"–Só mais alguns minutos Mei-Lin, só mais alguns minutos, você consegue..só mais.. -Os olhos pesados se fecharam."

A última coisa que Mei-Lin se lembrava era de estar fechando os olhos, ela não sabia quanto tempo havia passado, estava morta ou aquilo era um sonho? Um pesadelo? Ela só sabia que estava quente, muito quente e abafado, cheiro de fumaça por todo o lugar, ao longe ela viu um pequeno brilho vermelho, amarelo no começo era pequeno e devagar começou a se expandir. Estava perto, mais um pouco e ela poderia tocá-lo, apenas alguns centímetros, sua mão estava quase tocando o brilho quando ouviu a voz de alguém gritando seu nome. E depois puxões, alguém estava tentando acordá-la, mas ela não queria ser acordada, não queria se afastar do brilho vermelho.

– Rápido....antes que chegue aqui...salvem-na..

Mei-Lin ouvia alguns fragmentos de conversa quando seu olho finalmente abriu, ainda sonolenta ela perguntou.

– O que está havendo? Onde estão me levan.. - Ela recomeçou a tossir, mas dessa vez não era a sua doença, era fumaça.

–Por favor senhora, fique parada nós estamos.. - O homem que a carregava nos braços também começou a tossir - levando-a para fora, o castelo está em chamas.

Tudo agora fazia sentido, o calor, a falta de umidade, a fumaça, o sonho, o brilho, aquele brilho era fogo...e se tinha fogo onde estavam seus filhos? Ela começou a se debater nos braços do homem.

– Meus filhos, onde eles estão?

Silêncio.

– OS MEUS FILHOS, ONDE ELES ESTÃO? - Ela gritava em desespero, a fumaça sufocando-a.

Eles já estavam perto da portão principal, centenas de pessoas do lado de fora viram Mei-Lin sair sã e salva do castelo nos braços de um criado, alto e forte. Ele desceu as escadarias rumo a rua, para perto das pessoas, longe do incêndio que agora se espalhava cada vez mais rápido.

– Os meus filhos, ela sussurrava baixinho olhando para o chão.

Alguém do seu lado direito abraçou-a, oferecia um ombro para chorar, ela não queria chorar, queria os filhos. Estava decidida, ela voltaria e acharia seus pequenos. Começou a caminhar, mas a pessoa a sua direita ficou a sua frente, impedindo sua passagem.

– Eu sei que você quer voltar e pegar seus filhos, mas não pode.

– Não só posso como vou. - Falou seriamente.

– Sinto muito mas não posso deixar que isso aconteça, todos eles já devem estar mortos, o fogo começou na sala onde a coroação estava sendo realizada. Acreditamos que algum suposto convidado fez isso.

Agora ela estava abalada, os olhos ardiam, as unhas entrando nas palmas das mãos. Os joelhos na terra, o vento frio, ela não ficaria ali parada. Juntando suas forças ela se ergueu e correu para o castelo em direção a sala da coroação.

Em meio ao caminho, suas pernas fraquejaram e ela teve uma crise de tosse. Ouviu passos atrás de si, alguém devia tê-la seguido, iam tirá-la de lá. Seu corpo estava pesado, ela mal conseguia manter-se de pé. Estava caída no chão quando ouviu um grito ao longe.

– Ma-máaaaaaaaaaaaa.. você está aqui?

– Meu pequeno Yuan-Li - aquela voz, sem dúvida era ele. - YUANN-LI..

– Ma-má estou aqui, no corredor, onde você está?

– Estou chegando, não se mecha é perigoso. - ela se arrastava pelo chão, pois não tinha mais forças para se levantar.

Braços agarraram suas costas e a levantaram do chão, alguém tinha ouvido ela gritar ou eram da pessoa cujo os passos ela tinha ouvido?

– Nós temos que sair daqui. - Disse a pessoa, a voz grave então Mei-Lin deduziu ser um homem.

– Yuan-Li, meu filho esta vivo, ele está vivo temos de salvá-lo.

– Não, nós temos de sair. - quando terminou a frase e olhou para frente, o homem viu uma criança deitada a poucos metros de distância de onde ele e Mei-Lin estavam, a criança estava viva ele tinha de salvá-la também, era seu dever como guarda proteger os membros da família real. - Encontrei, por favor senhora fique aqui que eu volto logo.

Ele saiu correndo em direção de onde a criança estava, perto antes que alcançasse o menino deitado, uma coluna de madeira em chamas caiu, bloqueando seu caminho, não tinha outra saída, ele tinha de voltar para onde Mei-Lin estava e os dois tinham de sair de lá o mais rápido possível, talvez ainda tivessem alguma chance.

O guarda só não sabia, que de longe Mei-Lin viu a cena, ele correndo para salvar Yuan-Li e voltando no mesmo instante, deixando o filho caçula dela para morrer em meio as chamas, aquilo a devastou, ela estava vendo seu filho morrer enquanto alguém corria para salvá-la, quem dera pudesse trocar de lugar com os filhos, pensou. E então nada.

Aquela era sua última lembrança, a mais terrível de todas, nada mais doloroso para uma mãe, do que ver seu filho morrer e não poder fazer nada para ajudá-lo, os gritos ainda assombravam seu sono. Duas semanas haviam se passado e ela tinha tomado uma decisão, ela vingaria sua família, ela mataria o responsável, ela desafiaria qualquer um, ela seria a primeira mulher a lutar, ela estava morrendo...

Em algum lugar ao longe Karen sentia uma dor insana no peito, era a dor de perder os filhos que ela tanto amara.