POV Ally

Eu fiquei a beira do pânico procurando eles. Se os perdesse no primeiro dia de aula deles, o diretor iria me matar ou me mandar para cadeia, e certamente eu não fico nem um pouco bem em roupas laranja... Exagerei não?

O sinal da primeira aula tocou e eu não entrei para classe como havia previsto, fiquei perambulando por ai a procura deles. Fiquei com muito medo, pois se alguém me visse agora, eu iria pegar detenção na certa, então quando passava algum aluno para ir ao banheiro ou algo do tipo, eu me escondia e esperava.

Procurei-os até desistir, então pensei em subir ao terceiro andar já as salas estavam vazias e eu podia muito bem... Espera ai. Se você fosse novo, não quisesse ter aula, e estivesse à procura de paz e sossego, aonde iria? Ao terceiro andar porque é proibido para alunos.

Sorri satisfeita com a minha lógica e tentei subir o mais rápido as escadas, tentando não tropeçar em meus pés à medida que ia subindo. Não, eu não sou tão desastrada assim, é que eram muitas escadas e eu ia quase morrer subindo, então estava me controlando para não desmaiar ali mesmo.

Tinham várias salas vazias, e aquele andar me dava muito medo já que as paredes pareciam ser pichadas e ninguém subia ali, dando um ar meio assombrado e fantasmagórico (não sou infantil, é que ninguém vem aqui então você sempre pode achar que tem algo ou alguém se escondendo por ai). Eu subo para estas salas quando eu quero fugir da pressão psicológica que é a escola, mas sempre entro na primeira porta, ou passo direto e subo até o quarto andar.

Controlei-me, arrumei minha mochila e fui em direção à última sala que estava com a porta entreaberta e tinha uma música tocando lá dentro.

Quando entrei controlei para não gritar de felicidade e alívio. Felicidade por ter os achado dentro da escola e não fora matando aula, e alívio por eles estarem apenas fazendo atividades monótonas e não pichando, matando ou estuprando alguém. Coitados, só por que eles foram expulsos (eu que estou supondo isto) de outra escola não devem ser totais delinquentes.

- Achei vocês! Finalmente. – Todos me olharam meio espantados.

- Como nos achou? – O moreno perguntou parando de desenhar no quadro.

- Eu procurei em toda a escola e supus que já que não estavam lá em baixo possivelmente estariam aqui.

- Você não deveria estar em aula? – Agora foi o loiro que me perguntou totalmente sonolento.

- Sim, mas não podia deixa-los sozinhos por ai.

- Você vai fazer o que agora? – O ruivo perguntou nervoso. Acho que ele está com medo que talvez eu possa entrega-los.

- Nada, vou ficar aqui e esperar até o almoço. – Eles me olharam surpresos.

- Você não quer entrar nas próximas aulas?

- Não totalmente, é que não posso, se eu acabar sendo pega por algum professor ou funcionário da limpeza, acabo manchando meu histórico escolar.

- E a aluna nerd não pode fazer isto, acertei? – O loiro falou com um sorriso sarcástico no rosto.

- Eu não sou totalmente “geek” como você está supondo, só quero ter boas notas para sair logo daqui e ir para faculdade. E se eu fosse essa “nerd” que estás deduzindo eu não deveria estar correndo para sala e ter dedurado vocês no primeiro momento que os encontrei?

- Verdade. – O ruivo falou sorridente, e o amiguinho "debochado" dele ficou sério novamente me fazendo sorrir descaradamente. Eu me sentei perto da parede e do dock para poder escutar as músicas que nele tocavam.

- Eu ainda não sei os seus nomes direito, poderiam repetir para mim?

- Eu sou Dez, ele é o Dallas e ele o Austin.

- Obrigada. – Eu fiquei ali os olhando naquele silêncio quase mórbido que estava, mas o Dez, acho que também não aguentando o silêncio, se pronunciou.

- E o seu nome é...?

- Allycia.

- Eu acho meio estranho.

- Eu também, por isto as pessoas me chamam de...

- Ally?

- Isso ai. – Virei-me para ver de quem era à voz, e me deparei com uma Trish muito cansada e com a mão em cima do coração, acho que tentando controlar os batimentos cardíacos...

- Ally, o que faz aqui? Achei que você fosse para... Quem são vocês? – Ela apontou para os três que estavam fazendo coisas distintas, entre dormir, comer e escrever no quadro “Eu odeio a escola”.

- São os novos alunos e o diretor pediu para eu dar uma de babá deles.

- Eu sou o Dez, oi. – O Dez falou se levantando rapidamente e sorrindo.

- Oi. - Ela o olhou, sorriu também e acenou. Vi em seus olhos algo diferente, como um brilho inexplicável e não pude deixar de ficar intrigada. – Meu nome é Trish.

- Prazer Trish, eu sou o Dez.

- Cara, você já disse isso. – O Dallas falou para o amigo com um sorriso no rosto.

- Eu sei. – Os dois ficaram ali se encarando e o Austin pigarreou como se estivesse totalmente desconfortável com a situação (eu também estava, mas não ia querer acabar com aquela cena).

- Por que não volta à aula? – Eu perguntei a ela.

- Você não vai voltar? – A latina perguntou não quebrando contato visual com o ruivo. Tá, aquilo estava ficando estranho...

- Vou sim, no almoço.

- Tudo bem então. Agora vou indo antes que o professor descubra que eu fugi. Prazer em te conhecer Dez.

- Nossa, e eu não? – O moreno falou totalmente irônico. Eu tentei me controlar para não rir.

- Não, claro, quer dizer sim. Você entendeu. Agora tchau. – Ela saiu e eu não pude mais controlar minhas risadas.

- Ela é sua amiga né Ally? – O Dez peguntou.

- Sim, total.

- Ela tem namorado?

- Tinha.

- Então ela está livre?

- Não bocó, ela só acabou com o namorado e não está livre. Você escutou o que a Ally disse? – O Dallas perguntou dando um tapa na cabeça dele e rindo junto com o amigo.

- Ela sairia comigo?

- Acho que não. – O loiro falou meio sonolento.

- Hã? Por acaso você quer acabar com as esperanças do seu amigo? – Eu perguntei um pouco indignada.

- Eu só quero ser realista.

- Essa sua realidade está um pouco fora de órbita não acha? – Levantei uma sobrancelha a ele e voltei a atenção ao garoto sorridente. – Olha, eu nunca vi aquele brilho no olhar da Trish, nem quando ela estava namorando e acho totalmente que ela deve ter ficado afim de você.

- Será que você poderia falar com ela?

- Posso sim.

- Obrigada. Sem dúvida você é a melhor babá de todos os tempos mesmo a conhecendo neste meio tempo.

- Vou levar isto como ponto positivo tudo bem?

- Claro. – Continuei ali escutando música com eles. Talvez, eles não sejam estes seres do mal como estava imaginando...