Demons escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 4
Capítulo 3




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Ele abriu a porta da biblioteca e uma rajada de vento frio o atingiu em cheio. Não que ele sentisse muito frio, ele já estava acostumado com temperaturas baixas, mas o que realmente o incomodou foi a frieza do lugar. Como se a sala estivesse vazia e se irritasse com isso. Finn sorriu, ele também se sentia sozinho.

No último mês, a biblioteca se tornou o ponto de encontro entre ele e Katherine, ele sentiu seu rosto enrijecendo quando percebeu que demoraria um tempo até vê-la novamente. Não que ele soubesse o que realmente os separava. Ele tinha ouvido cada palavra do que ela lhe falou por telefone, mas ele estava tão preocupado com ela que não conseguiu prestar atenção se não no machucado que sangrava no topo da cabeça da garota. Entrar naquele lugar sabendo disso, fazia com que ele se sentisse tão frio quanto a sala. Já fazia um tempo que ele percebeu que talvez, apenas talvez, a sala refletia o modo que ele se sentia.

Mas sua constatação era improvável, considerando que nem ele, nem nenhum dos garotos que moravam ali, com excessão de Katherine, podia sentir alguma coisa.

Finn andou até onde Niah se encontrava apoiada sobre a parede com as mãos no rosto, escondendo-se do mundo. O clima no forte estava assim, uma mescla de frustração e raiva ao mesmo tempo, desde que a notícia sobre o Livro Vazio se espalhou. Quando chegaram ao Forte, e resolveram abrir o livro finalmente para descobrirem seu segredo, Niah gritou e jogou o livro no chão, quando Finn e Blake se aproximaram para pegar o livro, viram que este estava em branco. Completamente vazio.

– Quem iria imaginar que bruxas tinham um senso de humor tão grande colocando um título tão sugestivo quanto este - comentara Blake.

Mas Finn quase não se preocupava com isso. Tudo o que lhe importava era Katherine, e se tinha uma coisa que o deixava com raiva, era saber que tiveram que se sacrificar tanto - incluindo suas vidas e Katherine - apenas para conseguir um livro vazio, que não os levaria a lugar nenhum.

Ao se aproximar de Niah ainda mais, uma memória se acendeu na mente do garoto, a lembrança do dia em que ele e Katherine estavam sentados exatamente naquele lugar, examinando livros e mais livros como fizeram no mês todo em busca de informações sobre a Capela, quando finalmente acharam algo.

Ele estava sentado em cima da mesa como se tornara um hábito (para quê cadeiras, não é mesmo?) apoiando as costas sobre a parede. Ele lia um livro enquanto a cabeça de Katherine descansava em seu colo após a menina cair no sono em meio a uma leitura, cujo livro ela ainda segurava entre as mãos, seu dedo indicador marcando a página sobre a qual adormecera. Finn virara uma página do livro que continha entre as próprias mãos e seus olhos se arregalaram, ele deu um pulo, despertando Katherine e deixando a cabeça da mesma cair bruscamente na mesa.

– Mas que droga, Finn - praguejara ela massageando suas têmporas.

– Eu encontri algo - declarou ele, depois olhou para ela com um olhar preocupado - Você está bem?

Ela assentiu.

– O quê você encontrou?

– O livro - dissera ele - Eu sei onde ele está.

E desde então, a busca desenfreada pelo Livro Vazio começou, e Niah não desistiria até encontrá-lo. Mas agora, com Katherine desaparecida e a certeza de que todo aquele trabalho fora em vão, Niah se sentia pequena, impotente. Era raro, para qualquer um, ver a Filha do Diabo nesse estado. Mas ele próprio não conseguia se dar ao luxo de não se importar, querendo ou não, Katherine fazia parte daquele lugar, e agora que estava longe, um imenso buraco se formou no caminho de cada um.

– Descobriu alguma coisa? - perguntou Niah levantando o rosto e se recompondo assim que Finn chegou perto da mesa.

– O rastreador do celular dela não está funcionando.

– Se ela está presa no próprio subconsciente, o que eu duvido - completou ela - Como ela pode estar usando o celular?

– Ela não me explicou quase nada, apenas o essencial.

– Quem foi a tal que interrompeu a conversa de vocês dois mesmo?

– Uma tal de Rox, acho - ele franziu o cenho - Ela era muito estranha.

– Estranha como?

– Cabelos prateados, olhos violetas e uma cabeça de lobo cinzento na dela própria - descreveu Finn.

– Olhos violetas como os de uma bruxa?

– Não acho que seja isso - disse ele - Eu já vi muitas bruxas na minha vida, de diversos lugares do mundo e nenhuma se parecia com aquela garota, ela tinha algo estranho, como uma áurea antiga e ao mesmo tempo moderna, como se...

– Como se ela tivesse vivido nos dois séculos? - adivinhou Niah. Finn assentiu com o olhar.

– Eu não sei, mas o quê importa agora é encontrar a Kath, custe o que custar.

Niah o encarou por longos segundos, depois deu seu sorriso frio de sempre, parecia contraditório naquela situação.

– Você está gostando dela, Finn Smith?

Finn congelou. Como ele, um Filho do Diabo, um ser que nunca, sobre hipótese alguma deveria sentir alguma coisa, poderia estar apaixonado? Ele devia estar delirante, isso não era possível.

Mas ele foi poupado de responder a pergunta quando a porta da biblioteca se abriu novamente e Jim, Reed e Wes apareceram carregando caixas na mão. Ao se aproximarem da dupla na mesa, eles depositaram as caixas no chão e começaram a esvaziá-las. Jim foi tirando pilhas e mais pilhas de papeis, Reed depositou milhares dos aparelhos que ele muitas vezes inventava e Wes tirava frascos transparentes com líquidos coloridos e etiquetas que Finn não estava com vontade de ler.

– O quê diabos é isso tudo? - perguntou Niah piscando e cruzando suas mãos na frente de sua boca.

– Esse lugar que você me descreveu - começou Jim para Finn - Eu sabia que já tinha ouvido falar sobre isso alguma vez na minha vida - ele pegou uma das pilhas de seus papéis e entregou a Finn - Essas são cópias dos diáros da minha mãe, como vocês sabem, ela dedicou sua vida e a morte a encontrar e localizar todos os lugares mágicos pertencentes nesse mundo. Ela me contava histórias sobre esses lugares as vezes, mas apenas uma história ficava incompleta.

"A Cidade Fantasma, era como ela a chamava. Muitas outras bruxas já tentaram encontrar esse lugar sem sucesso, segundo os diários de minha mãe, ela foi a que chegou mais próximo do lugar. Ela escreveu, pouco tempo antes de morrer, que a Cidade era quase como uma prisão imaginária, porque ninguém sabia o quê era mantido ali, e acreditavam que seja lá o quê se encontrava ali, era indestrutível. Rege a lenda que na verdade, um monstro, o primeiro monstro de todos, foi preso naquele lugar. Minha mãe encontrou anotações da Era Sansiana e lá dizia que o monstro era criação de Sansy, mas ela não sabia o que estava fazendo, e acabou criando um monstro tanto imortal quanto indestrutível.".

– E onde fica essa prisão? - perguntou Niah.

– Esse é o ponto - disse ele - Ninguém jamais soube, alguns estudiosos da magia acreditam que nem a própria Sansy sabia a localização do lugar pois ele não possuía um ponto fixo no mapa.

– E como a Katherine, que não sabe quase nada sobre as Sombras conseguiu achar esse lugar?

– O demônio Shax era uma sentinela, ele estava lá guardando alguma coisa - respondeu Wes - Mas e se o quê ele estivesse guardando não fosse o livro, mas sim a entrada para à Cidade?

– Ela me falou que chegou lá através de um Portal - disse Finn - Portais abrem apenas em pontos fixos no mapa, ou então você para no Vazio.

– Tem mais uma coisa sobre essa prisão que é debatido até hoje - Jim olhou para cada um na sala, como se esperasse que alguém se pronunciasse, mas como ninguém o fez, ele continuou: - A Cidade é a prisão perfeita, e seu único objetivo é não falhar. Mas como prender alguém eternamente mesmo depois de você estar morto tendo a garantia de ela nunca irá escapar ou ser libertada?

– Mate ela - sugeriu Niah.

– Não - negou Jim - Você prende a pessoa nela mesma, você prende a pessoa em seus próprios pesadelos, você torna cada dia de sua vida insuportável, você isola ela no seu próprio subconsciente.

– Você acredita nessa de preso no subconsciente? - perguntou Finn, incrédulo.

– É a única explicação lógico - argumentou Wes - Quer dizer, essa criatura, seja lá o que ela for, está presa em seus próprios pensamentos. Tem coisa pior que isso?

***

– Então - disse ela - Você vai me contar ou não como eu posso usar meu celular quando, supostamente, estou presa no meu próprio subconsciente?

Ela falava enquanto sentia, tristemente, seu cabelo cair pesarosamente sobre os ombros novamente. Essa já era a terceira vez que ela tentava prender seu cabelo sem a utilização de seu muito útil elástico. Este, tinha se perdido no meio de sua batalha com o demônio Shax. Mas como se não bastasse Katherine ter que deixar seu cabelo solto, a pulseira que representava sua única conexão com seu pai também havia se perdido.

Claro que ela não deveria mais se importar com aquela pulseira, já que, o homem que ela pensava ser seu pai, não era seu verdadeiro pai. Katherine vinha pensando nisso desde que deixara a Basílica. Agora que sabia quem era sua verdadeira mãe, quem poderia ser seu pai? Imaginar Lane Bloon se apaixonando por alguém não era fácil, mas imaginar esse mesmo alguém quebrando seu coração era ao mesmo tempo terrível e prazeroso.

Katherine ofegou. Elas estavam andando pelo o que se pareciam horas, mas nem Nancy, nem Rox, pareciam estar cansadas, as duas andavam como se estivessem indo até a esquina. O que antes Katherine imaginou ser apenas um ponto preto em meio à terra morta, se revelou como sendo na verdade uma pequena vila. Agora, um pouco mais perto, ela via com clareza um conjunto de casas e mais algumas construções suja, sendo a maioria meio destruída e deteriorada pelo tempo. Uma névoa densa cobria o lugar.

Aquele era um cenário perfeito para um filme de terror, pensou Katherine, Ela sempre odiou filmes de terror, se sentia idiota por isso, mas não conseguia evitar, odiava tomar susto na frente dos outros, e mesmo sabendo que nada daquilo era real, ela gritava. Mas ela não poderia usar esse argumento naquela situação.

– Quantas vezes terei que te dizer, Katherine? - respondeu Rox finalmente - Eu não sei de todas as respostas para todas as suas perguntas.

– Mas você sabe de algo - rebateu ela - Você mesma disse.

– Você não tem o direito de usar o que eu digo contra mim!

– Dá para você responder a pergunta?

– "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.".

– Não venha citar Hamlet para cima de mim - resmungou a outra reconhecendo a frase - Se você não sabe, basta apenas dizer.

– Mas eu já disse isso!

– Você acabou de citar Hamlet para se defender, você definitivamente sabe de alguma coisa.

– O quê é Hamnet? - perguntou Nancy.

– Você quer dizer Hamlet. - murmurou Rox com raiva.

– É uma peça de William Shakespeare sobre vingança e morte - Katherine ignorou o anjo - Você nunca ouviu falar?

– Nem ao menos sei o quê é uma peça - ela disse como se fosse óbvio, depois se virou para Katherine e segurando sua mão, a empurrou na direção de um complexo que parecia ser o mais inteiro em meio a toda aquela destruição - Venham. Chegamos.

Mesmo sobre os escombros, era possível perceber que todas as construções eram antigas, um pouco estilo século passado, mas ainda sim moderno. Era estranho, pensou Katherine, parecia que a cidade tinha sido bombardeada, se é que poderia chamar aquele lugar de cidade.

Nancy as levou até um enorme portão de madeira, sobre a qual ela deu quatro soquinhos rítmicos, como se formando uma daquelas senhas, e quase como se esperando esse pensamento, as portas se abriram. Um menino e uma menina vestido com calças jeans surradas e que aparentavam nunca ter visto água na vida e camisetas de flanela largas e também muito sujas, apareceram apontando duas espingardas 22LR para a cabeça de Katherine e Rox. Nenhuma das duas deu indícios de que levantaria as mãos para cima, como em um sinal de rendição, então o garoto abaixou a arma e encarou-as.

Ele era bonito, Katherine tinha que admitir, seu cabelo era um mescla de cores: uma parte era castanha, a outra um loiro desbotado, e algumas partes no canto eram pretas. Parecia que os fios tinham crescido sem ter certeza sobre qual cor adquirir, então resolveram adotar todas elas. Mas não era estranho, na verdade, era até que charmoso, tirando o fato é claro, dele estar todo sujo de terra e fuligem, ele podia ser considerado muito estiloso. Ele chegou perto das duas, e quando viu Katherine, arregalou os olhos, e chegou tão perto do rosto dela, que ela teve que se distanciar.

Assim, mais de perto, ele parecia ter a mesma idade que ela, apesar de ter muitas mais linhas de expressão e os olhos eram verdes, uma cor intensa em meio ao rosto sujo, assim como o de Nancy.

– Me desculpe - pediu ele, sua voz era grossa e doce ao mesmo tempo, deixava Katherine relaxada - É que... Nossa...

Ele suspirou e a garota que estava ao lado dele revirou os olhos, também se aproximando. Ela tinha os cabelos no mesmo tom de loiro que Nancy, na verdade, elas se pareciam muito, o modo que andavam e estudavam o outro com o olhar era idêntico.

– Mas que saco, Nancy - gritou ela - Eu te mando para uma patrulha e você some no meio sem dar notícias!

– Bom, se eu sumi, como você esperava que eu desse notícias? - ela empinou o nariz - E eu trouxe mais refugiados, você devia estar orgulhosa, isso sim.

A garota olhou para Katherine e Rox novamente, se espantando, assim como Nancy, como o lobo cinzento do anjo. Ela franziu as sobrancelhas enquanto encarava as duas, parecia ter a mesma idade que o garoto.

– Refugiados? - perguntou ela - Depois de dezessete anos?

– Não somos refugiados - disse Rox.

– Então o quê são?

– Pessoas normais? - Katherine a cutucou com o cotovelo - Ai! - ela se ajeitou - Nós viemos parar aqui... Hm, acidentalmente.

– Espera - pediu a garota loira também se endireitando - Vocês vieram de fora?

Elas assentiram.

– Mas como... - ela se recompôs e passou a alça de sua espingarda sobre o ombro, pendurando-a ali, o garoto fez o mesmo - Esquece, Gerald precisa saber disso. Venham.

Ela começou a andar em direção ao complexo, Katherine e Rox se entreolharam e depois deram de ombros. Nada pior poderia acontecer, poderia?


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Notas finais do capítulo

deus, demorei pra postar esse, hein? Me perdoem por isso, mas vcs sabem, mês de provas é um saco, mas graças aos deuses acabou esse inferno e vou poder voltara minha rotina normal: acordar, ler, ver série, comer, escrever, dormir. Vou virar vagabunda dnv com mto orgulho. Prometo que vou tentar não demorar mais tanto tempo pra postar.
bjs, Ninsa



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