Meu Doce (In)Desejado escrita por Buzaid


Capítulo 13
Capítulo 12




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    As nuvens mais negras e densas que o reino havia tido naquele ano certamente não eram nada se comparadas às nuvens que passeavam pelo céu naquela nublada manhã llyonense. Nem mesmo o nascer do sol pôde ser visto, os topos das montanhas e colinas estavam todos encobertos assim como os telhados e chaminés de muitas das casas. E claro, como todo povo que segue à risca suas tradições, os llyonenses tinham lendas e histórias que envolviam os dias cinzentos que assombravam o reino... a maioria, para não dizer "todas", das histórias que envolviam dias nublados não tinham um bom final e sim fins trágicos e tristes. Além disso, para completar a lista de motivos pelos quais os llyonenses odiavam dias como aquele, a maioria das derrotas, que foram poucas, que o reino teve em guerras e batalhas aconteceram em dias cinzentos e nublados. Por isso a frase "nada de bom acontece em um dia nublado" se popularizou pelos habitantes e sempre que algo dava errado eles culpavam o dia nublado...

    Henry desfrutava de um deleitoso café da manhã, do estilo mais americano possível, quando sua mãe adentrou a sala. Victória tinha um ar cansado, provavelmente por causa da festa de ontem. Enquanto a rainha caminhava até a cadeira Henry a encarava já esperando por alguma bronca ou comentário sobre o ocorrido...

    - Está um dia horrível... - Victória comentou ao sentar. As enormes janelas de vidro, que ocupavam a maioria das paredes daquele cômodo, estavam fechadas esperando uma tempestade a qualquer momento. - Não da para ver nenhum pedacinho do céu... 

    - Você sabe como os dias nublados são em Llyoal. - Henry comentou com a guarda levantada... Ainda esperava que a mãe falasse alguma coisa sobre a noite anterior.

    - Nada de bom acontece em um dia nublado. - Victória afirmou. Em seguida passou seus olhos cansados pela mesa. - Henry, você precisa mudar... - Disse, então, após algum tempo de silêncio. O jovem respirou fundo, já estava esperando por isso.

    - Tava demorando... - Ele afirmou ao dar um gole em seu suco.

    - Eu falo sério! - Victória encarava Henry, como se o desaprovasse com o olhar. - Você não pode continuar comendo assim, filho! Não é saudável... - Henry sorriu aliviado ao apoiar o copo de volta à mesa. Talvez Victória não fosse tocar no assunto da noite anterior... talvez  a maldição do "nada de bom acontece em um dia nublado" tivesse acabando.

    - Já sou um homem formado, mãe, eu sei o que devo comer ou não! - O príncipe declarou.

    - Não é o que me parece, querido! - Victória sabia que Henry tinha uma forte resistência a conversar quando o assunto era sua má alimentação. O príncipe não era nada saudável e esse era um hábito que ele havia puxado do pai. Rupert estava sempre comendo coisas gordurosas e por isso acabou tendo um infarto fulminante... Mesmo assim, depois da trágica e inesperada morte do pai, Henry não mudou os hábitos alimentícios, na verdade, eles foram piorando com o passar do tempo... - Olhe para esta mesa, se não fossem minhas torradas integrais e minhas frutas apenas coisas gordurosas iam sobrar... - Henry riu gozador. Victória tinha a insistente mania de falar sobre aquele assunto, isso era extremamente irritante. - Porque está rindo? - A rainha desaprovava o filho apenas pela forma com a qual ela o fitava. 

    - Bem, eu sinceramente achei que hoje nós iríamos brigar por outra coisa. - Henry afirmou logo se arrependendo do que havia dito. O olhar incerto de sua mãe repousou sobre ele.

    - Como assim? - Victória serviu-se com um pouco de chá, que uma das criadas havia trazido naquele mesmo instante. - Sobre o que estaríamos brigando? 

    - Sobre ontem a noite! - Henry respondeu, ainda arrependido. 

    - Foi uma noite maravilhosa, eu não entendo porque estaríamos brigando à respeito dela! - A rainha exclamou ao alargar um belíssimo e sincero sorriso. - E o que você fez pela Carolina, foi ainda mais maravilhoso, filho. - Victória claramente falava cheia de orgulho. Ela pousou sua mão, já enrugada, sobre a mão de Henry.

    - Do que está falando? - O príncipe indagou. Era óbvio que ele havia perdido alguma parte da história pois não era possível que Victória estivesse falando daquele jeito tão gentil se ela ainda achasse que ele, por um ato de irresponsabilidade e infantilidade, tivesse sumido da festa.

    - Ontem quando você e Carolina não apareceram para dançar eu e os Lamont ficamos muito desapontados, Henry! - Ela contou.- Mas não pudemos demonstrar isso na frente do povo, então assim que a dança acabou e nós voltamos para a sacada do museu, onde vocês não estavam, nós ficamos ainda mais desapontados e bem nervosos também. Foi, então, que Albert recebeu uma mensagem de texto de Carolina falando que ela estava passando mal e você, muito gentil e cavalheiro, se ofereceu para tomar conta dela e não acabar com a noite de Albert e Luzia. - Henry sorriu vangloriando-se enquanto ainda, secretamente, digeria as informações da história que sua mãe acabara de contar. Ele não poderia estar mais surpreso com o poder de convencimento que Carolina tinha sobre os pais e a credibilidade, também. Obviamente que ele não tinha o mesmo efeito sobre Victória, sua mãe era sempre desconfiada e bem analítica em cada história que ele contava.

    - Acho que ela teve uma intoxicação alimentar! - O rapaz disse mantendo-se fiel à mentira. 

Se Carolina tivesse dito a verdade para os pais, Henry também não teria culpa no cartório por não ter aparecido na dança. Contudo a mentira da jovem não podia ter sido melhor, isso porque agora Henry havia ganhado um pouco de confiança por parte da mãe e todo o seu teatro de ter levado Carolina para passear pela festa, na noite anterior, continuava valendo diante dos rigorosos olhos de Albert.

    - Talvez! O que vocês comeram ontem, querido? - Victória indagou mostrando-se interessada.

    Henry ficou calado por instante, não conseguia simplesmente pensar em qualquer resposta que fosse satisfazer sua mãe. Antes, porém, que  ele pudesse molhar a língua para falar os Lamont invadiram a sala de uma forma tão deselegante que aos olhos de um estranho eles nunca pareceriam da realeza. Victória e Henry levantaram-se de imediato, carregando surpresa em seus semblantes. Era óbvio que uma bomba tinha caído e explodido para que os Lamont aparecessem daquela forma tão desesperada, ainda por cima sem avisar. 

    - O que houve? - Victória logo foi ao encontro de Luzia, que nas mãos carregava um jornal. A antiga rainha do sul parecia abalada, assim como Albert e Carolina.

    - Está nos jornais! - Luzia tinha a voz entrecortada, ela sacudia o jornal de um lado para o outro. Victória não conseguia ler a manchete.

    - Acalme-se! - Albert pediu ao segurar os ombros da esposa. - Victória, a situação, por enquanto, não é tão ruim quanto parece…     - Ele afirmou ao encarar a antiga rainha do Norte. Sua voz estava rouca e mais grave do que o normal. Em seguida Albert pegou o jornal da mão de Luzia e o entregou para Victória: - Veja por você mesma!

    Victória leu a manchete que estampava a Gazeta de Irvining: " O amor de Henry Caldwell e Carolina Lamont: até que ponto ele é real?!". Henry aproximou-se da mãe, e assim também pode ler a capa do jornal.

    - Nada de bom acontece em um dia nublado! - Ele exclamou e os presentes concordaram com um simples aceno de cabeça.

    - Não posso acreditar! - Victória correu seus olhos até a reportagem. Lendo-a em voz alta: - Na última semana os llyonenses foram surpreendidos pelo romance entre o príncipe do antigo reino de Llyoal do Norte, Henry Caldwell, e a princesa do antigo reino de Llyoal do Sul, Carolina Lamont. No início da semana o casal foi flagrado durante um agradável café da manhã em Hallowstown, e os rumores de um possível relacionamento alegraram a nova nação llyonense. Entretanto apenas ontem, durante a festa de abertura da temporada de caça, que a confirmação do envolvimento entre a princesa e o príncipe realmente veio... 

    - Isso está parecendo até uma revista sensacionalista de fofocas! - Albert exclamou furioso ao interromper a leitura de Victória.

    - Mãe, pule para a parte que realmente importa! - Henry sugeriu com uma entonação mais de ordem. 

    - Certo! - Victória concordou ao procurar pela parte que interessava. - Dentro de exato um mês o novo reino celebrará um ano de existência e assim, conseqüentemente, celebrará um ano sem uma coroa e sem governantes. O diretório, que hoje, é responsável pelo país não está agradando a maioria mas por ser algo provisório...

    - A parte que interessa está mais para o fim, Victória! - Carolina murmurou também interrompendo a leitura. Victória correu os olhos pela matéria até um ponto que lhe chamou atenção:

    - Fontes próximas ao casal alegam que eles estejam em um relacionamento arranjado. E ao que tudo indica isso não é apenas um rumor e sim uma verdade...

    - Como assim fontes próximas ao casal? - Henry interrompeu perplexo.  

    - Basicamente, o que a matéria está dizendo é que Henry e Carolina estão em um relacionamento arranjado pois nós, os Lamont, e vocês, os Caldwell, não queremos entrar em nenhum tipo de conflito para ganhar a Coroa do novo reino. - Luzia disse irritada por todas as interrupções. - Eles também fazem algumas especulações se esse é o real motivo do relacionamento arranjado ou se é a pressão que o povo está fazendo para colocarmos um fim no diretório. Eles afirmam em várias partes, Henry, que tem alguém próximo que está dando todas essas informações à eles. - Luzia contou. 

    - A Gazeta de Irvining sempre foi um jornal sensacionalista e exagerado, ele não tem credibilidade nenhuma! E por isso é bom que essa matéria tenha saído nele... - Albert afirmou. Ele continuava com sua voz mais grave e rouca. - Ora essa, não estamos sendo nem um pouco pressionados por causa do diretório! Sim, é verdade que ele não teve o melhor índice de aprovação na última pesquisa, mas não há ninguém nos pressionando para acabar com ele! - Albert estava enfurecido. O rei do antigo reino de Llyoal do Sul era extremamente perfeccionista, odiava quando alguma coisa dava errado. Não importava o cenário em que estava, muito menos a situação. Se algum plano ou estratégia de Albert tinha uma pequena falha sequer ele ficava muito, mas muito nervoso e desapontado mesmo. - Não entendo o porque dessas especulações sobre esse relacionamento, justo agora que estava dando tudo certo! Precisamos descobrir sobre essa fonte que anda dando informações para a Gazeta, antes que ela consiga provas de que Henry e Carolina realmente estão em um relacionamento arranjado. - Ele afirmou cheio de certeza. Em sua mente já havia traçado algumas estratégias para descobrir de onde o jornal havia retirado tais informações.

    - Precisamos também fazê-los acreditar que esse romance é real! - Victória sugeriu e Albert aceitou com um sorriso de aprovação.

    - Porque não falamos logo que isso é um relacionamento arranjando? - Henry indagou trazendo à si olhares surpresos de negação. - Pensem bem, o povo estava ciente de que um Lamont ou um Caldwell iria governar o novo reino. Temos apenas que explicar que esse relacionamento foi a maneira encontrada para que tanto os sulistas quanto os nortistas sintam-se inclusos nessa nova fase que Llyoal está passando. - Carolina não podia concordar mais com o pensamento de Henry. E, aparentemente, ela era a única. - Não acho ruim que sejamos sinceros. Penso, na verdade, que assim o povo confiará ainda mais em nós. Se continuarmos com essa farsa e a verdade vier à tona eles podem se sentir enganados e se revoltar... 

    - Querido! - Victória o interrompeu. - Esse povo já sofreu o bastante durante o período em que Llyoal estava dividida. Eles precisam ter esperanças no seu governo e no governo de Carolina, e se acreditarem que vocês dois estão mesmo apaixonados o povo terá a certeza e a confiança de que vocês, juntos, sempre tomarão as decisões certas para governá-lo. Entende? - Luzia e Albert apenas observavam Victória enquanto ela falava. Os três compartilhavam do mesmo pensamento. - Agora, ao ter um nortista e uma sulista governando juntos apenas por um acordo o povo pode viver naquele mesmo medo que viviam antes... o medo de que um conflito aconteça e Llyoal se separe novamente. Por isso que não podemos contar a verdade, Henry! Estamos querendo proteger o povo e não enganá-los. - Victória acariciou o rosto do filho.

    - Eu só espero que consigamos convencê-los de que isso aqui não é um relacionamento arranjado! - Henry afirmou em um tom desesperançoso. Às vezes, de noite ao deitar, o príncipe se perguntava o porquê de estar metido naquela farsa. Afinal, ele nunca fora de obedecer e muito menos de respeitar. A única motivação que ele conseguia tirar de toda aquela história era que até o seu último dia de vida ele continuaria vivendo sob os incríveis privilégios que "ser da monarquia" lhe dava.

    - Iremos convencê-los. - Albert, novamente, carregava um tom misterioso de alguém que acabará de bolar alguma estratégia. - Hoje, ainda, preferencialmente de tarde iremos chamar a imprensa e desmentir tudo. - Ele afirmou. Victória e Luzia sorriram imediatamente.

    - Ótima idéia, Albert. - Victória exclamou. - Porque você e sua família não acompanham Henry e a mim no café? Assim podemos ajustar melhor sua idéia... - Sugeriu simpática ao já guiá-los para a mesa.

    Com aquela enorme confusão Henry e Carolina não tiveram tempo para um clima constrangedor. Os dois nem sequer haviam trocado um olhar ou palavra depois da briga monumental que tiveram na noite anterior.  Agora, porém, sentados à mesa os dois silenciosamente rezavam para que ninguém falasse nada que os remetesse aos fatos ocorridos um dia antes. Carolina estava tão constrangida e envergonhada que corava apenas por saber que Henry estava ao seu lado. Já ele procurava ignorar a presença da jovem mesmo sabendo que ela havia contado uma mentira que lhe fez ganhar bons créditos com a mãe, e beeeeeeeeeeem lá no fundo Henry estava agradecido por isso.

    Aquele clima certamente não iria embora tão cedo. Ainda havia muita raiva e rancor em ambos. Como eu sempre digo, apenas o tempo seria capaz de limpar as nuvens negras que assombram Henry e Carolina e assim então fazê-los enxergar alguma luz. Enquanto isso eles continuavam cinzentos e prontos para fazer uma tempestade em qualquer gota d'água. O que eles apenas não podiam esquecer era que nada de bom acontece em um dia nublado... 


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