La Revenge escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 55
A esperança é a maior e a mais difícil vitória...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/401642/chapter/55


“A esperança é a maior e a mais difícil vitória que um homem pode ter sobre a alma”
Georges Bernanos

Aquilo foi como um grande sacode, um tapa na cara que ele estava precisando há muito tempo. Não havia como se defender, nem como fugir. A realidade estava escancarada bem a sua frente. Ele tinha feito com a Mônica a mesma coisa que acabou de propor que sua irmã fizesse com as violetas. Ao ver que ela estava com problemas, ele simplesmente a abandonou e correu para Irene. Era a alternativa mais fácil, confortável e agradável.

Ele sempre se justificou dizendo que a Mônica estava insuportável, que não agüentava mais sua chatice e seu ciúme. Só que ela podia estar com problemas, podia estar se sentindo mal em alguma coisa e ao invés de tentar ajudá-la, ele achou mais fácil arrancar a planta doente e trocá-la por outra saudável. Sim, Mariazinha estava certa. Ele tinha desistido cedo demais, sem nem ao menos ter lutado.

Ela era ciumenta sim, mas ele sabia que dava motivos. Isso sem falar em sua demora para fazer algo e reatar o namoro. Parte daquilo era culpa dele que não lhe dava nenhuma segurança, não mostrava a menor disposição em lutar por eles.

Então Cebola sentiu que precisava fazer alguma coisa. Por muito tempo ele não cuidou, achou que era só deixar correr sem se preocupar com nada. Então tudo ficou doente e se ele não fizesse nada, ia acabar morrendo. Era por isso que ele não podia desistir. Não sem lutar. E daquela vez ele pretendia jogar pesado. Uma nova energia tomou conta dele, derrubando todo seu mal-estar. Ainda havia esperança. E mesmo que não houvesse, ele estava disposto a criar uma. Quieto ele não ficava mais.

– Espera aqui que eu volto já. – ele falou e correu para a garagem, remexendo as bugigangas a procura de alguma coisa. Quando encontrou, voltou correndo para casa tremendo de frio e encontrou com a Mônica no seu quintal.
– Cebola? O que tá fazendo? – foi a primeira pergunta da moça ao vê-lo segurando um grande aquário de vidro.
– É pla Maliazinha... – ele respondeu nervoso ao vê-la na sua frente. Ela tinha ido procurá-lo! Será que significava alguma coisa? – Vamos entrar que tá frio!

O rosto dela ficou alegre ao ver Mônica entrando junto com o irmão.

– Oi, Mônica!
– Oi, lindinha! Como vai?
– Com muito frio! Minhas florzinhas não vão agüentar.
– Vão sim. Elas precisam se aquecer. – Ele falou colocando o vasinho dentro do aquário e cobrindo com um pano velho de lá. – Vamos colocar perto da janela da cozinha. Ali ainda bate um pouco de sol e o vidro vai manter o calor do lado de dentro.
– Obrigada! Agora ela vai ficar bem!

Eles deixaram a menina contemplando as violetas e foram para a sala.

– Olha, tudo o que eu disse lá na lanchonete... acho que fui dura demais... – ele levantou uma mão pedindo que ela parasse.
– De boa, eu precisei ouvir aquilo pra cair na real.
– Você vai ficar bem agora? Eu preocupo com você, sabia?
– Então eu ainda sou importante pra você?

Ela ficou com o rosto vermelho e ele deu um sorriso. Quem sabe não haveria um resto de sentimento dentro dela? Nem tudo estava perdido.

– O Cascão falou qualquer coisa do Feio ter atacado. – ele falou mudando de assunto para não deixá-la encabulada.
– Pois é. Agora ele tá falando que se não nomearem ele como líder mundial, a Terra vai entrar numa nova era do gelo.
– Pindarolas, isso vai detonar tudo! – O Cascão estava certo. Se aquilo acontecesse, não ia sobrar mundo para ele dominar depois. – A gente tem que achar esse doido!
– Aí é que tá! Nem o Ângelo consegue achar ele! A polícia tá procurando nos esgotos e até agora nada.
– Hum... claro que não. Ele sabe que esse seria o primeiro lugar onde procuraríamos. O novo esconderijo deve ser um lugar menos óbvio.

Ele levantou-se e ficou andando de um lado para outro. Como conseguir alguma pista do novo covil do vilão? Vários lugares foram passando por sua cabeça, mas ele pensou que ia levar tempo demais procurar em todos. Aliás, não havia a menor garantia de que ele estivesse mesmo na cidade.

– Que coisa, viu? – Mônica falou interrompendo seus pensamentos. – O pior é que a Penha sumiu também, dá pra acreditar quanta urucubaca de uma vez só?
– Sumiu?
– É! Dizem que ela foi seqüestrada, mas ninguém explica nada.
– Hum... peraí! Você não andava suspeitando que ela tinha contratado o Feio pra perseguir a turma?
– Eu tenho quase certeza.

Então uma idéia lhe ocorreu.

– Se ela o contratou mesmo, então deve saber onde fica o esconderijo dele!

Ela abriu um largo sorriso, que se desfez logo em seguida.

– Só que ninguém sabe onde ela tá. Eu não duvido nada dele ter seqüestrado ela pra manter segredo.
– É mesmo... mas ainda assim acho que seria bom investigar. Se acharmos ela, poderemos ou ter informações do Feio ou já achar o esconderijo dele. É nossa melhor chance.

Sem controlar o impulso, ela levantou-se e lhe deu um beijo na bochecha, deixando-o abobalhado e com o rosto vermelho.

– É bom ter você de volta, sabia?
– E dessa vez é pra ficar! – ele falou todo derretido. Ah, como era bom ganhar beijos dela! De longe, Mariazinha observava tudo com os dedinhos cruzados.

__________________________________________________________

– Um dia se passou. Acha mesmo que eles irão atender suas exigências?
– Acho não. Tenho certeza. É isso ou ver toda a civilização como conhecemos se acabar.
– Você sabe que se cumprir a ameaça, também será afetado, não sabe?

Ele deu uma risada e fez sinal para que ela o seguisse. Os dois foram até um grande depósito onde ele lhe mostrou provisões suficientes para uma vida inteira.

– Esse lugar é auto suficiente. Aqui eu terei água, comida e combustível para me aquecer até o fim dos meus dias.

– Você ficará sozinho.
– Não é tão ruim. E talvez, depois de sofrer bastante, os sobreviventes resolvam atender minhas ordens para que o planeta volte ao normal. De qualquer forma, eu venço.

Agnes olhou em volta e viu que o lugar era realmente muito grande.

– Quando estive aqui com a Penha, não imaginei que fosse tão grande assim. Você deve ter levado muito tempo. E dinheiro.
– Isso é verdade, mas valeu a pena. É um excelente lugar e ninguém pensará em me encontrar aqui. Afinal, aquela garota só conseguiu com sua ajuda. Os outros não terão a mesma sorte. Falando nisso, por acaso deixou algo para que ela se aquecesse?

Ela fez um muxoxo.

– Por que eu faria isso?
– A temperatura poderá cair abaixo de zero. Se ela morrer, você perderá toda a diversão.
– Droga!
– Cinco minutos. Volte logo.

Sem outra escolha, Agnes sumiu dali e voltou a sua casa. No porão, Penha estava ficando com os lábios roxos de tanto frio. Feio estava certo, deixá-la morrer não ia ter a menor graça. Pensando nisso, ela foi ao seu antigo quarto e viu que ainda havia cobertores que estavam bem velhos e empoeirados, mas bons o suficiente para não deixar aquela idiota morrer de frio. Aquele ia ser o único gesto de boa vontade que Agnes teria com ela.

– E-está m-muito frio! – Penha falou se enrolando rapidamente no cobertor.
– Pode se preparar porque irá esfriar mais ainda.
– O-o que está a-acontecendo?
– O Feio descobriu uma forma de controlar o clima da Terra. Digamos que ele está dando um abraço frio ao redor do planeta!
– Ele é louco! Vai matar todo mundo.
– Isso não faz diferença para mim, como você pode ver.
– Então era para isso que ele queria o dinheiro? E você está ajudando ele? Depois eu é que não valho nada!
– Sim. E por favor, sem lições de moral.
– Você vivia dizendo que ele era repulsivo!
– E é. Mas até que o covil dele não é tão ruim. E é bem maior do que pensávamos! Você ia gostar de ter visto o resto. Hum... – ela pensou um pouco e perguntou para si mesma. – Será que ele se importará se eu me atrasar um minuto ou dois?
– Como é?

Um tentáculo negro invadiu a gaiola, puxando Penha bruscamente contra as grades. Seu pavor aumentou mais ainda quando ela viu um bisturi bem próximo ao seu rosto.

– Não! Por favor, não!
– Ora, qual é o problema? Tem medo de um cortezinho? – Agnes perguntou cortando o rosto dela bem lentamente, fazendo um pequeno risco vermelho enquanto Penha gritava e se debatia como louca.

Agnes a empurrou contra o fundo da gaiola, rindo do seu desespero. Ela chorava olhando para as mãos sujas com o sangue do seu rosto. Por causa do frio, o corte parecia doer mais ainda.

– Isso é só uma pequena mostra do que eu irei fazer. Agora preciso ir. Depois volto para lhe fazer companhia. Prometo que irá esquecer do frio rapidamente.

Agnes sumiu dali, deixando Penha aos prantos. Não havia mais nenhuma esperança para ela.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!