Hali

Minha consciência vai e vem, a escuridão me puxa, mas eu luto. Escuto vozes, mas bem distantes e não consigo identificar, nem meu corpo eu sinto.

Parece que dura uma eternidade esse estado, até que minha consciência enfim volta. Meu corpo está repousado em algo macio, o que me estranha, já que antes estava num lugar desconfortável.

Tento abrir meus olhos, mas estão pesados como pedra, solto um gemido de irritação e de dor, sinto alguém segurando minha mão. Tento novamente e dessa vez tenho sucesso, minha visão está meio turva, vejo tudo embasado, em alguns segundo consigo ver tudo direito.

–Olá Hali. – Cumprimenta Gretel

Tento dizer algo, mas minha garganta dói e está seca.

–Água. – Forço a dizer, mas sai num sussurro.

Gretel pega a jarra que tem na minha cômoda e enche o copo. Entrega-me o copo e bebo rapidamente.

–Devagar Hali. – Pede Gretel, então ela vira para seu lado. – Hey, acorda Hansel. – Chamou Gretel e então dá um tapa na cabeça de Hansel

Hansel levanta a cabeça com tudo e põe a mão no lugar que levou o tapa.

–Hey, não precisa me acordar assim. – Disse Hansel

Meus olhos vão para minha mão e noto que a mão que esta segurando a minha é do Hansel. Meu coração dispara, só não entendo por que está segurando minha mão.

Ele nota que eu estou olhando para nossas mãos, então ele solta, o que me deixa triste.

–Finalmente acordou, bela adormecida. – Brincou Hansel

Respondo com um sorriso.

–Está melhor? - Pergunta Hansel preocupado

–Um pouco.

Gretel se levanta e vai em direção a porta.

–Vou trazer algo para você comer.

Sai nos deixando sozinhos.

–Você nos deu um susto, Hali. Achei que dessa vez você ia de vez. – Brincou Hansel, mas deu para notar preocupação no seu tom.

–Vai demorar para se livrar de mim. – Brinco. – Mas, o que aconteceu?

Hansel, solta um suspiro de cansaço e começa a contar. Tudo, desde que as bruxas me levaram da sela ate trazerem para casa. Meu coração se alivia em saber que Issa não está no lado das bruxas, mas minha consciência tem duvidas.

–Ela passou a noite lá fora, tentamos convencê a entrar, já que a noite foi fria, mas não adiantou. – Informou Hansel olhando para a janela.

Olho para minhas mãos. Issa, me confunde muito. Como ela pode ter virado bruxa negra?

Pensando em bruxa, Axel e Hansel viram me usar magia, sabem que sou uma bruxa. Um onde de pânico invade meu espírito. Antes que pudesse dizer ou fazer algo, Gretel entra segurando uma bandeja. Ela se aproxima e põe no meu colo.

–Obrigada. – Agradeço receosa

Os dois reparam minha mudança.

–Vamos sair, para poder comer em paz. – Disse Hansel

Os dois saem, me deixando sozinha. O que irei fazer? Provavelmente irão me matar, já que é a obrigação deles. Se explicar que sou uma bruxa branca e a diferença entre as bruxas negras, pode ser que me deixem viver. Mas se eles fossem me matar, não teriam cuidado de mim e nem estariam tão preocupados.

Começo a tomar a sopa, não sei se vai ser minha ultima refeição. Depois de ter tomado tudo, levanto da cama e vou ate meu armário para pegar uma roupa, não posso ficar andando por ai de camisola. Ponho rapidamente minha roupa e penteio meu cabelo, dessa vez deixarei solto.

Pego a bandeja e saiu do quarto, chego no primeiro andar e vejo o garoto dormindo no sofá, mas nenhum sinal de Axel. Vou ate a cozinha e o encontro sentado, ele se vira e me olha. Vou direto para o balcão e deixo a bandeja.

–Como está seu braço? – Pergunto preocupada

–Está bem. – Respondeu rapidamente

Vou ate um dos armários e pego algumas ervas e faço um chá. Pela janela observo Issa encostada numa arvore, seu olhar mostra tristeza. Minha mãe tinha razão, eu já havia perdoado.

Sirvo o chá em dois copos e entrego um deles para Axel. Ele olha para o copo, como fosse veneno.

–Não é veneno, é para dor. Eu não acredito que está bem.

Saiu da cozinha rapidamente e vou para fora. O sol bate no meu rosto, esquentando o como um carinho. Issa me olha feliz e com medo.

Noto Gretel está encostada na parede da casa, me aproximo.

–Obrigada por cuidar de mim.

–Não precisa agradecer. E devo dizer, que não precisa nos temer.

–Obrigada.

Afasto-me e vou em direção a Issa. Mantenho minha expressão seria. Cada passo que dou, sinto uma magia negra forte na direção de Issa, o que me preocupa.

–Oi Issa. – Cumprimento seriamente

–Oi Hali. Fico feliz por estar bem. – Disse Issa

–Precisa mais que isso para acabar comigo.

Um silencio constrangedor se forma entre nós

–Hali, eu...

–Vamos entrar, precisamos conversar. Todos nós. – Digo a interrompendo.

Volto para a casa e não olho para trás para saber se ela está me seguindo, faço sinal para que Gretel me siga. Vou direto para sala, onde não encontro só o garoto dormindo, como Hansel sentado no chão.

–Hansel, leve Nathan para meu quarto. Melhor ele não ouvir a conversa. – Peço

Hansel pega o e sai da sala. Gretel e Axel senta no sofá e Issa encosta na parede, tomando distancia de nós. Alguns minutos depois Hansel entra e fica atrás do sofá, onde os dois estão sentados. Axel olha com confusão e raiva.

–Bem, agora que a Issa, está conosco, podemos procurar o Livro de Rituais.

–Na verdade, nós já temos. – Informou Issa calmamente.

Como assim ela já tem? Desde quando?

Issa mostra o livro que segura, então essa é magia que senti. Dou dois passos para trás inconscientemente.

–Só precisamos saber qual é o ritual para impedirmos. Issa, já que você é a única que pode mexer no livro, procura para nós. – Disse Gretel.

Issa abre o livro e começa a procurar, essa magia negra que o rodeia o livro faz me senti mal. Gretel se levanta e vem para minha frente.

–Hali, você está pálida. Melhor se sentar. – Disse Gretel.

Sento-me e fico observando Issa. Ela procura o mais rápido que pode, só espero que consigamos impedir o ritual.