O Choro Das Ninfas escrita por Pessoana33


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Como prometido é devido hoje há um Capítulo novo. Desculpem a demora, é que eu não tive muita inspiração nestes últimos dias, acho que as "fadinhas" da criatividade me abandonaram, então ficou um bocadinho difícil escrever este Capítulo. Já vos disse que os Capítulos narrados por Juliette são um pouco cansativos para mim? Eles são bastante cansativos e desgastantes, porque nunca sei o que escrever.

Agora sem demoras, desejo vos uma boa leitura e espero que gostem
:DD



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Juliette

Lá fora consigo ouvir os passos velozes. Consigo ouvir as respirações aceleradas, mas não consigo ouvir a minha. Dentro de mim há um silêncio mordaz que chega doer. Porque a minha vida depende do meu silêncio. Porque basta um lamento escapar da minha garganta fechada para “acordar” todos os meus demónios.

“Vai ficar tudo bem”.- A voz de Jena invade os meus pensamentos. Olho para ela, e apercebo-me do quanto ela está cansada. Seus olhos estão tão fundos que mal consigo ver a cor neles. Seus lábios estão pálidos e ressecados. E ela está mais pálida do que uma folha de papel.

Abraço os meus joelhos, e enterro o meu rosto neles. E penso em todas elas, das mulheres e das meninas que não cheguei conhecer, mas essas estranhas, que nem os seus nomes eu cheguei a saber, deram as suas vidas por mim, pela menina que não quer viver. Quero chorar por elas, mas se chorar, eles vão ouvir o meu choro, e vão descobrir a onde estamos escondidas. Por fim irão nos matar, e não haverá mais sentido para todas aquelas vidas perdidas. Elas podem estar mortas para o mundo, mas enquanto eu me lembrar delas, elas continuarão vivas. Então se eu morrer, elas morrerão comigo.

Não posso deixar isso acontecer. Tenho viver por elas.

– A onde vocês estão meninas?- Ouço a voz de Rudy, ele está bem perto de nós.- Assim a brincadeira não tem graça. Apareçam agora e eu prometo que não vos fareis mal.- Ele abre a porta da sala das máquinas, e eu e Jena fazemos o possível e o impossível para desacelerar os nossos corações apavorados. – Sei, que vocês estão aqui escondidas.- Subitamente todas as luzes acendem, e Jena abraça-me com mais intensidade.

Uma pinga de sangue escorre pela minha testa, subo o meu olhar e reparo que os olhos de Jena sangram. Cubro a minha boca com as minhas mãos, para calar o grito que ameaça sair por entre os meus lábios.

“O que se passa, Jena?”- Falo para a sua mente, mas eu não tenho uma resposta, ou talvez sou eu que não consigo ouvi-la em meus pensamentos. Ela fecha os olhos, e tenta limpar as lágrimas que não são lágrimas com o seu antebraço, mas elas continuam a cair. Seus lábios tremem, como se ela quisesse pronunciar as palavras, mas elas ficam presas em sua boca. Aproximo o meu ouvido em sua boca, e ela suspira as palavras silenciosas e tremidas: - Eu… vou mor…rer.- Silêncio. – Tens… sair da…qui.- Não, não, não e não. Eu não quero mais mortes. Não quero que Jena morra por mim.

E de repente ela ofega ruidosamente, como se ela não conseguisse ar suficiente para encher os seus pulmões. E eu fico apavorada, porque não sei o que fazer. Minhas mãos tremem, e eu não consigo me manter calma.

– Então as meninas estavam escondidas aqui.- Rudy encosta-se á máquina que nos mantinha seguras. Ele olha para Jena e diz: - Parece que tua amiguinha já era. Agora só me resta divertir-me contigo, enquanto ela assiste a tudo. - Ele retira um par de luvas no bolso do seu casaco. – Estou preparado para brincar contigo, Juliette.- Ele continua falar enquanto veste as suas luvas, e depois agarra no meu braço, e arrasta-me para fora dos braços de Jena, e os braços dela caem pesadamente sobre o seu corpo.

Ele empurra-me contra uma das máquinas, e eu sinto milhares de agulhas sobre o pano fino que me reveste. Olho para ele, e procuro a criança dentro do menino que está minha frente, mas eu não a encontro, e vez disso vejo um “homem” de olhos impiedosos. Esqueci-me que este mundo sem esperança não é lugar para crianças.

Suas mãos enluvadas esquadrinham cada curva do meu corpo, e em resposta cada pedacinho de mim protesta ao seu toque. A sensação é como se gelo cru tocasse em minha pele, e congelasse todos meus órgãos vitais. Eu odeio quando sou tocada, odeio essa sensação, odeio o menino que está á minha frente, que de menino tem pouco, e odeio Jena por estar joelhada no chão frio de metal, odeio os seus olhos vazios, odeio a morte, por levar vidas que não deveria de levar, odeio os homens, por eles terem reivindicado o mundo para eles, e odeio o mundo, por ser um ponto esquecido no espaço.

Só sei odiar, e odeio este sentimento.

– Tens um corpo digno de ser tocado, pena eu não poder saboreá-lo. – Rudy fala como um homem, e não como uma criança de 10 anos.

Ele pega num objecto de metal e perfura o meu ventre.

– Mas eu posso divertir-me desta forma.- Ele sorri, enquanto perfura-me novamente.

– Pá…ra… Pira…lho.- Jena murmura, e tenta manter-se pé.– Ainda consegues falar? Isso deixa-me feliz, porque quando acabar com ela ainda poderei divertir-me contigo.- Diz Rudy, sem tirar os olhos de Jena.

Eles continuam a falar, mas eu não consigo perceber do que eles falam, é como se a conversa deles fosse sussurrada para que eu não pudesse ouvir.

As minhas feridas doem.As minhas pálpebras pesam uma tonelada, e é difícil sustentar os meus olhos abertos, porque tenho sono e só quero dormir.

As luzes se apagam.

Não consigo mais vê-los, e muito menos ouvi-los.

Estou num lugar escuro e silencioso.

Procuro por uma saída, porque tenho sair daqui e salvar Jena, não posso deixa-la para atrás, não posso deixa-la sozinha com Rudy.

Não consigo ver nada, e nem sequer consigo ver as minhas próprias mãos. Dou um passo caiu no chão, e sinto a quentura das lágrimas acumularem-se nos cantos dos meus olhos cegos.

Com esforço levanto-me, mas o meu ventre e os meus joelhos latejam. Mas mesmo assim continuo a caminhar, porém os meus passos são vagarosos e calculados. Dou mais um passo, outro passo, e mais outro…

Ouço risadas. Paro. Olho em volta, mas não encontro ninguém. De onde elas vêm? De quem elas pertencem?

Sigo o som das risadas, e já não sou mais cega, porque a escuridão se foi.

Vejo dois meninos em volta de uma mulher de longos cabelos escuros, não consigo ver o seu rosto porque ela está de costas para mim. Ela passa a mão sobre os cabelos loiros de uma criança e canta uma alegre melodia, e os dois meninos cantam com ela, e sorriem. Uma lágrima solitária escorrega sobre minha face, e eu não sei porquê, mas sinto-me vazia, e sinto falta de algo que acabei por esquecer.

“Juliette liberta-me”.- É a minha voz.

A imagem das crianças e da mulher de cabelos escuros sumiu, e deu lugar a uma porta velha de madeira, e uma maçaneta enferrujada. Dou passo para trás. Eu já sonhei com esta porta.

“ Abre a porta e terás a paz que procuras”. Ouço minha voz, mas não vem da minha boca.

Pego na maçaneta, empurro a porta e ouço o um fraco rangido, e uma luz tão brilhante ofusca os meus olhos. O meu corpo fica mais leve, o meu coração desacelerado, a minha respiração suaviza. Sinto estranha de mim mesma, e pequena demais em meu próprio corpo. Sonolenta. Cansada de melancolia e de uma vida cheia de amargura. Quero dormir e nunca mais acordar, porque enquanto sonhar, posso viver em meu próprio sonho. É isso mesmo, vou dormir, porque já faz tarde, e que outros lutem por minha vez.

– Mãe, ainda cedo para despertares. – Consigo ouvir Jena. Ela pressiona a mão perto do meu coração.- Continua a dormir.- Sussurra.

Volto a mim, mas não sei quando me perdi. Lentamente, sinto os músculos desprenderem-se, sinto novamente o peso dos meus ossos sobre a minha carne, e novamente sinto o sangue a correr em minhas veias. O que aconteceu comigo? Não me lembro de nada. Tento me lembrar. Mas por mais que eu procuro nas gavetas da minha mente, eu não acho nada.

Observo o meu redor, vejo tudo empoeirado e destruído é como se uma tempestade tivesse entrado aqui dentro e bagunceado tudo e deixasse um rasto de destruição. Maquinas quebradas e espalhadas pelo chão. Buracos e rachaduras nas paredes.

A luz vai e vem. Escuro, depois luz, e depois escuro novamente e assim sucessivamente. Levanto-me, e procuro pela Jena no meio dos detritos. Mas em vez de Jena encontro um corpo inerte e um par de olhos opacos.

– Não, não, não e não.- Berro para paredes silenciosas.

Ela não deveria ter morrido, eu é que deveria. Porquê que és tão injusta, morte? Porquê que tens de levar todas as pessoas com que eu me importo? Porquê que me deixa sozinha? Porquê?

Soldados entram rapidamente, e todas armas estão direccionadas a mim. Olho para todos eles e eles fogem do meu olhar.

– A onde está o meu filho?- Senhor Ermeson pergunta-me, mas eu não sei a onde esta o pequeno “homem”. Só me lembro de ele me cortar, de me furar e de me torturar, e depois disso ficou escuro, e não tenho mais memórias.

Será que ele morreu? Apesar de ele ser o que é, eu nunca quis que ele morresse, porque ele apenas uma criança que nasceu na era errada.

Ouço um choro aflito, por baixo da acumulação de lixo. Senhor Ermeson e os soldados correm até lá, enquanto eu olho para Jena, e quero acreditar que ela só esteja a dormir, e que dia menos dia ela irá acordar.

Os soldados retiram o menino, e o menino felizmente está vivo. E chora como uma criança de verdade.

– Papai, ela é um monstro.- Diz o menino apontando o dedo para mim, seus olhos danificados pelo medo, mas não sei porquê que ele tem medo de mim, eu é que deveria de ter medo dele.

***

Sou um monstro é o que todos eles dizem. Mas que tipo de monstro sou? Eu sou do tipo diferente deles?

Eles acusam-me de coisas que eu não me lembro.

Pelo menos eu não matei ninguém.

Já eles mataram sem dó nem piedade.

Eles pontapeiam-me, e esmagam-me como se eu fosse um pequeno verme. Estou por baixo dos seus pés, o meu sangue mancha os seus impecáveis sapatos.

Meus olhos estão inchados, mal consigo abri-los. Minhas novas feridas estão emolduradas em cada canto do meu corpo, e doem como se tivessem sal nelas. Acho que eles quebraram algumas costelas.

Eu quero morrer, mas eles impedem-me. Porque eles querem que eu sofra. Porque os monstros nasceram para sofrer.

Grito e gemo, porque a dor é insuportável.

Porquê que eles não me matam logo de uma vez?

Alguém dá um pontapé no meu rosto. Sinto gosto amargo do sangue encher em minha boca.

Eu não aguento mais isto, por favor matam-me, é o que eu quero dizer, mas não tenho voz.

Mais um pontapé, mais uma queimadura de cigarro em minha pele, mais um grito doloroso ecoa em minha cabeça.

Ouço passos de longe aproximarem do meu inferno, e eu conheço estes passos, e o meu coração galopeia a cada passo, a cada proximidade, e acabo por esquecer da dor imprensada.

– Senhor Ermeson.- É a voz dele.

– Warner, você chegou numa boa hora.- Diz o senhor Ermeson alegremente.

Fecho os olhos, porque não quero que ele me veja.


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Notas finais do capítulo

Afinal quem é Juliette? Será que ela é mesmo um monstro?

Como será a reacção de Warner no próximo Capítulo?

x'DD



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