Entrelaços escrita por Coisas ilusórias


Capítulo 5
Surrender to the strawberry ice cream.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo lindo saindo *-*



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MANUELA

Mas, o que diabos a Isabella tem na cabeça? Então ela é gay, não, claro que não! - Disse exacerbada.

– Menos Manuela! Pra que tanta indignação? - Questionava Filipe, que estava na direção do veículo.

– Imatura! É isso que ela é, uma garotinha imatura que quer chamar a atenção! Eu não vou admitir isso. - Continuei a falar ignorando qualquer coisa que Filipe dizia.

– Manu? - Chamou um pouco mais alto, tentando ganhar minha atenção.

– Ela e a Fernanda? Isso é um absurdo. Quem ela pensa que é pra fazer esse tipo de coisa? Isso não vai ficar assim, minha conversa com a Isabella não passa de amanhã!

– Já chega Manuela! Você quer calar a droga da sua boca por um minuto? - Filipe falava irritado, segurando forte a direção do carro.

Permaneci em silencio ao notar o tom com o qual ele havia falado, ele não costumava perder a paciência por pouco. O silencio foi quebrado por Filipe, que respirou fundo e se pôs a falar com calma.

– O que é que tem de tão errado com o que a Isabella fez? Ou melhor, o que é que você tem a ver com isso Manu? Nem eu que gosto da Fernanda estou me portando feito um louco. Você é homofóbica ou algo do tipo?

– Ah, que droga! Você tem razão, eu não tenho que me meter nisso, e não, eu não sou homofóbica. Eu só.. achava que a Isa ainda era aquela garotinha que eu podia cuidar, e não essa mulher complicada que agora eu vejo. - Respondi desviando o olhar para a vista que tinha da cidade pelo vidro da janela.

– Então relaxa, ela não é mais uma garotinha e você não tem que cuidar dela! A Isabella é adulta e sabe o que faz, eu também fiquei chateado com o que eu ouvi, mas, poxa, eu amo a Fernanda, você não tem motivos pra ficar agindo feito uma louca por causa desse assunto. - Retrucou.

– Mas, eu prometi pra o David que cuidaria dela! - Falei baixando a cabeça.

– Já chega, Manu! Esse papo de novo não, você sabe que ela não precisa de cuidados, para de usar o David como desculpa. Ele era o meu melhor amigo e eu cuidei da Isabella como um irmão cuidaria, as escolhas foram dela, ela está exatamente onde ela queria estar. Você estando aqui ou não, não poderia impedir as escolhas que ela fez pra si. - Finalizou Filipe.

O resto do caminho até a casa dos meus pais foi silencioso, antes de sair me desculpei com Filipe. Minha cabeça parecia ter sido tomada por mil pensamentos, subi para o meu quarto e quando já estava pronta pra entrar no banho, o toque do meu celular ressoou pelo ambiente.

– Isabella? - Atendi.

– Oi Manu, eu só queria ouvir um pouco a tua voz. - Falou quase num sussurro.

– Aconteceu algo? Quer conversar? - Questionei.

– Não aconteceu nada, eu só sinto falta de conhecer você como antes. - Respondeu.

– Desculpa Isa, eu nunca quis me afastar de você. Eu realmente também queria poder dizer que conheço você, mas, ambas mudamos muito. - Falei adotando o mesmo tom de voz que ela.

– Nós precisamos muito conversar, podemos marcar algo para amanhã? - Perguntou.

– Claro, já estava mais do que na hora. - Respondi.

– Amanhã eu te envio uma mensagem de texto com a hora e local, tudo bem?

– Ótimo! Estarei aguardando, tenha uma boa noite Isa.

– Você também Manu, dorme bem. - Finalizou.

Me joguei na cama e me perguntei como alguém podia ter tanto poder sobre as minhas emoções quanto Isabella tinha. A poucos segundos eu sentia uma raiva inenarrável por ela e aquela ligação tinha conseguido anular tudo que havia ocorrido aquela noite. Lembrei-me da noite da festa, quando ela dormiu comigo, e por um segundo pareceu que o cheiro dela havia tomado o ambiente. Aquilo era uma total insanidade, levantei da cama e caminhei em direção ao banheiro, eu definitivamente precisava de um longo banho.


ISABELLA

Desliguei a ligação e caminhei até a cozinha, onde Amanda se encontrava.

– Mandy, você acha que a Manuela ainda ama esse cara? - Questionei triste.

– Sério que você tá perguntando isso? Claro que não Isa, ela falou dele com tanta naturalidade, miguem esconde um amor quando menciona a pessoa. - Respondeu.

– Sei, é que é estranho saber que ela já foi casada. Ela acabou de voltar, não quero que haja nenhum motivo que leve ela embora. - Disse apoiando a cabeça no braço direito.

– Isa, você já notou que quando se refere a Manuela você deixa de lado toda aquela sua pose de dama de ferro e vira uma garotinha indefesa? - Perguntou calma.

– Não Amanda, isso não é verdade, eu só me abalei um pouco, só isso. - Falei evasiva, é claro que eu sabia do que Amanda tinha dito, e isso era frustrante.

– Tudo bem, se você diz. Eu prometi não entrar mais no assunto, mas, eu tenho cada vez mais certeza do que você sente pela Manuela. - Falou a morena.

– Mandy, eu tenho pensado muito nisso, e não é uma coisa cogitável. Preciso ir pra casa, descansar, colocar a cabeça em ordem. - Respondi, me levantando.

– Nada disso mocinha! Dorme aqui hoje, tem varias trocas de roupa suas aqui, e você sabe que meu guarda-roupas está a sua disposição. Sobe pra o meu quarto ou o quarto de hospedes e descansa!

– Tudo bem então, é melhor mesmo eu não dirigir assim.

Dei um beijo demorado no rosto de Amanda e subi para o quarto de hospedes, tomei um longo banho e me joguei na cama. Coloquei algumas musicas no modo aleatório e fechei os olhos. Eu podia ser fã de carteirinha do Boyce Avenue, mas naquela noite eu consegui odiar todas as musicas daquela playlist.

– Que droga Manuela, dá pra sair da minha cabeça? - Sussurrei.


MANUELA

Levantei cedo aquela manhã, tinha que passar no escritório o qual iria trabalhar em breve. Depois do café da manhã segui até o local indicado, subi até o 5º andar, sai do elevador e caminhei em direção a grande porta de vidro que dava entrada pra o escritório do conceituado Dr. Heitor Fonseca. A secretária era uma moça morena e muito bonita, devia ter seus 20 anos no máximo, alta, cabelos na altura do ombro. Assim que lhe disse meu nome ela anunciou minha entrada na sala.

– Manuela Monteiro, estava ansioso para conhecê-la! - Falou o homem de cabelos grisalhos me envolvendo em um abraço.

– Não sabe o quanto eu esperei por isso Dr. Heitor. - Disse correspondendo o abraço.

– Vamos, sente-se. - Falou o homem, puxando a cadeira para que eu sentasse, e em seguida sentando-se na sua.

– Fico muito grata pela oportunidade de trabalhar com um profissional tão conceituado feito o senhor. Não sei o que seria de mim sem o Leonardo. - Falei me sentando.

– Ora, eu é que tenho que agradecer, não te contratei apenas por recomendações do Leonardo, e sim pelas de seus professores! Manuela, isso é um mérito seu. - Disse em meio a um enorme sorriso.

– Obrigada Dr. Heitor.

– Então, dia 8 do próximo mês as coisas começam a funcionar pra valer aqui. Já providenciei seu escritório nesse mesmo andar, pelos estágios que fez, já me convenci de sua competência. - Falava mexendo em alguns papéis.

– Ótimo, eu não poderia estar mais satisfeita. Muito obrigada mesmo Dr. Heitor. - Falei com um sorrido estampado.

– Vamos Manuela, pare de agradecer, já disse que isso tudo é um mérito seu! Eu que tenho sorte em investir em alguém tão talentosa como você. - Disse se levantando.

– Tudo bem, tentarei parar! - Falei o acompanhado.

– Me acompanha em um café? - Questionou.

– Obrigada, mas eu realmente tenho que ir. - Me despedi.

– Foi um prazer Manuela.

– O prazer foi todo meu, Dr. Heitor!

Saí satisfeita daquele escritório, o dia com certeza tinha começado muito bem. Era por volta de 10 da manhã, entrei no meu carro e quando estava para dar partida, o celular anunciou um novo sms, "Isabella" pensei.

"Bom dia Manu, alguma chance de você me encontrar daqui a meia hora na frente daquela pracinha que a gente ia quando criança? Por favor, diz que sim. ISA ;*"

"KKK, A pracinha do sorvete de morango? É claro que eu posso, te encontro lá. MANU ;**"

E parecia que a tendência daquele dia era melhorar, dei partida no veículo e em meia hora eu estava no lugar indicado. Era surreal ir ali depois de tanto tempo, era como voltar no passado. Sentei em um dos bancos que ficavam embaixo da enorme arvore e me pus a observar o velho balanço a minha frente.

Flashback: on.

Toma, tá aqui o teu sorvete. - Falou a garota de olhos azuis a minha frente.

– Isa, eu acho que você se enganou, eu não gosto de morango. - Falei fazendo uma careta.

– Qual é, Manu? Você não é mais nenhuma criancinha pra implicar com o sabor do sorvete. Você Já tem 10 anos. - Retrucou a garota.

– Eu me recuso a tomar esse sorvete, vai lá e troca! - Disse fazendo birra.

– Eu quem sou a criança aqui, para de ser boba.

– Mas eu não gosto de morango! - Reclamei.

– Você ao menos provou? Tenho certeza que você vai gostar. Ó, o meu tá uma delicia. - Falava sentando-se a meu lado no balanço.

– Eu não tenho certeza se quero experimentar. - Falei, encarando o sorvete que já começava a derreter.

– Prova Manu, por mim! - Pediu me encarando com aquele olhar casto.

– Tudo bem, mas se eu não gostar eu que escolho o sabor do seu na proxima vez! - Sugeri.

– Eu ia adorar, o David sempre fala que a gente deve aproveitar novidades. Que nem quando você mudou pra cá, eu não gostava de você, mas agora você é minha melhor amiga.

– Você tem razão, é melhor eu tomar logo antes que termine de derreter. - Falei levando o sorvete à boca. - Huuuum, nossa! Isso é uma delicia. Tem pedaços da fruta também.

– Eu falei que você ia gostar, você finalmente se rendeu ao sorvete de morango! - Falava com um sorriso estampado.

Flashback: off

Em poucos minutos avistei o carro de Isabella estacionar a poucos metros, ela saiu do veículo e caminhou em minha direção com um sorriso tímido no rosto. Ela estava especialmente linda aquela manhã, cabelos presos em um rabo de cavalo, o vestido azul florido caía perfeitamente em seu corpo.

– Manu! - Cumprimentou, me envolvendo em um abraço forte.

– Isa, você está linda! - Elogiei retribuindo o abraço na mesma intensidade.

Bem, acho que não haveria lugar melhor para termos qualquer conversa! - Comentou sentando-se no banco acompanhada por mim.

– Certeza, eu estava justamente lembrando aquele dia do sorvete, você sabia mesmo me persuadir desde criança! - Confessei.

– Não era bem assim, você é que fazia tudo o que eu pedia. Mas, não vamos mais enrolar, quero saber o porquê você foi embora! - Falou me fitando e segurando forte a minha mão direita.

– Tudo bem, acho que posso começar dizendo que eu tive motivos bem específicos. O meu pai me forçou ir embora, eu não quis deixar você, eu tive que deixar. - Expliquei.

– Não entendo, porque ele faria isso? - Questionou.

– No dia da morte do David, e-eu dei uma noticia pra ele. Depois do que aconteceu eu acabei contando tudo pra os meus pais. Meu pai ficou transtornado, parecia um louco, ele ficou tão triste com a morte do David, pensei que o que eu disse seria uma boa noticia.

– E o que diabos foi essa noticia? - Perguntou apreensiva.

– Eu estava grávida do David! Assim que meu pai soube, ele providenciou minha passagem pra que eu fosse pra Austrália logo depois do velório. Ele me mandou pra casa da minha tia, no inicio eu não sabia o porquê da viajem tão repentina, ele também não me disse nada, eu apenas tive que ir. - Falei encarando o chão.

– Meu Deus, Manuela! Quanta loucura, mas e o bebê? Que diabos você foi fazer na Austrália e porque não veio pra cá quando voltou para o Brasil?

– Meu pai me mandou pra Austrália pra que eu tirasse a criança, e quando eu voltei pra o Brasil eu reencontrei o Fernando, a principio eu apenas ia ficar alguns meses na casa da minha tia aqui no Brasil, mas na época eu prestei vestibular e acabei passando no curso de Direito, como era o melhor do país, resolvi ficar. Tinham muitas coisas que me prendiam a aquele lugar no momento, eu queria reconstruir minha vida, superar o passado antes de voltar. - Expliquei fitando-a.

– É meio que muita informação pra processar! Você devia ter me procurado, ligado ou qualquer coisa que fosse.

– Na verdade eu tentei, há uns 5 anos eu vim na cidade no aniversário da morte do David, sem que ninguém soubesse. Eu fui ao cemitério e você estava lá, achei que estava sozinha e tentei me aproximar..

Flashback: on.

Céus! Como eu havia sentido falta da Isabella durantes esse tempo, e ela estava tão perto agora. Comecei a caminhar em sua direção, até que senti alguém segurar forte o meu braço, me impedindo de continuar.

– Nem ouse chegar perto da minha filha! - Falou a mulher ruiva.

– Norma, mas o que diabos você pensa que está fazendo? - Perguntei confusa.

– Você não acha o bastante ter destruído a vida do meu filho? Quer destruir a Isabella também? Você está proibida de chegar perto da minha família, Manuela Monteiro! - Disse tentando controlar as lágrimas.

– O que a senhora está dizendo? E-eu não tive culpa na morte do David, eu o amava, assim como amo a Isabella, a senhora não pode me proibir de falar com ela, não pode tirar ela de mim. - Falei.

– Tanto posso, que farei! Vá embora Manuela, não se atreva se aproximar da minha filha novamente ou eu juro que providencio um pedido de restrição contra você. Você já tirou um filho de mim, não vou deixar que isso se repita.

Flashback: off.

O que diabos a minha mãe tinha na cabeça quando fez isso? É um absurdo Manuela! Um absurdo! - Falava exacerbada.

– Calma Isa, eu também não sei! Mas eu não tentei mais voltar a cidade depois disso, o advogado da sua família me ligou falando sobre um processo que sua mãe pensava em abrir contra mim, mas afirmou que nada aconteceria se eu não voltasse à cidade. Resolvi não causar problemas a vocês.

– Você devia ter enfrentado eles, Manu! - Falou ela em um tom de indignação.

– Eu sei, hoje eu sei disso! Mas precisei me estabelecer na vida antes de vir, agora eu estou de volta, e não vou mais embora. - Falei acariciando o rosto de Isabella.

– Isso tudo é uma loucura! O seu pai ter feito o que fez, minha mãe agindo de tal forma. É muito pra processar. - Admitiu.

– Eu sei meu bem, mas escuta, tem mais coisa que eu não te contei, eu preciso viajar no começo da próxima semana e quero você espere até eu voltar de viagem, garanto que vai ser uma surpresa ótima. Promete esperar até lá sem ficar me pressionando? - Perguntei.

– Prometo! Vou tentar não morrer de curiosidade até lá. - Respondeu.

– Então vem, que tal um sorvete de morango pra te ajudar a assimilar as informações? - Sugeri, levantando e a puxando pela mão.

– Seria ótimo. - Respondeu sorrindo.



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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Mandem reviews *-*