, Mione faz ballet duas vezes por semana, Cho fica comigo em casa quando Mione está fora e a gente sai as vezes. Quando estou sozinha eu fico em casa, leio, estudo, às vezes visito o meu pai ou passo a tarde com o Nev – Luna concluiu sua resposta, dando um beijo na bochecha do namorado, que estava sentado ao seu lado

– Muito bem, agora eu giro – Harry disse, girando a garrafa, que parou com o fundo apontando para Cho e a tampa para Rony

– Rony, por que você não mora com seus pais? Quer dizer, o que te levou a sair da mansão dos Weasley? – Cho perguntou

– Ah, morando no loft eu fico mais perto da faculdade e das atividades esportivas. E também, agora eu posso ficar até mais tarde na faculdade, passar mais tempo estudando, explorar mais recursos da faculdade, sabe? Eu definitivamente fiquei mais focado nos estudos quando me mudei – Rony respondeu, e os garotos começaram a dar risinhos abafados

– Qual o problema? – Gina perguntou, sem entender

“Ah, coitada” – pensei – “Não deve saber de metade das coisas que o irmão faz”

– É, também não entendi o motivo das risadas – Ronald se fez de desentendido

Revirei os olhos

– Esquece, continua o jogo logo – Draco disse, girando a garrafa, que parou com o fundo voltado para Gina e a tampa para Harry

– Bem, Harry, você é o mais estudioso e responsável dos meninos, o que você faz além de estudar?

– Ah, eu leio bastante, jogo basquete no time da faculdade, assisto filmes com os rapazes, saio às vezes...

– Pois é, inclusive ultimamente você anda saindo o tempo todo sem dizer aonde vai, com quem vai se encontrar... –Ronald falou

– Essa daqui também é assim. – Luna apontou para Cho – Adora sair sem dizer pra onde vai, e nunca nos conta quem é o namorado misterioso dela.

– Ah gente, para, continua o jogo – Cho reclamou e girou a garrafa, que parou com o fundo apontando para Draco e a tampa para Luna

– Luna de novo. Bem, por que a Hermione e a Cho trabalham e você não? – o loiro perguntou

– Eu trabalhava como vendedora em uma doceria, mas é que... bem... como eu posso dizer...? – Luna começou a responder

– Ela foi demitida. – Cho disse, rindo – Agora pergunta o porquê?

– Por quê? – os meninos perguntaram

– É que ao invés de vender eu acabava comendo os doces. O gerente me pegou comendo uma fatia de bolo de chocolate e deduziu que era por minha causa que os doces andavam sumindo – ela explicou

Todos na sala riram. Até eu dei um sorrisinho, mas era difícil não rir das histórias de Luna

– Mas em minha defesa, é difícil resistir né gente? – Luna tentou se justificar – Fala sério, eu sou meio que viciada em açúcar. E lá na doceria tinha tanta coisa gostosa. Bolos, pudins, bombons, pudins, trufas, pudins, cupcakes, pudins... – ela falava, claramente com água na boca

– Luna ama pudins, acho que mais do que a mim – Neville brincou

– Ah amor, não exagera! – ela deu um beijo rápido nele – Mas sim, eu amo pudins!

– Ok então, mas você não quer arranjar outro emprego? – Rony perguntou

– Até quero, só não estou com ânimo pra procurar um trabalho. Mas vou arranjar um, em algum lugar que não venda comida.

– Bem, agora eu giro – Neville falou e girou a garrafa. Ronald ia perguntar e eu ia responder.

– Não olha, eu não quero jogar – Falei rapidamente, assim que percebi que a tampa da garrafa estava apontada pra mim

– Ah, Mione, se você está aqui vai ter que jogar – Luna falou

– Isso mesmo, quem ta na chuva é pra se molhar – Cho disse, com um tom mandão

– E agora eu reparei que você não está participando de nada. Tira essa cara emburrada e participa do jogo! – Luna exigiu

Encarei minhas duas amigas por um momento, e então suspirei, consentindo.

– Ótimo. – Cho falou – Pode fazer sua pergunta, Ronald

O ruivo hesitou por um momento, suspirou, fitou o chão e então começou a falar:

– Eu não sei exatamente o que perguntar, mas... – ele olhou para mim – Por que não aceitou minhas desculpas?

Eu fite aqueles olhos azuis por alguns segundos, o rosto dele parecia bem sincero. Mas não! Ronald Weasley era um manipulador, mentiroso, que só queria todos aos seus pés. Nada que saía daquela boca deveria ser levado a sério.

Desviei meu olhar do dele, me certifiquei de que minha voz sairia firme, e então disse:

– Porque você é um babaca!

Senti os olhares de todos sobre mim, mas os ignorei. Depois de algum tempo eles resolveram me esquecer e continuaram o jogo, dessa vez sem mim. Quando algum dos lados da garrafa apontava pra mim, eles a giravam de novo. Eu pensei em me levantar dali, ir ao meu quarto e me isolar deles. Mas por algum motivo eu não consegui me mexer, permaneci ali, plantada no chão sendo ignorada e ignorando todos.

O jogo se seguiu por um tempo que pra mim pareceu uma eternidade, até que, em meio a risadas e conversas animadas, Luna finalmente encerrou a brincadeira.

– Olha gente, chega de jogo da garrafa né? Já ficou chato. Na verdade, eu acho que vou pro meu quarto e vou levar o Nev comigo. – ela disse, se levantando – Nev, precisamos de um pouquinho de privacidade né?

– Com certeza - ele se levantou também e seguiu Luna pelo corredor

– Vou trancar a porta, e não me incomodem tão cedo! – Luna gritou do quarto antes de fechar a porta

– Bem, eu to afim de umas cervejas. Vou comprar em algum barzinho por aí e depois que eu me satisfazer eu volto, já que aqui é proibido álcool né? – Draco disse, olhando diretamente para mim, e então saiu do apartamento

– Ah, eu vou dar uma relaxada ali no quarto e volto quando a Luna e o Neville voltarem também. – Cho disse, se levantando

– Ei, eu queria ir ao banheiro. Você pode me mostrar onde é? – Harry perguntou a ela, ficando de pé

– Claro que sim – ela respondeu, e os dois seguiram pelo corredor

– Quando eu cheguei ao prédio com os meninos, ouvi o porteiro falando com uma vizinha e ela estava dizendo que ia se mudar semana que vem. E eu pensei que as caixas que usei na minha mudança poderiam ser úteis a ela. Acho que vou levá-las ao porteiro e pedir para ele entregar a elas. – Gina se levantou e pegou as caixas que tinha deixado no canto da sala após esvaziá-las – Eu já volto – ela saiu do apartamento

Demorei algum tempo para perceber que só restávamos eu e Ronald na sala. Olhei para ele, mas desviei o olhar rapidamente quando vi que ele me encarava.

Ele pigarreou, e então disse:

– Hermione, agora que estamos só eu e você... Será que poderia me dizer por que não aceitou minhas desculpas? Sem ofensas, por favor

– Porque eu não acredito em você. – falei friamente

– Por quê não? Eu fui sincero, eu realmente me arrependi

– E eu não acredito em você

– Será que sua implicância vai tão longe? Todas as meninas me perdoaram, meus pais tomaram meu carro e eu não reclamei, pedi perdão a todo mundo e todos aceitaram. E olha, foi uma das primeiras vezes em que eu pedi desculpas por livre e espontânea vontade, isso não acontece sempre comigo.

Continuei calada, fingindo que não o ouvia

– Dá pra você ao menos olhar pra mim? – ele pediu – Por favor

Suspirei e então olhei para ele, seus olhos azuis suplicantes

– Obrigado – ele agradeceu. Agora, por favor, aceite meu perdão. Eu juro que estou sendo sincero.

– Se eu aceitar você vai me deixar em paz?

– Se eu te deixar em paz, eu não ficarei em paz.

– O que você quer dizer?

– Que eu não ficarei em paz enquanto estiver longe de você

Prendi minha respiração involuntariamente. Mais uma vez ele jogava indiretas sobre mim, que me deixavam completamente confusa.

– Eu acho melhor você parar – finalmente consegui dizer

– É difícil, pois eu não consigo parar de pensar em você. Eu sei que você provavelmente não acredita, mas é a verdade. Até eu mesmo duvido que eu esteja falando e sentindo coisas assim, mas eu não posso evitar. Você é a primeira garota que me rejeitou e a primeira garota que eu não consigo rejeitar. Que eu não consigo simplesmente esquecer, como fiz com as outras. Irônico, não é? Que eu tenha me apaixonado justamente pela única garota que não me quer – ele deu um sorrisinho torto

Levantei-me rapidamente, dizendo:

– Cale a boca! Você não sabe nada sobre paixão...

– Não sabia até conhecer você – ele se levantou também

– Pare, eu... eu tenho que ficar longe de você – me vire em direção ao corredor mas ele se pôs em minha frente

– Eu deixaria você se afastar se isso fosse suportável para mim – ele sussurrou, e se aproximou de mim. Seu rosto ficando a centímetros do meu.

Não pude evitar olhar para os lábios dele. Me senti hipnotizada, os lábios dele pareciam me chamar. Era como se me corpo inteiro gritasse para mim, “Beije-o, beije-o agora”.

Resisti a todos os impulsos e me afastei dele, fechando os olhos.

– Você quer, eu sei que você quer – ele sussurrou, chegando mais perto de mim

Abri os olhos e me deparei com o sorrisinho safado que ele dava sempre que conseguia o que queria. Enxerguei então novamente aquele Ronald idiota, insuportável, que se achava melhor que todo mundo.

– Você é um babaca! – quando percebi, já tinha dado um tapa na lateral do rosto dele.

– Ai! – ele reclamou, esfregando a bochecha

– Você mereceu. – falei, olhando para minha mão como se ela tivesse tomado vida própria – Agora, me deixe ir... – saí da frente do ruivo e fui andando para o corredor

– Não posso, não antes de fazer isso – ele falou, e então puxou meu braço e colocou meu corpo junto ao dele, me segurando pela cintura

Arfei

– O que pensa que está fazendo? – tentei me soltar, sem sucesso

– O que eu sempre quis fazer – e então ele tomou meus lábios rapidamente, sem me dar tempo para responder. O beijo dele era intenso, quente, e em segundos eu parei de lutar e já estava entregue em seus braços. O agarrei pelo pescoço enquanto ele pressionava minha cintura com os braços fortes. Me deixei levar pela língua doce dele, e não consegui pensar em mais nada.

Por minutos ficamos ali, parecia que só existíamos nós dois no mundo inteiro.

O beijo foi desacelerando, e então ele tirou os lábios dos meus e deu uma mordidinha no meu lábio inferior.

– Obrigado, você fez o meu dia – ele disse, finalmente soltando minha cintura

Precisei tomar fôlego

– Eu... eu não... – gaguejei, e então sorri.

Simplesmente sorri. O beijo dele havia me feito feliz. Então olhei para ele mais uma vez, Rony me olhava com satisfação.

– Acho que você também gostou – ele riu, e então me puxou pela nuca para mais um beijo

Antes que nossos lábios encostassem, o empurrei bruscamente.

– Não, não... o que é que eu fiz? – entrei em desespero, e a felicidade sumiu na mesma rapidez em que havia surgido. – Você me beijou! – o empurrei mais uma vez

– Como assim eu te beijei? Você retribuiu!

– Não, claro que não! Ai meu Deus, você... o beijo... eu te beijei, e não devia... Ai meu Deus!!! – o empurrei mais uma vez e saí correndo pelo corredor.

Eu não sabia em que porta entrar. No meu quarto, Luna estava com Neville, provavelmente aos beijos. Pensei em me trancar no banheiro, mas a porta estava fechada, e Harry provavelmente ainda estaria lá. Cho estava no quarto dela, sozinha. Era melhor que nada. Fui até a porta e a abri rapidamente.

– Cho, você não sabe o que eu... AI MEU DEUS! – berrei

Eu não acreditei no que tinha visto. CHO ESTAVA AOS BEIJOS COM HARRY.

– O QUE É QUE... AI MEU DEUS! CHO VOCÊ TÁ MALUCA? O QUE É QUE VOCÊS... AI MEU DEUS! – berre ainda mais alto

– Cala essa boca! – ela sussurrou, me puxou para dentro do quarto e fechou a porta

– Eu falei que você deveria ter trancado a porta, Cho – Harry suspirou e sentou na cama

– O QUE É QUE...

– Shhhh – Cho e Harry pediram silêncio

Olhei para eles sem entender

– Fala baixo. – Cho sussurrou – Ninguém pode saber que eu estou aqui com o Harry

– O que é que você pensa que está fazendo?!?! Você tem namorado, Cho – sussurrei

– Então... o Harry é meu namorado

– QUÊ?

– Cala a boca! – os dois sussurraram, parecendo nervosos

– Como assim ele é seu namorado, Cho?

– Sendo, ué. Ele é meu namorado misterioso.

– Mas... ah, quer saber? É muita coisa pra minha cabeça, eu só queria ficar sozinha nessa casa cheia de gente.

– O que aconteceu? – ela perguntou

– Tudo! Tudo aconteceu!

– Você quer ficar sozinha? A gente deixa você aqui.

– Seria ótimo

– Bem, Harry, sai primeiro. Depois eu saio também, a gente não pode chegar na sala na mesma hora.

– Tanto faz... - ele disse, e saiu do quarto

Depois de alguns segundos, Cho saiu também, me deixando sozinha no quarto.

Me joguei na cama e fechei os olhos.

– O que foi que eu fiz? - sussurrei para mim mesma