La Revenge escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 38
Existem momentos na vida...




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“Existem momentos na vida em que a única alternativa possível é perder o controle.”
Paulo Coelho

- Mônica? – Araci lhe chamou. – Eu vou dar uma volta na cidade e fazer algumas comprinhas.
- Quer que eu vá com a senhora?
- Não precisa, o que eu vou comprar é leve. Volto na hora do almoço.

Como não tinha mais nada para fazer, ela resolveu aproveitar para caminhar um pouco e ir até a campina dos lírios. Embora não tivesse entendido o conceito de olhar as flores, aquele lugar lhe trazia tranqüilidade.

- Olhar as flores... como é que se olha as flores? Eu já tô olhando! – ela falou consigo mesma e continuou contemplando a campina. Aquelas flores eram muito bonitas e balançavam suavemente ao sabor do vento.

Suas costas começaram a doer um pouco e ela deitou-se na grama, passando a olhar o céu. Alguns pássaros voavam livremente e cantando uns para os outros. Em pouco tempo, tudo o que aconteceu voltou a sua memória. Ela fazia especulações, teorias, revivia diálogos e situações. Era como se um filme passasse na sua cabeça de forma insistente. Por que aquilo tudo tinha acontecido com ela? teria alguma coisa a ver com seu gênio ruim?

O episódio com o Eustácio voltou a sua memória. Depois daquele dia, ela aprendeu a lidar melhor com o burro, inclusive respeitando seu direito de não querer sair do lugar. Seria bom se ela aprendesse a ter a mesma postura com os amigos também...

- Eu era tão mandona com meus amigos... coitados! Devia ser muito difícil pra eles me agüentar. E agora fiquei sem ninguém...

Ela ficou pensando em como poderia ter sido uma amiga melhor, menos mandona e exigente com todos. Seu controle era tanto que ela chegava a controlar até as amizades de todos, especialmente as do Cebola. O mais irônico disso tudo era que não adiantou nada controlar e vigiar. Ele acabou ficando com aquela garota do mesmo jeito, independente do que ela pensava ou sentia.

E não foi só isso que escapou do seu controle. Toda a sua vida pareceu desandar de tal forma que ela não pode fazer nada nem por si mesma, nem por seus amigos. Para alguém tão acostumada a ter o controle de tudo, foi um grande pesadelo ver sua vida desmoronar sentindo-se impotente para tomar qualquer atitude.

- Eu sempre queria ter o controle de tudo, mas parece que não tenho não. Tem coisa que acontece e não posso fazer nada....

Uma brisa levemente perfumada soprou em seu rosto e ela aspirou gostosamente.

- Ter o controle de tudo... eu era muito controladora... – de repente, ela sentou-se de novo e voltou a olhar para as flores. – Só que eu não tenho o controle como pensava...

As flores pareciam balançar de um jeito especial e ela as olhava atentamente. Os lírios apenas cresciam ali, tirando os nutrientes da terra e absorvendo os raios do sol. Eles viviam e cresciam juntos, mas cada um ocupando seu espaço sem querer controlar e nem dominar os outros. Ali, todos eram iguais.

Ela fixou mais o olhar nas flores e aos poucos sua mente foi esvaziando. Aquelas flores não tinham o controle do ambiente ao redor. Pelo menos não o controle total. Embora mudassem a paisagem, a terra onde cresciam e até o ar que as cercavam, elas não controlavam o sol, as chuvas e nem a ação dos animais e do homem. Havia coisas que elas mudavam e coisas que aconteciam independente delas. Assim era sua vida...

Havia coisas que ela podia mudar, mas também havia outras que estavam fora do seu controle. Ela não podia controlar tudo, embora tivesse passado a vida inteira tentando controlar as coisas e pessoas ao seu redor. Ela sempre achou que isso era ser independente e ter atitude. Talvez não fosse bem assim...

Muitas coisas aconteceram na sua vida independente do seu controle e da sua vontade. E certamente muitas outras iam acontecer. As pessoas nem sempre iam fazer e agir como ela queria, nem sempre os fatos iam correr conforme o planejado. Pensar assim lhe deu um pouco de aflição. Será que a vida era um barco a deriva e sem controle nenhum? Se ela não pudesse ter o controle de tudo, onde as coisas iam parar? Sua vida ia se tornar um caos completo!

O balançar das flores lhe chamou novamente a atenção e sem saber como, lembrou-se de um trecho da bíblia que Araci tinha lhe falado há um tempo atrás.

“Olhai os lírios do campo, não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles.”

Será que aquilo fazia algum sentido?

- Engraçado... os lírios não precisam controlar tudo, mas tem o que precisam. A vida deles não é essa bagunça toda não. Eles vivem bem.

Um sentimento de calma foi tomando conta dela novamente. Talvez não houvesse nenhum problema em aceitar que não podia controlar tudo e se concentrar apenas no que ela podia mudar. O resto ficaria por conta do destino, sorte, vida ou seja lá o que estiver controlando as coisas. Talvez houvesse algo maior no controle de tudo e cuidando da Terra e das pessoas.

- Peraí... então era isso que eu precisava aprender? Que não tenho o controle de tudo? Ai minha nossa, o pior é que faz sentido!

Quanto mais pensava, mais chegava a conclusão de que era verdade. E saber disso tirou todo o peso que tinha no seu coração. Ela tinha, enfim, entendido todo o sentido daquela experiência. Um vento leve e perfumado soprou no seu rosto mais uma vez lhe dando a certeza de que tinha achado a resposta certa.

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Era tarde. O sol estava se pondo, tingindo o céu de dourado. As plantas estavam molhadas por causa das estranhas chuvas repentinas que tinham começado a alguns dias.

Dois jovens ocupava um dos bancos da praça. Ambos estavam silenciosos e o rapaz se esforçava para criar coragem e dizer logo de uma vez o que precisava ser dito. Não dava mais para contornar, remediar e nem adiar. Não havia mais volta.

- Por que me chamou aqui?
- Porque precisamos conversar. Olha, Irene, eu sempre gostei muito de você, sempre fomos bons amigos e tudo.
- Sei disso.
- Eu não quero te magoar, sério! Você é uma garota muito legal e não merece isso. Mas... olha, não dá mais. Sinto muito.

O rosto dela entristeceu.

- Você tá querendo terminar comigo?
- Eu não queria que acabasse, fiz de tudo pra ir levando as coisas, só que não tá dando e se a gente continuar junto, não serei o namorado legal que você merece. Foi mal.

Ela abaixou a cabeça, sentindo as lágrimas formando em seus olhos. Apesar de não amá-lo, era muito difícil lidar com a dor da rejeição.

- Fica assim não, por favor! Se eu pudesse mudar isso, juro que mudaria. Só que não posso.
- Sei disso. – ela começou a chorar, deixando-o triste. Mas ainda assim ele não queria voltar atrás mesmo que isso significasse partir o coração dela. O que mais podia fazer? Ele nunca a amou e o pouco sentimento que tinha acabou-se, dando lugar somente a velha amizade de sempre.   

Não havia mais nada que ele pudesse fazer e se houvesse, ele não faria. De alguma forma, ele não se sentia completo com ela, estava faltando alguma coisa que Irene não podia lhe dar. Mesmo que ela fosse a garota mais perfeita do mundo, nada ia preencher aquele vazio que tinha se formado em seu peito.  

- A gente ainda pode ser amigo, você tem a turma e com certeza não vai faltar pretendentes pra você!

Ela parou um pouco de chorar, sentindo-se mais animada. No fim, só importava mesmo continuar na turma. Só que uma coisa ainda lhe incomodava. O que ele ia fazer em relação a Mônica? Será que pretendia ir atrás dela?

- O que você vai fazer agora? – ela quis saber.
- Colocar as idéias no lugar. Tenho andado muito confuso ultimamente. O semestre passado foi uma doideira, tanta coisa aconteceu e virou tudo de pernas pro ar.
- Isso é verdade. – ela pensou um pouco escolhendo as palavras e resolveu arriscar. – E a Mônica? Vai se acertar com ela?
- Com a Mônica? Eu... não sei... acho que só quero ficar sozinho mesmo. O resto se ajeita com o tempo.
- Eu sei que não tenho o direito de te pedir isso mas... você sabe o que ela me fez, não sabe?
- Claro que sei, eu não esqueci disso.
- Se você ficar bem com ela, todo mundo vai se voltar contra mim!
- Eu só voltaria a falar com a Mônica se ela te pedisse desculpas e aprendesse a te respeitar. Caso contrário, sem chances. E se ela voltar pra nossa turma, fica tranqüila que nada vai te acontecer. O pessoal gosta de você e não vai virar a cara só por causa dela.

Irene se remexeu inquietamente. Se a Mônica voltasse para a turma, ia ser muito difícil conviver com ela depois daquela armação. Afinal, ela sabia que tudo foi mentira e sua rival também. Como conseguir encará-la todos os dias? Por outro lado, ela também não podia simplesmente proibi-la de voltar a falar com seus amigos. Talvez fosse bom conversar com a Penha e decidir o que fazer.


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