Meu Doce (In)Desejado escrita por Buzaid


Capítulo 25
Capítulo 24




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– Estou te falando, Victória! As coisas não mudaram entre eu e ela. - Henry afirmava sem muita paciência. Ele estava na sacada de sua suite no Four Seasons enquanto Carolina tomava banho. Aquele era o sexto dia da viagem.

Não é possível!– Victória exclamou inconformada do outro lado da linha. - Vocês não devem estar se esforçando o suficiente...

– Ah, por favor, não diga o que não sabe! - Henry ficava enfurecido quando a mãe tentava adivinhar as coisas. - O problema é que Carolina e eu somos incompatíveis. Não há nada que possamos fazer para mudar isso!

Henry, você pode falar o que for, eu ainda tenho esperanças de que um dia vocês dois terão uma relação normal.– Victória afirmava cheia de certeza. - Mas para isso vocês precisam engolir um pouco do orgulho e se abrirem mais um para o outro. Entende o que quero dizer, filho?

– Victória, não dê uma de terapeuta de casais! - Falou enervado. - Mesmo porque não há um relacionamento para ser tratado, Carolina e eu não somos nada além de um acordo entre Llyoal do Norte e Llyoal do Sul.

Continue pensando assim que vocês dois nunca chegarão a lugar algum.– A rainha declarou. - Agora não esqueça que esse lugar algum durará o resto de sua vida, meu filho.

– Agora além de terapeuta você está dando uma de filósofa também! - Henry provocou.

Henry, agora, claramente, não é uma boa hora para falarmos.– Victória afirmou. - Acho melhor termos essa conversa quando você voltar.

– Eu não poderia estar mais de acordo! - Henry desligou o telefone e contou até dez mentalmente. Sua mãe ainda ia lhe causar um ataque de nervos, concluiu então.

Ao analisar os últimos cinco dias que se passaram Henry tinha que admitir que não houve uma real tentativa dele ou de Carolina para fazer com que sua convivência se tornasse ao menos suportável. Qualquer motivo bobo acabava sempre em brigas ou em provocações sem fundamento. Era a única forma que eles conseguiam interagir um com o outro. Sentiam-se à vontade apenas assim… brigando. Como se ter uma conversa normal fosse constrangedor, o contato olho-no-olho durante um breve momento de trégua os fazia sentir crianças no jardim de infância ao brincar com alguém do sexo oposto…

É claro que momentos de trégua foram bem raros. Pondendo contá-los nos dedos…de uma mão. Mesmo assim, esses momentos foram responsáveis por deixar o príncipe e a princesa envergonhados, sem saber como agir. Não por um estar apaixonado pelo outro porque, sem dúvidas, não estavam. Mas por que é estranho conversar normalmente com uma pessoa que você está acostumado apenas à discutir, provocar, cutucar e brigar.

Um desses momentos aconteceu no terceiro dia de viagem. Um dia depois de Henry ter inundado a suíte do Four Seasons. Carolina parecia tê-lo perdoado. Ao menos não havia aberto a boca para falar dos acontecimentos da noite anterior.

– Mamma Mia? - Carolina sugeriu ao sentar-se no sofá preto de couro da sala.

– De mulherzinha… - Henry respondeu. Ele também estava no sofá, acomodado com as pernas abertas e o tronco jogado de qualquer jeito no meio de duas almofadas.

– Wicked?

– Infantil demais.

– O Fantasma da Ópera?

– Comum demais.

– Rock Of Ages?

– Muita música…

– Esse é o objetivo de um musical, Henry! - Carolina rodou os olhos entediada. - Sugira algum… - Pediu sentindo-se derrotada. Nem sequer na simples escolha de um musical eles conseguiam entrar em comum acordo.

– Chicago! - Henry disse. Carolina procurou pelo musical no panfleto que carregava em mãos e então leu a sinopse em voz alta: - Chicago é um conto musical sobre assassinato, ganância, corrupção, violência, exploração, adultério e traição. Venha pintar a cidade de vermelho com as queridas assassinas Roxie Hart, Velma Kelly, o advogado figurão, Billy Flynn, e a coreografia icônica Bob Fosse. - A princesa girou os olhos. - Esse não! - Afirmou ao fechar o panfleto novamente. Carolina já podia visualizar-se passando o resto da noite trancada naquela suite junto com o irritante príncipe. Pensava que se ao menos fossem ao teatro teriam uma boa desculpa para ficarem 3 horas sem se falar... - Já sei, vamos assistir ao Rei Leão. - Declarou então. As costas do panfleto levavam a propaganda de tal musical e Carolina o achou interessante. - Acredita que esse eu nunca assisti?

– Bem, eu já o assisti. - Henry respondeu de forma rígida. Carolina podia perceber que havia algo de errado com ele.

– E gostou?

– Prefiro não falar sobre isso. - Afirmou então de uma forma estranhamente grosseira.

– Como assim, Henry? Apenas diga se a peça é boa ou não. Porque eu gostaria muito de assisti-la!

– Não me lembro, O.K? - Bradou.

– Do que está falando? - Carolina não entendia o porque daquela revolta.

– Porque meu pai morreu no dia que eu estava assistindo à essa peça, tá legal? - Falar sobre a morte de seu pai ainda era algo extremamente doloroso. Carolina, na verdade sabia da trágica morte do rei Rupert em um teatro, entretanto não se lembrava dela ter sido durante um musical de O Rei Leão.

– Henry! - Carolina exclamou em choque. Aquela era a primeira vez desde que se conheceram que ela havia sentindo pena do rapaz.

– Eu sei… - Ele concordou meio sem jeito. Nem sequer conseguia encarar Carolina nos olhos. As memórias do dia do falecimento de Rupert ainda ardiam em seus pensamentos como se tivesse sido ontem…

O verão de 2010 fora provavelmente o mais quente que as terras llyonenses já tiveram… Há anos que o imponente teatro de Llyoal do Norte estava fora de funcionamento. Com as portas trancadas ele apenas servia como plano de fundo nas fotos de raros turistas que por lá passeavam. Após grande insistência de Victória, Rupert resolveu reabri-lo. A peça escolhida para a grande reestréia era uma das favoritas do então rei, o clássico O Rei Leão. Naquela noite, faziam exatos 39 graus e todos que haviam sido convidados para aquele o importante evento não podiam estar mais encalorados - mesmo com o ar do teatro ligado no máximo…

Durante o último ato da peça, Rupert levantou-se de seu acento com a desculpa de que ali estava muito calor e ele sentia que sua pressão iria abaixar à qualquer momento. 40 minutos se passaram e nada dele voltar. Henry decidiu procura-lo e então que o pior aconteceu. O rei fora encontrado caído no chão do banheiro. Henry chamou os paramédicos pois achou que o pai tinha desmaiado, mas, infelizmente, fora constatado que Rupert estava morto, vitima de um enfarto fulminante… Aquela fora a única vez que Henry Caldwell chorou!

– Não precisamos assistir ao Rei Leão. Na verdade, ouvi da crítica que não é uma peça muito boa! - Henry riu debochado. Ele não conhecia aquele lado sensível e legal de Carolina.

– Não precisa fazer isso! - Ele disse.

– Isso o que? - Carolina fingiu-se de desentendida.

– Ser legal. - Henry respondeu ainda sem coragem de encarar Carolina. Ela também estava envergonhada em ter aquela conversa. tão íntima e séria.

– Henry, eu, sinceramente, não sei como é essa dor que você está sentindo. Mas eu sei que ninguém merece senti-la e se eu puder fazer com que você se sinta melhor em relação à ela, eu farei. - Carolina não sabia o porque de ter falado aquilo ao rapaz. Mas ao menos tinha sido sincera. Henry, então, encarou-a. Por alguns segundos não disse nada. Apenas deixou-se mergulhar no azul de seus olhos. Carolina sentiu seu estômago encolher e suas mãos começarem a suar… Henry, naquele instante, olhou-a de uma forma diferente. Como se tivesse algum tipo de carinho especial por ela. "O que está fazendo?!" pensou em um súbito momento de consciência.

– The Book Of Mormon! - Ele falou então.

– O que ? - Carolina questionou sem entender.

– Podemos assistir The Book Of Mormon, dizem que é engraçado.

– Ah, certo, podemos. - Sorriu envergonhada.

Não demorou muito, porém, e os dois já estavam brigando novamente. Desta vez, pelo horário que comprariam os ingressos do teatro. Isso porque Henry gostaria de ir mais cedo enquanto Carolina gostaria de ir mais tarde. Tudo acabou se resolvendo, de uma forma muito madura, quando ela afirmou "você já escolheu a peça, não pense que escolherá o horário também."…

E assim foram os dias que se seguiram. Ambos discutiam na escolha dos restaurantes em que comeriam. Nas galerias de arte em que iriam. Nos cafés que tomariam de tarde. Nas lojas em que fariam compras. Nas ruas que caminhariam. E até o horário em que iriam ao Central Park, se de manhã ou de tarde.

– Está pronta? - Henry questionou ao adentrar a suite e deparar-se com Carolina já vestida.

– Falta a maquiagem. - Ela respondeu. - Estava falando com Victória?

– Estávamos discutindo. - Ele contou. - Ela simplesmente não nos entende. Disse que não estamos tentando o suficiente.

– Henry, não sei porque você ainda perde tempo discutindo com sua mãe. Apenas concorde com ela. - Carolina afirmou. - Faço isso com meu pai. É o melhor.

– Pode ser… - O rapaz, surpreendentemente, concordou. - Carolzinha, passe logo esse reboco na cara, porque o Benihana fica lotado a essa hora! - Insistiu.

– E quem disse que nós vamos ao Benihana? - Carolina questionou surpresa.

– Eu disse! - Henry respondeu grosseiro.

– Eu me recuso à comer lá! Vou sair cheirando à fritura.

– E aonde quer ir, então?

– No Serafina, é claro…

– Eu que me recuso à comer massa de novo!

– Henry, porque você tem sempre que discordar?

– Porque você tem sempre que discordar, Carolina?

– Ótimo, desse jeito vamos acabar comendo no hotel…


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