Finalmente os cavalheiros regressaram ao palácio e foram logo recebidos, por uma rainha afoita e preocupada, que conversava na sala principal do mesmo com a arqueira Susana, justamente sobre ter enviado os dois homens sozinhos para tal missão de tamanho perigo. Assim que Edmundo passou pelas portas do interior do palácio trazendo Caspian em seus calcanhares, a rainha Pevensie voltou sua total atenção para ambos os homens fitando Edmundo por um segundo depois logo voltando seus olhares para Caspian que também se aproximava, mas parecendo segurar um ferimento.

 - Majestade! –se apresentou Keynes.

 - Como foi? –perguntou logo a rainha.

 - Tivemos sorte. –respondeu Edmundo em tom tranquilo. – As amazonas concordaram em nos ajudar, aceitando seu acordo!

- Ótimo. Já estava preocupada crendo que não fora uma boa ideia enviá-los sozinhos até o bosque de Trinity.

 - Tivemos alguns contra tempos, mas... –disse encarando Caspian.

- O que aconteceu? –disse Lucia curiosa notando que Caspian não soltava o próprio braço.

 - Caspian teve alguns problemas com as amazonas.

- Elas feriram você? –Lucia deu um passo a frente estalando os olhos mostrando sua total preocupação para com o mesmo.

- Foi só um arranhão. –respondeu o mesmo mostrando o ferimento por baixo das vestes cortadas e sujas com um pouco de sangue.

- Céus! –a rainha se aproximou instintivamente e tocou o local ferido. – Não devia tê-lo deixado ir. Por que elas o atacaram afinal? –disse voltando seus olhos para Edmundo que naquele instante sorria vendo a cena.

- Pelos mesmos motivos de sempre majestade! –disse o outro. – Mas Caspian está bem, na verdade elas não queriam machucá-lo. Por sorte eu consegui convencer Tricya com meus meios a deixar Caspian regressar comigo.

- Ora e por que razões elas não permitiriam que Caspian regressasse? –disse Lucia franzindo a testa enquanto olhava Caspian e depois voltava a encarar Edmundo.

 - Acho que elas gostaram dele... –riu Edmundo recebendo um olhar desaprovador do moreno.

 - Como assim gostaram? –disse Lucia fazendo quase um biquinho o que era habitual quando esta estava confusa.

- Sabe o que dizem sobre as amazonas majestade! –riu Edmundo. – Não é atoa que receberam o título de devoradoras de homens. –Lucia arregalou os olhos diante de tal informação imaginando mil coisas, que tentava não imaginar.

 - Devem ter se encantado com o porte de Caspian. –disse Susana enquanto olhava Edmundo.

- Tive certo trabalho para tirá-lo de lá. As moças estavam em cima dele praticamente. – Caspian engoliu a seco vendo as expressões doces da rainha mudarem bruscamente para a seriedade e vendo a coloração de sua pele clara tomando um tom avermelhado.

 - Deve ter sido constrangedor imagino. –disse Lucia olhando nos olhos de Caspian que sorriu um riso amarelo ficando sem jeito.

- Na verdade tive que praticamente arrancá-lo de lá. –Edmundo riu mais uma vez encarando Caspian que lançou sobre ele um olhar seco repreendendo seu comentário diante da rainha. – Se eu tivesse demorado um pouco mais creio que teria voltado sozinho.

- Ah é mesmo? –ela nem olhou Caspian e sua mão que antes o tocava no ferimento se afastou assim como a própria rainha que deu alguns passos segurando as saias de seu vestido e andou alguns passos. – Então imagino que me preocupei atoa. –disse ela enquanto Susana dava um tapa discreto no braço de Edmundo. – Parecem ter se divertido. –ela se virou e os encarou com um olhar firme e seco. –Nesse caso se estão bem e o acordo foi concluído eu peço que me deem licença, tenho mais o que fazer. –ela juntou novamente suas saias com as mãos o que só fazia quando estava zangada e andou em direção à porta.

 Susana reconhecendo o incômodo no tom e na face da rainha apenas sacudiu a cabeça negativamente olhando os dois homens e disse:

- Da próxima vez evitem comentários pessoais na presença da rainha rapazes. –disse e se retirou seguindo Lucia.

...

Quando Susana finalmente reencontrou a Rainha esta estava de pé diante de uma das janelas do palácio enrolando os dedos freneticamente com as cordas que amarravam seu vestido enquanto mordia o lábio inferior e observava a paisagem.

- Ora que despautério. –ela se manifestou ao sentir a presença da arqueira. – Eu os envio em uma missão séria como esta e eles a usam como diversão. Devia ter ouvido Pedro...

 - Mas eles regressaram em segurança majestade. –disse Susana tentando ser displicente.

 - Viu a cara dele? –Lucia franziu a testa e encarou Susana. – Estava quase sorrindo.

 - Fala de Edmundo ou de Caspian majestade?

- Os dois estavam evidentemente eufóricos e encantados. Imagino que tais moças devam ser mesmo de admirável beleza... –ela mordeu o lábio mais uma vez enquanto bufava.

- Creio que sim. Ouvi dizer que são mulheres extremamente sedutoras.

- Eu mesma deveria ter cuidado disso. –Lucia respirou profundamente enquanto apertava os lábios um contra o outro. – Você eu poderíamos muito bem ter ido até lá e proposto o acordo pessoalmente.

- Mas Edmundo é muito bom em acordos majestade. E ele conseguiu mais desta vez...

- A que preço? Viu o tom dele quando se manifestou sobre ter seus meios para ter convencido Tricya a liberar Caspian? Imagine que tipo de planos teriam tais mulheres para com o rei de Nárnia. –disse em tom profundamente indignado. – Caspian X preso nas mãos de aventureiras... Ora... Que afronta. –replicou.

- Majestade, seu rosto está vermelho como as cortinas do palácio. –sorriu Susana enquanto inclinava a face sutilmente. – Acho que deveria buscar o fôlego e contar até dez.

 Lucia encarou Susana com o olhar gélido e esbugalhado depois respirou profundamente e contou intimamente até dez depois fechou os olhos e voltou a abrir os mesmos dizendo:

- Pareço muito chateada?

- Sua saída às pressas da sala principal quase não demonstrou sua inquietude majestade. –riu Susana.

- Não fui nem um pouco discreta quanto ao meu incomodo não é?

- Geralmente seu talento em esconder o que sente costuma falhar em certas situações majestade.

 - Ora! –ela bufou mais uma vez e se afastou da janela seguindo pelo corredor. – Eu sou uma rainha, por Aslan! Porque estou me comportando desse jeito?

 - Talvez esteja com ciúmes majestade! –sorriu Susana seguindo ao lado da rainha.

- Ora Susana! –esta lhe lançou um olhar desaprovador e ao mesmo tempo revelador. – Do que está falando?

- Sua evidente preocupação excessiva com o provável rei Caspian e seu ataque de fúria há pouco, se me perdoa por tal comentário.

- Não sei o que me deu... Simplesmente não consigo controlar meus sentimentos. –disse como uma menina que admite sua culpa. – Eu não sou o tipo de mulher que se permite encantar por qualquer homem. Mas... –ela encarou Susana como se pedisse segredo. – Susana eu não consigo tirar os olhos de Caspian de meus pensamentos. –disse murmurando. – Quando estou no gabinete resolvendo meus assuntos, lá estão eles povoando meus devaneios. Quando me deito em minha banheira para banhar-me e fecho os meus olhos, lá estão os olhos negros de Caspian novamente em minha mente. E quando me deito para dormir, lá vem aqueles malditos lindos olhos novamente me perturbar. O que eu faço Susana? –disse a rainha implorando uma resposta enquanto parava e tocava o antebraço da outra.

- Diga a ele como se sente. –sorriu Susana tocando a mão da rainha.

- Sou uma rainha Susana, não posso sair por aí me oferecendo dessa maneira a um homem que conheço a menos de uma semana.

- Você o conhece a sua vida inteira Lucia. –disse Susana quebrando o tom formal. – Você conhece Caspian X como conhece a palma de sua mão.

- Apenas pelas estórias Susana. –disse com tom triste e cabisbaixo. – Nunca convivi com Caspian X. Ele sempre fora um herói para mim.

 - Nunca teve pensamentos românticos para com ele?

- Eu costumava dizer ao meu pai que quando me casasse seria com um rei como Caspian. –admitiu sentindo-se envergonhada. – Mas isso era loucura, coisa de criança.

- Talvez sempre tenha esperado conhecê-lo, já que todos os pretendentes que se ofereceram para cortejá-la foram dispensados de imediato. –disse Susana. – Claro com uma ajudinha do rei Pedro.

- Pedro acredita que servirei a Nárnia a vida toda sem me casar. –ela resmungou enquanto se dirigia a um banco e sentava-se.

- Mas Pedro não pode protegê-la a vida toda do casamento! –Susana sorriu e sentou-se ao lado da rainha. – Diga a ele como se sente Lucia. Diga a Caspian...

 - O que ele iria pensar de mim Susana?

- Caspian deve estar ansioso para ouvir tal confissão Lucia.

 - Acha mesmo? Por que diz isso?

- Por que já tive que repreender Caspian durante os treinos porque ele passava metade do tempo me enchendo de perguntas bobas sobre a rainha.

 - Verdade? –Lucia sorriu sem querer. – E o que exatamente ele perguntou de mim?

- Quais eram suas flores favoritas, o que gostava de fazer, de onde vem o perfume tão agradável que exala dos seus cabelos quando você se mexe. Ele até disse a seguinte frase recentemente: Ela tem um cheiro tão bom que qualquer um passaria uma tarde inteira junto dela apenas para sentir tal perfume.

- Ele disse mesmo isso? –sorriu Lucia com ar doce e os olhos brilhantes.

- Com uma cara de bobo! Claro que quando percebeu o que estava dizendo ele tentou disfarçar, mas eu já havia ouvido cada palavra o suficiente para decorar! –ela riu.

- Ele é tão encantador Susana. –a rainha precisava de um rodo para arrastá-la, pois estava se derretendo. – O jeito como ele sorri, sua voz é como música.

- Acho que está apaixonada majestade! –Susana sorriu com um riso de canto de lábio.

- O que devo fazer? –dizia com um sorriso bobo.

- Vá falar com ele! –segredou Susana com um sorriso cúmplice. – Aproveite que Pedro está envolvido com suas tarefas e vá falar com Caspian.

- Pra onde acha que ele foi? –disse Lucia levantando-se.

- Como seu braço foi ferido, imagino que esteja na sala de Gael tratando do mesmo, majestade! –disse Susana também se levantando.

- Certo! Eu irei até lá agora mesmo. Devo me desculpar pelo meu comportamento anterior. –ela sorriu segurando as mãos da outra.

- Vá, e não tenha medo de mostrar seu melhor sorriso Lucia!

- Obrigado Susana!

Com um sorriso estampado de orelha a orelha, vossa majestade a rainha Lucia praticamente voou sobre o piso do longo corredor rumo a sala de medicamentos onde se encontraria o doutor Gael.

...