Harry Potter e a Fúria dos Deuses escrita por almeidalef


Capítulo 7
Capítulo VII - Lufanos.


Notas iniciais do capítulo

E aí, galera, como vocês estão? Espero que bem. Quero agradecer à todos que comentaram os capítulos anteriores e, especialmente, ao leitor Will RRS por ter recomendado a fanfic. E um bem-vindo! para os leitores novos.

Segue o próximo capítulo, espero que gostem!



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As quatro mesas compridas dispostas no Salão Principal representando cada Casa foram se enchendo sob um céu escuro e anuviado, que era exatamente igual ao céu que podia ser visto pelas altas janelas do aposento onde uma fina chuva estourava em pequenas gotas apressadas. As velas flutuavam à meia altura ao longo das mesas, iluminando os fantasmas prateados que pontilhavam o salão e os rostos dos alunos que conversavam, entusiasmados, os acontecidos do primeiro dia do trimestre, e outros, desanimados, reclamando da grande quantidade de tarefas impostas pelos professores.

Mais uma vez, Harry reparou as pessoas que juntavam as cabeças para cochichar quando Percy, Rachel ou Grover passavam; já que, Annabeth e Nico pareciam muito bem enturmados. Notou também que, como de costume, alguns cochichos ou muxoxos de veemência faiscavam às mesas enquanto ele se dirigia com Rony e Hermione até a mesa da Grifinória; trincou os dentes e tentou agir como se não visse tampouco se importasse.

Luna e Annabeth se separaram deles ao passarem pela mesa da Corvinal, o que resultou numa Hermione menos irritadiça. Quando chegaram à da Grifinória, Gina foi saudada por uns terceiranistas e saiu para se sentar com eles; Harry, Rony, Hermione, Neville, Grover e Rachel encontraram lugares juntos, mais ou menos no meio da mesa, entre Nick Quase Sem Cabeça e Parvati Patil e Lilá Brown - as duas os cumprimentaram com tanta leveza e excessiva simpatia que Harry teve a certeza de que haviam acabado de falar deles uma fração de segundo antes. Mas tinha coisas mais importante pelas quais se preocupar; olhou por cima das cabeças dos colegas, diretamente para a mesa dos professores que ocupava a parede principal do salão.

 - Ele não está.

Rony, Hermione, Rachel e Grover também correram os olhos pela mesa, embora isso não fosse necessário; o chapéu cônico estrelado e as grandes barbas prateadas de Dumbledore o tornava instantaneamente óbvio fosse qual fosse a fila.

 - Não é do feitio de Dumbledore faltar aos jantares - notou Hermione, levemente ansiosa.

- Claro que não - afirmou Harry.

- Vocês não acham que ele está... ferido, nem nada do tipo, acham? - perguntou Rony.

- Claro que não! - respondeu Hermione, na mesma hora.

 - Então, onde é que ele está?

Houve uma pausa. Não tinham nenhuma resposta ou teoria sobre o porquê e o quê Dumbledore andara fazendo de mais importante a ponto de não comparecer ao primeiro jantar do trimestre. Sentaram-se, Harry ainda olhando para a grande mesa de frente para eles onde a Professora Lana deliciava-se delicadamente com o conteúdo de seu prato, embora uma atrapalhada Trelawney espanava várias ervilhas sobre a mesa.

 - Aqueles óculos devem deixar as ervilhas do tamanho de limões! - exclamou Rony rindo, agarrando três coxas de peru dispostas numa grande e lustrosa bandeja dourada à sua frente.   

Hermione lhe lançou um olhar severo enquanto este atacava vorazmente as montanhas vacilantes de coxas que fizera em seu prato.

 - Pode poupar o sermão - disse Rony impaciente, com a voz pastosa. - Você não pode dizer que já foi gentil com a Trelawney.

Hermione preparou-se para lhe dar uma resposta à altura, mas fora deixada com a boca entreaberta pelas palavras inesperadas de Rachel.

 - Eu sei onde o Professor Dumbledore está - disse, como se estivessem conversando há horas sobre o assunto, fazendo Harry engolir dolorosamente o grande gole de suco de abóbora que começara a tomar.

- Onde?! - perguntou, batendo com o cálice de suco na mesa emitindo um grande estalo.

- Não posso dizer. Mudaria tudo - respondeu Rachel displicentemente, servindo-se de presunto e costeletas de porco.

Harry olhou desanimado para seu rosbife com cenouras. Alguma coisa na voz de Rachel demonstrava grande sinceridade.

Na mesa atrás da de Grifinória, Percy encontrou um lugar entre Justino Finch-Fletchley e Ernesto McMillan. Comia alegremente, não tivera oportunidade de experimentar das delícias dos elfos domésticos já que em sua primeira noite desmaiara e seu único cardápio resumiu-se a uma poção de Madame Pomfrey com gosto de meia velha.

- Olá, me chamo Justino Finch-Fletchley! - anunciou um garoto de cabelos curtos e ondulados ao lado dele. - Percy, não é? Este é Ernesto McMillan - Justino apontou para um garoto louro e robusto ao lado de Percy, que respondeu com um pequeno sorriso cheio de bolo de carne. - Sou nascido trouxa, sabe... Estava indo para uma escola chamada Eton quando a carta de Hogwarts chegou. Minha mãe só concordou que eu estudasse magia depois de ler os livros de Gilderoy Lockhart. E você, é nascido trouxa ou é Sangue-Puro como o Ernie?

 - Acho que sou trouxa - respondeu Percy um tanto desanimado, bebericando pequenos goles de suco de abóbora.

 - Minha família tem nove gerações consecutivas de Sangue-Puro - contou Ernesto, pomposo, levando uma generosa garfada de ervilhas à boca.

No minuto que se seguiu os pratos e as bandejas nas cinco mesas do Salão Principal mudaram seu conteúdo, trazendo agora delícias adocicadas (e outras salgadas) para a sobremesa. Percy atacou uma gelatina azul que literalmente dançava sem parar no prato, tinha gosto de biscoito de caramelo.

Assim que as sobremesas desapareceram e os pratos e bandejas tornaram a ficar mais limpos e brilhantes do que nunca, ouvia-se apenas o ruído do arrastar de bancos e vozes animadas.

- Vem, eu te mostro o caminho - convidou Justino. - É meio difícil de memorizar...

Passaram pelo saguão de entrada que flamejava à luz dos archotes, ecoando os passos dos que atravessavam o piso de lajotas e subiam as escadas de mármore em direção as suas respectivas Salas Comunais. Percy, Justino e o restante dos alunos da Lufa-Lufa rumaram para uma porta à direita, descendo um lance de escadas de pedra, mas, em vez destas terminarem em uma sombria passagem subterrânea, como a que levava à masmorra de Snape, os garotos se viram em um corredor de pedra, largo, muito bem iluminado com archotes, e decorado com alegres pinturas, na maioria, de comida. Percy estava logo atrás de Justino que caminhava até uma grande pilha de barris na ala direita do corredor.

 - Está vendo este aqui? - indagou Justino, apontando energicamente para o segundo barril da pilha de cima para baixo, no meio da segunda fileira. - Deve-se dar um tapinha nele, no ritmo de Helga Hufflepuff, para a tampa se abrir.

De fato, quando Justino deu um leve tapa no barril a sua tampa escancarou-se.

 - Nós somos a única casa em Hogwarts com um dispositivo de repulsão a potenciais intrusos - contou ele, entusiasmado enquanto alguns alunos entravam. - Se baterem na tampa do barril errado, ou se o ritmo da batida for outro, o intruso será encharcado em vinagre. Você ouvirá sobre as outras Casas e seus arranjos de segurança, mas acontece que em mais de mil anos a Sala Comunal da Lufa-Lufa e seus dormitórios nunca foram vistos por intrusos. Assim como os texugos, nós sabemos exatamente como nos esconder e como nos proteger.

Os dois arrastaram-se para dentro da boca do barril numa terrosa e inclinada passagem e Percy deparou-se com uma grande e confortável sala redonda de teto rebaixado. As suas janelas circulares mostravam uma vista relaxante de grama ondulante e dentes-de-leão, com as janelas baixas, não obstante, a Sala parecia sempre ensolarada, apesar de ser noite. Havia bastante cobre polido no local, muitas plantas como samambaias e heras, tanto penduradas no teto fazendo roçarem nos cabelos dos alunos enquanto passavam por debaixo delas, quanto posicionadas nos parapeitos das janelas e outras que se rastejavam nas paredes abaixo de grandes faixas de seda amarelas. Sofás e poltronas largas de estofados em preto e amarelo tinham um ar convidativo e estavam apinhadas de alunos lendo Mil ervas e fungos mágicos de Filida Spore. Algumas mesinhas de três pés encontravam-se ao lado de cada poltrona, repousando xícaras ou frascos de conteúdos multicolores. Um retrato sob a lareira de madeira, totalmente esculpida com decoração de texugos dançantes, mostra Helga Hufflepuff, uma dos quatro fundadores da Escola de Hogwarts, brindando a seus alunos com uma pequena taça de ouro com duas asas. Algumas portas redondas nas paredes da sala que davam em túneis, sem dúvida, levavam aos dormitórios.

- Agora - começou Justino, levando Percy até o centro da Sala, sentando-se em duas grandes poltronas enquanto o fogo à lareira crepitava displicente -, há algumas coisas que você deveria saber acerca de Lufa-Lufa. Primeiro, vamos falar sobre o nosso emblema: que é o texugo, um animal que frequentemente é subestimado, porque vive calmamente até que seja atacado, mas que, quando provocado, pode lutar contra animais maiores do que ele mesmo, incluindo lobos.

"Agora vamos falar sobre um mito constante sobre o lugar, de que somos a Casa menos inteligente. Errado. Lufa-Lufa é certamente a Casa que menos se gaba, mas nós produzimos tantos bruxos e bruxas brilhantes como qualquer outra. Uma prova? Veja Gropan Stump, um dos mais populares Ministros da Magia de todos os tempos. Ele era um Lufano, assim como eram os Ministros bem sucedidos Artemesia Lufkin e Dugald McPhail. E ainda temos a autoridade mundial em criaturas mágicas, Newt Scamander; Bridget Wenlock, a Aritmance, famosa no século XIII que primeiro descobriu as propriedades mágicas do número sete e Hengist de Woodcroft, que fundou Hogsmeade, o povoado completamente bruxo, que fica bem próximo daqui. Todos Lufanos. Então, como você pode ver, nós produzimos um número mais do que suficiente de bruxos e bruxas brilhantes, poderosos e audaciosos, mas só porque não saímos gritando isso, não recebemos o crédito que merecemos. Corvinais em particular acreditam que, qualquer descobridor fora do comum deve ter vindo da Casa deles. Gabriel Truman, nosso monitor, teve um grande problema no seu terceiro ano por duelar com um aluno da Corvinal que insistiu que Bridget Wenlock tinha vindo da Casa dele e não da nossa. Ele deveria ter recebido uma semana de detenções, mas a Professora Sprout de Herbologia e também diretora de nossa Casa deixou-o escapar com uma advertência e uma caixa de sorvete de coco.

 Justino Finch-Fletchley contou aos risos a história enquanto servia um gole de chá para Percy.

- Lufanos são verdadeiros e leais - continuou ele, se empertigando na poltrona. - Sem querer se gabar, é claro. Não nos vangloriamos, mas ajudamos quando você está precisando de uma forcinha em Poções, por exemplo. Como o nosso emblema, o texugo, nós nos protegeremos, nossos amigos e família contra todo o perigo. Nada nos intimida. Porém, é verdade que Lufa-Lufa é um pouco pobre em uma área... Nós produzimos o menor número de bruxos das trevas do que qualquer outra Casa da Escola. Claro que você pensa em Sonserina como uma agitação de malfeitores, visto que eles nunca tiveram uma briga honesta e preferem trapacear a trabalhar duro, mas mesmo a Grifinória, casa com a qual nos damos bem melhor, produziu alguns personagens espertinhos.

"A diretora de nossa Casa, como eu já havia dito, é a Professora Pomona Sprout, que também é a chefe de Herbologia, e nos traz as espécies mais interessantes, algumas que dançam e até falam para decorar a nossa Sala - uma razão para sermos muito bons em Herbologia. Ah, o fantasma de nossa Casa é o mais amigável de todos: o Frei Gorducho. Você o reconhecerá bem facilmente. Ele é roliço, veste roupas de monge e é muito generoso se você estiver perdido ou em apuros", falou, levando Percy até uma das duas portas redondas que, como ele previra, levava aos dormitórios.

Os quartos eram decorados em tons alegres, e semelhantes as de uma abelha, cores de amarelo e preto, enfatizadas pelo uso de uma altamente polida madeira cor de mel que constituía os confortáveis estrados das camas, todas cobertas com colchas de retalhos. Lâmpadas de cobre projetavam uma luz quente no cômodo, todos cobertos com mosaicos de patchwork e aquecedores de cama feitos de cobre estavam pendurados nas paredes, para o caso dos alunos estarem com o pés frios.

- Acho que isso é quase tudo, Percy, devo dizer também, que carecemos de bons jogadores de Quadribol. Lufa-Lufa não tem feito bonito nos torneios ultimamente - contou Justino, tristonho, descansando sua xícara em um criado-mudo ao lado de uma das camas. - Você provavelmente dormirá bem. Estamos protegidos de tempestades e ventanias nos nossos dormitórios. Nunca tivemos as noites perturbadoras que aqueles das torres já experimentaram. E o som do farfalhar da grama e o cantarolar dos pássaros é bem estimulante ao sono. Ah, e meus parabéns por se tornar membro da mais amiga, mais decente e mais tenaz de todas as Casas!

- Obrigado - conseguiu dizer. Sua mente estava a mil por hora, estavam completamente errados sobre a Lufa-Lufa.

Justino Finch-Fletchley sorriu em resposta e deixou o cômodo com seus passos ecoando até morrerem a distância. Percy vestiu seu pijama largando-se em uma das várias camas e sentiu seu corpo esquentar deliciosamente. Enfurnou-se em meio aos cobertores aconchegantes e adormeceu enquanto a grama farfalhava e um grilo estridulava ao longe.

- ...então você não sonhou com nada? - indagou Grover à Percy pela quinquagésima sétima vez naquela manhã enquanto eles, Rachel, Annabeth e Nico subiam as escadas de mármore para o quinto andar, em direção a primeira aula do dia, Magia Complementar.

- Se você me perguntar isso de novo eu vou enfiar essa vari...

- Sejam bem-vindos! - disse uma voz enérgica dentro da sala de aula. - Eu sou Marina Welshman , sentem-se. - Ela gesticulou para as várias mesas dispostas na sala de paredes brancas e enquanto os garotos se acomodavam o chão de madeira maciça rangia aos seus pés. A professora Marina estava postada logo em frente de um grande quadro-negro, sua escrivaninha encontrava-se em cima de um patamar mais alto para que os alunos do fundo pudessem vê-la e ouvi-la. Embora, não houvessem alunos no fundo, já que ela ensinaria apenas à Percy, Annabeth, Grover, Rachel e Nico durante aquele trimestre.

A professora Marina não parecia com nenhuma bruxa que Percy vira até agora. Exceto, talvez, Lana Griffith. Usava um vestido azul escuro com bordados em linha branca, remetendo-se à grandes rainhas e princesas do século XV. Tinha um rosto jovial e uma delicada pinta descansava ao lado de seu olho esquerdo, ambos tristonhos e cor de mel que escondiam-se por detrás de muita maquiagem. Embora um grande sorriso encontrava-se espalhado por sua boca vermelhíssima, enquanto seus cabelos acinzentados caíam sobre os ombros. Ela pigarreou e tornou a falar com sua voz grave e distante que ecoava na sala quase vazia.

- Sejam bem-vindos, meus queridos. Vocês estão aqui para aprender elementos básicos que já fizeram parte do ensino dos quartanistas de sua idade. Como seria injusto com eles retornar à estes temas, o professor Dumbledore decidiu que era mais aconselhável que criássemos uma disciplina apenas para ensinar-lhes o que vocês não tiveram a chance de aprender enquanto estavam em seu Acampamento. Nesta aula, vocês aprenderão Transfiguração, Poções, Feitiços, Herbologia e Defesa Contra as Artes das Trevas. Peguem seus pergaminhos.

No mesmo instante a varinha da professora começou a balançar-se em frente do grande quadro-negro às suas costas. Escrevia numa letra inclinada e delicada.

 - Hoje falaremos sobre Herbologia! - tornou ela a falar toda sorrisos, enquanto Percy e seus amigos alcançavam as penas e os tinteiros dentro das mochilas. - Este pequeno texto é um tutorial do que aprenderemos hoje. Claro que não temos permissões para trazê-las para cá e nem proteções suficientes, portanto, vocês aprenderão hoje sobre as mandrágoras apenas teoricamente na minha aula e, se vocês se interessarem extracurricularmente, creio eu que a professora Sprout não se incomodaria de apresentá-las a vocês pessoalmente na estufa três.

Percy, Annabeth, Grover, Rachel e Nico copiaram o texto escrito pela varinha da professora Marina no quadro-negro. Embora Percy não tenha entendido nada do que copiara e, por alguns minutos, devaneara se não havia algum feitiço que desse um fim a sua dislexia. Ao que pareceram horas, a aula acabou quando Percy pingou o último "i" que faltava. Saíram da sala deixando uma professora Marina observando estagnada a paisagem que uma grande janela no fundo da sala fornecia, o olhar fora de foco.

- Meio tediosa, a Marina - falou Annabeth, pensativa.

- Eu gostei dela - declarou Nico e, vendo que Annabeth iria lhe responder pigarreou alto censurando-a e eles seguiram em silêncio até a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Quando os cinco entraram na sala de aula, encontraram a Professora Umbridge já sentada à escrivaninha. Ela parecia, pensou Percy, com a tia solteirona de alguém: atarracada, com os cabelos curtos, crespos, castanho-acinzentados, presos por uma horrível faixa de veludo preto à Alice que combinava com o casaquinho cor-de-rosa peludo que trazia sobre as vestes. Então ela virou ligeiramente o rosto bufonídeo e sorriu meigamente para os alunos que adentravam e se assentavam, os olhos meio saltados. Percy fez dupla com Grover logo atrás de Annabeth e Luna.

 - Bom, boa-tarde! - disse a professora finalmente, quando a turma inteira acabou de sentar.

Sua voz era aguda, soprada e meio infantil, e, Harry - sentado três cadeiras à frente de Percy, junto de Rony - sentiu uma onda de aversão que não conseguia explicar; só sabia que tudo naquela mulher o enojava, desde a voz tola ao casaquinho peludo cor-de-rosa.

Alguns alunos murmuraram "boa-tarde" em resposta.

- Não, não, não - muxoxou a professora. - Assim não vai dar, concordam? Eu gostaria que os senhores, por favor, respondessem: "Boa-tarde, professora Umbridge." Mais uma vez, por favor. Boa-tarde classe!

- Boa-tarde, professora Umbridge - entoaram os alunos monotonamente.

Ela pigarreou (hem, hem) para clarear a voz, e começou num tom de discurso decorado:

 - O ministro da Magia sempre considerou a educação dos jovens bruxos de vital importância. Os dons raros com que vocês nasceram talvez não frutifiquem se não forem nutridos e aprimorados por cuidadosa instrução. As habilidades antigas, um privilégio da comunidade bruxa, devem ser transmitidas às novas gerações ou se perderão para sempre. O tesouro oculto preservado, suplementado e polido por aqueles que foram chamados à nobre missão de ensinar.

A professora Umbridge fez uma pausa e observou cada rosto que a encarava meio chocados, esperando talvez uma salva de palmas, que nunca existiu. Fez mais um hem, hem, e continuou o discurso:

 - Todo diretor e diretora de Hogwarts trouxe algo novo à pesada tarefa de dirigir esta escola histórica, e assim deve ser, pois sem progresso haverá estagnação e decadência. Por outro lado, o progresso pelo progresso não deve ser estimulado, pois as nossas tradições comprovadas raramente exigem remendos. Então um equilíbrio entre o velho e o novo, entre a permanência e a mudança, entre a tradição e a inovação...

Percy percebeu que sua atenção estava oscilando, pensou, que talvez fosse apenas ele pois sofria de déficit de atenção, mas ao dar uma perpassada de olhares pela sala, notou que todos estavam apoiados em seus braços, outros brincavam com suas penas descansadas nos tinteiros. Sentiu como se seu cérebro estivesse entrando e saindo de sintonia. O silêncio que sempre prevalecia quando algum professor de Defesa Contra as Artes das Trevas falava ia se rompendo à medida que os alunos aproximavam as cabeças, cochichando e abafando risinhos. Luna Lovegood puxara o seu Pasquim e começara a folheá-lo distraída. Ao seu lado, Annabeth encarava a professora com um olhar penetrante em tom de cinza. Ernesto Macmillan era um dos poucos que ainda olhavam atentamente para a professora Umbridge, acompanhado também de Hermione Granger, que parecia estar bebendo cada palavra que Umbridge dizia, embora, a julgar por sua expressão, a desagradasse profundamente.

A professora Umbridge não parecia notar o desassossego da plateia. Harry teve a impressão de que uma revolta de grandes proporções poderia ter estourado bem embaixo do nariz rechonchudo dela e a bruxa teria continuado a discursar.

Ao fim de seu discurso, Umbridge observou a classe atentamente com um sorriso mecanicamente meigo no rosto. Alguns alunos pareceram notar o silêncio apenas depois de alguns minutos e só quando todos a encaravam entediados e ansiosos ela fez um movimento com a cabeça ao que todos entenderam como um pedido. Algumas palmas ecoaram solitárias pela sala.

- Agora sim - disse a professora com falsa meiguice. - Não foi muito difícil, foi? Guardem as varinhas e apanhem as penas.

Muitos alunos, Percy notou, trocaram olhares sombrios e expressivos; nunca antes a ordem "guardem as varinhas" se seguira uma aula que eles achassem interessantes, presumiu. Harry enfiou a varinha de volta na mochila e apanhou pena, tinta e pergaminho. A professora Umbridge abriu a bolsa e tirou a própria varinha, que era excepcionalmente curta, e com ela deu uma pancada forte no quadro-negro; imediatamente apareceu ali escrito.

Defesa Contra as Artes das Trevas
    Um Retorno aos Princípios Básicos

A professora comentou displicentemente como o ensino que haviam recebido em DCAT durante os anos foi, segundo ela "um tanto interrompido e fragmentário". Tornou a bater no quadro; a primeira mensagem desapareceu e foi substituída por "Objetivos de Curso".

1. Compreender os princípios que fundamentam a magia defensiva.
2. Aprender a reconhecer as situações em que a magia defensiva pode legalmente ser usada.
3. Inserir o uso da magia defensiva em contexto de uso.

Por alguns minutos o som de penas arranhando pergaminhos encheu a sala. Depois que todos copiaram os três objetivos do curso da professora Umbridge, ela perguntou:

-  Todos têm um exemplar de Teoria da magia defensiva de Wilbert Slinkhard?

Ouviu-se um murmúrio baixo de concordância por toda a sala.

 - Acho que vou tentar outra vez - disse ela. - Quando eu fizer uma pergunta, gostaria que os senhores respondessem: "Sim, senhora, professora Umbridge" ou "Não, senhora, professora Umbridge". Então: todos têm um exemplar de Teoria da magia defensiva de Wilbert Slinkhard?

- Sim, senhora, professora Umbridge - ecoou a resposta pela sala.

- Ótimo. Eu gostaria que os senhores abrissem na página cinco e lessem o Capítulo Um, "Elementos Básicos para Principiantes". Não precisarão falar.

A professora Umbridge deu as costas ao quadro e se acomodou na cadeira, à escrivaninha, observando todos os alunos, com aqueles olhos empapuçados de sapo. Percy abriu na página cinco do seu exemplar de Teoria da magia defensiva e começou a ler.

- Queria me perguntar alguma coisa sobre o capítulo, querida? - perguntou ela a Hermione, que estava com a mão no ar por tanto tempo que o sangue descera da ponta de seus dedos.

 - Não, não é sobre capítulo. Já li esse capítulo, na verdade já li o livro inteiro - respondeu Hermione, determinada. - Tenho uma pergunta sobre os objetivos do curso.

A professora Umbridge ergueu as sobrancelhas.

- E como é o seu nome?

- Hermione Granger.

- Muito bem, Srta. Granger, acho que os objetivos do curso são perfeitamente claros se lidos com atenção - respondeu em um tom de forçada meiguice.

- Bem, eu não acho que estejam - respondeu Annabeth secamente, a mão levantada.

- E o seu nome é?

- Annabeth Chase.

- Não há nada escrito no quadro sobre o uso de feitiços defensivos - concluiu Hermione irritada com a interrupção de Annabeth.

- Exatamente, professora - começou Annabeth, aproveitando o gancho de Hermione. - Creio eu que, um texto não nos protegerá se tivermos em perigo.

- O uso de feitiços defensivos? - repetiu a professora Umbridge, dando uma risadinha. - E ora, Srta. Chase, não consigo imaginar nenhuma situação que possa surgir nesta sala que exija o uso de um feitiço defensivo. Vocês estão completamente livre de riscos.

- Claramente que dentro da sala de aula não, querida - respondeu Hermione com veemência. - Mas o que pode estar nos aguardando lá fora?

 - Não vamos usar magia? - exclamou Harry, em voz alta.

- Os alunos levantam a mão quando querem falar na minha aula, Sr. Potter. Ponha-se no seu lugar!

A professora ampliando um sorriso, virou as costas para ele. Annabeth e Hermione imediatamente ergueram as mãos também. Os olhos empapuçados da professora se detiveram por um momento em Annabeth, antes de se dirigir a Hermione.

- Sim. Srta. Granger? Quer me perguntar mais alguma coisa?

- Quero - intrometeu-se Annabeth, deixando Hermione com a boca entreaberta e uma Umbridge de olhos arregalados. - Certamente a questão central de uma aula de Defesa Contra as Artes das Trevas é a prática de feitiços defensivos.

 - Professora - começou Hermione lançando olhares expressivos para Annabeth -, se formos atacados, então não será livre de riscos.

- As senhoritas são especialistas educacionais do Ministério da Magia, Srtas. Granger e Chase?

- Não, mas... - responderam em uníssono.

- Bem, então, receio que não estejam qualificadas para decidir qual é a "questão central" em nenhuma disciplina e, muito menos os meus modos de ensino. Bruxos mais velhos e mais inteligentes que as senhoritas prepararam o nosso novo programa de estudos. E para as senhoritas aprenderem a respeitar algumas normas: detenção - concluiu Umbridge, lançando sorrisinhos irritantes para todos os alunos e voltando a sua leitura de Teoria da magia defensiva mais monotonamente do que o professor Binns enquanto Luna ainda folheava o Pasquim.

Percy ficou contente de sair do castelo depois do almoço. A chuva do dia anterior parara; o céu estava claro, cinza pálido, e a grama parecia elástica e úmida sob os pés quando ele, Justino e Ernesto rumaram em direção a cabana de Hagrid, à orla da Floresta Proibida. Somente quando identificaram quatro costas muito conhecidas na sua frente é que Percy se deu conta de que iria compartilhar as aulas daquele ano com os alunos da Grifinória. Harry e Rony pareciam tensos na presença de Hermione que estava muito vermelha e murmurando ofensas para uma tal de Umbridge. E Grover mancando, subiu a encosta aproximando-se de Percy.

Hagrid já estava à espera dos alunos na porta da cabana. Vestia o casaco de pele de toupeira, com Canino, o cão de caçar javalis, nos calcanhares, e parecia animado para começar.

- Vamos, andem depressa! - falou quando os alunos se aproximaram. - Tenho uma coisa ótima para vocês hoje. Vai ser uma grande aula! Estão todos aqui? Ah, Percy, tenho uma surpresa para você... Certo, então me acompanhem!

Por um momento de apreensão, Harry pensou que Hagrid os levaria para a Floresta Proibida. O menino já tivera suficientes experiências desagradáveis ali para a vida inteira. No entanto, o guarda-caça contornou a orla das árvores e cinco minutos depois eles estavam em uma espécie de picadeiro. Não havia nada ali.

- Todos se agrupem em volta dessa cerca! - mandou ele. - Isso... procurem garantir uma boa visibilidade... agora, a primeira coisa que vão precisa é abrir os livros...

Notando a cara de espanto nos alunos, exceto em Percy, Grover e Harry, Hagrid perguntou com ar de desapontamento:

 - Será... será que ninguém conseguiu abrir o livro?

Todos os alunos sacudiram negativamente as cabeças.

- Você têm que fazer carinho neles - falou o professor, como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo. - Olhem aqui...

Percy, já habituado com a demonstração de domesticação dos livros raivosos, olhou para além da cerca e viu o que menos esperava. Trotavam em direção aos garotos mais ou menos uma dezena dos bichos mais bizarros que Percy já vira na vida. Tinham os corpos, as pernas traseiras e as caudas de cavalo, mas as pernas dianteiras, as asas e a cabeça de uma coisa que lembrava águias gigantescas, com bicos cruéis cinza-metálico e enormes olhos laranja vivo. As garras das pernas dianteiras tinham uns quinze centímetros de comprimento e um aspecto letal. Cada um dos bichos trazia uma grossa coleira de couro ao pescoço engatada em uma longa corrente, cujas pontas estavam presas nas manzorras de Hagrid, que entrou correndo no picadeiro acalmar as criaturas.

- Upa! Upa! Aí! - bradou ele, sacudindo as correntes e incitando os bichos na direção da cerca de onde se agrupavam os alunos. Todos recuaram, instintivamente, quando Hagrid chegou bem perto e amarrou os bichos na cerca.

- Hipogrifos! - bradou Hagrid alegremente, acenando para eles. - Lindos, não acham?

A pelagem luzidia dos hipogrifos mudava suavemente de pena para pelo, cada animal de uma cor diferente: cinza-chuva, nanquim, ruão rosado e castanho brilhante. Enquanto Hagrid contava que os hipogrifos eram orgulhosos e afagava delicadamente a cabeça de um em cores castanho brilhante, Percy notou que um deles, o de pelagem em tom de nanquim o observava atentamente, como se não gostasse de sua presença ali. Seus grandes olhos alaranjados do tamanho de bolas de tênis o encaravam com veemência. O observava tão profundamente que Percy tinha a impressão de estar sendo radiografado. O animal soltou um guincho estridente e, no que pareceu uma fração de segundo, se soltou da cerca e voou para cima de Percy, que caiu estatelado no chão enlameado e escorregadio.

Os alunos da Grifinória e Lufa-Lufa paralisaram-se diante da cena. Hermione soltou um grito sufocado e, repentina e inconscientemente, apertou a mão de Rony. Hagrid, ao passar em disparada por entre os alunos, fez com que, sua grande maioria, tombasse no solo íngreme, enquanto os outros hipogrifos devidamente presos em suas correntes, batiam nervosamente as patas no chão.  O professor tirou de dentro do seu grande casaco de toupeira uma doninha morta e postou-se atrás de Percy, balançando-a na tentativa de tirar a atenção do hipogrifo ensandecido do garoto.

- Percy... - sussurrava Hagrid audivelmente. - Percy garoto, não levante-se... Isso, isso. Aqui uma doninha maravilhosa para você, seu safado! Nunca fui com a sua cara, Kiwquo...

Ao longe, enquanto os alunos prendiam a respiração e Hermione e Rony fingiam que nada tivesse acontecido, galopes ecoavam ficando cada vez mais audíveis. Percy olhou de esguelha para os hipogrifos presos nas cercas, certificando-se que mais nenhum tivesse fugido. Aquele grande hipogrifo nanquim na sua frente ora encarava-o com ódio e ora com terror... suas patas traseiras, as patas de cavalo, coiceavam o vento à sua retaguarda como se não quisesse fazer aquilo. Agora, os galopes distantes estavam mais perto do que nunca, o hipogrifo ergueu as patas munidas do que pareciam grandes facões, deu um último olhar aterrorizado para Percy e atacou...

Esperou ser despedaçado, picadinho de Percy Jackson espalhado pelo chão ao redor... Mas o ataque não aconteceu.

Um relinchar imponente sobressaltou seus ouvidos, permitiu abrir os olhos e viu um grande garanhão alado de pelos preto brilhante levantando as patas dianteiras e balançando loucamente as asas, intimidando o hipogrifo que logo foi se distanciando. Os alunos tinham nos rostos molhados de suor e lama expressões de medo e admiração.

- Você está bem? - perguntou Hagrid preocupado, colocando sua cabeçorra desgrenhada perto de Percy, verificando se o garoto tivera ferimentos graves.

- Estou be... - conseguiu dizer Percy, embora seus pensamentos tivessem sido interrompidos por uma voz conhecida: "E aí, chefe? Cara metido esse aqui..." - Não gostei nada da surpresa, Hagrid.

Hagrid sorriu imperceptivelmente por detrás das grossas barbas e ajudou Percy a levantar-se.

Em menos de minutos, nos corredores falava-se apenas de como o pégaso de Percy o salvara de um hipogrifo mal amarrado. Harry encarou com indignação dois terceiranistas que criticavam Hagrid, dizendo que o gigante não tinha controle sobre as suas criaturas e que não devia deixá-las soltas como galinhas pelos terrenos de Hogwarts. Duas segundanistas pararam Percy em uma das escadas e começaram um interrogatório do qual ele deu a desculpa que, assim como Grover, Harry e Rony estava atrasado para a aula de Adivinhação, no sétimo andar. Colin Creevey deixou Percy temporariamente cego devido o flash de sua câmera e também lhe fizera perguntas a respeito de Blackjack.

Completamente agradecido que haviam chegado ao alçapão que dava para a sala da Trelawney, entraram e o costumeiro perfume enjoativo e adocicado impregnou em seus narizes. Pelo menos, agora que o vento lá fora soprava violentamente, a sala de Adivinhação os esquentou um pouco enquanto se sentavam nas cadeiras de chintz.

- Querido menino Percy - falou Trelawney com sua costumeira voz etérea saindo das sombras, balançando seus xales multicolores -, eu acompanhei a sua experiência de quase-morte pela minha bola de cristal... Pobre garoto... conversei com seus guias espirituais e eles me concederam que desta vez, você, meu menino, não faria a passagem para o outro plano. 

- Ahn... tudo bem, obrigado professora - concedeu Percy, atordoado e sentou-se em trio com Grover e Annabeth, que começou a lhe fazer perguntas frenéticas do ocorrido.

- Estava em Feitiços - contou Annabeth. - O professor Flitwick nos ensinou Orchideous, vocês precisavam ver isso. - E com um balançar da varinha, Annabeth fez brotar um buquê de orquídeas na sacada de uma das janelas da sala.

A aula de Adivinhação transcorreu normalmente, embora a professora Trelawney mostrara-se extremamente aborrecida com as interrupções de Rachel do seu discurso ensaiado sobre borras de café e presságios de morte. Em seguida, ela os entregou novamente exemplares de Oráculo dos sonhos, e Percy agora contava com a ajuda de Annabeth na procura de alguma definição plausível dos sonhos que andara tendo, cogitando até a ideia de pedir algum auxílio da professora Trelawney, mas, não teve oportunidades pois quando a sineta tocou todas as atenções voltaram-se para Rachel, que fora agarrada pelos ombros por uma professora Trelawney tresloucada.

 - Você, menina beijada pelo fogo! - vociferou Trelawney com uma voz sufocada, aproximando do rosto da garota seus olhos do tamanho de laranjas engrandecidos pelas lentes de seus óculos. - Você não sente, de vidente para vidente, as distantes vibrações do advento da catástrofe? Eu vejo... ah, vejo sim. Você não tem a clarividência suficiente para enxergar o grande perigo aproximando, pobre menina cor de fogo. Eu vejo coisas claras, mas isto não significa que sejam coisas boas. Aquele de alma diminuída virá em seu encalço! Cuidado, Profecia. Grande perigo!

 - Não me faça de Objeto de estudo dos seus vaticínios catastróficos, Olho! - ralhou Rachel, desvencilhando-se do aperto de Trelawney, e, pela primeira vez, suas feições e seu tom de voz expressavam uma raiva distante e um medo impenetrável.


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Notas finais do capítulo

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