La Revenge escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 34
Na vida a gente tem que ter diplomacia...




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“Na vida a gente tem que ter diplomacia, tem que saber lidar com todo mundo, mesmo sabendo que todo mundo não se dá com você”
Idson Comunica

Araci observava Mônica com uma mão na cintura e a outra coçando a cabeça. Certo, ela não era via algo assim todos os dias. Até o Rex olhava aquela cena inclinando a cabeça para o lado.

- Ué, o que foi?
- Er... bem... não era isso que eu tinha em mente quando te pedi para trazer o Eustácio...

Eustácio era seu burro de estimação que estava com ela há muitos anos. De vez em quando ela gostava de passear montada nele, por isso tinha pedido para que Mônica fosse buscá-lo no estábulo. Só que ao invés de conduzi-lo segurando uma corda como todo mundo fazia, Mônica o trouxe carregado. O pobre animal zurrava e se debatia visivelmente confuso e assustado.

- Foi mal, é que ele empacou e não queria vir de jeito nenhum. Se eu arrastasse, ia estragar a grama, então carreguei.

A mulher passou a mão na cabeça do burro que ainda tremia de medo numa tentativa de acalmá-lo e depois falou para a moça.

- Mônica, por acaso é assim que você trata as pessoas?

Ela assustou-se com a pergunta. No entanto, Araci não tinha perguntado aquilo em tom de reprimenda, por isso ela não ficou tão nervosa.

- Eu não carrego ninguém não!
- Imagino que não, mas como você age quando a pessoa não faz o que você pede?
- Éeeeee... tipo assim... – ela esfregou a nuca com a mão bastante envergonhada. – Eu insisto, né...

Insistir não era bem a palavra. Desde pequena, ela sempre fora mandona, muitas vezes dando coelhadas e sopapos nos meninos para conseguir o que queria. Depois de crescida ela parou de bater neles, mas ainda continuava com sua postura autoritária de sempre, nunca aceitando um não como resposta.

- O Eustácio está mais calmo. Vamos passear.

Ela foi ao lado do animal acompanhando sua patroa. Rex também acompanhava as duas andando aqui e cheirando ali como todo cão fazia.

- Mônica, deixa eu te dizer uma coisa: à força, não se consegue nada.
- Já me falaram isso. – disse com má vontade.
- Mas parece que você não entendeu. Não estou falando somente de pessoas e sim de tudo. Às vezes quando queremos algo, não medimos as conseqüências para conseguir pode acontecer de passarmos por cima dos sentimentos das outras pessoas.
- Eu não faço isso!
- Tem certeza?

As duas ficaram em silêncio e Mônica começou a pensar nos momentos em que usava sua atitude autoritária para conseguir algo de alguém da turma. Ou faziam o que ela queria, ou ela terminava a amizade. Era meio difícil lhe dizer não porque ninguém gostava quando ela ficava emburrada e de mal humor.

- Você pode pensar que não tem nada demais forçar um pouco para que façam o que você quer, só que tem. Do jeito que carregou o Eustácio, você poderia tê-lo machucado.
- É porque ele esperneou.
- Se uma pessoa te carregasse contra sua vontade, você ia ficar quieta?
- Quê? Não, né? Puxa, foi mal... – ela falou passando a mão no pescoço do burro. – Mas o que fazer quando uma pessoa não faz o que eu peço?
- Antes de mais nada, aprenda a pedir com jeito porque ninguém é obrigado a fazer o que você quer. Negocie, seja diplomática. Pegam-se mais abelhas com mel do que com vinagre.
- E se mesmo assim elas não quiserem fazer o que eu peço?
- Então respeite a decisão delas e não insista.

Ao ver que Mônica tinha feito cara feia, Araci deu uma risada.

- É muito difícil para você, não é? Tão acostumada a mandar e conseguir o que quer!
- Hunf!
- Mas a vida é assim mesmo, menina. Ninguém nasceu para fazer suas vontades, sabia? Aprenda que não é não. Gosta quando insistem para você fazer algo que não quer?
- Eu detesto isso!
- Pode acreditar que as outras pessoas detestam também.
- Isso é. Puxa... será que o Cebola estava cansado de mim por causa disso?
- Não sei, não posso dizer o que se passa na cabeça dele.
- Aposto que sim. Ele e o resto da turma. Ai, eu foi uma amiga muito ruim!
- Não se condene. Mude, melhore e aprenda.
- Vou dar o meu melhor.
- Ótimo. Você está a um passo de entender por que tudo isso te aconteceu, sabia?
- Eu tô? Como assim?
- Terá que descobrir sozinha. Agora volta para casa e coloque lenha para queimar no fogão. Daqui a pouco eu vou fazer o almoço.
- Tá bom...

Mônica fez o caminho de volta ainda pensando no que Araci tinha lhe falado. Em parte ela tinha entendido o enigma. Qual seria a peça que faltava?

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- O que foi, lindo? – Irene perguntou ao notar que Cebola estava um pouco frio e distante, não correspondendo aos seus beijos como antes.
- Nada não, só tô preocupado com os problemas do bairro. E a gente não pode ficar se pegando muito aqui na escola não que pode dar encrenca.
- Ué, estamos no intervalo.
- Mesmo assim. Aqui não é lugar pra isso.
- Eu heim! Desde quando você se importa com isso?

Cebola tentou despistá-la da melhor forma possível sem ter que falar a verdade: ele não sentia mais por ela a mesma atração de antes. Sua consciência pesava, ele se sentia mal e se recriminava o tempo inteiro por não estar dando valor a uma namorada tão boa quanto ela. Ainda assim algo dentro dele parecia rejeitá-la. Toda a fascinação inicial estava se desvanecendo e ele já não sentia o mesmo encanto.

- Não fica preocupado com esses problemas do bairro, que você não pode fazer nada. – ela falou acariciando seus cabelos. E ele se esquivou e falou rispidamente.
- Como você sabe que eu não dou conta? Por acaso não confia em mim? – ao ver o espanto no rosto dela, ele logo se arrependeu. – Peraí, foi mal.
- Tudo bem. – algumas lágrimas apareceram nos olhos dela, deixando-o um tanto irritado. Que coisa mais estranha! Antes, aquelas lágrimas tinham o poder de derreter seu coração e despertar seu lado protetor. Agora apenas o irritavam. Será que aquela garota tinha que chorar por causa de qualquer bobagem?

Diferente dela, a Mônica não se desmanchava por qualquer frase atravessada. Ela brigava, respondia a altura e depois tudo ficava bem. Por que Irene tinha que ser tão sensível?

Mais uma vez ele se recriminou por pensar daquela forma. Afinal, ela era uma garota delicada e frágil que precisava ser tratada com cuidado. Mas será que tinha que ser o tempo inteiro? Com ela, ele sempre tinha que tomar cuidado com o que falava ou ela se desfazia em prantos. Já com a Mônica não havia essa preocupação.

Ao ver que estava pensando demais e ficando confuso, Cebola resolveu sair dali rapidamente, ignorando os protestos da namorada.

- Eu tenho que resolver umas paradas com o Cascão. A gente se vê.

Ele saiu dali rapidamente. Não dava para evitar, alguma coisa estava muito errada ali e por mais que tentasse, ele não conseguia ignorar.

Talvez ela estivesse exageradamente parecida com a Hortência, mais do que ele gostaria. Quem sabe se ela fosse menos frágil e delicada, as coisas não poderiam melhorar entre eles?


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