A semana ocorreu normalmente, cumpri todas as tarefas e tentei demonstrar o máximo de calma para não desesperar meus pais, esse também era o plano de Evandro, não comentar nada em casa, apenas chegar e fazer de conta que nada disso estava prestes a acontecer, mas quando estávamos juntos, quando íamos caçar, durante todo o percurso ficávamos planejando formas de fugir de lá ou algo que seja ligado a nossa sobrevivência.

“o que você acha se a gente se dispersar do grupo quando estivermos lá dentro e quando começarem a sentir nossa falta, a gente foge”- Evandro dizia aquelas palavras como se fosse fácil fazer isso, tipo um passe de mágica.

Mas acabei concordando com tudo para não esfriar a nossa amizade nesse ponto critico, porque se não fosse ele, o que seria de mim lá embaixo?

Como se a semana inteira durasse menos que vinte e quatro horas, acordei em uma fria segunda de manha (aqui em hawthore quase nunca fazia sol) como sempre, tomei café e desci. A porta não abriu quando eu fui passar, nunca abria, pois Evandro sempre estava lá para bloqueá-la.

“bom dia, está pronta?”- enquanto dizia, fumaça saia da sua boca de tanto frio que fazia do lado de fora.

“mais ou menos, e você?”- disse, colocando a espada na bainha e aquecendo as mãos dentro do bolso.

Ele não respondeu, apenas passou a aljava pelo pescoço, deixando-a pendurada nas costas e saiu andando, com as mãos dentro do bolso também.

E foi assim, sem nenhuma palavra, que chegamos até a sede presidencial. Fomos sair de lá cerca de meio dia, tivemos que preencher alguns documentos e um homem magro de cabelos loiros que parecia não ter dormido há dias, nos levou para conhecer onde seria o nosso centro de treinamento, onde ficaríamos pelo resto da semana e também nos avisou que teríamos que chegar amanha, bem cedo para começar o treino.

Voltamos para casa debaixo de uma forte tempestade de neve, fechei o zíper da blusa até o final e cobri meu rosto o máximo possível, estava ficando muito ruim de enxergar e a rua ficava cada vez mais vazia conforme ia piorando. Em milhões de anos, eu nunca ia imaginar que ele teria a capacidade ou a coragem de fazer isso, mas quando fui ver, um de seus braços estava agora sobre meu pescoço, Evandro me puxou para mais perto fazendo com que o calor que seu corpo exalava, me deixasse aquecida.

Nesse mesmo dia á noite, fui dormir na casa de Evandro para no outro dia de manha, não nos atrasarmos para o treino, minha mãe concordou e disse que precisaríamos de um tempo juntos para nos preparar.

“Evandro, será que você poderia me dar um cobertor?”-disse eu, entrando pela porta de seu quarto

“pra que?”- ele, que agora estava guardando seu grande casaco de pele e o arco no seu guarda roupa, se virou para mim.

“eu, para me cobrir de noite”-disse- “ no sofá da sala”

“ você não precisa”-agora tinha voltado a arrumar suas coisas.

“ mas eu acho que está um pouco frio e lá em baixo e fr...”- ele se voltou para mim, agora largou o que estava fazendo novamente e olhava fundo nos meus olhos, como se isso fosse a coisa mais obvia do mundo.

“você não vai dormir na sala, vai dormir comigo”