La Revenge escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 26
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional




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“A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”
Carlos Drummond de Andrade


Ela estava sentada na campina olhando os lírios com um olhar distante. Por que Araci lhe falou para aprender a olhar aquelas flores? Apesar de bonitas, eram apenas flores e nada mais.

Fazia cerca de um mês que as aulas começaram. As coisas estavam indo razoavelmente bem dentro do possível. Embora não pudesse dizer que tinha feito grandes amigas, pelo menos as garotas da sua sala conversavam um pouco com ela. Mas na hora do recreio ficava sozinha já que elas preferiam formar suas próprias panelinhas.

A única coisa ruim que aconteceu foi que de alguma forma, aquelas garotas chatas e irritantes resolveram fuçar seu facebook e de tanto procurar, acabaram se deparando com o escândalo daquela briga com a Irene. Aquilo teve um lado bom e outro ruim. O lado bom é que elas lhe deixaram em paz ao ver o suposto estrago feito no rosto da sua rival.

O lado ruim é que vários outros alunos ficaram meio de lado com ela, talvez com receio da sua fama de valentona e briguenta. Embora ninguém lhe maltratasse, preferiam manter uma distância segura.

Algumas garotas diziam que teriam feito a mesma coisa no lugar dela. Outras ficaram chocadas e até os rapazes começaram a evitá-la. Pelo menos o tal do Joãozinho não ficava mais lhe rodeando, o que contribuía para que aquela chata lhe deixasse em paz.

- Como você está? – uma voz falou atrás dela e Araci sentou-se do seu lado.
- Me sinto melhor agora. Nossa, ontem foi difícil lá na escola, viu?
- Os alunos lhe trataram mal?
- Tipo assim, o pessoal até conversa um pouco comigo, mas estão meio de lado por causa daquelas fotos da Irene no facebook. Todo mundo tá pensando que eu fiz mesmo aquilo.
- Você é inocente e sabe disso. O resto é resto.
- Só que eles não sabem e muita gente tem até medo de mim agora!

A mulher deu um sorriso enigmático.

- Infelizmente, as pessoas só acreditam nas aparências. Se deixam levar por qualquer fofoca sem investigarem a fundo.

Mônica ficou em silêncio e voltou a olhar as flores. Para animá-la, Araci falou.

- Gostei do trabalho que fez no galinheiro. Está um brinco agora.
- Obrigada. – ela falou sentindo-se melhor.
- Só precisa ter um pouco mais de cuidado na hora de aguar a horta. As plantas são delicadas e precisam de carinho.
- Tá...

Assim era Araci. Sempre elogiava quando ela merecia, mas também repreendia quando necessário. Tudo na medida certa. Até que trabalhar naquela chácara não era tão ruim. A única coisa de que ela não gostava era ter que acordar às cinco e meia da manhã. Tirando isso, o resto era mais tranqüilo e ela estava começando a se acostumar com o serviço na chácara.

- Essas flores são lindas, não são? – Araci perguntou quebrando o silêncio.
- Muito.
- Mas você ainda não aprendeu a olhá-las.
- Ué, eu tô olhando!
- Não do jeito certo. Sua cabeça está muito confusa e cheia de pensamentos.
- Isso é. Fico pensando umas coisas aqui.
- E o que ocupa tanto sua mente que não te deixa olhar as flores?

Ela pensou um pouco e respondeu mostrando visível amargura.

- Por que essas coisas me aconteceram? Isso não é justo! Tá certo que eu sou muito chata, mandona e teimosa, mas será que eu mereci tudo isso?
- É você quem deve responder.  
- Aquela safada da Irene aprontou pro meu lado, fui expulsa da escola, fiquei sem meus amigos e o Cebola me abandonou pra ficar com ela! É isso que me dói mais, sabia?
- O rapaz ter te trocado por outra?

Algumas lágrimas voltaram aos seus olhos.

- Eu o amava tanto... acho que ainda o amo e é isso que me mata por dentro! Ele me tratou como lixo, me deixou de lado e até falou que eu morri pra ele! Ainda assim não consigo esquecer aquele traste! Ai, que ódio!
- Vejo que seu coração está muito cheio de mágoa. Sabe, isso faz mal ao nosso corpo. Pode até criar doenças.
- Mas o que eu posso fazer? Dói demais!

Araci deu uma risadinha e um tapa voou na cabeça da Mônica, pegando-a de surpresa.

- Ai! Que é isso?
- Isso o quê?
- A senhora me bateu!
- Ainda reclama? Já passou!
- Só que tá doendo! Que mão pesada!

Ela afagou a cabeça da moça onde tinha batido anteriormente e falou com a voz doce.

- O passado também dói. Mas é só passado. Aconteceu um dia, agora não acontece mais.
- Então por que ainda dói?
- É como o tapa. Dói por um tempo e depois passa. O que prolonga a sua dor é viver sempre remoendo o que aconteceu. Então a dor se transforma em sofrimento.
- Achei que dor e sofrimento fossem a mesma coisa.
- Não. Dor é o tapa que você levou na cabeça. Sofrimento é ficar remoendo esse tapa a vida inteira.
- Então você acha que eu não devia reclamar do que fizeram comigo? Acha que eu não devia ficar magoada? – ela perguntou indignada.
- Acalme-se, menina. Sei que é difícil entender, mas sabe... muitas vezes o problema não é o que nos acontece e sim como reagimos ao que nos acontece. As coisas podem nos atingir e causar dor, isso é inevitável. Mas é a forma como reagimos a essas coisas que pode nos trazer alivio ou mais sofrimento.

Dava para ver que a moça não tinha entendido nada. Era um conceito abstrato demais para alguém como ela.

- Tente pensar com mais calma e continue contemplando as flores. Um dia você irá entender que ninguém pode te fazer feliz ou infeliz sem seu consentimento. Eu sei que o passado dói, sei que está magoada, ferida, que se sente traída e deixada de lado. É natural sentir assim. Aceite esses sentimentos como são. Não aumente e nem diminua. Apenas os observe. Isso não vai mudar o que aconteceu, mas lhe trará calma e paz.

Ela levantou-se dali, deixando Mônica sozinha novamente com as flores. Aquela senhora tinha idéias muito diferentes das que ela conhecia!

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Na casa da Carmem, as garotas se divertiam numa mini-festa da piscina que ela tinha organizado. Era só um encontro de garotas onde os rapazes não podiam entrar, apesar do protesto deles.

- Gente, olhe só o meu biquíni novo! - Carmem falou se exibindo. – Lindo, né? Custou uma nota e tô estreando hoje!
- É lindo demais e combina com você! – Irene elogiou fazendo com que Carmem inchasse de orgulho. Ela sim era uma boa amiga que sempre elogiava suas roupas, seus cabelos e sua beleza.

A festinha estava bem animada e Irene colocou um CD de uma banda da moda. Todas começaram a dançar alegremente.

- Ai, eu adoro essa banda! Eles cantam cada música linda! – Isa falou sacudindo o corpo ao som da música.
- ELES são lindos, gatz! A música é o de menos. Aumenta o volume Irene! Uhuuu!

Magali estava sentada a beira da piscina espirrando água com os pés e perdida em seus pensamentos. Será que a Mônica estava bem? Ela nunca mais teve notícias da amiga desde o final de julho. Ela tinha tentado ligar algumas vezes, mas dava sempre a mensagem de que o telefone estava desligado ou fora de área. Mandar e-mails também não adiantava, já que nenhum era respondido. Certamente não tinha internet onde ela estava.

- Oi, Magá.
- Oi. – ela falou com um pouco de má vontade. Desde quando ela tinha dado intimidade para aquela garota chamá-la de Magá?
- Você quer?

Irene lhe estendeu uma bandeja com canapés de palmito. No início Magali quis recusar, mas eles estavam tão bonitos que ela acabou pegando um e depois mais três.

- Tá bom. Foi você quem fez?
- Foi sim. Eu adoro cozinhar!
- Juraaaaaa? – seus olhos até brilharam.
- Pois é. Eu sei fazer uma receita de torta fria que todo mundo adora!
- Torta fria? Nunca ouvi falar.
- É uma torta salgada feita com presunto de Parma, mussarela, queijo romano, pepperoni, salaminho, ovos picados e tudo fica misturado numa massa cremosa que fica divina!

À medida que ela foi descrevendo a receita, a boca da Magali se encheu de água. Irene ficou satisfeita ao ver que estava conseguindo pescar a melhor amiga da Mônica pelo estômago. Aos poucos ela ia conquistando cada membro da turma, descobrindo seus gosto e formas de agradá-los. Aquela era a vida que ela sempre quis.


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