CELESTIAL escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 3
Capítulo 3 - A Bênção de Daniel




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A cama estava mais quente do que o comum e os pensamentos estavam todos em um turbilhão, ungidos com um sentimento estranho. Diferente do que pensava, Nichollas chegou em casa no dia anterior, logo depois da mãe. Ele deitou na cama e sentiu-a. Esperava fechar os olhos e acordar daquele sonho maluco. Mas não acordou. As palavras da mulher que se dizia anjo, ainda estavam impregnadas na mente do menino, que ele fazia questão de lembrar uma por uma, desligando-se do mundo. Dormiu. Estava feliz. Se tudo aquilo, que acontecera naquele dia, fosse realidade, ele faria parte de um mundo totalmente diferente do que estava acostumado a enfrentar todos os dias.

Na manhã seguinte, o jovem pôde ouvir alguns barulhos e gritos. Resolveu ignorá-los e voltar ao sono tão merecido. Mas o barulho insistente ainda ecoava através dos corredores da casa, e foi ai que Nick percebeu do que se tratava: eram barulhos além dos sonhos, estavam acontecendo de verdade. Atentou-se e distinguiu as vozes do pai e da mãe,  ambos reservando mais uma segunda-feira, para mais uma discussão épica. 

─ O que você pensa que está fazendo? – gritou o pai da sala, dirigindo-se para a mãe. – Você jogou inseticida? Minha garganta já está doendo. – O velho forçou uma tosse. – Vê?

─ AHH, CALA A BOCA, não me amola, não, Vernon. – disse a mulher, alcançando notas estridentes, enquanto gritava. – Pare de ser mentiroso, eu aguento esse seu cheiro nojento a tempos, e não fico falando pela casa.            

Nichollas queria se desligar do mundo, mais que tudo. Ele se levantou da cama e dirigiu-se ao corredor, esperando ouvir melhor a briga. Abriu a porta e deu de cara com a irmã mais velha, Diane. Ele a olhou brevemente, pois sempre prevenia manter os olhos nela, para não dar motivos para que ela iniciasse uma guerra contra ele. Ela falou:

─ Todos os dias são assim, estou cansada.- e ela continuou a caminhar, desceu as escadas e sumiu do alcance dos olhos do menino.

Ele fechou a porta do quarto, trancou-a com a chave e tirou a roupa. Deitou-se na cama e voltou a admirar o teto, enquanto a voz de Angélica retornava a sua cabeça, com os dizeres do dia anterior, com a história do sapo e da rã e da criação de tudo. E pouco a pouco, as vozes dos pais brigando, a presença de sua irmã iam sendo apagadas. Ele sentiu os olhos pesarem, até que não aguento e os fechou fortemente. Não estava mais no presente. Sentia a mente vagar além das paredes do quarto, sentia a alma deixar o corpo e flutuar. A visão do quarto se desintegrou, como o papel faz quando pega fogo e fica negro e sensível ao toque. 

Nichollas estava parado em cima de um rochedo, com roupas simples e sentiu frio. Ao redor dele, as imagens pouco a pouco iam se formando, como se estivessem sendo pintadas por um artista ultra realista. O céu estava sem nuvens, uma lua cheia e platinada iluminava o local, o que resultava em inúmeras sombras projetadas em todas as direções. Não existia vento e do rochedo ele conseguia enxergar a própria cidade. Milwaukee estava escura, com poucos focos de luz, mas sem nenhum som e nem movimento. E Nichollas resolveu olhar ao seu redor e percebeu que não estava só naquele rochedo. No rochedo e de costas para ele, existia um homem alto. Trajava um longo manto, que vestia os ombros largos e descia pelo corpo esbelto, cobrindo-o. Possuía uma trança grossa de cabelos, arrumada com alguns fios de ouro branco. O luar fazia o metal do cabelo resplandecer naquela escuridão. O homem não se movia e tamanha era a quietude, que Nichollas mostrou-se capaz de ouvir a respiração do ser.

Entre os dois elementos, acima do rochedo, materializou-se outro homem. De joelhos e com os olhos voltados para o chão, Nichollas reconheceu o segundo homem.

─ Meu senhor. – disse Belzebu.

─ Eu imagino... – começou o homem, ainda de costas. - ...que pela ausência do garoto, que você o tenha matado. Espero realmente, para seu bem, Belzebu, meu duque.

A fala era lenta, a voz soava como uma melodia cantada por milhares de anjos, que houvessem ensaiado por milhares de anos. Era amena, porém, parecia cortar o ar. Logo após a fala do homem de manto, houve silêncio. O homem virou-se e Nichollas precisou prender o ar: assustou-se tamanha a beleza que seu rosto possuía, sem nenhuma marca que destruísse sua beleza e com feições tão perfeitas, que parecia ter sido esculpido em mármore. O olhar estava carregado de desprezo. O homem moveu a mão vorazmente e o rochedo ganhou uma rachadura funda, porém Belzebu pareceu sentir dor, conforme o movimento do homem. Ali, diante daquela figura linda e imponente, Belzebu parecia um filhote de cachorro, acuado. Belzebu caiu de lado, respirando fortemente, a dor o possuindo.

─ Eu lhe dei uma missão e  tens coragem de aparecer a mim, mesmo tendo falhado? – comentou o homem.

O manto que lhe escorria pelas costas ondulava no ar, mesmo sem vento.

─ Meu senhor... Anjos apareceram. Gabriel, seu irmão, meu senhor, junto da Serafim Angélica. Eu nada pude fazer, mil perdões senhor, mil perdões senhor, mil... – dizia Belzebu, com o rosto colado na rocha. Arrastou-se aos pés do homem e os beijou. – Perdão, perdão, perdão, benevolência!

─ Levante-se, duque. – disse o homem, voltando os olhos para cidade. – Então quer dizer que meu irmão resolveu dar as caras e ele agiu no momento mais... Propício. – um sorriso belo se moldou nos lábios do interlocutor da voz.

Nichollas chegou mais perto da dupla, que estava próxima do penhasco, que dava para a floresta, abaixo do lugar. Ouvia claramente a voz do homem, e sentia malícia no tom com que falava.

─ ...interessante. Um reencontro. O mensageiro, o guerreiro e a luz, finalmente juntos. Só que agora a luz é trevas. – o homem da trança no cabelo colocou a mão no ombro do companheiro Belzebu, como se não houvesse batido nele há poucos instantes. – E o menino... É poderoso?

─ Sim, meu senhor. Sua aura é forte, irradia poder, força, é pura luz. – disse Belzebu. – Ainda posso senti-la. Como se ele estivesse perto...

Nichollas assustou-se. Afastou alguns passos da conversa, mas ainda ouvindo-a.

─ Poderoso. Porém, frágil. Um erro foi tê-lo feito do barro. – comentou o homem do manto, direcionando o olhar para o céu, como se falasse com alguém.

─ E como devo proceder, meu senhor? – questionou Belzebu, dando uma nova reverência.

─ Vá ao Inferno e traga Lilith. Diga que eu preciso dela e de você, pois amanhã, iremos caçar humanos que se metem nos meus problemas familiares. Amanhã matarei qualquer um que se opuser às minhas vontades, amanhã darei aos demônios famintos a carne macia e jovem de Nichollas, nosso quase anjo.

Ouvindo aquilo, Nichollas segurou o grito, mordendo o punho. Fincou o dente não mão e sentiu dor. Deu alguns passos para trás, até que chegou no fim do rochedo e caiu em direção da escuridão. Lá em cima viu Lúcifer olhá-lo cair e com um sorriso no rosto. Quando a copa das árvores começou a machucar as costas e o solo estava perto demais, Nichollas se debateu na cama e acordou com a testa suada. Ofegou.   


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Notas finais do capítulo

Primeira aparição de Lúcifer! S2 Enjoy it!



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