— Kelsey sabe onde a pedra está e Kishan está envenenado, o antidoto você encontra no hotel em que eu estava é só perguntar para a arrumadeira que está desaparecida. Você vai irá encontrar o corpo dela no quarto em que fiquei. Nathaniel não vai morrer, somente fiz um corte em seu braço para que sua memória voltasse quando o feitiço que coloquei em você, há 300 anos, entrasse em contato com o feitiço que coloquei nele – ela sussurrava, enquanto seu rosto molhava. – Eu te amo. Sempre amei.

As lágrimas continuavam a cair de seus olhos, fazendo um caminho em sua face. A mulher o olhava com desprezo, mas não era desprezo de Ren em si, e sim do que fizera com ele desde que chegara na cidade. Com todas as artimanhas possíveis, enganou Lokesh e todos os que estavam sucumbidos a suas ordens. Conseguiu enganar Ambre e a mesma, na hora do desespero envenenou Kishan no último dia que o moreno foi para escola. Quase matou Nathaniel e somente isso não ocorrera porque a adaga já há muitos anos inventada, por falta de crença por parte dos hindus, não tinha o mesmo efeito. No começo de tudo quando matara a arrumadeira sabia que seria por uma causa maior, pois colocaria no corpo dela o antidoto para salvar Kishan.

Ela ainda não conseguia acreditar que Dhiren e muito menos Kishan, não desconfiaram que a chave para acabar com a maldição era Kelsey. A garota aos poucos, com o dom que Durga lhe dera, veria onde está a pedra. Veria que Yesubai a escondeu de Lokesh e de todos que poderiam de algum modo usá-la para algo do mal. Naquele instante quando viu os olhos de Ren lhe encarando querendo explicação desejou poder dizer tudo o que pensava, mas o seu tempo estava acabando e se não fizesse tudo o mais rápido possível Durga desistiria de lhe aceitar junto a ela.

— Isso não é um adeus e muito menos uma conciliação, somente quero que não me odeie – ela pausou e olhou para adaga -, quando fingi minha morte queria lhe proteger de Lokesh. Para isso fiz um feitiço que bloqueava qualquer lembrança ligada a mim e a ele. Acho que atrapalhei muito e possivelmente, você já estaria livre da maldição se eu não tivesse feito isso. Mas… Pense – pausou engolindo seco - se eu não tivesse feito isso você nunca encontraria Kelsey e… E ela te ama.

— Você – Ren não conseguia falar, não tinha forças para tal ação.

A visão de Dhiren começava a ficar turva se não saísse dali com certeza morreria sem ao menos despedir de Kells. Uma luz dourada envolveu Yesubai e subitamente, a mesma, cravou a Ādhyātmika kaṭāra em seu coração. Aquilo doía, mas não tanto como seria se tivesse aceitado as ordens de Lokesh e matado Dhiren. A morte do príncipe tiraria todo o sentido do que viveu e do que viveria. Não adiantava ter dinheiro, fama e empregados se Ren não estivesse vivo.

Kelsey podia sentir, olhando para a cena a sua frente, que Durga estava presente. A garota observava a áurea da deusa abraçar Yesubai e aconchegar a sua alma em seus braços, como uma mãe que toca pela primeira vez seu filho recém-nascido. O brilho que a envolvia não era somente feixes e reflexos e sim, a própria presença de Durga. Seus longos braços, naquela forma, poderia chegar até mesmo onde a escuridão prevalecia e os seus olhos, podiam ver até mesmo onde existia o nada. Era gracioso e ao mesmo tempo doloroso, assistir Yesubai se entregando ao mundo espiritual de forma tão sublime.

Kishan observava tudo sem entender e aos poucos, por conta do espetáculo que o cercava, soltou suas mãos do braço de Kelsey. Ali não existia tigre e nem mesmo maldição, somente havia o sentimento de que um dia sua vida seria normal. Por instinto Kells correu até Dhiren, porque sentira que o perigo já tinha ido embora. Ajoelhou, para poder tocá-lo e vira que o mesmo não respirava com tanto vigor. A luz começava a se ofuscar e no lugar dela, somente se via o corpo de Yesubai caído no chão. O desespero tomava conta de si e por um instante paralisou tudo o que fazia. Kelsey queria poder gritar, pedindo ajuda, mas no fundo sabia que Ren sairia daquela situação com a ajuda de Durga. Apoiou sua cabeça no peito do rapaz e ficou, sentindo todo o calor ser roubado pelo chão frio.

— Kells – escutou um murmúrio, rouco e funesto, vindo dos lábios de Dhiren.

— Eu te amo – respondeu no mesmo tom.

— Eu sei – ela poderia jurar, que mesmo não olhando para o rosto dele, que ele estava sorrindo de com um lado da boca, como sempre fazia quando a encarava.

Kishan aproximou dos dois analisando Yesubai, a moça não parecia mais tão jovem. Sua pele, antes bronzeada e vívida, tornava-se para um tom cinza escuro. As marcas, de todos esses anos que vivera, surgiu repentinamente. Os cabelos negros e brilhantes, ficaram brancos como a neve ao seu redor. Como um sortilégio, o gelo ao seu redor deslocava para a mulher, cobrindo cada canto de seu corpo como um manto de inverno. Os flocos de neve, em um momento, pareceram cair somente no lugar em que ela, aparentemente, dormia e cessaram depois que o gelo se derreteu.

— Acho que ela se foi – disse para si mesmo quando chegou perto de Ren.

— Kishan – seu irmão afirmou quando abriu os olhos.

O silêncio pairou sobre eles, fazendo com o barulho das árvores e da própria cidade, que não estava tão longe, fossem escutados. Kells se levantou para que Kishan ajudasse Dhiren a fazer o mesmo. Os olhos dourados nunca pareceram tão acolhedores como naquela situação. Kishan levantou Ren colocando os braços dele envolta de seu pescoço. Dhiren conseguia andar, mas a dor em seu tórax ainda lhe incomodava.

— Pensei que fosse morrer – falou sorrindo olhando para o chão -, não deveria ter saído correndo de casa. Deixei a raiva ser mais forte que minha sanidade.

— Típico de você – Kishan respondeu lembrando das inúmeras vezes que Ren sumia e logo, reaparecia com machucados.

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Chegaram na mansão uma hora depois, por terem ido o mais lento possível. Dhiren sorria, mesmo estando ruim o bastante, quando olhava para Kelsey. O tempo inteiro, enquanto estava desacordado ele conseguiu sentir a presença dela. Podia até em alguns instantes ouvir sua voz doce e suave pedindo para que acordasse. Todavia, não conseguia e quanto mais tentava fugir das lembranças, mais elas o perseguia o colocando em situações que nunca quisera reviver.

Sr. Kadam assustou-se quando viu a situação em que os três chegaram. Kishan e Kelsey apresentavam estarem tão ruins como Dhiren, diferenciando somente por causa dos ferimentos. Colocaram-no em um novo quarto e Nilima preparou um banho que ele se lavasse e fizesse curativos. Kells ficou esperando na sala enquanto Kishan e Kadam, ajudasse Ren a tomar banho.

— Kells – Nilima falou sentando ao seu lado -, eu sabia que isso iria acontecer.

A garota demorou a entender o que Nilima falava e logo, quando conseguiu ficou perplexa.

— Como assim? – interrogou.

— Eu sábia que era Yesubai, porque quando Dhiren desmaiou no hospital ela deixou sua marca nele – pausou e suspirou, porque não queria dizer o que vinha a seguir. – Kishan… Está envenenado.