―Eu acho que... Gosto dele. – disse baixinho para si mesma e deitou na cama olhando para o teto com a sensação de borboletas no estomago.

Após ficar um tempo pensando sobre a conclusão que tirara, Kelsey escutou o som da campanhia e se levantou para ver quem era. Será que sua mãe tinha esquecido alguma coisa? Trocou de roupa antes, colocando uma camiseta um pouquinho maior e um short. Saiu do quarto, passou pelo corredor e logo estava abrindo a porta.

―Oie! – era Tifany – Vim te convidar para ir comigo no shopping. Tenho que escolher um presente para meu pai e preciso de sua ajuda!

―Oi. Tudo bem – respondeu sabendo que a outra não aceitaria um não como resposta - , você espera eu me arrumar?

―Espero.

Tifany se sentou no sofá da sala e esperou Kells se trocar. A garota colocou uma calça jeans preta, uma regata soltinha com um tecido leve cor de rosa bebê, o sapato mais próximo, uma sapatilha, que tinha foi pego para calçar. Desceu, pegou o dinheiro que sua mãe havia deixado o colocando na bolsa, fechou a porta da casa e entrou no carro junto com Tifany .

―Kelsey essa é minha mãe, Luci. Acho que quando você foi lá em casa ela estava viajando.

―Prazer – Kelsey disse para a mulher que parecia ser nova.

―A Fany falou muito de você. Achei bom ela ter arrumado uma amiga de verdade, as outras eram...

―Mãe, pode parar - Tifany a interrompeu e Kelsey pode ver no retrovisor a expressão de desaprovação da garota com o que Luci tinha comentado.

―Vou deixar vocês no shopping, quando quiserem ir embora é só me ligar. – disse percebendo que a filha não queria que ela falasse das suas antigas amizades.

O resto do caminho foi em silêncio até quando chegaram na frente do shopping e desceram do carro. Tifany estava com um vestidinho amarelo com laços de estampa que ia até o joelho e parecia confortável com sua sandália de dedos.

―Aonde você quer ir? – perguntou Kelsey para Tifany que arrumava a roupa no corpo.

―Eu não sei o que vou dar para meu pai. Ele é um pouco difícil de agradar, eu estava pensando em dar uma camiseta. Será que ele vai gostar?

―O meu gostaria, ele usa mais gravatas e ternos, então tem pouca camiseta. Se o seu é assim também, acho que ele vai gostar.

―Certo, vamos escolher logo esse presente para a gente poder andar depois e conversar sobre sua situação com o Ren. Já pensou?

―Não entende por que você faz tanto drama, não importa o que eu sinto ele ama a Ambre, os dois estavam namorando certo? – respondeu Kelsey.

―Tá certo que os dois estavam namorando, mas isso não significa que ele a amava. Eu acho que Ambre só foi uma companhia para, sei lá, depositar as magoas.

―Que engraçado – Kells respondeu com ironia e percebeu que a amiga não escutara, pois havia entrado em uma loja masculina – Vai, me deixa falando sozinha!

Tifany estava olhando umas camisetas que estavam na arara da loja, todas eram de gola polo e pareciam ser caras.  A garota olhou várias e acabou levando somente uma que tinha a cor caqui. Pediu para a vendedora fazer um desconto, mentindo que seu pai comprava na loja já tinha algum tempo e amava as roupas de lá. Após a compra, foram andar e procurar um lugar pra comer para passar o tempo.

―Vamos nos sentar na praça de alimentação. Estou morrendo de fome, ainda não almocei.

―Tudo bem – falou Kelsey que estava um pouco distraída.

―Vou te explicar uma coisa simples: você está no colegial, toda garota de colegial tem, como vou dizer... Uma paixonite. Antes eu gostava de um garoto, até que em uma festa na casa de uma das meninas da sala ele disse que eu deveria achar outra pessoa.

―Por quê? – perguntou Kelsey sentando na cadeira que tinha em volta da mesa que elas haviam escolhido.

―Por que ele era gay. – Tifany falou com sarcasmo – Você foi abençoada, em ter uma chance com Ren. Ele parece que gosta de você, e tenho notícias de fontes confiáveis que quando ele foi escolher alguma coisa para te dar de presente de desculpas, ele ficou mais de uma hora andando tentando achar alguma coisa que te agradaria.

―Sério? Isso é gentil, da parte dele.

―Kelsey, você escutou o que eu te falei? Garotos não fazem isso, se fosse uma pessoa que não se importaria com você o máximo que ela iria fazer é pedir desculpas e dizer tchau. E aquele abraço? Acha que ele te abraçou só por que você chegou em primeiro? E o motivo de ter terminado com Ambre não é estranho?

―Tifany, você está confundindo minha cabeça. Você parece a Manu, inferindo as coisas.

―Então já que você acha que está muito cedo para dizer que talvez ele goste de sua pessoa, tente ficar mais perto dele. É isso! – Tifany falou mais alto e deu um soco na própria mão como se tivesse tido uma ideia genial.

―O que? – Kelsey perguntou assustada.

―Você – ela apontou para a amiga – vai ficar mais perto dele. Vai se tornar amiga dele. Ai se nesse período sentir algo a mais ou ele dizer algumas coisas fofas é por que pode rolar alguma coisa.

―Isso é loucura. Eu não tenho coragem de falar com Ren, mesmo não sendo amiga, imagina se eu tivesse uma amizade. Impossível, eu ia paralisar ou gaguejar como sempre faço.

―Nisso não vou poder te ajudar, vai ter que superar sozinha. Mas tem algo que realmente eu posso fazer por você.

―O que você vai fazer por mim?

― Segredo. Pode me passar o celular da Manu, ela te conhece melhor, quero conversar com ela.

―Não faça nada que acha que vai me desapontar. – disse Kelsey e escreveu o número da Manu em um guardanapo.

―Fica calma, não vou te deixar triste, o máximo que pode ocorrer é te irritar.

As duas comeram sanduíche e tomaram um suco de laranja cada. Andaram mais um pouco e Tifany ligou para sua mãe. Antes de entrarem no carro compraram sorvete de creme que vendia na porta do shopping e seguiram para a casa de Kelsey pra deixá-la.

―Kelsey, muito obrigada por ter ido comigo – falou Tifany quando viu a outra descer do carro.

―De nada, acho que me diverti bastante - sorriu – Amanhã espero não ter surpresas.

―Ah, você verá!

*****

―Kelsey! Você está atrasada, ande logo! – gritou o senhor Hayes.

―Já estou indo! – respondeu Kelsey que não dormiu a noite pensando o que Tifany faria e acabou se atrasando pela primeira vez.

Não teve tempo de pentear os cabelos para deixá-los soltos, então fez um rabo de cavalo. O uniforme tinha que passar, mas como não dava tempo vestiu assim mesmo. O café da manhã foi tomado enquanto estava no carro indo para a escola. Quando chegou saiu correndo antes que o portão fechasse.

―Cuidado, querida! – exclamou seu pai vendo a filha tropeçar ao atravessar a rua.

Quando Kelsey passou pelo portão tentou se acalmar e respirar para não chegar pior do que já estava, com a roupa amassada e cabelo desarrumado ia assustar os colegas de classe, pensou.

Entrou no prédio controlando a respiração que ainda estava ofegante e antes de chegar na sala passou a mão na camiseta para ver se tirava algumas marcas. Parou em frente à porta da e bateu, pois a aula já tinha começado. O professor abriu e a olhou de baixo para cima, entendendo que a garota havia se atrasado.

―Entre, senhorita Hayes. – disse o professor de biologia.

―Obrigada.

Kelsey passou por ele e logo percebeu que havia vários olhares a analisando. Tentou disfarçar andando um pouquinho devagar até a sua carteira. Chegou ao local da sua mesa e viu que havia um garoto sentado no seu lugar, ele estava concentrado fazendo as tarefas que tinha no quadro.

―Professor – ela hesitou em chamá-lo, pois toda a turma a encararia – Onde é meu lugar?

―Senhorita Hayes, chegou atrasada e ainda esqueceu onde senta? – ele respondeu com ironia e risadas baixas começaram.

―Desculpe-me.

Kelsey olhou mais um pouco a sala e avistou Tifany, que estava sinalizando com os dedos uma direção. A garota olhou para o lugar e viu seu nome em uma carteira, tratou de ir o mais rápido que pode, pois o professor parecia estar incomodado vendo ela em pé.

Kelsey se sentou, estava um pouco mais a frente do que Tifany e com duas filas de distância. Não sabia por que tinha mudado de lugar, não reclamara que não estava conseguindo ver o quadro e muito menos disse algo sobre estar incomodada em seu antigo lugar.  Tirou os materiais e os colocou em cima da mesa, observou que estava sentada ao de Ambre, a garota loira que estava namorando Ren.

―Tifany! – sussurrou baixo – O que ela pretende com isso?

―Algum problema? – Kelsey olhou para trás e se assustou com os olhos azuis a fitando.

―Dhi-Dhiren? – gaguejou.

―Ren – ele sorriu e olhou para o caderno.

Kelsey virou para frente e sentiu vergonha, ele estava sentado atrás dela, ou seja, ela ficaria perto dele durante toda a aula. Isso parecia bom, poderia tentar se aproximar e avaliar o que sentia e ruim por não poder trocar de lugar quando se sentisse sufocada. A dona dessa atitude era Tifany e Kelsey estava irritada pela garota ter feito algo assim sem avisá-la.

―Tudo bem? – Kelsey sentiu dois toques no ombro e hesitou em espiar quem era apesar de conhecer a voz de Dhiren.

―Tudo – disse baixo continuando na posição.

― Se precisar de alguma coisa é só falar, acho que te devo isso.

―De-dever? Você já pediu desculpas – disse ainda de costa para Ren.

―Sim, mas acho que não foi o necessário – ele sussurrou para não chamar atenção.

―Não se preocupe, eu estou bem e... – tinha esquecido as palavras certas – Preste atenção na aula.

Kelsey não acreditava no tinha acabado de dizer, às vezes por impulso as palavras se perdiam e outras totalmente diferentes do seu pensamento saiam. Situações assim ocorriam quando estava nervosa ou ansiosa, tinha falado para Ren prestar atenção na aula e seu tom de voz, rude, deu a entender que ela achava que ele estava a incomodando. A verdade era que não, ele não estava incomodando e até era bom escutar a voz de Dhiren quando o dia parecia ser um daqueles que tudo da errado.

Os horários antes do recreio passaram rápido, parecia que quando queria que o tempo fosse lento ele voava. O sinal do recreio tocou e Kelsey esperou Dhiren sair para ir ao encontro de Tifany que ainda estava guardando os materiais.

―Por que você fez isso? – ela perguntou ao chegar à mesa da amiga.

―O que? – Tifany disse tentando se fazer de desentendida.

―Trocou meu lugar. Saiba que quase virei uma estatua de tanta de vergonha – disse séria.

―É eu sei. – Fany riu – Sou sua amiga e não te deixarei morrer beata. Você precisava de um empurrãozinho para chegar perto dele.

―Você pode até estar certa em um empurrãozinho, mas isso foi um super empurrão. E por que tinha que ser do lado da Ambre? Eu me sinto como se tivesse a todo o momento recebendo facadas dela, principalmente quando ele conversou comigo.

―Então quer dizer que ele conversou com você? – Tifany perguntou sorrindo.

―Sim. Mas era por que eu estava com a cara de uma pessoa que tinha passado por uma parada cardíaca.

―Kelsey, você está ouvindo o que acabou de falar?

―Facada? – interrogou tímida.

―Não! Parada cardíaca. Você sente algo por ele sim! – exclamou sussurrando para Kelsey.

Kelsey ficou em silêncio, seu coração realmente batia mais forte, Ren parecia uma boa dose de emoções para deixá-la naquele estado. Quando tirou a conclusão de gostava dele, não tinha entendido ainda que fosse de um jeito diferente de amizade, um jeito que parecia ter nascido quando encarou Dhiren no refeitório no seu segundo dia de aula e viu o quão azul eram os seus olhos e seu sorriso alegre.

―Kelsey, Terra para Kells! – estalou o dedo Tifany.

―Eu... Obrigada. – Kelsey disse e sorriu, pois se Tifany não tivesse feito isso nunca chegaria perto dele novamente.

―Obrigada? – a amiga não entendeu o porquê disso, mas acabou respondendo – De nada. Pode contar comigo para qualquer coisa, como disse somos amigas agora.