Jogos Meio-sangrentos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 19
Capítulo 19 - Chama dourada


Notas iniciais do capítulo

Não sou de colocar trilhas sonoras nas minhas fics, mas não pude deixar de pensar na música Chandalier (Sia) ao escrever os dois últimos capítulos. Se você quiser ouvir enquanto lê, aqui vai o link:

https://www.youtube.com/watch?v=2vjPBrBU-TM



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Rosalya Alice Bellapis – 8

Aquela festa lembrava os bailes de Paris, no século XVIII: vestidos, comidas, danças, fedor. Rosalya odiava.

Seu pai provavelmente diria que ela “não estava usando trajes adequados para uma Bellapis”. Seu vestido não era um dos mais ousados do desfile, perdendo feio para o garoto coberto de conchas ou a garota radiante que usava apenas roupas íntimas de couro. Mas aquele vestido branco e longo sem mangas já era motivo para que as damas francesas ficassem escandalizadas.

Mas não havia mais motivo para lembrar-se daquelas pessoas que morreram há séculos. Elas estavam no passado, Rosalya no presente. E deveria começar a garantir que não ficasse para trás também.

Estava naquele momento sentada em um grande sofá revestido de couro cor de creme, em formato de U, com uma mesinha de mogno no centro. Comia um doce feito com alguma fruta tropical cuja não conseguia determinar. Fazia muito tempo desde que comera algo tropical pela última vez. À sua frente, um garoto fantasiado de coruja dormia. É, ele não parecia tão interessado em conseguir Patrocinadores.

Ele a fez lembrar que havia deuses naquele baile. E que, de acordo com Meredith, ela e Annye deveriam fazer com que gostassem delas a ponto de presenteá-las na Arena. A outra Caçadora deveria ter encontrado alguém, mesmo com seu gênio forte. Rosalya estava sozinha, acompanhada apenas por sua sobremesa e pelos roncos do garoto de Atena.

– Belos chifres – disse alguém por trás da garota.

Olhou para trás para ver quem era, mas a pessoa já pulara sobre as costas do sofá e sentou ao seu lado. Era uma mulher, de rosto sardento, cabelo escuro curto e um sorriso travesso que não combinava com o fino vestido salmão com alças que usava. No pescoço usava um colar com cordão de fita e um pingente dourado em forma de disco.

Sua mãe.

– Estava observando se você conseguia algum Patrocinador, mas parece que está tendo tanta sorte quanto nosso amigo penoso – disse apontando para o garoto loiro de penas amareladas.

– Talvez ainda seja a maldição de Hécate, não?

– Rosalya, não me faça me sentir mais culpada. Aquele dorminhoco me faz pensar se realmente valeu a pena ajudar a mãe dele naquele jogo de cartas.

– Um jogo de cartas, Nice! – riu Rosalya – Por sua amizade com Atena, ajudou a vencer Hécate. Não tinha coisa melhor para fazer naquele tempo?

– Jogos de cartas definem muita coisa importante, garota. E prefiro que me chame de Nike – a deusa levantou o fino vestido, revelando um sapato branco esquisito cheio de amarras e com um símbolo curvo azul.

– O que são esses sapatos?

– Tênis, de uma marca que leva meu nome. Tenho filhos mais gratos que você.

– Certamente o homem que inventou isso não deve ter uma maldição sobre ele.

– Mas sua maldição está enfraquecendo Rosalya! Você sabe disso. Vai lutar nos Jogos... e vai vencer. Eu sou uma Patrocinadora, eu vou ajudá-la. Vou finalmente pagar por tudo que fiz, por seu pai, por ter que se juntar a Ártemis por toda a eternidade.

– Ártemis foi a única sorte que eu tive em toda a minha vida, Nike. Me ajudar a sobreviver seria o mínimo que poderia fazer.

– Certo Rosalya – Nice não parecia mais ter aquele ar animado – Para começar, quero que fique com isso.

Retirou seu pequeno colar. Enrolou o pingente na fita vermelha e colocou na palma da mão da filha.

– Representa uma medalha de ouro. Primeiro lugar. Vencedora.

– Obrigada. Eu sou filha da deusa da vitória, Nike. Os outros semideuses têm sempre algum traço de seus pais divinos... até esse garoto aí – apontou para o filho de Atena – Me faça parecer você. Me faça vencer.

Nice assentiu e comprimiu os lábios. Aquele era um desafio a sua altura.

Damon Scamander – 13

Damon observava uma Caçadora conversar em um sofá com uma deusa que usava tênis Nike. Ela estava tendo sorte, ele não.

De suas mentoras, apenas Macária estava trabalhando, conversando com alguns monstros . Dália estava brigando ou namorando com um outro mentor, um garoto de cabelos escuros do Chalé 1. Enquanto ele estava sempre ao lado de Callista, com medo.

– Tânato, já falei que Damon tem um dom especial? Diga a ele. – Callista cutucou o ombro do garoto.

– Quê?

– Haha, não tenha medo garoto – disse o deus – Ponha medo. Já olhou pra você mesmo?

Damon procurou com os olhos algum espelho e viu um quase à sua frente. Ele era um fantasma-esqueleto. Callista também. Juntos, eles eram duplamente aterrorizantes.

Mas ele não se sentia assim. Era um garoto de catorze anos, filho de Hades, com poucas chances de vencer... que matava pessoas com um toque. Normal.

Afastou-se de Callista e sua conversa com o deus-carrasco. Ela provavelmente estava chamando sua atenção naquele momento por deixá-los sem se despedir, mas ele não se importava. Arrastou seu manto negro por entre os tecidos e penas até a mesa de sopas. A mesa não era um objetivo, apenas o lugar para onde seus pés levaram.

Sua roupa não dava acessibilidade às mãos devido a sua falta de mangas ou ao menos buracos para que elas saíssem. Sem problemas, Damon não estava com fome. Queria apenas sentir todo aquele vapor em seu rosto, dando vida à figura fria que era. Estava de frente a uma sopa borbulhante de carne e batatas. Parecia apetitoso depois de uma Colheita angustiante, uma viagem cansativa e um desfile entediante. Mas seu estômago ainda não reclamava.

– Você está se servindo? – perguntou uma voz mansa. Um garoto. Damon virou-se para ver e seu coração acelerou. De medo.

A sua frente estava uma figura que misturava humano e máquina, com um olho de fogo e tachinhas de metal na cabeça. Sua mente procurou rapidamente qual monstro seria aquele, mas logo percebeu que ele era novo demais, talvez catorze anos como ele ou um pouco mais velho. Um tributo.

– N-não – gaguejou Damon, enquanto se afastava e permitia que o outro se servisse – Chalé de Hefesto, não? Sua roupa é bem...

– Assustadora? – riu o lado esquerdo do garoto enquanto o outro permanecia sério e duro.

– Peculiar. Sou Damon, chalé de Hades.

– Philipe. Prazer – ele estendeu a mão.

Damon repetiu o gesto, esquecendo sua mão incapacitada. Ao perceber que ela não alcançava o membro metálico estendido para ele, recuou o braço. Mas Damon estava nervoso, talvez por falar com pessoas que não fossem seus irmãos ou pelo olho castanho brilhante de Philipe e sua bochecha rosada.

Não importava o motivo, importava que sua mão esbarrou no prato cujo o semideus se servia e a sopa pulou para a pele nua do mesmo, despertando um arquejo de dor. Philipe sentou-se no chão tentando não gritar, enquanto abanava o braço e a coxa, os lugares afetados. Uma vermelhidão formava-se na região.

Isso é realmente quente, pensou o filho de Hades. Não era o primeiro pensamento que outra pessoa teria, mas Damon era estranho. Burro Damon, burro!, pensou logo em seguida, agachando-se para tentar acudir o garoto.

– Desculpa, desculpa! Você está bem? – perguntou ele enquanto tentava tirar as mãos debaixo do manto, independentemente de se expor ou não.

GAAAAAAAHHHHH!! – gemeu Philipe em resposta. Provavelmente não estava bem.

Logo surgiu uma garota que vestia o mesmo que Philipe. Provavelmente sua irmã. Logo atrás veio uma garota com vestido preto de bolinhas, essa Damon não fazia ideia de quem era. Elas se abaixaram para analisar suas queimaduras.

– Quer matá-lo antes da Arena? – perguntou a outra tributo, enraivecida.

– Me desculpe, e-eu só... – Damon estendeu a mão para tocar no braço de Philipe. Não!, pensou, mas era tarde demais. Um espasmo já havia corrido por seus nervos e terminado na queimadura. Damon havia usado o toque mais uma vez. Ele havia matado o garoto, certamente. E com certeza ele seria punido por matar alguém antes dos Jogos, mas aquilo não importava no momento. Olhou atônito para os olhos do filho de Hefesto.

– Acalmem-se – disse Philipe, com uma voz nada morta – Foi só uma queimadura, e já passou. Graças ao garoto de preto.

A irmã de Philipe, a garota com o vestido preto e outros presentes lançaram seus olhares para Damon e logo depois para o braço recém-queimado. Não havia nenhuma mancha. Mas eu vi a queimadura vermelha!, Damon exclamou mentalmente.

– Ao que parece, você tem o dom de curar, garoto de Hades – Philipe sorriu, levantando-se.

– Tenho? – Damon balbuciou.

– Creio que você será bem útil para seus aliados na Arena.

A irmã de Philipe falou alguma coisa, mas Damon estava muito eufórico por dentro para ouvir. Ele havia curado alguém, não matado! Era realmente alguém especial, não era?

Macária o chamou para ir embora, a festa estava acabando. Damon lembrou-se de acenar para Philipe e juntar-se a suas mentoras e Callista. Mesmo avistando o grande hotel em que ficariam e recebendo a notícia de que iriam dormir no último andar, ele não parou de pensar em seu dom especial e nos olhos gratos de Philipe.

Leah Henderson – 11

Leah não deu atenção ao que Travis e Connor falavam sobre o Alojamento dos Tributos e o fato de eles ficarem no décimo primeiro andar. Não importava o quanto o elevador subia, apenas queria saber se ela estaria deitada em uma cama quentinha no fim da noite.

Ao abrir a porta do apartamento, viu Hermafrodito e Olavia. Não sabia se estavam chateados por não participarem do baile.

– Como ssssse comportaram? – silvou a estilista.

– Bem, eu acho – respondeu Leah.

– Não estava falando de vocês. Venham aqui bebês! – Olavia retirou uma das serpentes coloridas sobre os ombros de John, repetindo o processo com as demais. Assim que colocou as quatro sobre as costas, retirou-se para seu quarto.

Boa noite – sussurrou John rindo enquanto ela saia.

– Vocês devem estar ansiosíssimos para conhecerem seus quartos! Sigam-me – disse Hermafrodito, adentrando um longo corredor.

O primeiro quarto a ser apresentado fora o de Leah, o qual ela entrou sem hesitar. Estava exausta. Procurou o banheiro, onde tomou uma chuveirada rápida. Ela experimentaria a banheira e os sais amanhã ou em outro dia, agora não. Enrolada na toalha e com os cabelos loiros mal enxutos, abriu um grande guarda-roupa branco lotado de peças com o seu tamanho. Logo depois abriu gavetas e mais gavetas até encontrar um conjunto composto por uma calça azul e uma camiseta branca, ambas de algodão. Perfeito.

A cama era de casal, mas ela pretendia não ter que dividi-la com ninguém. Esparramou-se sobre os cobertores e em pouco tempo já dormia.

Leah gostaria de ter uma noite sossegada, mas seus sonhos não iriam obedecer sua vontade.

Ela corria por um beco cercado por prédios feitos de tijolos aparentes. Não estava sozinha: John, Reyna e Jason corriam ao seu lado, a filha de Zeus um pouco à frente. Os três usavam jaquetas de couro preto e jeans azuis, que Leah supôs estar usando também.

As expressões dos outros semideuses era de puro terror. Todos suavam e olhavam para trás, mas não desaceleravam o passo. Estavam fugindo de algo.

O beco se dividiu em dois caminhos perpendiculares. Os quatro se viram em um impasse que fora rapidamente resolvido: Leah e o irmão foram para a esquerda, Reyna e Jason para a direita. O que quer que fosse iria perseguir apenas dois deles e deixar os outros em paz.

Mas o sonho era de Leah e o pior estava reservado a ela. Em poucos instantes ouviu atrás de si sons de patas afundando no chão. John a mandava correr mais rápido, mais rápido!

O caminho terminou em outra divisão. Leah despediu-se do irmão, seguindo para a ruela esquerda enquanto ele iria pela oposta. Ela agora estava sozinha, com o monstro em sua cola. Para complementar, seu caminho terminava em um grande muro de pedra, um beco sem saída. Ela agora conheceria quem a estava perseguindo.

Uma quimera. Como a que estava com Hannah antes de Leah abandoná-la. Mas aquela era diferente. Tinha corpo de leão e asas como a original, mas suas cabeças mudaram de natureza. A esquerda parecia com Ethan, filho de Ares, com presas afiadas no lugar de dentes e olhos completamente vermelhos. A cabeça direita era um emaranhado de cachos com o rosto de Gabrielle, do chalé de Atena. A garota tinha um grande par de chifres de cabra. Leah poderia imaginar quem era a cabeça central antes de olhar para ela.

Uma juba de cabelos pretos e vermelhos rodeava o rosto de Hannah, que a encarava com olhos felinos e presas vorazes. A filha de Ares falou com uma voz grave. Muito grave até mesmo para um homem:

– Eu estou com fome, Leah. Fome de vingança.

Então as três cabeças rugiram e avançaram na direção da garota.

Leah gostaria de ter acordado naquele momento, mas sua mente ainda ficou imersa em gritos, sangue e desespero.


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Notas finais do capítulo

Relembrando: enviem o comportamento de seus personagens nas Entrevistas e nas Avaliações por Mensagem Privada.

E até o próximo!