La Revenge escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 22
As mudanças nunca ocorrem sem inconvenientes...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/401642/chapter/22


“As mudanças nunca ocorrem sem inconvenientes, até mesmo do pior para o melhor”
Richard Hooker


Havia passado a terça parte do mês de julho e os pais da Mônica não conseguiam encontrar um novo colégio que a aceitasse, nem mesmo as escolas públicas. Seus receios estavam certos. Além de ser difícil arranjar vaga no meio do ano, as escolas também não queriam aceitar uma aluna que tinha sido expulsa por causa de briga.

Por isso eles tiveram que tomar uma decisão difícil. Era isso ou deixar que Mônica perdesse o ano. Souza e Luisa, cada um num telefone diferente, iam ligando para os parentes de outras cidades a procura de algum que pudesse ajudar. Se conseguissem hospedagem para Mônica até o fim do ano, eles poderiam tentar arranjar outro colégio numa cidade diferente.  

Só que a procura não estava dando em nada. Uns não podiam recebê-la. Outros moravam muito longe de qualquer escola. Os dois estavam começando a ficar desanimados quando receberam o telefonema de uma tia.

- Tia Joelma? – Luisa atendeu esperançosa. – Como vai?
- Muito bem, querida. Escuta, fiquei sabendo que vocês estão procurando um lugar para Moniquinha ficar e terminar os estudos esse ano.
- Sim, só que não estamos conseguindo!
- Acho que posso ajudar.
- A senhora? Mas escola nenhuma dessa cidade quer aceitar a Mônica!
- Nessa cidade não, mas tem uma cidade do interior onde eles poderão aceitá-la.
- Que cidade é essa?

Quando Joelma falou o nome da cidade, Luisa ficou preocupada pois eles não tinham parentes morando ali. Sua tia explicou.

- Tem uma amiga minha que mora nessa cidadezinha e é dona de uma chácara. Ela está procurando alguém para ajudá-la a cuidar das coisas, pois já tem setenta e cinco anos. Você sabe, a idade...
- Sua amiga pode receber a Mônica?
- Ao que parece, a Moniquinha é exatamente o que ela está precisando. Eu até telefonei pra ela e expliquei tudo.
- E ela aceitou?
- Sim. Disse que ela vai ter quarto, comida, poderá ir para a escola e até vai receber um salário mínimo.

Ela levou um susto. Aquilo era bom demais para ser verdade. Só restava saber se eles poderiam confiar nessa mulher. E se ela tivesse mal intencionada e forçasse sua filha a fazer coisas ilegais e obscenas?  

- Teria jeito de a gente ir até essa cidade conversar com sua amiga? Meu marido e eu temos que falar com ela, olhar o local... essas coisas.
- São três horas de ônibus, acho que de carro dá duas e meia. É um pedaço de chão!
- Tudo bem, não ligamos. Se for mesmo um bom lugar para deixar a Mônica, então vale a pena.


As duas acertaram alguns detalhes e Luisa desligou. Souza estava do lado dela com os olhos arregalados e roendo as unhas.

- Deixar nossa filhinha na casa de uma estranha numa cidade desconhecida? Você tem certeza? E se ela não se adaptar? A Mônica nunca foi garota de morar em cidade do interior!
- Pensa que eu estou gostando disso? Claro que não! Por mim, ela ficaria com a gente, mas assim vai perder o ano!
- Talvez seja preferível...
- Não será bom para ela ficar atrasada nos estudos, então vamos conhecer essa amiga da tia Joelma e se tudo estiver em ordem, deixaremos Mônica com ela só até o fim do ano. Agora, se tiver alguma coisa errada, a gente volta para trás e não fala mais nisso.

No dia seguinte, eles conseguiram licença em seus trabalhos e partiram de carro para a cidade do interior. O lugar era mesmo longe e quando chegaram, eles ainda tiveram que rodar um pouco mais porque a chácara não ficava dentro da cidade e sim em suas imediações.

Apesar dos seus receios, Souza e Luisa adoraram. Era um lugar encantador e a Mônica não ia ter que fazer trabalho muito pesado ali. Era basicamente fazer alguns serviços e servir de companhia a uma senhora idosa.

A escola da cidade também agradou apesar de ser bem mais simples e com ajuda de Araci, eles conseguiram uma vaga para Mônica com a condição de que ela se comportasse bem e não arranjasse briga.

- A senhora tem certeza de que quer receber nossa filha? – Luiza perguntou – Ela nunca fez esse tipo de trabalho e tem o gênio meio difícil. Nós conversaremos muito com ela, mas ainda assim...
- Não se preocupe, tudo caminhará bem. Mas por que não a trouxeram? Ela é a parte interessada, deveria opinar também. – Souza balançou a cabeça.
- Depois de tudo o que aconteceu, não podemos nos dar a esse luxo. Ela fez algo muito grave e agora terá que aceitar qualquer coisa.

Araci não gostou muito de ouvir aquilo. Mesmo que aquela moça tivesse errado, ainda era um ser humano com sentimentos.

- De qualquer forma, ela será bem tratada aqui e receberá um salário todos os meses. – Luiza discordou.
- Não precisa! A senhora está nos fazendo um grande favor hospedando a Mônica na sua casa e nós vamos custear todas as despesas dela.

A velha índia olhou os dois muito séria e falou com a voz firme.

- Sua filha fará aqui o mesmo trabalho que qualquer empregado faria. Então nada mais justo que receba o mesmo. Eu não pretendo explorar ninguém e jamais aceitaria ter uma pessoa trabalhando a troco de nada.

Havia alguma coisa no tom de voz daquela senhora que deixou os dois sem coragem para retrucar.

- Está bem. – Souza falou. –Então a senhora pode transferir para uma conta que abriremos para ela na nossa cidade.
- Ela não deveria receber esse dinheiro?
- A senhora sabe como são os adolescentes. Sempre gastam tudo com besteira e a Mônica está de castigo, não deveria ter nenhuma regalia.

Mais uma vez Araci discordou.

- Não podem deixá-la aqui sem receber nenhum tostão para suas despesas. Deixem que ela receba pelo menos cem reais. O restante pode ser depositado e que fique bem claro: esse dinheiro é DELA.

Eles não tiveram coragem para discutir. O que tinha naquela mulher que os deixava sem ação? Era como se estivessem diante de alguma autoridade. Tudo acertado, eles voltaram para buscar Mônica e suas coisas. Pelo menos esse problema estava contornado.

Quando seus pais voltaram, Mônica viu que tudo foi feito a sua revelia. Ninguém lhe perguntou nada. Se bem que ela não se sentia com forças para discutir, por isso acatou a decisão passivamente. Não havia outra opção.

Ela arrumava suas coisas sentindo um grande pesar por deixar seu bairro para morar numa cidadezinha do interior e ainda ter que trabalhar em uma chácara. Mesmo sabendo que não ia perder o ano, seria bem cuidada e receberia um salário, ela não se sentia feliz. Além de ter perdido seus amigos, também ia ficar longe dos seus pais e da sua casa?

“Vai ver querem ficar livres de mim, só pode! Não duvido nada eles me esquecerem lá e nunca mais voltarem de novo!” aquele pensamento fez descer uma lágrima pelo seu rosto, que ela enxugou rapidamente. Não, chega de chorar. Aquilo estava ficando cansativo demais e não lhe ajudava em nada. Ninguém se comovia, ninguém se importava.

Restava apenas aceitar seu destino sem protestar. Era isso ou perder o ano. E seus pais estavam preocupados demais com isso, então ela não queria lhes dar mais esse desgosto.

Antes de partirem, eles tinham lhe feito milhares de recomendações para que se comportasse muito bem no novo colégio e não arrumasse briga com ninguém. Ela apenas ouviu sem falar nada. Não adiantava mesmo.

Na sua bagagem estava o suficiente para os meses seguintes. Roupas, sapatos, acessórios, o Sansão e alguns artigos de beleza e higiene. Também havia material escolar para aquele semestre e seu celular, que ia ser usado somente para conversar com seus pais.  

- Filha, você já acabou?
- Já. – respondeu lacônica.
- Por favor, não fique assim! Se pudéssemos escolher, você ficaria aqui em casa!
- Sei. – ela não acreditou em nenhuma palavra.
- Vamos, seu pai já está esperando por nós.

Sem falar mais nada, Mônica pegou sua bagagem e seguiu sua mãe, saindo de casa pela primeira vez depois de vários dias. Depois de colocar as malas no carro, ela viu Cascão e Magali no outro lado da rua. Seu coração se apertou e ela esforçou para não derramar mais nenhuma lágrima. Foi em vão, porque acabou chorando muito quando Magali correu para lhe dar um abraço, sendo seguida pelo Cascão que ainda estava de muletas.

- Gente... e o Feio? – ela perguntou entre soluços.
- Eu não vou deixar de me despedir da minha melhor amiga por causa daquele maníaco!
- Sempre que puder, vê se manda notícia valeu? – Cascão também falou triste pela partida dela.

Mônica até pensou em perguntar pelo Cebola, mas desistiu. Se ele não estava ali, era porque não se importava nem um pouco com sua partida. Depois de despedir dos amigos, ela entrou no carro enxugando as lágrimas e se foi deixando para trás seus dois amigos, o bairro onde tinha crescido e a vida com a qual estava acostumada. Era o início de uma nova fase.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "La Revenge" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.