―Ren você está bem? – perguntei passando a mão pelo seu cabelo negro.

―Não. Já estamos vendo esse filme há um tempão e a história continua chata – respondeu em murmúrio e logo, ouvi um suspiro.

―Chata? Você acha chato um garoto de dezesseis anos lutar pela vida em mar aberto? Viu o tigre?

―Sim, sim e sim. Sinceramente, esse tigre é um péssimo ator e o garoto só precisa dar um sonífero para o animal, porque o pai dele colocou os comprimidos nas bananas.

―Ele não pegou as frutas – completei sua frase.

―É, eu sei – Ren ficou com a expressão séria-, mas qualquer um que vive um naufrágio sabe que é preciso pegar o máximo de comida, não importando se com quantos dias ficará dentro do bote.

―Ele não esperava que isso fosse acontecer e , além do mais, viu toda a sua família morrer. Você é quem deveria estar mais tocado com a história.

―Idiota – falou para a televisão em tom crítico.

Ficamos em silêncio por um longo tempo. Eu pensava, enquanto assistia ao filme, sobre a possibilidade de o personagem principal ter um final feliz, já que até aquele momento ele só tinha sofrido.

―Kells – Dhiren sussurrou encarando me com seus olhos azuis cobalto. – Troca de filme, por favor.

Eu não queria trocar de filme, estava gostando da história, pois me identificava com o rapaz. Ele era inseguro e não sabia o que fazer com as situações que lhe eram impostas. Voltei o olhar para a televisão e senti Ren levantar a cabeça do meu colo. Sentou ao meu lado e colocou os braços em volta do meu corpo, conseguindo, obviamente, tirar minha atenção.

Depois, que percebera que concentrei novamente no filme, ficou em pé e foi em direção ao quarto. Assisti todo o filme e chorei muito por ter achado o final tão triste. Desliguei a televisão e fui, também, para o quarto. Dhiren parecia, estar dormindo profundamente. Liguei o abajur e vi que a luz era refletida quando chegava ao pelo de Ren, ele realmente é muito bonito, como homem e tigre. Deitei ao seu lado, após pegar uma coberta e estendê-la por cima dele. Não me lembro quando dormi, somente apaguei e pronto.

―Kells – Ren falou acordando-me.

―Sim – respondi sonolenta.

―Vamos assistir outro filme?

―Agora? Acho que está um pouco tarde- olhei para o despertador e marcava 4:30 a.m.

―Tecnicamente está cedo. Então levanta logo.

Com um único impulso, Ren conseguira se levantar e puxar meu corpo junto ao dele. O sono tomava minha mente e quando percebi já estava sentada no sofá colada em seu tórax.

―Que filme colocou? – perguntei tentando abrir meus olhos.

―Você vai ver... – respondeu apertando o botão “play” do controle.

As cenas que passavam na televisão não era as de um filme comum, e sim, da nossa história. Ele pegara todas as fotos que tiramos nesses anos de convivência e fizera uma montagem com uma de suas músicas no fundo. Havia uma imagem em que Ren estava me forçando a sorrir. Era engraçado a história dela: era um dia em que vi um álbum da minha mãe e chorei a manhã inteira, então à noite Dhiren me levou para tomar sorvete e tirara a foto.

―Kelsey, por que está chorando? – interrogou tirando me de minhas lembranças.

―Chorando – toquei meu rosto e uma gota de lágrima escorreu pelo meu dedo.

―Se eu soubesse que choraria não teria feito isso.

―Desculpa. É que... Eu te amo tanto e lembrar tudo que vivemos é algo que me deixa feliz.

―Está chorando de felicidade? – passou a palma da mão de forma gentil em minha bochecha.

Assenti e o abracei o mais forte possível. Ren estava sendo o melhor presente da minha vida. Ele conseguia me fazer feliz e essa felicidade aumentava mais a cada dia que passava ao seu lado.

―Bilauta, eu, também te amo – Dhiren respondeu beijando meus lábios levemente.