Jogos Meio-sangrentos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 11
Capítulo 11 - Duplamente roubados


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas que ainda têm paciência comigo. Faltam apenas duas colheitas e acho que então a fic dará uma guinada, já que tenho quase toda a trajetória até a Arena imaginada.



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O Chalé 11 estava agitado como de costume. As únicas diferenças eram que não havia mais filhos de deuses menores nem a alegria e a vivacidade de antes.

Desde que Luke Castellan morreu, os filhos de Hermes perderam mais uma razão para sorrir. Há muito se sabia que ele havia se juntado ao exército de Cronos, sendo o braço direito do titã – não só o braço, mas o corpo todo. Luke era um traidor, mas acima de tudo ela já havia sido um amigo e um irmão.

A notícia dos Jogos Meio-sangrentos era menos um motivo para sorrir. Mesmo com a instituição de alojamentos para os semideuses de Hécate, Íris, entre outros; o chalé de Hermes ultrapassava trinta ocupantes. Mas nem por isso a união entre eles era pequena: todos sabiam o nome de todos e todos tiravam brincadeiras com todos, principalmente.

O chalé havia sido varrido e arrumado. Todas as pilhas de roupa suja e fatias de pizza de calabresa (que agora pareciam de espinafre devido aos fungos) no chão foram eliminadas. Pequenas luminárias foram postas no teto. Hermes poderia ser o deus das travessuras e dos ladrões, mas ele também era deus dos viajantes e seus filhos sabiam como receber um visitante.

– Isto está deslumbrante – disse uma voz adentrando o chalé. Ela era doce e suave, mas não chegava a ser uma voz feminina. Também não tinha a masculinidade que a voz de um homem possuía. Para se saber quem era o dono dela, apenas olhando seu rosto.

Mas quando os filhos de Hermes o viram... a dúvida permaneceu. Sua pele era alva e sem nenhum sinal de espinhas ou cicatrizes. Os cabelos castanhos luminosos eram charmosamente rebeldes. Tinha lábios carnudos cobertos por algum tipo de brilho labial, mas dez centímetros abaixo um pomo-de-adão se destacava em seu pescoço.

– Boa tarde, irmãos. Eu como representante do Chalé 11 terei a incumbência de conduzi-los durante eventos, além de sortear seus nomes. Papai pediu especialmente para que eu fizesse essa tarefa, como uma forma de me aproximar mais de vocês e dele. Mas todos nós sabemos que Hermes não é uma perfeição como pai. E a propósito, me chamo Hermafrodito.

Filho de Hermes e Afrodite (seu nome vem da junção dos nomes dos pais), tornou-se um ser andrógeno ao se fundir à ninfa Salmacis. Desde então, era uma aberração, um ser de sexo indefinido. Assim como Luke, ele culpava o pai por não tê-lo protegido. Assim como Luke, esbanjava beleza e confiança, mas por dentro, era um garoto só que queria algo que o completasse. Mas não algo como Salmacis ou Cronos.

– Creio que vocês estejam muito apreensivos para saber quem de vocês irá disputar a vida e a vitória nesses Jogos. De acordo com o decoro, eu deveria retirar primeiro o nome de uma garota e depois o nome de um garoto. Mas vou fazer diferente, sortearei os dois ao mesmo tempo.

Ele se dirigiu a dois grandes sacos de cor marrom e vermelha. Alguns meio-sangues começaram a tremer e a cruzar todos os dedos que podiam. Outros, com mais de 18, riam de suas reações. Hermafrodito girou as mãos entre os adquiriu um papéis e conseguiu pegar dois na mesma fração de segundo. Ao levantar a cabeça, seu rosto tinha um ar travesso e maldoso, mas não o de um filho do deus dos ladrões. Era Salmacis agora. Ela lambeu os lábios e disse numa voz fina e afiada:

– Leah Henderson e John Bryan.

Como se não bastasse, Leah e John levantaram-se ao mesmo tempo. E olharam um para o outro. A diferença entre os dois era clara: Leah tinha cabelos cor de milho e olhos de um verde vivo. John apresentava cabelos escuros como fuligem e olhos castanhos envoltos por sardas.

– Leah?

– Vamos nessa, John.

Os demais filhos de Hermes ficaram atônitos. A saída de dois deles era inevitável, mas agora que era realidade, agora que foram ditos os nomes de dois deles... tudo parecia tão sem graça!

– Pessoal, se eu pudesse abraçaria cada um de vocês – disse John num tom de voz sereno – mas só peço para que torçam por nós.

– E, por favor – disparou Leah – parem com essas caras tristes de bunda, senão eu vou... – ela foi surpreendida por um vulto negro-amarelado voando para cima dela – Mercúrio! – ela exclamou em meio a risos e lambidas do pastor-alemão, mascote secreto do Chalé.

– Vocês vão acabar com isso ou não? – disse uma voz que parecia a da ninfa.

– Estamos indo, senhorita – disparou John, friamente. Ele não costumava ser ríspido com as pessoas, mas Hermafrodito não merecia aquilo.

John e Leah – esta com o rosto e o cabelo completamente desconstruídos devido ao ataque amoroso de Mercúrio – pararam ao lado dos sacos que antes continham seus nomes. Agora neles só havia os nomes de seus irmãos, que eles deixariam para trás.

John parou e olhou para os olhos do deus/a. Um era azul e o outro tinha a cor de mel. Heterocromia era, na sua opinião, tão interessante quanto as sardas que ele mesmo possuía.

– Ah sim, garoto. Quando eu era menor tinha um par de olhos azuis muito bonitos – Hermafrodito passou a ter um outro tom de voz – Mas quando eu me uni a ele, deixei-o herdar meus olhos cor de mel – a voz voltou a ser menos feminina – Haha, pode ver como minha vida de xadrez não é muito fácil.

Hermafrodito gostava de fazer piadas consigo. Alguma coisa ele deveria ter herdado do pai, não? Mas ao contrário de Travis, Connor e outros filhos de Hermes, suas brincadeiras se dirigiam à própria pessoa. Toda vez que ele se chamava de Cara & Coroa, Chave & Cadeado, etc.; tentava dizer às pessoas que “sua vida poderia ser pior: você poderia ter sido estuprado por uma ninfa e tivesse começado a viver no mesmo corpo que ela durante toda a sua vida imortal”.

– Garotos, vocês têm mais alguma consideração a fazer?

– Eu só quero que vocês cuidem do Mercúrio – disse Leah.

– E que possam torcer pela gente – riu John.

Dito isso, o deus de dois sexos pediu para que ambos se cumprimentassem. Ao invés disso, John e Leah trocaram um abraço afetivo e demorado. Eles precisariam estar juntos se quisessem que um sobrevivesse.

E com aquele abraço, foi-se mais uma razão para que os filhos de Hermes deixassem de sorrir.


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Notas finais do capítulo

Uma dica para o representante do próximo capítulo: fio.