Crônicas Do Olimpo - A Maldição Do Titã escrita por Laís Bohrer


Capítulo 12
Ataque de Zumbis e a Benção da Natureza!


Notas iniciais do capítulo


"...Olá, Olá se lembra de mim?
Eu sou tudo aquilo que você não pode controlar
Em algum lugar além da dor
Deve haver uma forma de acreditar
Que nós podemos acabar com isso"

— Evanescence - What You Want (O que você quiser)



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- Percy!

Abri a porta do Land Rover bruscamente e ele estava lá, inteiro. Percy respirava pesadamente, e suava frio, notei que eu fazia o mesmo. Hansel estava logo atrás de mim curioso, tanto até quanto eu. Percy não disse nada, mas ele me olhava de um jeito estranho, como se não acreditasse que eu estivesse mesmo ali... Sabia como era, mas... Por que?

- Ouvimos um grito. - disse a voz de Bianca que surgiu atrás de Zoë.

- O que esta havendo aqui? - Thalia apareceu da porta da sua Mercedes.

Não respondi, eu também queria respostas. Percy ainda olhava para mim e distraidamente ele esfregava os pulsos então eu vi que eles estavam vermelhos, como se tivessem sido apertados. 

- Você esta viva. - disse Percy meio aliviado, mas ele continuava no mesmo estado.

- Como assim? - perguntou Thalia. - Claro que ela esta viva.

Então eu senti uma dor aguda na minha barriga - não, eu não comi nada estragado. - levei a mão até o local, Percy olhava diretamente para mim, me encarando fixamente.

- O Amor Arrancado... - disse Percy finalmente.

- Será... - completei gemendo. - Você viu, não viu?

Ele ia responder, mas então eu cai no chão, a dor era insuportável. O Suor. Os pulsos de Percy... Se um sonho como aqueles poderia nos tocar assim, imagino o que nos espera pela frente... - Nada que eu possa imaginar. 

- O que há com tu? - perguntou-me Zoë.

- Nada. Eu estou bem.

- Megan, você não engana ninguém. - disse Thalia.

- Eu estou bem. Vamos, já devemos estar chegando...

Minutos depois e eles só mudaram de assunto quando finalmente chegamos à periferia de uma pequena cidade de esqui localizada nas montanhas. 

O aviso dizia: BEM VINDO A CLOUDCROFT, NOVO MÉXICO.

O ar estava frio e fino. Os telhados dos chalés estavam cobertos de neve, e grandes montes dela estavam empilhados nas laterais das ruas. Altos pinheiros teciam o vale, formando sombras escuras, embora a manhã estivesse ensolarada.

Não sabia o resto, mas eu estava chegando quando chegamos finalmente até a rua principal - que ficava a mais ou menos 800 metros da linha de trem, só para saberem... - Conforme andávamos, eu contava sobre o meu sonho para Hansel, Percy parecia alienado enquanto andava, e Thalia, Zoë e Bianca apenas falavam, discutiam e essas coisas. 

Também falei sobre minha conversa com Apolo na noite anterior – como ele me disse para procurar por Nereu em São Francisco. Hansel olhou apreensivo.

- Isso deve ser bom. Mas temos que chegar lá antes.

Eu tentei não chateada com nossas chances disso acontecer a tempo. Quer dizer... Eu sabia que nós tínhamos outro prazo se esgotando, além de salvar Ártemis a tempo de seu concílio dos deuses. Segundo o General, Jake estaria vivo até o solstício. Isso seria na sexta-feira, o que significava que tínhamos apenas quatro dias. E ele falara algo sobre um sacrifício. Eu não gostava de como isso soava.

Nós paramos no meio da cidade. Você podia ver tudo muito bem dali: a escola, algumas lojas e cafés para turistas, algumas cabines de esqui e um armazém.

- Perfeito! - exclamou Thalia. - Sem estação de ônibus. Sem aluguel de carros. Sem saída. 

- Tem uma lanchonete. - disse Percy.

- Sim. - concordou Zoë. - Café é bom.

- É, mas não lanchonete não é uma opção para um meio de transporte. - disse a filha de Zeus.

- ... Tem pasteis! - ignorou Hansel. - E papel encerado.

Thalia o olhou estranhamente.

- Certo, então. Que tal, Zoë, Hansel e Percy irem pegar alguma comida enquanto, eu, Megan e Bianca vamos checar na mercearia. Talvez eles possam nos dar algumas direções.

Não prestei muita atenção, pois eu estava perdida olhando para Percy que olhava incomodado ao redor. Nós combinamos de nos encontrar em frente à mercearia em quinze minutos. Bianca não pareceu muito à vontade, mas foi mesmo assim.

Na mercearia, nós descobrimos algumas coisas valiosas sobre Cloudcroft: não havia neve suficiente para esquiar, a mercearia vendia ratos de borracha a um dólar cada, e não havia meio fácil de sair ou entrar da cidade, a menos que você tivesse seu próprio carro.

– Você poderia chamar um táxi de Alamogordo – o balconista falou duvidosamente. – É lá embaixo, na base das montanhas, mas levaria pelo menos uma hora para chegar lá. Custa centenas de dólares.

O balconista parecia muito solitário e eu comprei um chaveiro de peixe - era do Nemo. - Então voltamos e esperamos na entrada.

– Eu vou descer a rua e ver se alguém nas outras lojas tem alguma sugestão. - disse Thalia.

- Mas o balconista disse que...

– Eu sei – ela me disse. – Eu vou checar mesmo assim.

Eu a deixei ir. Eu sabia como é ser inquieta. Todos os meio-sangues têm problemas de déficit de atenção por causa de nossos reflexos natos nos campos de batalha. Nós não podíamos simplesmente ficar esperando. Além disso, eu achava que Thalia ainda estava chateada por causa da nossa conversa noite passada... Eu estava.

Bianca e eu ficamos sozinhos de modo embaraçoso. Quero dizer... ela agora era um caçadora, depois da cena que eu fiz para ela não ser, talvez ela pensasse que eu estivesse magoada, ou no meu caso é invertido.

- Belo peixe. - disse Bianca por fim.

- Obrigada... - falei girando o chaveiro do Nemo no dedo indicador e o colocando no bolso. - Então... Como é ser uma caçadora?

– Você não está mais chateada comigo por ter me juntado a elas, está?

- Não. - falei. - Desde que você esteja bem. 

- É realmente legal. Eu me sinto mais calma de algum jeito. Tudo parece ter desacelerado ao meu redor. Acho que é a imortalidade. Mas com Lady Ártemis desaparecida.

- Entendo. 

Eu a olhei, tentando ver alguma diferença. Ela parecia mesmo mais confiante do que antes, mais em paz. Ela já não escondia seu rosto sob um gorro verde. Ela mantinha o cabelo amarrado atrás, e me olhava bem nos olhos quando falava. Com um calafrio, eu me toquei de que daqui a quinhentos ou mil anos, Bianca di Angelo estaria exatamente como estava hoje. Ela estaria conversando com outro meio-sangue bem depois da minha morte, mas Bianca ainda pareceria ter doze anos de idade.

- Nico não entendeu minha escolha. - ela disse me lançando um olhar que garantia que estava tudo bem.

- Ele vai ficar legal. - garanti. - O Acampamento Meio-Sangue cuida de várias crianças menores. Eles cuidaram de Jake, de mim... 

Bianca fez que sim.

- Espero que encontremos ele. Jake. Ele realmente tem sorte de ter uma amiga como você... - disse ela me lançando um olhar travesso.

- O que quer dizer? - perguntei.

Ela não aguentou, riu de mim.

- Megan, eu posso dizer só de olhar para você. - disse ela. - Você gosta do Jake.

- É claro que gosto! - exclamei. - Ele é ami...

- Não desse jeito. - disse ela com aquele brilho Stoll no olhar.

Eu corei.

- N-não é nada disso.

- Ah não? Então porque esta gaguejando?

- Esquece... - bufei e ela soltou mais uma risada. - Se fosse de tanta sorte Jake ter uma amiga como eu. Ele não precisaria ser salvo.

- Não se culpe, Megan. - disse ela. - Você arriscou sua vida para salvar ao meu irmão e a mim. Quero dizer, isso foi seriamente corajoso. Se eu não tivesse te conhecido, eu não me sentiria bem em deixar Nico no Acampamento. Eu acho que se há pessoas como você lá, Nico ficará bem. Você é uma boa pessoa.

O elogio me pegou de surpresa. Fiquei lisonjeada.

- Mesmo que eu tenha derrotado você no Captura a Bandeira? - perguntei.

Ela riu de novo.

- Exceto isso, você é uma boa pessoa.

Alguns metros a frente, Hansel, Percy e Zöe saíram da lanchonete carregados com pastéis e bebidas. Percy parecia com mais vida do que antes. Eu percebi que gostava de conversar com Bianca. Ela não era tão má. Bem mais fácil de conversar do que Zöe Doce-Amarga, aliás. Ela não me odiava como a princesinha persa.

– Então você tem cuidado do Nico praticamente sua vida toda? – perguntei. – Só vocês dois?

Ela assentiu.

– É por isso que eu quis tanto aderir às Caçadoras, afinal. Digo, eu sei que é egoísta, mas eu queria minha própria vida e amigos. Eu amo Nico, não me entenda mal. eu só precisava descobrir como seria não ser a irmã mais velha vinte e quatro horas por dia. Mas acho que você não entenderia, aliás é filha única.

Eu ri.

- Na verdade eu sei exatamente como é. - falei me lembrando do último verão. - No Verão passado descobri que tinha um ciclope como irmão mais novo.

- Tá falando sério?

- Sim... - falei. - Zoë parece confiar em você. Sobre o que vocês estavam conversando afinal?

- Quando?

- Ontem... de manhã no pavilhão - falei antes que pudesse pensar. – Alguma coisa sobre o General.

Seu rosto escureceu.

- Como... A Jaqueta! Você estava espionando!

- Eu não disse isso, eu estava passando por lá na hora. - falei e ela bufou. 

- Conta outra, Megan...

- Ei! Eu tenho meu dever no mar também e além do mais...

Fui salva de tentar me explicar quando Zoë, Hansel e Percy chegaram com as bebidas e pastéis. Chocolate quente para Bianca, para Percy e para mim. Café para eles. Eu peguei um bolinho de framboesa, e estava tão bom que eu quase pude ignorar o olhar ultrajante que Bianca estava me dando.

-  Nós devíamos fazer o feitiço de rastreamento. – Zoë disse. – Hansel, tens alguma bolota sobrando?

Ele estava mastigando um bolinho de frutas embrulhado no papel... Tipo... Ele também estava comendo o papel.

- Acho que sim. - disse o menino-jegue. 

Ele congelou.

- O que é que... - eu sabia o que Percy ia perguntar, mas antes que ele pudesse dizer algo uma brisa quente passou, como uma rajada de primavera perdida no meio do inverno.

Ar fresco temperado com flores do campo e luz do sol. E outra coisa – quase como uma voz, tentando dizer algo. Um alerta.

Zoë avisou:

- Hansel, tua xícara. 

Ele derrubou sua xícara de café, que era decorada com figuras de pássaros. De repente os pássaros saíram da xícara e voaram livres – um bando de minúsculas pombas. 

- O que... - então algo remexeu no meu bolso...

O Nemo estava vivo....

Ele saltitou do meu bolso até as árvores.

Tudo o que Percy disse foi:

- Aquele era o Nemo?

Hansel então desmoronou perto de seu café, que derretia a neve. Nós nos reunimos em volta dele e tentamos acordá-lo. Ele gemeu e seus olhos tremeluziram.

– Ei! – Thalia disse, correndo pela rua. – Eu só... O que há com Hansel?

- Não sabemos. - disse Percy. - Ele simplesmente desmaiou.

- Então levantem ele! - exclamou ela.

 Ela tinha sua lança na mão. Ela olhou para trás como se estivesse sendo seguida.

- Temos que ralar daqui... Agora.

Chegamos ao final da cidade antes que os dois primeiros guerreiros esqueleto aparecessem. Eles saíram dentre as árvores de cada lado da estrada. Ao invés de camuflagem cinza, eles usavam agora uniformes azuis da Polícia do Novo México, mas tinham as mesmas peles acinzentadas e transparentes e os olhos amarelos. Era quase como eu imaginava os zumbis, mas eles não pareciam ter fome por cérebro. 

Eles sacaram suas armas. Vou admitir que costumava pensar que seria legal aprender como atirar com uma arma, mas mudei de ideia assim que os guerreiros esqueleto apontaram as deles para mim.

Thalia deu um tapa em seu bracelete. Aegis ganhou vida em seu braço, mas os guerreiros não reagiram. Eles tinham seus olhos fixados em mim. Destampei Anaklusmos, apesar de que ela seria bem inútil contra armas. Percy tirou sua caneta do bolso e clicou no botão, e magicamente esta se transformou em uma lança. Corta-ondas.

Zoë e Bianca se armaram com seus arcos. Mas Bianca tinha problemas pois Hansel ficava desfalecendo e se inclinando contra a mesma. 

- Recuem! - gritou Thalia.

Nós começamos – mas então eu ouvi um tilintar de correntes. Dois outros esqueletos apareceram na estrada atrás de nós. Estávamos cercados.

- Droga... - murmurou Thalia.

Imaginei onde estariam os outros esqueletos. Eu vi uma dúzia no Museu Nacional do Ar e do Espaço. Então um dos esqueletos levou um celular à boca e falou nele. Porém ele não estava falando. Ele fez um som ruidoso, de estalos, como dente seco no osso. De repente eu entendi o que se passava. Os esqueletos haviam se separado para nos procurar. Estes estavam agora chamando seus irmãos. Em breve teríamos uma festa completa nas mãos.

- Eles estão chamando reforços! - gritei.

- Está perto.  - disse Hansel.

- Esta aqui. - falei. 

- Não. Está perto... A Benção da Natureza.

- Não é hora para paisagismo, Hansel! - exclamou Thalia.

Me preocupei com sua condição. Ele não estava bem para andar, muito menos para lutar.

– Teremos que ir um contra um – Thalia disse. – Quatro deles. Quatro nossos. Talvez eles ignorem Hansel nesse estado.

– Concordo – disse Zöe.

– A Natureza! – Hansel gemeu.

Um vento quente veio através do cânion, balançando as árvores, mas mantive meus olhos no esqueleto. Eu me lembrei do General se vangloriando sobre o destino de Jake. Lembrei de como Luke foi hipócrita com ele, daquele sorriso traiçoeiro do filho de Hermes. Da traição de Silena.

Então eu investi. O primeiro esqueleto atirou. O tempo passou devagar. Não vou dizer que podia ver a bala, mas eu podia sentir sua trajetória, do mesmo jeito que sentia as correntes marítimas. Eu a desviei com a borda da minha espada e continuei atacando.

O esqueleto sacou um cassetete e eu decepei seus braços na altura dos cotovelos. Então passei com Anaklusmos  por sua cintura e o cortei ao meio.

Seus ossos se desmontaram em uma pilha estalando no asfalto. Quase imediatamente, eles começaram a se mover, unindo-se.

- Só pode ser mentira... - murmurei.

O segundo esqueleto bateu os dentes para mim e tentou disparar, mas derrubei sua arma na neve. Pensei que estivesse indo bem, até que os outros dois esqueletos atiraram nas minhas costas. Ouvi o barulho e então vi minha vida diante dos meus olhos.

- Megan! - ouvi Thalia e Percy gritarem em coro.

Então eu fui jogada para o chão...

- Não! - gritei quando Percy entrou na minha frente. A Bala o acertou, mas apenas o jogou no chão. Então me dei conta... O Casaco de pele era aprova de balas!

Thalia atacou o segundo esqueleto. Zöe e Bianca começaram a disparar flechas no terceiro e no quarto. Hansel ficou lá e levantou as mãos para as árvores, como se quisesse abraçá-las enquanto gritava:

- Esta chegando meus amigos! 

Houve um som de colisão na floresta a nossa esquerda, como uma escavadeira. Talvez os reforços dos esqueletos estivessem chegando. Eu me levantei e peguei o cassetete de policial. O esqueleto que eu havia cortado ao meio já estava totalmente remontado, vindo atrás de mim.

Não havia meio de pará-los. Zöe e Bianca disparavam diretamente em suas cabeças, mas as flechas apenas passavam sibilando através de suas caveiras vazias. Um investiu contra Bianca, e eu pensei que ela estava perdida, mas ela puxou sua faca de caça e apunhalou o guerreiro no peito. O esqueleto inteiro irrompeu em chamas, deixando uma pequena pilha de cinzas e um distintivo policial sambando no chão até ficar totalmente parado.

- Como tu fizeste isto? - perguntou Zoë.

– Eu não sei – Bianca disse nervosa. – Golpe de sorte?

– Bem, faze de novo!

Bianca tentou, mas os três esqueletos que sobraram estavam atentos a ela agora. Eles nos forçaram para trás, deixando-nos ao alcance do cassetete.

- Alguma sugestão? - perguntei.

Ninguém respondeu. As árvores atrás dos esqueletos estavam tremendo. Galhos estavam se quebrando.

- A BENÇÃO! - Hansel gritou saltitando, sério. Achei que ele ia vomitar arco-íris. 

Então, com um possante rugido, o maior porco que eu já havia visto entrou na estrada. Era um javali selvagem, nove metros de altura, com um ranhoso focinho rosa e presas do tamanho de canoas. Suas costas eriçadas com pelos marrons, e seus olhos eram selvagens e furiosos.

- Oh... Meus... Deuses... - Percy gaguejou.

REEEEEEEEET”, ele guinchou, e jogou os três esqueletos para o lado com suas presas. A força foi tamanha que eles foram voando sobre as árvores para o flanco da montanha, onde se quebraram em pedaços, fêmures e ossos do braço rodopiando para todos os lados.

O porco se virou para nós.

Thalia ergueu sua lança, mas Hansel gritou:

- Não mate ele!

O javali grunhiu e deu patadas no chão, pronto para atacar.

Zoë estremeceu. Tentando manter a calma.

 – É o Javali da Erimantia, não creio que possamos mata-lo...

- É uma benção da natureza! 

O javali disse “REEEEEEEEET!” e moveu suas presas. Zöe e Bianca saíram do caminho. Eu tive que empurrar Hansel, para que ele não fosse arremessado para a montanha na ‘Presa do Javali Express’.

- Tá, me sinto muito abençoada... pelo Hades!... Como derrotamos ele. - falei.

- Não derrotamos. - disse Hansel sonhador. - É um presente.

- Como assim? - perguntou Percy.

- Ele é selvagem, oras!

Corremos em todas as direções, despistando da criatura.

- Então você ainda diz que é uma benção?! - gritou Bianca.

Parecia uma pergunta justa para mim, mas o porco se ofendeu e a atacou. Ela era mais rápida do que eu havia imaginado. Ela rolou fora do caminho dos cascos dele e saiu atrás da besta. A besta investiu errado com suas presas e pulverizou o aviso BEM VINDO A CLOUDCROFT.

Eu forcei meu cérebro, tentando me lembrar da lenda do javali. Eu tinha plena certeza de que Hércules havia lutado com essa coisa antes, mas não podia recordar como ele o havia derrotado. Eu tinha uma vaga memória do javali ter posto abaixo algumas cidades gregas antes que Hércules o vencesse. Eu esperava que Cloudcroft fosse segurada contra ataques de javalis gigantes.

- Continuai andando! - gritou Zoë.

Ela precisava mesmo dizer isso?!

Ela e Bianca corriam em direções opostas.  Hansel parecia um retardando, dançando ao redor do javali. Fiquei realmente nervosa, toda vez que o Javali o tentava atacar, Hansel desviava com um passo enquanto tocava sua flauta... Não culpo o javali por tentar matar Hansel, eu mesma queria fazer isso quando ele tocava aquela coisa do Hades.

Mas Thalia e eu vencemos o prêmio de má sorte. Quando o javali se virou, Thalia cometeu o erro de segurar Aegis em modo defensivo. A visão da cabeça da medusa fez o javali guinchar injuriado. O javali nos atacou.

- CORRA! - gritou ela.

- VOCÊ NÃO PRECISAVA DIZER ISSO! - gritei de volta.

Corremos ladeira acima e podíamos nos esquivar das árvores enquanto o javali tinha que colocá-las abaixo. Ele podia ter ido na frente... seria mais prático. Do outro lado da colina, eu vi um antigo trecho de linhas de trem, parcialmente enterradas na neve.

- Vamos por aqui! - agarrei o pulso da filha de Zeus.

Corremos pelos trilhos enquanto o javali rugia atrás de nós, escorregando e deslizando enquanto tentava correr sobre a encosta íngreme. Seus cascos não foram feitos para isso, graças aos deuses. À nossa frente, vi um túnel coberto. Além dele uma ponte velha sobre um desfiladeiro. Eu tive uma ideia maluca.

Afinal de contas, alguém tem que fazer isso por aqui e esse era o lado bom da história, o lado ruim é que eu perdi o chaveiro de Nemo...

- Me siga! - gritei para Thalia.

Thalia desacelerou – eu não tive tempo de perguntar por que – mas eu a puxei e ela seguiu relutante. Atrás de nós, um porco tanque de dez toneladas estava derrubando pinheiros e esmagando rochedos sob seus cascos enquanto nos perseguia. Thalia e eu entramos no túnel e saímos do outro lado.

- Não! Não posso! - ela gritou para mim, com seus olhos selvagens de medo. Ela ficou branca como gelo. Estávamos na borda do precipício. Abaixo, a montanha descia em um desfiladeiro de vinte metros recoberto de neve.

O javali estava bem atrás de nós.

- Vamos! Vai aguentar o nosso peso!

– Eu não posso! – Thalia berrou. - É estúpido!

O javali esmagava o túnel, destruindo tudo em alta velocidade. Ela olhou para baixo e engoliu em seco. Eu juro que ela estava ficando verde. Eu não tive tempo para processar o porquê. O javali estava investindo através do túnel, na nossa direção.

- Desculpe por isso Thalia. - falei encarando ela fixamente. - Mas eu não vou ser assassinada por um porco gigante.

Eu puxei Thalia e nos pus ao lado da borda da ponte, dentro da lateral da montanha. Nós deslizamos em Aegis como um snowboard, sobre rochas e lama e neve, acelerando montanha abaixo. O javali foi menos afortunado; ele não conseguiu se virar tão rápido, então todas as dez toneladas de monstro atacaram o fino suporte, o qual arrebentou sob seu peso. O javali entrou em queda livre no desfiladeiro com um poderoso guincho e aterrissou em um monte de neve com um grande

POOOOOOOOOOOOOOOOFT!

Thalia e eu derrapamos para parar. Estávamos ofegando. Eu estava ferida e sangrando. Tentei não olhar para o sangue. 

Thalia tinha pedaços de pinheiro no cabelo. Perto de nós, o javali selvagem estava guinchando e lutando. Tudo o que eu pude ver foi uma ponta de suas costas. Estava enterrado completamente na neve como um pacote de isopor. Não parecia estar machucado, mas não ia a lugar algum, de qualquer forma.

Eu olhei para Thalia.

- Você... Tem medo de altura.

Agora que estávamos salvos na base da montanha, seus olhos tinham a aparência zangada de sempre.

- Não seja idiota...

- Isso eu sou sempre. - falei. - Mas você tem medo de altura e é por isso que ficou daquele jeito no furgão de Apolo!

Ela respirou fundo. Então ela limpou as agulhas de pinheiro do seu cabelo.

– Se você contar para alguém, eu juro que...

- Não... Tá tudo bem. Existe coisa mais idiota, eu tenho medo de sangue. - falei. 

- Hemofobia?

- É... Não, eu não tenho nada contra Emos. 

- Não foi isso que eu... Ah, deixa para lá! - disse ela. 

- Tudo bem... É só que... a filha de Zeus, o Senhor do Céu, com medo de altura?

Ela estava para enfiar minha cabeça na neve, quando a voz de Hansel chamou:

- ECOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! - ouvi sua voz... ecoando através do túnel. - ISSOOO ÉÉÉÉ DEMAAAIS...demais... demais...

- Estamos aqui! - gritei de volta. - ... E Hansel... PARA DE BRINCAR!

Alguns minutos depois, Zöe, Bianca, Hansel e Percy chegaram até nós. Nós ficamos olhando o javali lutando na neve. Até que Percy disse.

- O que faremos com... Ah... Esse Porco de Elematia.

- Eremantia. - corrigiu Zoë.

- Tanto faz... - disse Percy, mas eu sabia o quanto ele se sentira idiota. 

– Uma bênção da Natureza! - disse Hansel insistindo de novo na mesma coisa.

– Eu concordo – Zöe disse. – Nós devemos usá-lo.

- Só um momento! - Thalia parou tudo. - Como você tem tanta certeza de que essa coisa é uma benção?

– É nossa carona para o oeste. - disse Hansel olhando distraído para o porco. - Você faz ideia de quão rápido esse javali pode viajar?

Eu ri.

- Legal. - falei. - Tipo... Peões de Porco.

Hansel assentiu.

- Nós precisamos montá-lo. Eu queria... eu queria ter mais tempo para olhar em volta. Mas já se foi agora.

- O que se foi? - perguntou Percy.

Ele não pareceu ouvir. Ele andou até o javali e pulou em suas costas. O javali já estava começando a abrir caminho no monte de neve. Uma vez que estivesse livre, não haveria como segurá-lo. Ele pegou sua flauta. Ele começou a tocar uma música horrível e jogou uma maçã a frente do javali. A maçã flutuou e ficou logo acima do focinho do javali, e o javali ficou doido, esforçando-se para pegá-la.

- Demais. Piloto Automático. - disse Thalia.

Ela montou atrás de Hansel, e ainda sobrou bastante espaço para o resto de nós. Zöe e Bianca caminharam para o javali também.

Eu e Percy trocamos olhares e ele deu de ombros.

- Quê? - perguntou. - Eu sempre sonhei em montar em um javali selvagem e enorme depois dele tentar me matar.

- Parem um segundo! - exclamei. - Alguém pode me explicar sobre o que Hansel estava falando ou se ele por acaso comeu flor de lótus de novo?

Zoë se voltou para mim.

– Não sentiste no vento? Foi tão forte... eu nunca pensei que sentiria essa presença novamente.

- Presença?

– O Senhor da Natureza, é claro. Apenas por um momento, na chegada do javali, eu senti a presença de Pã.

- Que tenso... - assobiei. 

Mas no final eu montei no Javali logo por último... E viveram felizes para sempre...

Só que não.


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Notas finais do capítulo

Megan ♥ Nemo
—________________________________________

Lay ♥ Nemo

—_________________________________________

"...Nós somos os destemidos
Almas unidas
Vivemos para ganhar mais uma vitória
Nossas cicatrizes sagradas
Mostram quem somos
E contam a história das nossas memórias"
— 12 Stones - We Are One (Nós somos um)



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